sexta-feira, 29 de abril de 2011

Os Insuportáveis

É normal que abaixo do líder de um partido existam figuras que assumam os combates mais duros. No fundo, que ataquem os adversários de uma forma dura ou mesquinha que não ficaria bem ao líder. No PS temos os Santos Silvas, os Lellos, entre outras figuras. No novo PSD, Miguel Relvas não parece disposto a partilhar este lugar. Assume este trabalho como sendo só seu. O que é mau, porque convém variar um pouco neste tipo de funções. De outro modo, em pouco tempo ganha-se o rótulo de insusportável.

(Imagem: o Ininputável)

A Batalha da Comunicação



Em democracia, a comunicação é um instrumento central para se fazer política. Assim sendo, embora a proximidade ou mesmo a subjugação da actividade política à comunicação possa ser naturalmente questionada, importa igualmente ter presente uma perspectiva menos maniqueísta desta questão. A comunicação pode ser encarada como um instrumento essencial para dar forma a um conteúdo, a uma ideia, assumindo-se portanto como componente incontornável numa sociedade onde a informação prolifera. Neste sentido, tendo em conta as eleições altamente competitivas que teremos nas próximas semanas, onde as sondagens nunca demonstraram uma descolagem clara do PSD relativamente ao PS, e numa altura em que se tenta reduzir as alternativas políticas a pouco mais de pormenores, a comunicação assume uma preponderância fora de série. É ela que determina como a mensagem chega ao eleitorado. Daí o forte esforço de cada uma das forças políticas para se posicionar bem sobre cada tema que vai surgindo na agenda.

Não existem receitas acabadas sobre como um partido pode vencer no campo da comunicação e marketing político. E a este respeito até podemos deixar para segundo plano as campanhas de rua e os comícios. A comunicação nestes momentos é feita sobretudo pela forma como o partido se posiciona perante a agenda e como consegue também influenciá-la. No fundo, como consegue um partido ficar bem na fotografia, ganhando a opinião pública, mas também a massa crítica da sociedade (comunicação social, opinion makers, etc). Assim sendo, uma entrevista ou um debate televisivo bem sucedido pode valer mais do que 50 comícios. E um bom posicionamento sobre um tema chave da campanha pode valer mais do que 1.000 outdoors.

Como se tem tornado evidente, o PS está de facto a recuperar nas sondagens apesar de estar a tomar as medidas mais austeras das últimas décadas. E tal subida é feita não apenas à custa do eleitorado do centro que está a conseguir conquistar despoletando uma espécie de síndrome de Estocolmo, mas também de um eleitorado mais à esquerda que, por pressão do voto útil ou não, parece disposto a confiar-lhe o seu destino numa perspectiva do mal menor. Parece igualmente evidente que tal se está a dever a uma estratégia de comunicação do PS que está a garantir que Sócrates passe entre os pingos da chuva, não cometendo erros significativos, ao mesmo tempo que os deslizes de comunicação dos seus opositores estão a empurrá-los para trás.

Tal demonstra ainda com maior clareza que será sobretudo nos domínios da comunicação que se jogará o resultado das próximas eleições. Gostemos ou não, mais do que o conteúdo, será sobretudo a forma como o mesmo será apresentado pelos diversos partidos que determinará o sucesso ou insucesso neste pouco mais de um mês que resta até ao grande dia. E parecem não existir pruridos que resistam a esta realidade crua: ou se consegue ganhar nestes domínios, ou então não surgirão surpresas agradáveis a 5 de Junho. É o tudo por tudo e convém que todos estejam cientes e preparados para esta batalha que se joga taco a taco.

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Artigo hoje publicado no Esquerda.net

(Imagem: Steve Whitese)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Suspenda-se a democracia e instaure-se a tecnocracia

Apesar de discordar, não vou considerar simplesmente como tontos ou mal intencionados os apelos que têm surgido de diversos quadrantes para um acordo entre PS e PSD. É natural que tais apelos subam de tom num momento como o actual. Mas o que me deixa preocupado é que estes venham dar razão a uma vasta massa do eleitorado que não entende bem porque é que os partidos são necessários. Que não entende bem porque é que a essência da política e da democracia são as visões e projectos diferentes para a governação do bem comum.

Mesmo nestes momentos, custa-me ver tanta gente a dar razão a esta visão de que a política (vulgo democracia) é uma chatice e que devemos limitar-nos a procurar consensos tecnocráticos para governar o país.

Jogadas, Massa Crítica e o "Abusar um Bocadinho"

Sócrates demonstra mais uma vez ser um animal político raro. A hipótese que deixou no ar de um entendimento pós-eleitoral com o PSD é apenas mais um exemplo. O mesmo Sócrates que diz cobras e lagartos do líder laranja, que consta até que já se incompatibilizou pessoalmente, mostra-se agora magnânimo e responsável em busca de um entendimento em nome do "superior interesse nacional". .


Os actores políticos são livres de gerir a sua comunicação política como entenderem, podendo até dar-se ao luxo de desdizer à tarde o que juraram a pés juntos de manhã. Mas, para que o sistema funcione bem, pressupôe-se que exista uma boa massa crítica na sociedade para descodificar o que se vai passando (jornalistas, opinion makers, etc). Esperemos que tal massa crítica ajude a descodificar um pouco estes episódios porque parece claro que José Sócrates "abusa um bocadinho"...
(Imagem: Mareamos)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Conta-me como foi




Após diversos anos, terminou ontem o "Conta-me como foi", uma das melhores séries (para mim, a melhor) que a televisão portuguesa já produziu. Com um elenco de luxo, semana após semana, eram-nos mostradas as mudanças que o Portugal de meados dos anos sessenta e princípios dos anos setenta ia vivendo. As mudanças de costumes, as mudanças nos consumos e até a mudança política. Miguel Guilherme, Rita Blanco e companhia vão fazer falta nos serões de Domingo. . RIP Conta-me como foi.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril sempre!




Um bom dia da liberdade e da democracia a todos os que por aqui passam.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O Inevitável é Inviável: Manifesto dos 74 nascidos depois de 74





Somos cidadãos e cidadãs nascidos depois do 25 de Abril de 1974. Crescemos com a consciência de que as conquistas democráticas e os mais básicos direitos de cidadania são filhos directos desse momento histórico. Soubemos resistir ao derrotismo cínico, mesmo quando os factos pareciam querer lutar contra nós: quando o então primeiro-ministro Cavaco Silva recusava uma pensão ao capitão de Abril, Salgueiro Maia, e a concedia a torturadores da PIDE/DGS; quando um governo decidia comemorar Abril como uma «evolução», colocando o «R» no caixote de lixo da História; quando víamos figuras políticas e militares tomar a revolução do 25 de Abril como um património seu. Soubemos permanecer alinhados com a sabedoria da esperança, porque sem ela a democracia não tem alma nem futuro.

O momento crítico que o país atravessa tem vindo a ser aproveitado para promover uma erosão preocupante da herança material e simbólica construída em torno do 25 de Abril. Não o afirmamos por saudosismo bacoco ou por populismo de circunstância. Se não é de agora o ataque a algumas conquistas que fizeram de nós um país mais justo, mais livre e menos desigual, a ofensiva que se prepara – com a cobertura do Fundo Monetário Internacional e a acção diligente do «grande centro» ideológico – pode significar um retrocesso sério, inédito e porventura irreversível. Entendemos, por isso, que é altura de erguermos a nossa voz. Amanhã pode ser tarde.

O primeiro eixo dessa ofensiva ocorre no campo do trabalho. A regressão dos direitos laborais tem caminhado a par com uma crescente precarização que invade todos os planos da vida: o emprego e o rendimento são incertos, tal como incerto se torna o local onde se reside, a possibilidade de constituir família, o futuro profissional. Como o sabem todos aqueles e aquelas que experienciam esta situação, a precariedade não rima com liberdade. Esta só existe se estiverem garantidas perspectivas mínimas de segurança laboral, um rendimento adequado, habitação condigna e a possibilidade de se acederem a dispositivos culturais e educativos. O desemprego, os falsos recibos verdes, o uso continuado e abusivo de contratos a prazo e as empresas de trabalho temporário são hoje as faces deste tempo em que o trabalho sem direitos se tornou a norma. Recentes declarações de agentes políticos e económicos já mostraram que a redução dos direitos e a retracção salarial é a rota pretendida. Em sentido inverso, estamos dispostos a lutar por um novo pacto social que trave este regresso a vínculos laborais típicos do século XIX.

O segundo eixo dessa ofensiva centra-se no enfraquecimento e desmantelamento do Estado social. A saúde e a educação são as duas grandes fatias do bolo público que o apetite privado busca capturar. Infelizmente, algum caminho já foi trilhado, ainda que na penumbra. Sabemos que não há igualdade de oportunidades sem uma rede pública estruturada e acessível de saúde e educação. Estamos convencidos de que não há democracia sem igualdade de oportunidades. Preocupa-nos, por isso, o desinvestimento no SNS, a inexistência de uma rede de creches acessível, os problemas que enfrenta a escola pública e as desistências de frequência do ensino superior por motivos económicos. Num país com fortes bolsas de pobreza e com endémicas desigualdades, corroer direitos sociais constitucionalmente consagrados é perverter a nossa coluna vertebral democrática, e o caldo perfeito para o populismo xenófobo. Com isso, não podemos pactuar. No nosso ponto de vista, esta é a linha de fronteira que separa uma sociedade preocupada com o equilíbrio e a justiça e uma sociedade baseada numa diferença substantiva entre as elites e a restante população.

Por fim, o terceiro e mais inquietante eixo desta ofensiva anti-Abril assenta na imposição de uma ideia de inevitabilidade que transforma a política mais numa ratificação de escolhas já feitas do que numa disputa real em torno de projectos diferenciados. Este discurso ganhou terreno nos últimos tempos, acentuou-se bastante nas últimas semanas e tenderá a piorar com a transformação do país num protectorado do FMI. Um novo vocabulário instala-se, transformando em «credores» aqueles que lucram com a dívida, em «resgate financeiro» a imposição ainda mais acentuada de políticas de austeridade e em «consenso alargado» a vontade de ditar a priori as soluções governativas. Esta maquilhagem da língua ocupa de tal forma o terreno mediático que a própria capacidade de pensar e enunciar alternativas se encontra ofuscada.

Por isso dizemos: queremos contribuir para melhorar o país, mas recusamos ser parte de uma engrenagem de destruição de direitos e de erosão da esperança. Se nos roubarem Abril, dar-vos-emos Maio!


Alexandre de Sousa Carvalho – Relações Internacionais, investigador; Alexandre Isaac – antropólogo, dirigente associativo; Alfredo Campos – sociólogo, bolseiro de investigação; Ana Fernandes Ngom – animadora sociocultural; André Avelãs – artista; André Rosado Janeco – bolseiro de doutoramento; António Cambreiro – estudante; Artur Moniz Carreiro – desempregado; Bruno Cabral – realizador; Bruno Rocha – administrativo; Bruno Sena Martins – antropólogo; Carla Silva – médica, sindicalista; Catarina F. Rocha – estudante; Catarina Fernandes – animadora sociocultural, estagiária; Catarina Guerreiro – estudante; Catarina Lobo – estudante; Celina da Piedade – música; Chullage - sociólogo, músico; Cláudia Diogo – livreira; Cláudia Fernandes – desempregada; Cristina Andrade – psicóloga; Daniel Sousa – guitarrista, professor; Duarte Nuno - analista de sistemas; Ester Cortegano – tradutora; Fernando Ramalho – músico; Francisca Bagulho – produtora cultural; Francisco Costa – linguista; Gui Castro Felga – arquitecta; Helena Romão – música, musicóloga; Joana Albuquerque – estudante; Joana Ferreira – lojista; João Labrincha – Relações Internacionais, desempregado; Joana Manuel – actriz; João Pacheco – jornalista; João Ricardo Vasconcelos – politólogo, gestor de projectos; João Rodrigues – economista; José Luís Peixoto – escritor; José Neves – historiador, professor universitário; José Reis Santos – historiador; Lídia Fernandes – desempregada; Lúcia Marques – curadora, crítica de arte; Luís Bernardo – estudante de doutoramento; Maria Veloso – técnica administrativa; Mariana Avelãs – tradutora; Mariana Canotilho – assistente universitária; Mariana Vieira – estudante de doutoramento; Marta Lança – jornalista, editora; Marta Rebelo – jurista, assistente universitária; Miguel Cardina – historiador; Miguel Simplício David – engenheiro civil; Nuno Duarte – artista; Nuno Leal – estudante; Nuno Teles – economista; Paula Carvalho – aprendiz de costureira; Paula Gil – Relações Internacionais, estagiária; Pedro Miguel Santos – jornalista; Ricardo Araújo Pereira – humorista; Ricardo Lopes Lindim Ramos – engenheiro civil; Ricardo Noronha – historiador; Ricardo Sequeiros Coelho – bolseiro de investigação; Rita Correia – artesã; Rita Silva – animadora; Salomé Coelho – investigadora em Estudos Feministas, dirigente associativa; Sara Figueiredo Costa – jornalista; Sara Vidal – música; Sérgio Castro – engenheiro informático; Sérgio Pereira – militar; Tiago Augusto Baptista – médico, sindicalista; Tiago Brandão Rodrigues – bioquímico; Tiago Gillot – engenheiro agrónomo, encarregado de armazém; Tiago Ivo Cruz – programador cultural; Tiago Mota Saraiva – arquitecto; Tiago Ribeiro – sociólogo; Úrsula Martins – estudante


Papa Maizena




As sondagens têm variado, mas a tendência de aproximação do PS ao PSD parece evidente. Ou começa-se rapidamente a comer Papa Maizena lá para os lados da Lapa, ou então a única surpresa a 5 de Junho será a continuidade.

Mais um grande culpado




O PS está sem dúvida a sair-se bem nesta campanha. E o episódio de Teixeira dos Santos pode ser mais um passo neste sentido. Afinal o poderoso ministro das finanças foi um dos grandes culpados da vinda do FMI. Junta-se assim à direita e aos partidos à esquerda como grandes responsáveis por esta crise. O argumento do filme que Sócrates fornece ao país está cada vez melhor.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O Telmo, o PS e o Antebraço

Cada partido faz as opções que entende e acho mau associar alguém apenas aos momentos menos felizes que marcaram o seu passado. De qualquer modo, perdoem-me mas não resisto a recordar esta colecção de "frasesinhas deprimentes" (via i) do agora candidato socialista. :) É que são qualquer coisa de especial.

"A pessoa mais próxima é a que descarrego mais tudo"

"Uma pessoa vira-se para um lado e se for preciso desvira-se"

"O que apetece no grupo é... sexo em grupo... muitas órgias... muitas órgias"

"Quem é que quer esta lata de atum mais eu?"

"O antebraço? Como o próprio nome indica é o que está antes braço, ou seja, o ombro"

terça-feira, 19 de abril de 2011

E o prémio "pérola do dia" vai para:


José Vitor Malheiros e a sua acutilante frase no Público de hoje:

"O que fazer quando nos querem obrigar a escolher entre um Governo de bananas liderados por um aldrabão ou um governo de aldrabões liderados por um banana?"
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(Imagem: Locally Grown)

Isto está a aquecer à direita

Bravo, Paulo

Pode-se achar o senhor politicamente execrável, mas há que dar a mão à palmatória quanto à forma inteligente como o PP tem gerido a sua posição nestas últimas semanas. Quando todos parecem guerrear, o Paulo vem falar de serenidade e responsabilidade. Quando todos apontam culpas mútuas, o Paulo vem falar de olhar para a frente e não chorar sobre o leite derramado. Esta postura consegue ser demagógica e anedótica até, mas não tenhamos dúvidas que pega muito bem numa larga fatia do eleitorado, sobretudo numa altura destas.

A forma como o PP está a gerir as negociações com o FMI também é um bom exemplo de “inteligência eleitoral”. Recebem o FMI, mas preparam um caderno de encargos com as suas posições. E fazem conferência de imprensa a anunciá-lo nos telejornais da hora de almoço.

A eficácia de um líder pode medir-se pela capacidade que tem em fazer valer os pontos de vistas do seu partido na agenda política. Neste sentido, Portas devia ser um caso de estudo. A continuar assim, vai conseguir um ainda melhor resultado do que nas últimas legislativas. E hoje ouvi alguém dizer, com grande probabilidade de razão, que o PP é o único partido que já sabe à partida que fará parte do próximo governo.
(Imagem: Imparcial)

A (Des)União Europeia

É um lugar comum dizer-se que as crises limitam-se a intensificar fenómenos que encontravam-se já latentes. Ou seja, se alguma coisa estava menos bem, ela agravar-se-á concerteza nos contextos de crise. No caso da presente crise económico-financeira que atravessamos, os seus efeitos estão à vista em inúmeras dimensões politicas, económicas e sobretudo sociais. Neste sentido, longe de descurar a importância ou até primazia de uma série de outras dimensões, torna-se particularmente interessante verificar o impacto que a crise está a ter no funcionamento da União Europeia como um todo. Porque, como seria de esperar, esta veio colocar ao de cima debilidades há muito identificadas no edifício europeu

Não sendo uma crise de âmbito nacional, ela foi atacando aos poucos os pontos mais débeis do panorama comunitário: as economias periféricas. Primeiro a Grécia, depois a Irlanda, agora Portugal e as próximas vítimas começam a vislumbrar-se cada vez com maior nitidez. No meio do que aconteceu e que corrói sem dúvida o acordo comunitário, sobressaiu com particular gravidade a falta de coesão do todo Europeu. Ou seja, perante um ataque a alguns dos seus, a reacção dos restantes Estados-membros não tem sido tanto a de assumir uma postura solidária e coesa, mas sim de travar as possibilidades de contágio isolando assim o doente, custe o que custar.

E tal situação não é problemática de devido a uma espécie de violação moral do conceito de solidariedade. Mas sim porque mina a base de coesão no seio de uma união e porque deixa corroer os pilares em que assenta o próprio projecto europeu. Não será por acaso o crescendo de sentimentos de inamizade por Angela Merkel e pelo seu país por toda a Europa. Não será também um pormenor a recente subida da extrema-direita na Finlândia. Parece-se esquecer que a fragilidade de parte da Europa é a fragilidade de toda a Europa.

Mas para lá desta dimensão da coesão ou não, importa igualmente ver a resposta política que o projecto comunitário está a dar ao que se está a passar. Depois de se ter tornado praticamente consensual que a desregulação dos mercados é a causa de muitos dos problemas que estão a surgir, que a especulação desenfreada provoca desequilibrios grandes e que apenas alimenta a irracionaldade dos movimentos financeiros internacionais, qual a solução que tem sido preconizada pela Europa? Varia entre a inacção e o intensificar a receita seguida até agora. Ou seja, desregular mais, liberalizar mais, deixar o mercado funcionar sem constrangimentos. Comentários para quê?

E se um Estado nacional tem naturalmente dificuldade em resistir isoladamente a tão ampla pressão dos mercados, um corpo com o peso político da União Europeia teria sem dúvida capacidade de forçar a alteração das regras do jogo. Com um consenso comunitário, muito poderia ter sido feito para evitar o panorama actual em que Estados inteiros ficam reféns de ataques especulativos perfeitamente irracionais às suas dívidas nacionais. Sobretudo numa altura em que, fruto da moeda única, deixaram de ter à sua disposição uma série de mecanismos económicos para contrariar tais tendências.

Começa a ser cada vez maior o número de vozes que defendem que a ausência de uma Europa forte politicamente e assente em pilares democráticos é insustentável. A fragilidade do gigante económico que é um anão político tem sido bastante evidente na actual crise. Torna-se portanto premente uma clarificação do projecto europeu. Na ausência de tal clarificação, estes serão tempos de erosão preocupante das instituições e do ideal europeu junto das opiniões públicas dos diversos países.
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Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Basílio Horta nas listas do PS?!

Bem sei que começa ser normal existirem surpresas destas. Mas num tempo em que se questiona a incoerência ideológica de Nobre, sou só eu que acho estranho não se discutir a inclusão de um fundador do CDS nas listas do PS? É que, sem dramas, ou Basílio evoluiu para a esquerda ou o PS é hoje um partido mais alinhado com a visão de Basílio.
(Imagem: Quase Nunca)

Spins e Trapalhadas

As últimas evoluções do caso Fernando Nobre demonstram bem duas dimensões. Por um lado o esforço que está a ser feito pelos spin doctors de ambos os lados da barricada para transformar o episódio em algo prejudicial para o partido concorrente.

Por outro lado, traz também à luz do dia um sem número de trapalhadas. A entrevista de ontem de Nobre foi um exemplo a este respeito. Nobre afinal é de esquerda e afinal não renuncia ao mandato caso não seja eleito. Do lado do PS, o esclarecimento de Vieira da Silva de que não sondou Nobre, mas que apenas jantou (ele e João Tiago Silveira) privativamente com o candidato para discutir a situação política roça o anedótico...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Contar as Favas

Até há apenas umas semanas atrás, era certo que Passos Coelho seria o próximo primeiro-ministro. Só não se sabia quando. O desgaste da governação PS era uma evidência que estendia uma passadeira vermelha ao jovem e dinâmico líder laranja. Mas eis que no espaço de poucas semanas o cenário começou a mudar. Passos está a conseguir a grandiosa façanha de descer nas sondagens perante um Governo que se encontra a tomar medidas de austeridade sem paralelo. Um feito, sem dúvida.

Sócrates, por seu turno, faz questão de contrariar mais uma vez o diagnóstico de poucos meses de vida política que lhe fora atribuído. A persistência e descaramento impressionantes com que continua em jogo dão-lhe um estatuto de animal político que o país tão cedo não esquecerá. A sua capacidade de se adaptar, dê por onde der, a novos cenários, de desdizer o que ontem disse, de defender o que anteontem criticava, garantem-lhe pelo menos 7 vidas. O que consegue ser entendido por algum eleitorado como esquizofrenia política, para outro é encarado como força e convicção.

É neste cenário que se processará a campanha eleitoral. E se é ingénuo acreditar-se em campanhas sem casos, não haja dúvidas que é nestes momentos de grande competitividade que eles mais tendem a aparecer. Esta será portanto uma campanha repleta de “lateralidades”. A forma como surgiu a questão do encontro de Sócrates e Passos Coelho é um exemplo de como, perante a ainda pouco oleada máquina do PSD, o PS mostra que vai jogar neste campeonato dos casos para ganhar.

Estamos assim perante um cenário em que as favas não estão contadas ao centro. E, por estranho que à primeira vista possa parecer, não vai ser fácil para os partidos à esquerda demonstrar que existe um caminho alternativo ao precipício para onde nos dirigimos. Vai ser necessário ser-se creativo, inteligente, claro e assertivo. Vai ser preciso evitar as soluções acabadas e os discursos feitos, ganhando a confiança de diversos actores políticos e sociais e mostrando diversidade e riqueza programática. Enfim, receitas batidas e lugares comuns cuja aplicação será de facto determinante no actual cenário. Porque cada fava fará a diferença no combate eleitoral em curso.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net
(Imagem: Os petiscos de Leonor)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

SyFy no São Jorge

Como se já não bastasse ter um dos melhores bares e esplanadas de Lisboa, o Cinema São Jorge apresenta agora a Expo SyFy. Sem qualquer aparato e de forma gratuita, podem ver-se de perto e na tranquilidade das suas instalações diversas peças utilizadas em filmes conhecidos de todos nós. Desde a máscara do Batman utilizada por Michael Keaton à espada do Conan de Schwarzenegger, das máscaras do Scream, do Sexta-feira 13, do Freddy Krueger e do The Mask à pedra de Kriptonite do Supermen de Christopher Reeve e a uma réplica oficial da máscara de Darth Vader. Enfim, uma série de boas desculpas para ir-se lá tomar um café ou uma imperial por estes dias.

terça-feira, 12 de abril de 2011

É pra ganhar

Este caso sobre se Passos Coelho reuniu ou não com Sócrates antes do anúncio do PEC4 deixa antever que a equipa laranja ainda está pouco oleada na gestão destas lateralidades. Os socialistas, pelo contrário, demonstram bem que vão jogar "pra ganhar" neste campeonato.

Assis bem pode acusar Passos de omitir o encontro com Sócrates. Resta saber porquê só agora o PS volta a pegar nesta questão, afirmando solenemente que "Houve da parte do primeiro-ministro ainda antes da apresentação do PEC a preocupação de o discutir e apresentar ao líder do maior partido da oposição. Essa apresentação tinha um objectivo: envolver seriamente o PSD neste processo". Enfim, eis um verdadeiro caso em todo o seu esplendor
(Imagem: Donerii)

Os casos

Não há campanha sem casos, não valendo a pena ser muito ingénuo a este respeito. E a forma como cada uma das partes em competição gere os casos é determinante na prestação a ter no dia das eleições. Neste momento, as equipas de spin doctors estão certamente já a trabalhar nos casos a lançar...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Nobre Tiro no Pé

As campanhas são feitas de cambalhotas para a frente e cambalhotas para trás, de tiros nos pés, nas mãos e por aí adiante. Pela vasta reacção negativa que o anúncio de Nobre está a ter, tudo leva a crer que se trata da primeira asneira das grandes do PSD em campanha. É certo que será necessário deixar a poeira baixar para confirmar os reais efeitos deste episódio. Mas no partido de Passos Coelho, muitos deverão estar neste momento a pensar no que se foram meter.
(Imagem: Free F.O.L.I)

A Nobre Cambalhota

É verdade que nas últimas presidenciais Nobre não se dizia de esquerda ou de direita. E tal relutância em identificar-se politicamente nunca pronunciou nada de bom. Mas também é certo que grande parte dos votos e apoios que obteve nas presidenciais vieram do centro-esquerda. Vieram de eleitorado sobretudo socialista que se sentiu órfão e queria algo novo. E veio também porventura de algum eleitorado que já votou Bloco mas que viu em Nobre algo diferente.

Ao aceitar ser cabeça de lista do PSD por Lisboa a troco da presidência da Assembleia, Nobre deu uma bofetada sem paralelo em muitos dos seus apoiantes. Que sirva de lição. Mais perigoso que um político assumido é aquele que ano após ano se afirma como independente.

domingo, 10 de abril de 2011

Networking, camarada, networking...

Porque será que na maioria dos congressos partidários, locais onde é suposto os delegados ouvirem os oradores, a plateia só está composta em alguns momentos do dia? Mas afinal o que andam os delegados a fazer? Alguns até podem estar em reuniões, mas grande parte encontra-se pelos corredores, nos átrios, nos bares.

Importa não esquecer que, para quem tem (ou quer ter) na política uma profissão, os congressos são locais de trabalho. Servem para fazer contactos, para estreitar conhecimentos, para encontrar parceiros e aliados. Sobretudo num momento em que há eleições à vista, o networking é sem dúvida uma das actividades de relevo dos congressos.
(Imagem: Alemazzariolli)

Que se lixem as eleições?

Claro que a ajuda externa tem muito pouco de ajuda. E que a razoabilidade rima pouco este tipo de intervenções. De qualquer modo, serei só eu a achar que foi muito grave ver que as instâncias europeias e os supostos parceiros europeus estão-se literalmente a borrifar para o facto dos Portugueses irem às urnas dentro de dois meses.

A negação de qualquer margem de renegociação do pacote de estabilização financeira é uma negação explícita e despudorada do papel das eleições que já estão inclusive agendadas. Bem... Está visto que o anti-europeísmo vai ter muito com que se alimentar nos próximos tempos.
(Imagem: Next Thing)

sábado, 9 de abril de 2011

Sobre a Convergência à Esquerda

É capaz de ser um dos temas mais antigos da democracia portuguesa e, não por acaso, um dos que continua a despertar sempre grande interesse. Precisamente porque a forma como se estruturou o sistema de partidos em Portugal colocou grandes barreiras entre as forças políticas do referido espectro.

A reunião de hoje (6ª feira) entre Bloco e PCP constituiu uma importante novidade neste sentido. É um passo tímido, sem dúvida, mas com um potencial tremendo. A curto prazo porque permite demonstrar que conseguem ser feitas convergências à esquerda em Portugal e tal facto, se bem explorado, pode fazer com que cada uma destas forças políticas chegue a novas franjas do eleitorado já nas próximas eleições. A médio e longo prazo, esta convergência pode também trazer mais força e substância a uma alternativa de governação à esquerda.

Como é natural, o principal prejudicado desta convergência caso ela seja bem sucedida, é o PS, uma vez que a mesma é apelativa para algum do seu eleitorado à esquerda. Resta saber se é positivo para a esquerda que o PS esteja à margem desta convergência? Julgo que não, embora compreenda naturalmente outros posicionamentos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A parte que as câmaras não deviam ter apanhado


Política (também) é comunicação, meus amigos...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

FMI dida didadi dadi dadi da didi FMI...




Depois de semanas a discutir-se se o FMI vinha, se não vinha, se fazia sentido vir ou não, finalmente parece estar a começar a discussão sobre o que devia ter sido o cerne desde o início: o que verdadeiramente implica a vinda do FMI para os portugueses e como tal se fará sentir. No fundo, qual a receita política que será proposta pelo FMI. Enfim, uma discussão que parece estar a começar um "bocadinho" tarde...

Post 2000




Nem sei bem o que dizer perante tal número de bitaites expressos aqui neste espaço nos últimos quatro anos e meio. Aliás, até para mim se torna curioso e causa alguma estranheza consultar o arquivo do blog e ver sobre o que postava em Abril de 2007, em Novembro de 2008 ou em Julho de 2009.

Os blogs, sobretudo os de teor político, constituem-se como excelentes repositórios de posicionamentos sobre a actualidade de cada momento. No que a este diz respeito, alguns posicionamentos mais felizes, outros nem por isso. Mas estranho seria se assim não fosse. Obrigado a todos os que por aqui vão passando.

terça-feira, 5 de abril de 2011

FMI, não há graça que não faça o FMI

Num momento em que tudo parece empurrar o país para a ajuda externa do FMI ou do FEEF, a linha acima da conhecida música de José Mário Branco relembra bem que esta não seria a primeira vez que tal acontece. Mas relembra também, e este é o ponto que parece estar a ser esquecido na (pobre) discussão que tem envolvido esta questão, que este tipo de ajuda externa não sucede sem contrapartidas. Ou seja, não são apenas os níveís das taxas de juro que merecem ser tidos em conta, mas sim o teor das reformas económicas que têm de ser implementadas como contrapartida da ajuda. E é sobretudo o teor das referidas reformas que merece, no mínimo, algum relevo na discussão a ter.

Contrariamente ao que é veiculado, quer por uma certa preguiça da comunicação social, quer por natural conveniência dos actores políticos, a política económica envolve de facto opções políticas. Envolve a escolha entre modelos diversos, entre soluções diferenciadas. E é também nas situações de crise que as diferenças na abordagem económica mais se podem fazer sentir. Porquê cortar aqui e não ali? Deveremos cortar ou deveremos investir para redinamizar a economia? Neste sentido, importa pelo menos ter a noção que o caminho imposto por instituições como o FMI ou o FEEF, passarão necessariamente por um solucionamento liberal dos problemas económico-financeiros do país. No fundo, um aprofundamento da linha política que tem sido seguida nos diversos PECs.

O liberalismo económico acredita que é através do livre funcionamento das forças do mercado que se obtém desenvolvimento. Ou seja, quanto menos constragimentos existirem à actuação dos mercados, mais riqueza se produzirá. Neste sentido, tudo deve ser feito para abrir caminho às empresas, reduzindo-se por exemplo a taxação das mesmas para que estas possam reinvestir. Por outro lado, a crença no mercado e no poder da iniciativa privada determina também o pensamento sobre o papel do Estado. Para um liberal, o Estado deverá apenas intervir onde a iniciativa privada não consegue chegar. Defende portanto um Estado mínimo, não intrometido na economia e com limitadas funções sociais.

Neste sentido, o recurso à ajuda externa terá necessariamente como contrapartida o recurso a medidas de teor liberal para enfrentar a actual crise. É esta a contrapartida exigida pelo FMI e será também a pedida pelo FEEF. Implicará uma aposta revigorada no emagrecimento do aparelho do Estado, um recuo nas suas atribuições de teor social (pensões, subsídios de desemprego, abonos,etc), a tendência para flexibilizar o mercado de trabalho e de baixar os impostos sobre as empresas, entre outras medidas. Em suma, significará o reforço das medidas de austeridade até agora aplicadas.

Este é sem dúvida um dos caminhos políticos possíveis. Mas “se calhar” conviria colocar à discussão caminhos alternativos que impliquem a redução da despesa pública diminuindo por exemplo as parcerias público-privadas e a externalização de serviços que podem ser desenvolvidos internamente. Caminhos que considerem que a redução de salários contrai a procura interna e promove a recessão económica. Caminhos que considerem que a solução desta crise passa por uma mudança no sistema financeiro internacional que a provocou e não por um alimentar acrítico do mesmo. Mas, pelos vistos, exigir a discussão de políticas económicas alternativas é visto como um devaneio lírico, uma espécie de excentricidade inconsequente e até perigosa. Esquece-se assim que, em política, a afirmação de uma solução sem alternativas, do tipo “ou isto ou o caos”, sempre foi altamente empobrecedora da democracia.
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Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
(Imagem: Like Cool)

Um animal das entrevistas

Sócrates é de facto um animal das entrevistas. É certo que se vitimizou, que alheou-se de quaisquer responsabilidades na actual crise, que sublinhou novamente a perspectiva do "ou eu ou o caos", etc. Mas não tenhamos dúvidas que este tipo de persistência e descaramento político continua a convencer muito eleitorado.
(Imagem: RTP)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Tijolo com Tijolo

Embora só o acompanhe de forma regular nos últimos tempos, o Tijolo com Tijolo existe há já dois anos. É escrito de forma inteligente e assertiva pelo Pedro Fragoso, um jovem politólogo do Porto, mas que estuda em Lisboa. Um blogue que vale mesmo a pena ir acompanhando.

Mayday Lisboa 2011


Já estão em curso as preparações do Mayday Lisboa 2011. Informação a este respeito pode ser consultada no site ou no Facebook. Depois do protesto da Geração à Rasca, o Mayday deste ano é no mínimo promissor.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Para um liberal, o FMI não é uma catástrofe

No dia em que o PSD garantiu ajudar o Governo caso seja necessário pedir ajuda externa, importa constatar que a forma como o partido de Passos tem desdramatizado tal cenário faz grande sentido em termos ideológicos. Dado tratar-se da direcção mais liberal que o PSD alguma vez teve, o FMI ou a ajuda europeia seriam um apoio de peso na implementação da linha política preconizada pela actual direcção: emagrecimento e recuo do Estado, contenção nos salários da função pública, flexibilização do mercado de trabalho, baixas no IRC, etc.

Como é sabido, as reformas estruturais de tipo FMI correspondem na essência a uma abordagem liberal para o crescimento económico. Assim sendo, estranho seria que este PSD, que se assume como liberal, visse o FMI como uma catástrofe.

O Precedente


A revogação no Parlamento do fim do actual modelo de avaliação dos professores foi o culminar de um braço de ferro que envolveu toda a classe docente contra uma tutela que persistiu em ser míope até ao fim. Com o empenho de todos os que estavam a ser prejudicados por tal modelo, conseguiu-se dar a volta à persistência do actual Executivo, conseguiu-se ganhar a opinião pública e até da improvável direita surgiram, de forma interesseira ou não, sonantes apoios. Mas a luta dos professores serviu também para demonstrar que a avaliação de desempenho profissional faz obviamente sentido, mas que a sua imposição contra tudo e contra todos é contraproducente. E que um modelo de avaliação só tem a ganhar se definido e consequentemente respeitado por todas as partes envolvidas. A sua sustentabilidade depende disso mesmo. Neste sentido, o fim do modelo de avaliação dos professores pode e deve ser assumido como um importante precedente perante outros modelos em vigor. O modelo avaliação dos funcionários públicos - SIADAP - é o exemplo que salta logo à vista neste sentido.

O SIADAP assenta numa série de pressupostos semelhantes aos que estiveram na base da modelo de avaliação dos professores. Surgiu precisamente com o argumento que era preciso avaliar uma classe profissional de privilegiados, desse por onde desse. E que quem o questionasse, no fundo apenas estaria a defender o "regabofe" até então vigente. Por outro lado, assumiu-se igualmente que um sistema de quotas seria um elemento essencial para distinguir a boa da má moeda, esquecendo-se que tal acentuaria irremediavelmente as deficiências do modelo. A maioria dos funcionários perceberam então que, por mais que dêem o litro, a sua prpgressão na carreira passa a ser uma miragem. Por último, os problemas e sérias limitações do SIADAP também foram evidentes desde o início - falta da sua aplicação séria por parte das entidades públicas, crescendo de desmotivação em toda uma classe (o contrário do seu propósito, portanto), ausência de melhorias na qualidade dos serviços públicos. No fundo, à semelhança do modelo de avaliação dos professores, a avaliação da generalidade dos funcionários públicos também está desacreditada desde o início da sua aplicação. Mas por pura teimosia política, insiste-se em procurar ignorar o problema.

A luta dos professores foi ganha de forma inesquecível nas ruas. Com um espírito de união e determinação ímpar. De qualquer modo, para lá de podermos discutir se o tal espírito é possível no contexto actual em classes mais heterogéneas, importa que a revogação do referido modelo de avaliação seja assumida como um importante precedente e não como uma excepção. Os sindicatos da função pública têm portanto toda a legitimidade para agarrá-lo de forma inteligente e as diversas forças políticas deverão também ser coerentes com o posicionamento recente que assumiram relativamente aos professores. Se a avaliação dos professores e o SIADAP correspondem a modelos tão semelhantes, não parece existir qualquer razão objectiva para que o segundo não seja desde já seriamente colocado em causa.

Os bons exemplos servem naturalmente servir para abrir caminhos. Assim sendo, que o exemplo dos professores sirva para demonstrar aos funcionários públicos que vale a pena opor-se a um modelo sem sentido. Mas que sirva também para demonstrar aos seus representantes, sindicais e políticos, que os precedentes não podem nem devem ser ignorados, muito menos assumidos como excepção. Estranho seria que as causas justas fossem assumidas como circunstanciais.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net
(Imagem: Traveling with Mj)

De volta

Dada a tempestade política e económica em que o país se encontra, roçara o ultrajante vir para aqui falar das minhas férias. Assim sendo, apenas digo que estou de volta e com as baterias carregadas.