sexta-feira, 26 de abril de 2013

Homenagem a Miguel Portas :: 30 Abril


Life of PS



Quem os viu e quem os vê… É sempre interessante ver a capacidade que as sucessivas lideranças do PS têm de inverter posições, de mitigar posicionamentos passados, de se adaptarem ao sabor das circunstâncias. Somos sempre brindados com a típica esquizofrenia de um partido 100% focado no poder. Temos um determinado PS quando está no Governo e um PS totalmente diferente quando está na oposição. Nada de novo, é mesmo assim, toda a gente sabe-o. E parece que já nem há grande vontade em disfarçar. 

No momento atual, com um Governo totalmente desorientado e cada vez menos credível aos olhos dos mais insuspeitos setores, o PS surge rapidamente como o grande salvador da Pátria. Torna-se rapidamente o campeão da renegociação da dívida, o grande ideólogo do “basta de austeridade” e o grande oponente da malvada troika. Temos de repente um PS equerdalho, com o keynesianismo na ponta da língua e com o cravo na lapela. Um PS inconformado, indignado, a grandolar e pronto para fazer a luta. Um PS do 25 de Abril, do 1º de Maio, aos abraços com os sindicatos e jurando lutar por amanhãs que cantam.

Esta romanceação do seu papel presente, assente num branqueamento do que até há pouco tempo defendia, é uma espécie de “Life of Pi”, com o argumento devidamente adaptado. Na história agora contada, não foi o PS que trouxe a troika para Portugal e que assinou o memorando de atendimento. Pelo contrário, o PS nunca teve nada a ver com isso. Na história agora contada, o PS também nunca defendeu a austeridade como mal necessário. Pelo contrário, os socialistas sempre se opuseram a este caminho. A sucessão de PECs que caraterizou o fim do governo de Sócrates foi apenas uma forma de, no fundo, evitar a austeridade (impondo austeridade). Na história agora contada, o PS também sempre defendeu a renegociação da dívida. Aliás, a expressão “calote” para qualificar a renegociação nunca foi utilizada por Sócrates há dois anos atrás. Nada disso! O PS sempre foi pela renegociação, pelo fim da austeridade e por uma política de crescimento.

Como partido tipicamente de poder, o PS tem esta incrível capacidade de romancear e tornar fantástico o seu percurso. Para quê contentar-se com a realidade quando podermos ter a fantasia? Para quê manter na nossa memória episódios tristes quando podemos facilmente colorí-los, contorná-los ou até esquecê-los? No “Life of Pi”, o protagonista fantasia para esquecer uma tragédia ocorrida. Nesta “Life of PS”, os protagonistas do partido entram numa espécie de delírio coletivo para escamotear as suas responsabilidades na situação atual. Porque não? Tirando o facto de pretenderem com isso passar um atestado de estupidez a todos os portugueses, não há problema nenhum…

Artigo hoje publicado no Esquerda.net

sexta-feira, 12 de abril de 2013

É melhor fazer uns desenhos





Tal como foi desde logo manifestado pelos mais insuspeitos setores, a decisão do Governo de suspender e submeter à consideração do Ministério das Finanças a quase totalidade da despesa da Administração Pública é um quase crime para o normal funcionamento das instituições. No fundo, qualquer instituição pública é obrigada a submeter-se a um processo de aprovação que tem como único propósito estrangular a contratação. E embora tal já fosse uma má prática em anos anteriores, ocorrendo tipicamente em Setembro ou Outubro, este ano tudo ocorreu passados apenas três meses do início do ano. Por esta decisão governamental revelar o grau de desorientação em que este Executivo se encontra mergulhado, se calhar é melhor fazer uns desenhos ao Dr. Coelho e companhia sobre as causas e consequências do que acabaram de fazer.

Em primeiro lugar, é quase anedótico verificar a relação de causalidade criada entre a decisão do Tribunal Constitucional e a necessidade de apertar ainda mais o cinto. Como se não houvesse outro caminho possível. O que este acórdão devia desde logo levar-nos a concluir é que Portugal precisa mais do que nunca de uma profunda negociação da dívida. Dilatando os prazos de pagamento e sobretudo reduzindo as contrapartidas lamentavelmente acordadas, este é o momento em que a renegociação faz mais sentido do que nunca. Este é o primeiro desenho que temos de fazer ao presente Executivo.

Em segundo lugar, mesmo com a calamidade social em curso, o Dr. Coelho e companhia parecem não ter ainda percebido que responder à austeridade com mais austeridade tem esfrangalhado o país. Os efeitos sociais são gigantescos, sendo até desnecessário aqui enumerar dada a evidência que encerram. Mas é também o perigoso efeito napalm que representam para a economia que devia preocupar seriamente todos os que não se coíbem de colocar a economia à frente das pessoas. Neste caso concreto, estrangular a contratação pública nesta fase do ano representa também estrangular todos os fornecedores da Administração Pública, que por sua vez estrangularão todos os que com eles se relacionam. Ou seja, gera-se aqui um efeito incendiário na economia nacional que vai conseguir o extraordinário feito de acrescentar calamidade à calamidade existente.

Em terceiro lugar, e como é também evidente para os mais diversos setores, este chumbo do Tribunal Constitucional veio colocar a nu a crescente falta de legitimidade democrática do atual Governo. Há muito já se demonstrou que as previsões feitas para justificar as suas medidas de austeridade falharam em toda a linha. Para além do oco reconhecimento internacional, não existe um único indicador que suporte o que tem vindo a ser feito. Mas como se tal não fosse suficiente, consegue-se agora a enorme proeza de demonstrar o desrespeito pelo quadro constitucional Português. Não só reincidindo em medidas que anteriormente foram declaradas inconstitucionais, mas também determinando que o país se afunde à custa da sua birra política na sequência da decisão do Tribunal Constitucional.

O último desenho que poderemos fazer a este senhores é que está de facto na hora de irem embora. Deixaram de ter a mínima legitimidade para conduzir o país na grave situação em que se encontra. Do lado de cá, fica apenas a faltar a constituição de uma alternativa sólida que demonstre que há um mundo de caminhos diferentes para resolver os graves problemas que temos entre mãos.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net

quarta-feira, 10 de abril de 2013

5 anos


Há precisamente 5 anos, a vida deste activista nunca mais seria a mesma. Esta coisa de ser pai muda-nos de uma maneira quase indiscritível. A responsabilidade que sentimos por sermos a figura "pai" faz com que tudo mude. A forma como vemos o mundo, a forma como pesamos as diversas prioridades da vida, o modo como encaramos os problemas. No meu caso, reforçou até a vontade de mudar o mundo que nos envolve. Não só pelo típico "quero deixar um mundo melhor para o meu filho", mas sobretudo porque quero que o meu filho saiba que depende dele a mudança no mundo.

Eis então o Henrique fazendo hoje 5 anos. Não é por ser o meu filho :), mas é um miúdo fantástico,  desinibido, genuino, verdadeiro, observador, muitos amigo dos seus e que (não é por ser meu filho) transpira  felicidade. Para além de todas as normais funções de pais, julgo que o nosso papel tem sido muito o de lhe mostrar o mundo, de lhe fazer viver experiências connosco. Seja ajudando-o a descodificar as mensagens que recebe na escola ou na televisão, trazendo-o sempre connosco em viagens ou até trazendo-o a manifestações, queremos dar-lhe todas as ferramentas para que a descoberta do mundo seja uma forma de ele descobrir-se a si mesmo. 

Tudo o que  posso esperar é que ele seja quem ele quiser ser. E o seja de forma convita, apaixonada até. De sofá ou não, o que importa é que seja um ativista na vida. Venham mais 5!

segunda-feira, 8 de abril de 2013

É a Renegociação, estúpido!


O chumbo do Tribunal Constitucional não determina a inevitabilidade de mais cortes no Estado Social. Determina sim a inevitabilidade de uma renegociação da dívida. Alguém faça pf um desenho ao sr. primeiro-ministro.

domingo, 7 de abril de 2013

Que Cratinice


Acho fantásticos os aplausos a Nuno Crato neste processo Relvas. O Sr. Ministro ficou uns mesitos com o processo na gaveta, mas apesar disso todos acham que Crato foi inabalável e não se deixou influenciar... Lindo.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

O ritmo dos Srs. Juizes





No meio de todo ete processo, importa também não esquecer o quão expedito é o Tribunal Constitucional. Três meses depois dos pedidos de fiscalização sucessiva da contitucionalidade, eis que surge o acordão. Três meses...

quinta-feira, 4 de abril de 2013

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Notas da Viagem


Ver mapa maior

Duas semanas na estrada numa autocaravana, com míudos e tudo. 6000 km percorridos. Cansados, mas com a alma cheia, eis o tipo de férias que mais aprecio. E quando cada dia é um novo dia, consegue-se deixar a rotina do trabalho com um estalar de dedos. Deixo apenas algumas notas do percurso e das cidades onde estivemos:

San Sebastian
  • No País Basco, apenas conhecia Bilbau. San Sebastian era um dos destinos que há muito sentia como obrigatório;
  • A cidade é muito bonita, conseguindo conjugar a sua dimensão urbana e bastante organizada com uma zona costeira deliciosa.
  • Fica a vontade de lá regressar com mais calma para explorar melhor os seus recantos;
Cannes
  • Divinal. Cidade pequena que consegue fazer bem a ponte entre a dimensão turística de um destino obrigatório do sul de França e o facto de ser a capital europeia do cinema;
  • Zona costeira da cidade é deliciosa. Vale mesmo a pena visitar
Nice
  • Claramente a capital da  Côte D'Azur. Cidade com alguma dimensão, mas que me fez lembrar uma pequena Paris, com um  traço urbano lindíssimo.
  • Consegue aliar o facto de ser uma cidade costeira, nitidamente preparada para veraneantes, com uma boa componente cultural. Embora não tenha conseguido visitar, fica a vontade de conhecer pelo menos o Museu Chagall e o Museu Matisse; 
Mónaco
  • Correspondeu na perfeição ao que são os lugares comuns que sobre ele existem: riqueza desmesurada que se nota nos imponentes iates da marina, nos carros que circulam, etc.
  • Fica a sensação de ser um sítio engraçado, mas também algo mafioso, com gringos de Ferraris e Porshes a dar com um pau...
Florença
  • Destino obrigatório do norte de Itália, sem dúvida com uma aura artística ímpar;
  • Centro histórico delicioso
  • Convém apreciar bastante a arte renascentista. De outro modo, pode-se ficar um pouco enjoado com tanta Igreja, tanta estátua, etc :)
Roma
  • Palavras para quê? Simplesmente maravilhosa, claro. 
  • Romântica, com monumentos em cada canto, mas também com ruas e vielas deliciosas, onde se encontra sempre uma boa esplanada, uma boa livraria, ou até uma boa loja de brinquedos para criança;
  • Valeu a pena, claro, ir ao Vaticano. E vimos mesmo o Papa.

Milão
  • Superou as expectativas
  • Bonito centro histórico. Não possui a monumentalidade de Roma, nem nada que se pareça, mas a boa dose de urbanidade e a sofisticação faz com que se sinta logo que se está numa grande cidade.
Genebra
  • Antes de mais, o caminho para lá, vindo de Milão é delicioso, atravessando-se os Alpes e mergulhando-se bem naquela paisagem de montanha que nos enche a alma;
  • Gostámos de Genebra, sim, mas ficou a sensação de ser uma cidade algo impessoal. Não é uma grande cidade, mas também não senti o "aconchego" que as cidades com uma dimensão mais modesta proporcionam;
  • Lago Léman e os canais que atravessam a cidade são um dos traços mais interessantes;
Andorra
  • Férias de neve, claro. 
  • Arinsal, perto de Massana, foi a instância que conhecemos. Não percebendo muito do assunto, valeu muito a pena
Madrid
  • Apesar de ter sido muito breve, todas as oportunidades são boas para visitar Madrid. 
  • Embora atolhada de turistas, a zona dos grandes museus enche a alma. Dispenso o Prado. O Reina Sofia e o Thyssen-Bornemisza deixam-nos de barriga cheia.
Arronches
  • Paragem familiar, destacando-se a vontade de matar saúdades da gastrononia portuguesa :)

terça-feira, 2 de abril de 2013

O Grande Narrador



Sim, lamento mas este é mais um artigo, mais um comentário, mais uma opinião sobre a entrevista de Sócrates. É de facto impossível passar ao lado da entrevista de um ex-primeiro-ministro que se remeteu ao silêncio há quase dois anos atrás, apenas se sabendo que foi estudar para Paris. E é sobretudo inconcebível não comentar a entrevista de alguém a quem são atribuídas tão grandes responsabilidades pela situação atual do país. Sócrates voltou, é um facto, e voltou igual a si mesmo. Voltou também, como muitos entretanto sublinharam, para fazer política e não para comentar a política. Muitos pontos podiam ser sublinhados nesta entrevista. Optaria por destacar dois aspetos que me parecem determinantes.

Em primeiro lugar, foi interessante verificar o maniqueísmo que ressurgiu em torno das suas responsabilidades quanto ao estado a que o país chegou. De um lado, a direita política que durante estes dois anos não se cansa de sublinhar que “a culpa é do Sócrates”. A culpa por todo o endividamento do país? Do Sócrates, claro. A culpa do país ter caído na desgraça dos mercados e sofrido uma intervenção externa? Evidentemente do Sócrates. E a austeridade a que hoje estamos sujeitos, com cortes nos salários, desemprego em alta e uma economia verdadeiramente esfrangalhada? Tudo culpa Sócrates, de quem poderia ser? Não é pois de estranhar que a forma como desconstruiu esta “narrativa” tenha sido tão elogiada por uns e tenha gerado tanto desconforto perante outros.

Como hoje todos os factos demonstram, mas como era já evidente há dois e até há três anos atrás, a crise financeira internacional gerou dinâmicas incontroláveis por qualquer governo nacional. Perante a especulação frenética dos mercados financeiros, que atacam qualquer economia guiados apenas por uma racionalidade de casino, a margem de atuação de qualquer governo é limitada. Atribuir portanto a responsabilidade e as consequências destas dinâmicas aos Executivos nacionais é perfeitamente redutor e populista até. O ex-primeiro-ministro esteve bem a desmonstar a referida narrativa de que “a culpa é do Sócrates”. Mas importa sublinhar que o fez de forma exatamente igual à utilizada na campanha para as legislativas de 2011. É portanto anedótico e sintomático da falta de memória o súbito brihantismo que lhe é atribuído a este respeito...

Mas é na explicação da crise política que levou ao fim do seu governo que Sócrates mais patinou, demonstrando que ele próprio não conseguiu descolar da sua própria narrativa. Segundo o ex-primeiro-ministro, o PEC 4 era a solução que o país precisava, que até já tinha sido negociada com a Comissão Europeia. Mas a malvada oposição encarregou-se de deitar fora tal oportunidade, mergulhando o país numa crise política. Esqueceu-se de dizer apenas alguns detalhes: que a forma como conduziu o processo do PEC 4, sem sequer informar a oposição ou até o Presidente da República, foi verdadeiramente kamikaze. Sabia evidentemente que daquela forma o PEC 4 nunca seria aprovado, i.e., sabia que com aquela jogada haveriam eleições antecipadas.

E esta sua linha de argumento sobre o PEC 4 chega a meter dó pela fragilidade que encerra. Por um lado, omite o facto dos PEC serem já a face visivel de uma política austeridade que vinha crescendo aos olhos de todos. Ou seja, os PEC foram os primeiros passos no “escavar” que agora tanto horroriza Sócrates. Por outro lado, ao ritmo que o seu governo apresentou novos PEC, se não tivesse entretanto caído, estariamos hoje provavelmente a discutir o PEC 20. 

Sócrates é um bom comunicador? É. A culpa da crise não foi toda dele? Claro que não. Os zigue zagues da sua entrevista demonstram que continua a ser alguém a quem eu não compraria nem um porta-chaves? Pois... Mas sim, é um grande narrador, sem dúvida.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental