quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tempos de Mudança



Como é sabido e sentido, estes são tempos bastante difíceis. Tempos de tensão e conflitualidade impostos por quadros macro-políticos e macro-económicos internacionais severos. E o actual quadro politico nacional tem reflectido isso mesmo, com um Governo com uma vontade inabalável de aplicar uma forte receita de austeridade, com as conhecidas consequências sociais. Neste contexto, torna-se particularmente interessante analisar o como o panorama político nacional está a reagir à presente crise, com todas as relações de força para lá da dinâmica governamental. O mesmo parece apresentar todas as características de um período de forte mudança.

Temos, por um lado, uma oposição com sérias dificuldades em impor-se como alternativa. No que ao maior partido da oposição diz respeito, a memória do eleitorado costuma ser curta, mas ainda não o suficiente para se esquecer que o anterior governo do PS também abraçou a austeridade como única solução possível. Assim sendo, seria o seu caminho assim tão diferente do levado a cabo pelo actual governo? Relativamente à oposição mais à esquerda, até poderia fazer o pino, apresentando todas as alternativas do mundo à actual política. Mas no momento actual, por mais paradoxal que possa parecer, ainda há uma grande distância entre a insatisfação com a actual política e uma eventual inclinação de voto no Bloco ou no PCP.

E esta incapacidade da oposição se mostrar desde já como uma alternativa tem aberto espaço ao papel dos movimentos sociais. Dos mais institucionalizados, como os sindicatos, aos mais inorgânicos, como os indignados, por exemplo. O que sucedeu em Lisboa no dia da greve geral foi paradimático a este respeito. Não existiu apenas uma, mas várias manifestacões. Primeiro vieram os sindicatos, seguiram-se os indignados, depois seguiram-se alguns movimentos anarquistas, misturados com movimentos que têm surgido no sector cultural. E, por fim, ainda vieram os estudantes do Ensino Superior. Poder-se considerar à primeira vista que tal fragmentação não é um sinal de força. Pessoalmente, julgo que é uma demonstração de que a indignação está a chegar a cada vez mais sectores.

A reacção nervosa das autoridade policiais ao presente contexto também é sintomática. Infelizmente as manifestações da passada quinta-feira ficaram marcadas por uma expressiva dureza policial. A PSP fez-se representar nas manifestações com um dispositivo como eu nunca tinha visto. Grupos perfeitamete pacíficos, com crianças e tudo, eram escoltados por uma super-polícia de intervenção, com capacetes, coletes almofadados e shotguns ( presumo que com balas de borracha) orgulhosamente expostas. Com dispositios destes, com agentes à paisana infiltrados no meio da multidão e tudo, não admira que se tenha chegado ao fim do dia com diversos episódios de repressão policial despropositada.

E para este cenário de clara tensão tem também contribuído um jornalismo excessivamente em busca do incidente e do confronto. No caso da manifestação da greve geral, as dezenas de milhares de pessoas que circularam pelas ruas de Lisboa e que se dispuseram a perder um dia de salário com a greve, foram secundarizadas pelos incidentes que envolveram meia dúzia em frente á AR. Dir-me-ão que este jornalismo em busca do sangue é assim em qualquer parte do mundo, não apenas aqui. Certo, mas tal não nos deve ipedir de sermos um pouco mais exigentes com a nossa comunicação social.

Todos os indicadores apontam para estarmos num período de forte mudança. A tensão e conflitualidade que se encontra no ar não deixa dúvidas a este respeito. Resta aos cidadãos posicionarem-se sobre a mesma e definirem qual o caminho para transformar de facto esta crise numa oportunidade. E você, já se posicionou?

Artigo ontem publicado no Açoriano Oriental

(Imagem: Escafandrista)

Feed the Beast

"Bolsas de todo o mundo subiram após acção concertada de 7 bancos centrais". Para quê lutar contra a besta quando podemos alimentá-la, não?
(Imagem: Tom Krepcio)

domingo, 27 de novembro de 2011

All together now




Ainda a greve geral estava em curso e sucediam-se já as movimentações do costume. Por um lado, os números da adesão, os sectores mais e menos afetados e as ilações daí a retirar. Por outro lado, o velho problema do árduo empenho da comunicação social em transformar o pequeno detalhe em acontecimento, em rapidamente fazer de um incidente um perigoso tumulto. Enfim, nada de novo, portanto.

Pessoalmente, julgo que esta greve geral fica sobretudo marcada pela diversidade das pessoas que vieram para a rua manifestar-se. Dos sindicados aos indignados, do pessoal da cultura aos estudantes, sentiu-se no ar uma comunhão de interesses, de preocupações e, claro, de revolta e indignação. Não existiu uma manifestação, mas sim um desfile delas. Em todas sentia-se combatividade e a tão necessária vontade de mudança. Sentia-se uma sólida oposição ao rumo político em curso e à forma como as instituições políticas estão a responder às necessidades e vontades populares. Infelizmente o panorama atual a este cenário tem conduzido.

E tudo isto sucedeu apesar de se ter notado um aparato policial sem precedentes. Autênticos Robocops com grandes armas bem visíveis escoltaram os manifestantes Chiado acima, criando uma notória tensão entre quem por lá andava. Protestos perfeitamente pacíficos e festivos subitamente foram assumidos como ameaçadores. Isto para já não falar dos polícias à paisana que por lá andaram incendiando os ânimos.

Claro que, tendo em conta o cenário atual, fica sempre a sensação de que muito mais gente devia ter aderido à greve. O que é preciso mais para que as pessoas venham em massa para a rua manifestar-se e defender a sua dignidade? As respostas podem ser diversas, mas a certeza ficou de que esta insatisfação está a crescer e a lançar pontes entre sectores com pouco historial de proximidade. Isto está a mudar.

Artigo publicado sexta-feira no Esquerda.net

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Criminoso!

Via Jugular. Para quem ainda tem dúvidas que existiam muitos polícias à paisana no meio das manifestações de hoje. Para quem ainda tem dúvidas que a polícia anda a actuar de forma criminosa. Três polícias à paisana a baterem num miúdo. Repare-se bem no fulano de capucho cinzento no video acima, filmado hoje.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Eu Grevo!

Tu grevas, ele greva, nós grevamos!

domingo, 20 de novembro de 2011

5 anos de Activismo de Sofá




Mais do que contabilizar o número de posts, de visitas ou de seguidores, julgo que são sobretudo os 5 anos enquanto blogger que importa ter em conta. E de facto este espaço constitui desde sua criação uma parte importante de quem nele escreve. São muitas horas de reflexão, de opinação, de partilha, de construção e de descontrução. Eu não seria naturalmente o mesmo sem este blogue.

E talvez a parte mais enriquecedora seja mesmo a quantidade de amizades e cumplicidades blogosféricas que se foram desenvolvendo. Dos blogues aqui ao lado, a todos aqueles que vão cá passando (aqui, no facebook, no twitter ou no google +) e comentando com mais ou menos regularidade.

Infelizmente, compromissos grandes nos últimos tempos têm-me feito abrandar bastante. O tempo têm sido pouco para acompanhar a actualidade, quanto mais para escrever sobre ela. Mas isto vai voltar à normalidde. Até lá , agradeço a compreensão dos milhões e milhões que aqui passam. :) Venham mais cinco!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Oh Eusébio...




No jogo recente entre o Braga e o Benfica, o jogador do Braga Alan declarou ter sido alvo de declarações racistas por parte de Javi Garcia. Alguma polémica instalou-se desde então ao ponto de Eusébio já se ter pronunciado sobre o episódio:

"Alan veio queixar-se que Javi lhe chamou preto. Ele é preto e devia ficar ofendido se lhe chamassem branco. Quantas e quantas vez me chamaram preto, mas nunca fiquei ofendido porque o sou realmente. Alan é um estúpido". Comentários para quê?

A Mercadocracia

Em poucos dias, os primeiros-ministros grego e italiano saíram de cena. George Papandreou e o Silvio Berlusconi deram lugar a Lucas Papademos e a Mario Monti. Os seus governos cairam perante a ameaça de aprofundamento da crise nos seus países. E tal não aconteceu por expressão do voto popular. Não aconteceu também porque uma qualquer instituição política do seu país, como a Presidência da República, tenha condenado as suas políticas e os tenha considerado incapazes de continuar a governar os seus países. Papandreou e Belusconi caíram porque as taxas de juro da dívida dos seus países assim o determinaram. Cairam porque os mercados andavam nervosos e depressa foi-lhes indicada a porta da saída. Ainda tentaram resistir, mas o seu esforço adivinhava-se desde logo inglório.

Como é evidente, salientar tal facto está longe de ser um lamento pela queda destes dois políticos em concreto. Trata-se sim de sublinhar o ponto a que chegamos na actualidade: os mercados já conseguem fazer cair sem grande dificuldade governos democraticamente eleitos. Já conseguem derrubar maiorias parlamentares. No caso de Berlusconi, torna-se até particularmente curioso constatar que o político e empresário que sobreviveu a mil e um processos nos tribunais, a um sem número de lamentáveis escândalos e polémicas, acabou por ser derrotado por algo tão irracional e aleatório como os juros da dívida do seu país.

Mas tão ou mais grave do que este facto em si, é a passividade com que estas graves dinâmicas em curso são aceites pelos mais diversos actores. Veja-se o caso dos restantes Estados-membros europeus. Não só deram o seu consentimento mais ou menos explícito, como não esconderam o seu desejo de que a mudança de cadeiras se operasse rapidamente. Estas dinâmicas beneficiaram também de uma cobertura quase acrítica da comunicação social. Perante uma preocupante subtituição do voto pelos juros da dívida enquanto mecanismo de legitimidade política, grande parte da imprensa mais não fez do que selar a inevitabilidade de um processo em curso. Por último, a passividade com que as opiniões públicas em geral olham para todo este processo também não deixa de ser preocupante. Chegou-se a um ponto de tamanha apreensão e desorientação que a legitimidade eleitoral passou a ser um detalhe.

Como cereja em cima do bolo de todo este cenário algo dantesco, é sabido e reconhecido que as substituíções em curso não originarão mudanças políticas de fundo ao rumo seguido até aqui. A austeridade continuará a ser a palavra de ordem, em linha aliás com todos os que defendem que não existem alternativas a este tipo de caminho. A presente crise tem demonstrado que, mais do que favorecer genericamente a direita ou a esquerda políticas, impulsiona sim a alternância no poder. Não será por acaso que um pouco por toda a Europa os partidos no governo começaram a acumular derrotas eleitorais, abrindo caminho aos maiores partidos da oposição. A mudança de governo acaba então por ser pouco mais do que uma mudança de caras, já que as políticas são para manter ou aprofundar.

A supremacia da economia sobre a política, ou do capital sobre o povo, não é um tema novo. Pelo contrário, povoou grande parte das ideologias políticas dos séculos XIX e XX. Eis como, em pleno século XXI, temos um exemplo claríssimo deste tipo de fenómeno. Ninguém esperava que estas dinâmicas desaparecessem nos dias que correm. Quando muito, seria sim expectável que se mantivessem de forma mais dissimulada, menos evidente. Mas não, parece que afinal a tradição ainda é o que era.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Sorry




Grandes afazeres profissionais e pessoais têm-me dado pouco tempo para para este espaço nestes últimos dias. São fases... Mas isto vai voltar ao normal. Até lá, as minhas desculpas aos milhões que aqui passam diariamente

Novas Franjas na Esquerda




Como é sabido, por mais paradoxal que possa parecer, os acontecimentos actuais não estão a originar viragens políticas à esquerda. E o inverso também não está bem a suceder. São sim momentos onde a insatisfação e a apreensão generalizada na população acabam por ser propícios aos típicos desejos de despolitização. Ou seja, grande parte da população está reticente em encontrar nas alternativas políticas existentes a solução para os problemas do país.

A boa notícia é que estes momentos são propícios ao surgimento de novos movimentos políticos. Com ideários à primeira vista difusos, acabam por contribuir decisivamente para chocalhar e posteriormente renovar as dinâmicas políticas existentes. Neste sentido, na esfera de influência da esquerda política, têm sido tempos férteis em novidades. Dos Indignados ao Occupy Wall Street, uma nova geração de movimentos têm vindo a assumir um protagonismo mais do que interessante. De forma mais ou menos estruturada, e com argumentários mais ou menos inovadores, estão a conseguir trazer novos sectores para a contestação social, ao mesmo tempo que estão a possibilitar novas pontes entre os movimentos e correntes políticas já existentes.

E a este panorama devem também adicionar-se movimentações em franjas à partida não tão usuais. Veja-se o caso do movimento anonymousque, um pouco por todo o mundo, mobilizado em torno de ideais anti-corrupção, pugna pela transparência e apela mesmo à desobediência civil através da pirataria informática. Veja-se aliás a este propósito a curiosa emergência de movimentos e até partidos pirata em diversos cantos da Europa. Assentes em ideias como o software livre, os standards abertos e o acesso aberto à informação pública e ao conhecimento, o hacktivismé com certeza um fenómeno que veio para ficar. E muitos outros exemplos de movimentos políticos emergentes podiam ser aqui identificados

Estes não são tempos fáceis para a esquerda, é certo. Mas é sabido que os tempos difíceis são também tempos de renovação, de realinhamento e de consolidação. As dinâmicas sociais estão a demonstrar bem que a política encontra os seus caminhos apesar de todos constragimentos no sentido da despolitização.Novas franjas de inconformismo e de sede de mudança estão a surgir onde menos se espera. Compete à esquerda agarrar estas oportunidades de crescimento.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net

sábado, 5 de novembro de 2011

E a Grécia aqui tão perto...

Quando pensávamos que as coisas não podiam piorar, o povo grego deve estar a sentir-se ainda mais enxovalhado nos tempos que correm. Enxovalhado o suficiente para perder qualquer esperança que a situação do seu país se resolva no actual quadro. Confiando cada vez menos nos seus políticos, na UE e em qualquer outra organização internacional.

E se calhar tão ou mais preocupante do que isso é que Portugal é o próximo na fila. A imagem acima até pode não o mostrar com clareza. E, nestes dias, a tão grande demonização dos gregos quase o fez esquecer. Mas a crua verdade, como todos sabemos, é que a Grécia por estes dias está aqui tão (mesmo muito muito) perto.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Os bugs de Nuno Crato

Num quadro de redução de eventual de disciplinas, Nuno Crato considerou a inutilidade da disciplina TIC do 9º ano. Segundo o ministro, os estudantes com as idades em causajá sabem mexer num computador. Pelos vistos, o ministro esqueceu-se que utilizar um computador como ferramenta de produtividade é um pouco mais do que mandar uns emails, navegar nas redes sociais e ver uns videos no You Tube. Esqueceu-se que se calhar os jovens até sabem mexer num computador, mas estão longe de conhecer ferramentas de folha de cálculo, de bases de dados, de criação de páginas web, ou mesmo ferramentas de processamento de texto com uma profundidade mínima.


Aliás, pela lógica de Nuno Crato, devíamos poder acabar com o Inglês, porque os miúdos de hoje vêem televisão e ouvem música em inglês. Deviamos também acabar com geografia, porque os miúdos de hoje viajam muito. E já agora acabe-se com o Português também. Porque os míudos de hoje até sabem falar... Num momento em que se exigem investimentos que suportem o crescimento do país, sobretudo na educação, o Ministro com tal pasta sai-se com uma destas. Comentários para quê?

(Imagem: Nuno Crato)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Uma bocadinho embaraçoso

Ontem, ao recordar a uma colega minha húngara que hoje seria feriado, esta respondeu-me que na segunda-feira também era feriado na Hungria. Acrescentou que, por isso, trabalhariam no próximo sábado... Pensei não perceber bem o que a minha colega me estava a dizer. Perguntei-lhe se sempre fora assim. Se sempre que existia um feriado, cortavam um dia no fim-de-semana seguinte. Ela respondeu-me afirmativamente...

Os Corajosos

Quando Pedro Passos Coelho fez campanha sob o lema “andamos a viver acima das nossas possibilidades”, foi considerado corajoso por o afirmar. E a coragem tem sido uma das características que mais lhe tem sido atribuída, não só pelos seus partidários, mas também por comentadores e outros opinion makers de quadrantes diversos. O acto de pedir (ou exigir, melhor dizendo) sacrifícios é considerado corajoso. Mais recentemente, tal adjectivo foi atribuído ao primeiro-ministro quando este anunciou o corte dos subsídios de Natal para 2012 e 2013. Foi também considerado corajoso o facto de Passos ter reconhecido na semana passada que o país tem de “empobrecer” para conseguir sair da crise.

Como é evidente a noção de coragem varia de quadrante para quadrante. E estranho seria se assim não fosse. Mas existe uma tendência quase congénita na análise política para considerar corajosa a tomada de medidas que cortam direitos ou regalias existentes. Importa portanto demonstrar um pouco o quão inviesado é tal raciocínio.

Façamos uma análise sobre a coerência ou não de tais medidas com o perfil ideológico das diversas forças políticas, começando por assumir que o que é corajoso para um liberal poderá não o ser para um social-democrata e vice-versa. Assim sendo, será que é corajoso um governo com um perfil liberal cortar nas prestações sociais? Dado o alinhamento de tais medidas com o seu pensamento político, podemos dizer que um liberal que corta benefícios sociais é tão corajoso como um social-democrata que os aumenta. E aumentar a taxação sobre os rendimentos do trabalho, ao mesmo tempo que se isenta as mais-valias de capital, será um liberal corajoso por o fazer? Diríamos que é um acto tão corajoso para um liberal como um social-democrata defender a taxação das grandes fortunas. Ou seja, considerar que medidas em perfeita sintonia com o pensamento político dos respectivos autores são corajosas é algo bastante paradoxal.

E a suposta coragem das medidas em curso parece também não resistir à análise do contexto que as rodeia. Tomemos como exemplo a actual governação. No fundo, considera-se corajosa a adopção de medidas que nos estão a ser impostas em diversas frentes. Impostas pelos restantes Estados-membros europeus e impostas também pelas mesmas organizações internacionais que suportam o sistema financeiro internacional altamente desregulado que nos trouxe até aqui. Considera-se corajosa a adopção de uma receita cujos resultados estão à vista na Grécia. Por último, considera-se corajosa uma estratégia apostada em por a casa em ordem, embora seja practicamente consensual que não foi por a casa está em desordem que os mercados resolveram atingir-nos.

Tal como referido acima, a coragem depende naturalmente da perspectiva que temos das coisas. A meu ver, coragem seria não só pensar, mas agir assumindo que esta crise não pode ser enfrentada jogando apenas no tabuleiro nacional. Uma actuação firme no contexto europeu, lançando pontes para uma acção con junto com os outros países caidos ou a caminho de cairem em desgraça, isso sim parece-me uma estratégia corajosa, precisamente por tentar remar contra a maré. Bater-se firmemente para que a Europa consiga fazer valer o seu peso a nível internacional exigindo que o sistema financeiro internacional seja rapidamente regulado, isso sim parece-me uma estratégia com alguma coragem. Quanto ao rumo abraçado pelo actual Executivo, confesso não perceber como o seguidismo pode ser considerado corajoso.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental