sexta-feira, 30 de abril de 2010

A Crise vista por Totós

Começo por dizer que não sou economista e os conhecimentos que tenho sobre tal ciência são limitados. As minhas opiniões acerca de questões económicas revelam, portanto, a profundidade e limitações que podem ser esperadas de um leigo. Mas se calhar, em momentos de autêntico turbilhão, arriscaria dizer que a simplicidade da análise leiga pode lançar algumas luzes interessantes sobre o que se está a passar. Derrubar complexidades de forma simplória pode ajudar a devolver alguma sanidade ao que à partida parece inatingível.

Posto isto, feita esta ressalva, façamos então o esforço de analisar com os olhos de leigo (os meus, neste caso) o que se passou esta semana. Comecemos por um enquadramento. Há pouco mais de um ano atrás, assistimos à implosão de uma gigantesca crise. A crise de uma vida, como alguns desde logo sublinharam. Rogaram-se então pragas em uníssono contra o sistema financeiro internacional vigente, os perigos dos mercados desregulados e a opressiva ditadura da especulação sem fronteiras. Os líderes mais improváveis juraram reformar as leis do sistema vigente, apostando na regulação e tentando assim devolver alguma segurança (e um pouco de racionalidade, já agora) às lógicas dos mercados internacionais.

Mas eis que, pouco tempo depois, tudo parece ter sido esquecido. Uma onda de amnésia varreu com certeza as mentes dos líderes mundiais. O sistema continua a funcionar em todo o seu esplendor e (vejam lá que chatice...) Portugal foi agora apanhado bem no meio de uma tempestade. Que azar o nosso... Tempestade esta que, curiosamente, não foi motivada por uma falência de uma qualquer empresa portuguesa, por uma diminuição abrupta do consumo ou por uma qualquer falsificação dos números da economia nacional. Aconteceu sim porque os mercados andam nervosos. Andam inquietos, coitados, procurando aconselhamento nos mesmos consultórios - agências de rating - que deixaram a economia mundial em pantanas há um ano e meio atrás. Depois do ataque especulativo aos títulos da dívida Grega, foram aconselhados a descarregar o seu stress em Portugal.

É fantástica a (falta de) racionalidade do que se está a passar. É formidável verificar como economias inteiras podem tombar à custa de nervosismos e inquietações de uma espécie de ente supremo (que consta ter mãos invisíveis) conhecido como O Mercado. E é ainda mais interessante verificar como os adoradores d'O Mercado justificam os danos por Ele provocados como um expectável castigo divino e purificador contra quem ousou duvidar do caminho para a felicidade que Ele oferece. Só sobrevivem aqueles que não pecaram, que levaram uma vida segundo os ensinamentos sagrados. É muito à frente, sem dúvida.

Mas o desafio último será, portanto, explicar este filme de série B ao cidadão comum. Não só aquele que percebe pouco de economia, mas aquele que vê a austeridade não através da televisão ou jornais mas da sua carteira. Explicar que tudo isto se passa porque os mercados andam nervosos e ansiosos. Se eu der esta explicação à minha vizinha do 2º esquerdo (pessoa já de idade), ela certamente aconselhará um cházinho de tília e uma boa noite de sono para esses Srs. Mercados. No caso do meu vizinho do 1º andar, homem simples e prático, a resposta é capaz de ser um pouco diferente: "Morgados? Quem são esses Morgados? Devem ser uns grandes filhos da mãe... E ninguém lhes limpa o sebo, caramba?". A simplicidade costuma revelar grande sabedoria.
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Artigo publicado hoje no Esquerda.net

É já amanhã

A parada Mayday Lisboa 2010 tem encontro marcado às 13h no Largo Camões com muita animação, seguindo depois pelo Chiado até ao Martim Moniz, onde se juntará à manifestação do Dia do Trabalhador, organizada pela CGTP. Mais informação em www.maydaylisboa.net

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Perder a vergonha

No dia do violento ataque especulativo, Sócrates e Passos Coelho chegaram a um entendimento para avançar desde já com algumas medidas do PEC. “Uma resposta pronta de confiança e tranquilidade aos mercados”, como sublinhou o primeiro-ministro. Pensávamos nós que iríamos encontrar medidas como o congelamento de grandes obras públicas, cortes nas regalias dos cargos políticos ou na alta administração pública, entre outras do género. No fundo, começar-se-ia por cima, pensando nós que dar o exemplo era o mínimo que podia ser feito para disfarçar um pouco a quem serão pedidos os grandes sacrifícios.

Mas não. Qual disfarçar qual quê? As três medidas ontem anunciadas pelo tão aplaudido acordo entre os dois maiores partidos foram todas centradas na poupança em domínios sociais: 1) diminuição do tecto máximo do subsídio de desemprego, 2) auditorias e fiscalizações às prestações sociais e 3) maior controlo no pagamento de prestações sociais. Perdeu-se a vergonha. O CDS, coitado, ficou de repente sem nada para propor...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Nas mãos do mercado

É impressionante como uma economia pode tombar devido aos nervosismos e inquietações do mercado. Poucos meses depois de uma crise gigantesca em que os governos juraram a pés juntos a sua intenção de regular o sistema financeiro internacional, ei-lo em todo o seu esplendor, com Portugal no meio da carnificina.
(Imagem: Dai Katsurou)

terça-feira, 27 de abril de 2010

O Sistema que temos

A interdependência das economias é hoje um facto difícil de questionar. Como qualquer interdependência, acarreta fragilidades. Uma falência em Seul pode originar despedimentos e uma crise social numa qualquer cidade do outro lado do mundo. Apesar de tudo, nesta interdependência baseada em economia real, assente em produtos ou serviços, até conseguimos encontrar alguma racionalidade.

O mesmo não podemos dizer sobre uma interdependência vulnerável a movimentos financeiros especulativos como o que agora se está a sentir em Portugal. Nada de substancial em termos económicos se passou no país nas últimas semanas. A economia não crashou, o sector produtivo não implodiu, os serviços não pararam. Mas como os mercados andam nervosos e somos um alvo fácil, estamos a ser apanhados e vamos pagar caro por isso.

É curioso que tudo isto se esteja a passar pouco depois da gigantesca crise em que o mundo jurou a pés juntos que sérias reformas seriam empreendidas com vista a regular o sistema financeiro internacional...
(Imagem: CF Jovem)

A (falta de) coesão da UE

A forma como Berlim se tem comportado relativamente à disponibilização de ajuda financeira à Grécia colocou a nu a fragilidade da coesão política europeia. Num momento em que se exigia unidade e pragmatismo no apoio aos gregos, Merkel demonstrou que mesmo o gigante alemão não hesita em momentos de cálculo eleitoralista. É lamentável que assim aconteça.
(Imagem: Euro Alter)

A brilhante solução da CIP

"Os patrões vão propor ao Governo medidas que na prática podem traduzir-se em cortes no subsídio de desemprego. A CIP quer ainda acabar com o limite mínimo deste apoio." (TSF, 27/04/2010) No fundo, há que por a mexer essa cambada de preguiçosos que são os desempregados. Não tarda nada e serão os malandros dos desempregados os grandes culpados da crise. Comentários para quê?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Embalsamemos Abril?

Defendo naturalmente que a Constituição e os ideais de Abril não sejam propriedade de qualquer grupo ou tendência politica. Se Abril é liberdade, igualdade e democracia, não tem de ser algo exclusivo da esquerda política, que isto fique claro. Mas fazer uma jura de amor a Abril para então recomendar que o seu legado seja embalsamado e colocado num museu é, no mínimo, original. Aguiar Branco teve piada, teve.
(Imagem: SIC)

domingo, 25 de abril de 2010

Abril não é uma recordação

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E de ano para ano, o desfile lá vai acontecendo com muitos milhares a descerem a Avenida da Liberdade para comemorar (e continuar) Abril. O ideal seria que se conseguisse inovar cada vez mais nesta comemorações, cativando cada vez mais gente a participar. Mas constatar que um evento deste tipo está longe de esmorecer e que muitas novas gerações e grupos já o adoptaram como seu é uma demonstração de que, 36 anos depois, Abril não é uma recordação. O video acima que retrata a participação de hoje da Casa do Brasil é ilustrativo a este respeito.

Abril é Democracia

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Um bom dia da liberdade para todos os que por aqui passam.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

E porque hoje é sexta-feira

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Harlem - Friendly Ghost
Via Blog Radar

Ficar muito mal na fotografia

No meio de tudo o que se está a apurar nos casos Face Oculta/PT-TVI/Figo-Taguspark, a suspeita de envolvimento de algumas figuras dos socialistas é dramática, é um facto. Mas assumem igual ou maior gravidade os obstáculos que têm sido colocados pelo partido ao esclarecimento dos factos. Ou seja, em vez de se comportar como imediato interessado no esclarecimento de tudo, livrando-se assim de suspeitas de maior, os socialistas assumem a postura de tentar bloquear quaisquer desenvolvimentos neste sentido.

As audições na Comissão de Ética e a Comissão de Inquérito têm reflectido tal postura de forma dramática. Nem será preciso recordar os obstáculos que os socialistas desde o inicio vêm colocando. Repare-se, por exemplo, no que ontem se passou. Para quem ouviu em directo os acontecimentos, mal Rui Pedro Soares terminou de falar, ainda a Comissão nem tinha compreendido bem que o administrador da PT estava a recusar-se a responder a qualquer pergunta, já Ricardo Rodrigues vinha em sua defesa, considerando a sua posição mais do que legítima. Comentários para quê?
(Imagem: In Session)

Um caso de estudo

Imaginem alguém que em Abril/Maio do ano passado manifestou-se próximo das ideias do Bloco, no Verão e até ao fim do ano era um dos mais ferrenhos socialistas no Simplex, no princípio do ano assume em praça pública que se desiludiu com o PS e ontem ficámos a saber que integra um conhecido blogue na esfera da direita e que a "pessoa em causa é liberal na economia e conservador nos costumes"(!?!). Atenção que tudo isto se passou no espaço de 1 ano. Infelizmente, os seus blogues (Valor das Ideias e Regra do Jogo), a sua conta no twitter e os seus posts no Simplex desapareceram misteriosamente… Carlos Santos, professor de economia da Universidade Católica do Porto é, sem dúvida, um caso de estudo.
(Imagem: Blog INESC)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Estamos sempre a aprender

Evo Morales afirmou ontem que a homossexualidade na Europa e no Mundo explica-se pelo consumo excessivo de frangos geneticamente modificados. Quem diria, não é? Como é que nunca ninguém tinha pensado nisto antes? Morales afirmou ainda que a calvice é uma consequência da utilização de recipientes de plástico. Brutal...

Por sua vez, Hojatoleslam Segdighi, um destacado líder religioso iraniano encontrou a explicação para os sucessivos terramotos que nos últimos anos assolaram o pais: "Muitas mulheres que não se vestem de forma modesta, desviam os jovens do caminho justo e espalham o adultério na sociedade, o que faz aumentar os terramotos ". Descoberta revolucionária, sem dúvida... Como açoriano que cresceu com alguns abalos de terra, sinto-me desolado por tal explicação nunca me ter ocorrido. Bolas...
(Imagem: The Optimist)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sobre as viagens de Inês de Medeiros

A Assembleia já decidiu pagar as viagens de Inês de Medeiros a Paris. Voos semanais e ajudas de custo. E se calhar não existia mesmo alternativa dado que o regimento não previa este tipo de situações (espera-se agora que se consiga prevenir para o futuro). Neste contexto, por mais que custe, o desfecho era previsível e dificilmente contornável.

Mas tal não implica que muita gente não tenha ficado muito mal na fotografia. Ficaram mal todos aqueles que tentaram comparar este caso com o pagamento das deslocações aos deputados açorianos e madeirenses (?!?). Ficou mal Inês de Medeiros por ter mostrado que não pensou neste pormenor quando aceitou candidatar-se. E ficou sobretudo mal o PS que assobiou para o lado em todo este processo, tentando disfarçar o incómodo da sua vedeta estar a sair cara ao Parlamento.
(Imagem: Run on eMotion)

Não descartem os CTT

Foram já diversas as vagas de privatizações nas mais de três décadas de democracia portuguesa. Depois de um período em que o Estado chamou a si a intervenção nos mais diversos sectores económicos, assistiu-se nos últimos anos a um progressivo recuo. Embora tal se tenha verificado de forma praticamente ininterrupta, é nos períodos de maiores dificuldades económicas que uma maior pressão é feita neste sentido. As privatizações surgem então como solução apressada dos Governos para a obtenção de receitas extraordinárias. O Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), tão na ordem do dia, é um exemplo paradigmático a este respeito. O documento aponta o objectivo de privatização de uma série de empresas públicas ou com participação do estatal. Dos CTT à REN, passando pela TAP, ANA, CP e EDP, o Estado aparece agora muito disposto a abrir mão de tais empresas.

Esmiucemos então o caso emblemático dos CTT, que possui contornos chocantes. Importa referir em primeiro lugar que se trata uma empresa pública que dá lucro. Ou seja, constitui uma fonte de receita para o Estado. Não pode, portanto, ser acusada de contribuir para défice. No momento actual, aponta-se a sua privatização para se poder amortizar os juros da dívida pública. Mas o normal funcionamento da empresa garante lucros que em poucos anos superam o valor que o Estado receberá agora pela sua privatização. Enfim… Há racionalidades intrigantes nestes negócios que certamente escapam ao comum dos mortais.

Mas, para lá da questão da rentabilidade, os CTT desenvolvem um serviço estratégico de inegável interesse público de norte a sul do país, no continente e ilhas. Da entrega de correspondência ao pagamento das pensões, à possibilidade de serem pagas as contas da água e da luz, de carregar o telemóvel, entre muitos outros serviços, os CTT prestam um conjunto de serviços importantes, nomeadamente junto dos sectores mais idosos da população. Os mais de 1000 balcões constituem um invejável instrumento de coesão territorial que chega aos locais mais remotos do país. Foram os imperativos de serviço público que levaram à criação de tal rede, subjugando naturalmente a questão da rentabilidade às necessidades efectivas das populações.

Colocando-se agora um cenário de privatização, alguém acredita que a rede dos CTT se manteria intacta? Muitas estações não resistirão aos imperativos de rentabilidade, sobretudo as que se encontram em pequenas localidades, distantes dos grandes centros urbanos. A tentação de as encerrar acontecerá com certeza. Eis um exemplo de como a prossecução do interesse público por entidades privadas possui naturais limitações. Alguns argumentarão que tal tentação não se colocaria porque o modelo de privatização passaria por o Estado suportar os custos de tais serviços não rentáveis. Mas, admitindo tal estratégia, estaríamos então a privatizar os lucros e a nacionalizar os prejuízos, um negócio com uma racionalidade no mínimo duvidosa.

Sobretudo pelas razões acima referidas – prestação de um inegável serviço público que ainda por cima é uma fonte de receita do Estado – a privatização dos CTT é uma medida que merece, no mínimo, ser seriamente questionada. Uma iniciativa corre já pela Internet neste sentido – www.correiopublico.net. Procurará nos próximos tempos mobilizar a opinião pública, através de acções no mundo real e no mundo virtual, contra tal privatização. Uma vez que me encontro envolvido na organização da mesma, lanço o convite a todos os interessados para aderirem. Porque não faz sentido descartar os CTT, pois não?

Artigo publicado ontem no Açoriano Oriental

terça-feira, 20 de abril de 2010

Está-se realmente a poupar?

Diz o Público que o “Estado recorre cada vez mais ao trabalho temporário para superar a falta de pessoal”. E pelo que indicia a notícia, os dados parecem ter por base as contratações através de empresas de trabalho temporário e o número de avenças na administração central. Mas, como é mais do que sabido, os modelos acima são apenas uma das formas de contornar as restrições na contratação de pessoal.

Se a isto adicionarmos os contratos de prestação de serviços quer através de recibos verdes, quer para empresas constituídas por uma única pessoa, assim como as consultorias de diverso tipo (jurídicas, tecnológicas, etc), ficámos com a certeza que a dimensão do fenómeno é bem mais complicada de calcular. Será que as presentes restrições na contratação estão mesmo a induzir a poupanças no Estado? O Estado pode estar a emagrecer, mas será que está efectivamente a poupar? Era interessante existirem provas empíricas de tal facto. Estudos sérios a este respeito, uma vez que actualmente parece que ninguém o consegue demonstrar com clareza.
(Imagem: M de Mulher)

A Cartada

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Video da iniciativa "Cartada contra a Privatização dos CTT"
Mais info em www.correiopublico.net/

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vá lá... Começa a fazer-se luz

«O Ministério Público interpôs uma ação junto do Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa onde requer a anulação e a nulidade do aditamento ao contrato de concessão celebrado em outubro de 2008", refere uma declaração oficial da APL enviada hoje à agência Lusa.» (i, 19/04/2010)
(Imagem: O Charquinho)

A Democracia Engripada

Inicia-se hoje a Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso PT/TVI. E é possível que o caso Figo/Taguspark seja também chamado a esta comissão dado que o Parque Tecnológico ponderou adquirir uma posição maioritária na Média Capital. A verticalidade do primeiro-ministro está mais do que afectada, mas já não há quem consigaacompanhar o ritmo de tantos episódios, tantos enredos e tantas personagens de tantas novelas em simultâneo.

No meio desta imensidão de casos, a maioria dos cidadãos há muito optou por um compreensível alheamento. Estão cansados de tanto caso político e, apesar dos graves indícios que circundam o primeiro-ministro, a maioria não está com grande vontade de reagir. Está cansada, preferindo desligar-se de tanta confusão. A saúde da democracia está evidentemente a ressentir-se. A democracia está, por assim dizer, “engripada”.
(Imagem: Coelho Tuga)

domingo, 18 de abril de 2010

Fim de ciclo à vista?

Os despiques entre Sócrates e Louçã na Assembleia sempre foram muito quentes, partindo o primeiro rapidamente para o ataque pessoal. O que se passou na sexta-feira não foi portanto algo que nos deva surpreender assim tanto. Mostra um primeiro-ministro que já perde a cabeça com uma facilidade impressionante. Fim de ciclo à vista?

sábado, 17 de abril de 2010

Cartada contra a Privatização dos CTT


imagem-cartada.jpg

A ATTAC Portugal lança na próxima quinta-feira, dia 22, uma campanha intitulada “Cartada contra a Privatização dos CTT”. O lançamento ocorrerá na Estação de Correios dos Restauradores (Lisboa), pelas 18:15/18:30 em formato de Flash Mob, convidando-se todos os interessados a participar na iniciativa a escrevendo uma carta ou um postal ao Primeiro-ministro a comentar a sua intenção de privatizar os correios.

Entretanto, todos estão convidados a enviar cartas para o email cartadactt@gmail.com . Com a autorização dos autores, algumas das cartas e postais serão publicadas no blog da campanha – www.correiopublico.net

A ATTAC Portugal apela a todas e a todos que se associem a esta campanha, que enviem a vossa carta ou o vosso postal e que contribuam para dinamizar um grande movimento de indignação contra a privatização dos CTT.

Site da Campanha: www.correiopublico.net

Aparece na estação dos CTT nos Restauradores (Lisboa) na próxima quinta-feira às 18h15, para enviar um postal ou carta ao Primeiro-Ministro!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O Porreirismo Sufocante

A acusação agora deduzida contra os administradores do Taguspark veio reforçar a presunção de que existiu um elevado esquema de compra de um apoio político-partidário nas últimas eleições. Tudo foi alegadamente desenvolvido por personagens que parecem encaixar bem no perfil de esperteza, do jeitinho há muito conhecido pelo país. No fundo, gente dinâmica, esperta e porreira que, com muito olho para o negócio e com uma boa lista de contactos no telemóvel, consegue fazer maravilhas.

E se o esquema que parece estar a ser descoberto arrepia pelos contornos mafiosos, o problema é que nos deixa também com a nítida sensação de que corresponde apenas a uma ínfima parte da espertalhice criminosa que percorre o país. A corrupção e o crime de colarinho branco que, assumidos como quase naturais, tanto acontecem nas grandes empresas públicas como na pequena autarquia, o tráfico de influências que atravessa sectores e que é apenas eufemisticamente chamado de jeitinho, o contornar a lei que é considerado um verdadeiro desporto nacional.

Eis a cultura do "esquema" em todo o seu explendor. A cultura que enche de nódoas o ethos público, mas que continua a ser considerada por muitos como uma espécie de património nacional. No país dos brandos o que importa é ser-se esperto. Fazer-se por si e pelos seus (com os pozinhos mágicos que forem necessários) é mais do que aceitável. E se usar e roubar os outros é condenável, usar e roubar o Estado, o bem público, ainda beneficia de muita complacência social.

No meio deste imenso bacanal porreirista, exigir seriedade, verticalidade, dignidade e implacabilidade contra a cultura do jeitinho soa a puritanismo. Exigir decência e integridade soa a obsessão draconiana e a moralismo bacoco. Lamento o tom acusatório com salpicos dramáticos, mas em momentos como o presente, o país parece asfixiado por tanta espertalhice. Sufocado pelos "bons rapazes" e pelos "gajos porreiros" que dominam o panorama nacional. Tudo se resolveria com uma lufada de ar fresco? Nem pensar! É pouco, muito pouco dado o cenário. Só mesmo com um furacão de ar fresco é que a coisa lá vai.
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Artigo publicado hoje no Esquerda.net
(Imagem: Barbearia Ideal)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Vilão Bronco

Coitado de Paulo Penedos. Parece destinado a assumir em todo este filme o papel de vilão bronco. Já não bastava a sua conversa inicial com Marcos Perestrello em que aponta o contrato pornográfico que Rui Pedro Soares foi fazer com Figo, agora voltou a fazer asneira ao contradizer Sócrates sobre o “apoio espontâneo” do futebolista. Ficar-se com o papel de vilão bronco é uma chatice…
(Imagem: Gen-X-Files)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Surpreendam-nos, sff

A dificuldade que a esquerda portuguesa possui em se conseguir entender é pelo menos tão antiga como o nosso regime democrático. E assim acontece precisamente porque as vicissitudes da transição para a democracia (1974-1976) assim o determinaram. A história é bem conhecida: o PS afirmou-se em oposição aos sectores à sua esquerda. Desde então, os seus entendimentos a nível nacional acabaram por ser feitos sobretudo à direita. Aprofundaram-se, assim, desconfianças mútuas que ora crescem nos momentos de maior afastamento, ora são difíceis de contornar quando são tentadas convergências.

A preparação das presidenciais está a reflectir na perfeição o fosso existente. Apesar das sondagens actuais ainda concederem algumas esperanças, as probabilidades de não se verificar uma reeleição de Cavaco Silva são limitadas. Não reeleger o Presidente em exercício significa quebrar uma não negligenciável tradição. Assim sendo, o natural seria que existisse um forte esforço de entendimento à esquerda perante o tão grande desafio que se avizinha. Mas não. O cenário está muito longe de corresponder ao que à partida seria expectável.

É dificil não se concordar que Manuel Alegre é a personalidade que mais problemas poderá causar a Cavaco. É o candidato que melhor poderá fazer a ponte entre as diversas forças à esquerda; é um candidato já bastante conhecido da opinião pública e que tem vindo a construir o seu caminho; é o candidato que há muito goza de uma aura presidencial; entre muitos outros argumentos. Está longe de ser o candidato perfeito, é um facto. Mas Alegre continua a ser, no momento actual, quem reune mais condições para conseguir, pelo menos, uma 2ª volta.

No entanto, como é sabido, o anúncio da sua intenção de candidatura tem gerado reacções muito diversas. O Bloco apoiou-o desde o primeiro momento, mas tal gerou alguns mal-estares. Seguindo um caminho que optou em presidenciais anteriores, O PCP já confirmou que possuirá um candidato próprio e é razoavel considerar-se que tal canditado irá até às urnas. O PS, por seu turno, tem adiado consecutivamente a definição do seu posicionamento nas presidenciais. Apesar de alguns destacados militantes terem vindo a público manifestar o seu apoio a Alegre, o poeta está ainda longe de reunir consensos no seio do partido.

Como se todo este panorama já não fosse difícil, para além da complicação nas contas introduzida pela candidatura de Fernando Nobre, o PEC e as prioridades a ele associadas vieram cavar o fosso entre o PS e as forças políticas à sua esquerda. O próprio Manuel Alegre possui agora uma situação delicada entre mãos: apoiar o PEC está fora de questão; manter-se em silêncio sobre o mesmo seria fingir ignorar um tema que dominará a agenda política por muito tempo; condená-lo afincadamente será entrar em conflito com a força política cujo apoio poderá ser determinante.

Com toda esta encruzilhada, Cavaco Silva tem motivos para sorrir. Beneficia do apoio incondicional do PSD e do CDS e a esquerda, para não variar, está a dar os sinais de desunião que em muito favorecerão uma reeleição. É certo que muita água irá correr nos nove meses que ainda nos separam das eleições, mas o caminho não se afigura nada fácil. A tradição de desentendimentos à esquerda por vezes parece empurrar fatalmente as forças políticas em causa para confortáveis trocas de acusações e imputações de responsabilidades. Mas surpreendam-nos, se faz f. Mostrem-nos que a convergência é possível e mostrem-nos que a principal prioridade é de facto derrotar Cavaco Silva.

Artigo publicado ontem no Açoriano Oriental

Figo, não nos desiludas, sff

Temo pelo futuro da camisola do Figo que tenho em casa. Os sinais que nos chegam não são bons. Espero mesmo não ter de lhe dar um triste futuro na arrecadação.
(Imagem: Soccer Nucleos)

O Kremlin não brinca em serviço

terça-feira, 13 de abril de 2010

Santo Disparate

E com declarações como esta, lá se vai enterrando ainda mais a Igreja Católica. Trata-se do n.º 2 do Vaticano, alguém com grandes responsabilidades no seio do clero católico mundial. Tal insinuação é triste, é lamentável e revela total desorientação. Eis a maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos em todo o seu explendor...

Que pecado...

"A Estradas de Portugal - EP, SA pagou ao Patriarcado de Lisboa uma indemnização de mais de um milhão de euros (€1 116 600) pela expropriação de uma faixa de terreno na Buraca, com mil e duzentos metros quadrados. Um valor que excede em muito o preço do metro quadrado na Avenida da Liberdade (3 mil euros) ou mesmo nos parisienses Champs Elysées (sete mil euros)." (i, 13/04/2010)
(Imagem: Bloco de Notas)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Gincanismo Defensivo

Passos Coelho afirmou-se no PSD pelas suas propostas de teor liberal. Menor presença do Estado na economia, maior abertura de sectores como a educação, a saúde e a segurança social aos actores privados, entre outros domínios. O discurso ontem feito no congresso reflectiu algumas destas ideias, mas nunca deixou de sublinhar também o contrário, não fosse a costela social-democrata ficar excessivamente desprotegida.

Ora assumiu a postura de "despartidarizar, desestatizar e desgovernamentalizar", ora proclamou: “nós somos sociais-democratas”, procurando refutar a ideia de que é um perigoso liberal. Se a isto adicionarmos o facto de ser Aguiar-Branco quem fará a revisão do programa do partido, ficamos elucidados sobre o gincanismo defensivo que está a adoptar nesta primeira fase.

Esta sua atitude reflecte “troca-tintismo”? Ou, pelo contrário, demonstra que Passos está a preparar com cautela o partido para uma agenda mais liberal? Se calhar é um pouco das duas coisas. O evoluir dos acontecimentos/conjuntura logo determinará o caminho que optará seguir. Se der para ser liberal, porreiro. Se não, paciência, é a vida…
(Imagem: Da Política)

domingo, 11 de abril de 2010

Eutanásia Constitucional

Mais uma revisão constitucional está já no horizonte. 34 anos depois da sua aprovação, esta será a oitava vez que a Constituição é revista. Chego a pensar que, mal por mal, mais valia que o presente texto constitucional morresse com a dignidade que merece. Sobreviver sendo constantemente submetido a amputações é degradante...

Neste contexto, tiro o chapéu a quem tanto tem amputado o texto fundamental. Conseguiu que a hipótese da eutanásia chegue a atormentar o pensamento dos sectores que tipicamente se posicionam contra tanta descaracterização.

Vitamina C

Tudo correu bem no Congresso do PSD. O novo líder foi aclamado, a unidade foi a palavra de ordem e a até não faltaram ligeiras vozes dissonantes para que tanta unanimidade não se tornasse enjoativa. O cheiro a poder é um elixir miraculoso para as máquinas partidárias.
(Imagens: Receitando.net)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

E porque amanhã é sexta-feira


Ana (Lucidez) Gomes

Ana Gomes volta à carga, desta vez sobre a resposta de Sócrates ao Público e do salário e prémios de Mexia. Sem papas na língua, demostrando mais uma vez a sua coluna vertebral*. O PS teria certamente a ganhar se a actual eurodeputada assumisse mais responsabilidades no partido ou no país. Bem sei que é difícil com todos os anticorpos que tem vindo a gerar junto de muitos dos seus camaradas (a rebeldia tem destas coisas). Mas no meio de tanto seguidismo e de tanta disciplina fruto do exercício do poder, Ana Gomes consegue ser um furacão de lucidez.
* Coluna esta que escusadamente deixou manchar com a recente dupla candidatura a Sintra e ao Parlamento Europeu.
(Imagem: Poeta do Risco)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

PEC? Eu é mais PAC

O termo “caso” é já uma expressão muito familiar na política portuguesa. Os casos foram marcando presença ao longo de toda democracia, assumindo o papel de condimentar a agenda política. Não são portanto uma novidade dos nossos dias. A novidade reside sim na frequência com que têm vindo a lume nos últimos anos. Do caso da Licenciatura, ao Freeport, do Portucale ao PT/TVI sucedem-se a uma velocidade estonteante, preenchendo manchetes e fornecendo matéria sempre fresca para o comentário político. O caso dos submarinos é o mais recente blockbuster e o passado de Sócrates na Câmara Municipal da Guarda afigura-se como a mais recente promessa.

No entanto, tirando uma meia dúzia de aficcionados, parece que já quase ninguém se dá ao trabalho de seguir atentamente os casos que vão surgindo. São muitas personagens, os enredos são demasiado complexos e seguir tais novelas exige muito tempo. Os casos são tantos que se caiu numa espécie de banalidade. Deixaram de despertar o interesse de outros tempos... O problema é que a perda de importância dos casos para a maioria da população não corresponde a uma minimização do que está a suceder. Reflecte sim um progressivo afastamento de um mundo político que parece agora querer dar razão aos mais cépticos, apresentando contornos verdadeiramente mafiosos.

Embora seja um erro clássico assumir a dimensão de um fenómeno com base na frequência com que o mesmo surge na comunicação social, parecem restar poucas dúvidas sobre o quão endémico é o problema da corrupção em Portugal. E a corrupção a nível político será à partida apenas um reflexo do que se passa nas mais diversas esferas socio-económicas. Escusado será sublinhar os malefícios de tal vício, destacando-se graves implicações em domínios tão diversos como o Estado de Direito ou as finanças públicas.

Ora, tendo em conta os efeitos claros da corrupção e da criminalidade económica nos cofres do Estado, e dado o momento de histerismo em torno do défice público, não seria de aproveitar para começar a atacar com seriedade estes cancros de que Portugal padece? Não seria tempo do combate à corrupção entrar a sério na agenda política e os diversos partidos desenvolverem entendimentos a este respeito? Perante um PEC que se tem mostrado no extremo oposto da consensualidade, não faria sentido impulsionar um amplo PAC – Programa Anti-Corrupção?

Menores obstáculos no levantamento do sigilo bancário, maior facilidade na inversão do ónus da prova perante sinais exteriores de riqueza, criminalização do enriquecimento ilícito, reforço das capacidades de investigação das Finanças são medidas há muito defendidas por diversos sectores. Mas centrando-nos apenas na esfera política, muitas vozes têm vindo a público sublinhar a importância de uma série de medidas: desde mudanças nas regras de nomeações políticas na Administração Pública, passando por um mais claro relacionamento entre público e privado, por melhores regras de incompatibilidades profissionais aquando do exercício de funções públicas, por maiores períodos de nojo após o exercício de cargos públicos, entre muitas outras.

Um programa anti-corrupção implicaria naturalmente amplos consensos entre os diversos partidos. Tal tem sido sempre um dos maiories obstáculos. É que, se em teoria todos estão empenhados em atacar o problema da corrupção, na hora da verdade surgem estranhíssimos passos atrás. De qualquer modo, uma ampla cobertura mediática e a consequente atenção e expectativas da opinião pública fariam certamente milagres nestes domínios. Fica a ideia: “PEC? E que tal um PAC, hein?”

Artigo publicado ontem no Açoriano Oriental
(Imagem: Falação)

Zangam-se as comadres… E depois?

As audições na Comissão de Ética continuam a lançar lama em todas as direcções. Os depoimentos ontem de Emídio Rangel e Paes do Amaral são elucidativos a este respeito. Zangam-se as comadres e o resto do provérbio todos conhecem.

O problema não é a lavagem de roupa que se está a processar, mas sim o seguimento que (não) será dado a todo este processo. Por este andar, chegar-se-á à brilhante conclusão que toda a gente pecou, que a culpa é de todos, logo a culpa não é de ninguém. Porreiro, não é?
(Imagem: Timesunion.com)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre o liberal António Mexia

Sobre os vencimentos generosos de António Mexia, vale a pena ler o que Daniel Oliveira hoje escreveu no Expresso. É que nunca é demais recordar a distância entre o discurso e a prática da moderna elite liberal que nos últimos anos se tem vindo a afirmar.

Depois admirem-se...

No seguimento da notícia de ontem sobre o seu passado na Câmara da Guarda, Sócrates voltou a mostrar ressentimentos relativamente ao Público. O primeiro-ministro evidencia mais uma vez uma escusada ausência de postura de estadista na gestão do seu relacionamento com a comunicação social.

Depois admire-se o Governo e o PS que todos os holofotes lhes sejam direccionados assim que surgem as mínimas suspeitas de movimentações na comunicação social (e.g. mudança de proprietários ou de directores, artigos de opinião não publicados, etc). Esperava-se que tivessem aprendido alguma coisa nos últimos meses a este respeito, mas não.
(Imagem: Servir o Porto)

Adeus Lenine - Novo Blog

Ora aqui está um novo blogue de gente canhota. Acutilante, irrequieto e inconformado, o Adeus Lenine promete. Valerá certamente a pena manter debaixo de olho.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Henrique Raposo e os Enfermeiros

As crónicas do Henrique sempre foram provocatórias q.b., disparando com uma arrogância intelectual de direita moderna em todas as direcções. Tal não é mau por si só. É uma questão de estilo. Mas a crónica que foi escrita sobre os enfermeiros foi de um mau gosto tremendo. Não só por lançar acusações lamentáveis a toda uma classe, mas sobretudo por o fazer do alto de um pelouro de académico e cronista que parece estar acima do mundo real.

A tal ignorância que por exemplo considera uma greve de 4 dias como uma antecipação das férias da Páscoa. Ora o académico e cronista parece esquecer-se que 4 dias de greve são 4 dias sem vencimento, o que para quem tem responsabilidades de vida real (filhos, contas para pagar, essas coisas mundanas…), não é algo que se assuma de ânimo leve. Enfim, é o tal mundo real que por vezes parece escapar ao jovem académico e cronista.

Costumo ler as crónicas diárias de Henrique Raposo no Expresso Online por normalmente demonstrarem uma inteligência provocatória que nos consegue espicaçar, regra geral através da discordância completa. Mas esta crónica dos enfermeiros foi excessiva, não me lembrando de outra forma de expressar um conselho ao Henrique que não esta com traços salazarentos: um pouco mais de “respeitinho” pelos srs. enfermeiros, sff.

Vasculhar o passado

Dúvidas voltam a surgir quanto ao passado profissional de Sócrates. Uma análise à sua actividade na Câmara da Guarda entre 1987 e 1991 deixa inúmeras dúvidas, com processos pouco claros, suposto incumprimento do dever de exclusividade por ser deputado na altura, entre outros aspectos.

É sempre questionável este vasculhanço de um passado que remonta há 20 anos atrás, como se não fosse razoável algum direito ao esquecimento. Uma autêntica caça à notícia, investigando-se até ao último pormenor o percurso de Sócrates. Mas se tivermos em conta que se trata de um primeiro-ministro, se calhar deixa de ser assim tão questionável.

Alguns argumentarão que o primeiro-ministro é um cidadão igual aos outros, com direito a não ser permanentemente acossado por uma comunicação que coloca em causa o seu carácter e o seu bom nome. O problema é que a base do argumento está errada. O primeiro-ministro não é um cidadão igual aos outros. Estranho seria se as expectativas que sobre ele recaem fossem iguais às de qualquer cidadão comum.
(Imagens: Ana Jesus Ribeiro)

domingo, 4 de abril de 2010

Posicionar-se

No actual cenário em que diversas personalidades da ala esquerda do PS já se começaram a distanciar mais seriamente da presente liderança do partido, o silêncio de António José Seguro começava a ser ensurdecedor. Mas hoje parece ter chegado ao fim.

É verdade que os distanciamentos neste momento começam a ser pouco heroicos dado o estado debilitado em que se encontra Sócrates e a sua linha. Assumem uma função de posicionamento para um cenário pós-Sócrates que já não se adivinha muito distante. De qualquer modo, ainda bem que Seguro e outros que defendem um PS mais à esquerda já começaram a fazê-lo.
(Imagem: Herdeiro de Aécio)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Descer à terra

Os casos de pedofilia que agora estão a encher a agenda estão longe de reflectir um fenómeno novo. O tema ganhou uma dimensão mediática muito significativa nos últimos tempos, criando de repente a sensação de pedofilia generalizada na Igreja Católica. Os media e a forma como geram a agenda conseguem normalmente impulsionar este tipo de efeito pernicioso que nunca é demais recordar.
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A pedofilia é evidentemente um problema da sociedade e não da Igreja. E é neste tipo de momentos que mais importa sublinhar tal facto, evitando generalizações e precavendo qualquer tipo de caça às bruxas. Uma organização não pode responder ou ser colocada em causa pelos crimes de alguns dos seus membros. Tal é uma evidência que, por mais redundante que possa parecer, deve ser sublinhada. No entanto, o cenário altera-se quando uma organização encobre há muito tais actos, fazendo com que assistamos agora à abertura de uma autêntica caixa de Pandora. Este é, no momento presente, o cerne das críticas que estão a ser dirigidas à actuação da Igreja.
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Mas também é natural que perante o que está a ser descoberto, surjam críticas a uma Igreja que, ao mesmo tempo que prega o ascetismo em todas as frentes e vê o pecado em cada esquina, encobre no seu seio tão hediondos crimes. Estranho seria se tais críticas não surgissem. E estranho seria que as mesmas não desembocassem em outros problemas da Igreja como o celibato dos padres, a menorização das mulheres, entre muitos outros. No fundo, tudo questões ligadas à sexualidade, esse mundo no qual a hierarquia católica parece fazer questão de demonstrar um lamentável arcaísmo.
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A Igreja poderá enveredar por dois caminhos no seguimento do que se está a passar. O primeiro implica fechar-se sobre si mesma, proteger-se, esperar que o temporal passe e mudar apenas o mínimo para que tudo fique na mesma. O segundo caminho passa por tirar ilações, não querer que este seja apenas mais um capítulo obscuro da sua história e, quem sabe, concluir que este até pode ser um ponto de partida para uma reflexão sobre a necessidade de mudança, de algum tipo de reforma.
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É quase certo que será o primeiro o caminho escolhido (que bom seria estar enganado a este respeito, não é?). É este o rumo que infelizmente nos tem habituado. Mas é pena que a Igreja negue mais uma vez uma necessidade de reforma que é clara não só para os não-católicos, mas também para a maioria dos seus fiéis. Não o constatar indicia um excessivo alheamento do mundo terreno. Tendo em conta a sua importância, a sua influência, os papéis que desempenha, a Igreja necessita de descer à terra. Ninguém pode estar contente ou sequer ficar indiferente a tanta desorientação.
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Artigo publicado hoje no Esquerda.net

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Sobre os despedimentos em Serralves


Este caso dos trabalhadores a recibos verdes de Serralves que foram dispensados após tentarem regularizar a sua situação é vergonhosa. É paradigmática de um mercado de trabalho que acha os trabalhadores chatos, preferindo os prestadores de serviços. Estes últimos são sempre mais fáceis de lidar. Apesar de cobrirem necessidades permanentes, apesar de terem posto de trabalho, horário e terem as mesmas obrigações dos restantes trabalhadores, saem mais barato e são descartáveis. Perfeito, não é? Mayday, Mayday e mais Mayday!