No primeiro artigo publicado, sublinhei causas estruturais e conjunturais que levaram aos maus resultados eleitorais dos últimos anos. No segundo artigo, destaquei o impacto destes resultados na estrutura interna do partido. No presente artigo, centro-me nas grandes decisões que o Bloco tem de tomar e na forma como deverá responder aos desafios em curso.
O objetivo de construir uma esquerda grande há muito entrou no discurso do Bloco. Neste sentido, a grande decisão de fundo a tomar será sobre a dimensão que a referida esquerda grande poderá assumir. Poder-se-á trabalhar para construir uma esquerda grande ortodoxa, cuja dimensão eleitoral valerá curiosamente entre os 3% e os 5%. Para o efeito, seguir-se-á uma abordagem mais radical, com um discurso endurecido ideologicamente e com um posicionamento no quadro político menos propenso a pontes e entendimentos com outros partidos e movimentos sociais. Tal opção é legítima e possivelmente mais segura até.
A alternativa ao cenário acima passa por um Bloco disposto a arriscar na construção de uma esquerda grande que eleitoralmente poderá chegar aos 10%, 15% ou até 20%. Tal implicará um posicionamento político bastante diferente do acima exposto. No fundo, uma postura menos rígida ideologicamente, menos institucional até, claramente centrada na possibilidade de crescimento e na necessidade de construção de pontes e entendimentos com setores diversos da esquerda política em Portugal.
Reconhecendo a legitimidade de qualquer uma das abordagens, escusado será sublinhar que sou bastante mais favorável à segunda alternativa acima exposta. E assim acontece, antes de mais, por estar convencido que é esta segunda abordagem que maior capacidade terá de alcançar a vasta fatia do eleitorado que já votou no Bloco ou que se sente naturalmente muito próxima do Bloco. Um eleitorado que é tendencialmente urbano, tendencialmente qualificado e tendencialmente jovem, representando assim um segmento particularmente exigente. Por razões diversas, este eleitorado tem-se sentido menos atraído pelo Bloco, sendo por isso necessária uma forte estratégia para trazê-lo de volta.
E é aí que a política de abertura, de alianças e de entendimentos assume uma particular importância. Uma esquerda de 15% ou 20% não se constrói sem uma grande predisposição para o estabelecimento de pontes e de convergências com qualquer força política deste espaço político. Com partidos e com movimentos sociais, mais ou menos alinhados com os posicionamentos do Bloco, importa abrir possibilidades de articulação e de esforço político conjunto. É isso que eleitorado acima referido espera, não se convencendo com as pequenas quezílias ideológicas que tendem a manter a esquerda totalmente dividida. O mínimo fechamento pouco justificado perante esta possibilidade de entendimento será entendido como isolacionismo e sectarismo.
Importa igualmente assumir a possibilidade de exercício do poder como algo tangível. Algo para o qual se luta em cada eleição. E a não ser que um partido como o Bloco passe a ser maioritário no espaço político à esquerda, tal acesso a funções governativas só poderá ser feito com uma política de alianças. O Bloco não quer ser o CDS da esquerda, que troca os seus princípios por lugares no Governo. Mas o Bloco tem também de reconhecer que a política feita apenas na oposição é uma política incompleta, desequilibrada, paradoxal até.
O país precisa de um Bloco com nova força. Um partido que, mostrando ter aprendido com alguns erros cometidos, volte a assumir-se como a nova esquerda, moderna e exigente, que conseguiu mobilizar tanta gente. Uma esquerda criativa, inteligente, surpreendente, pouco crente em verdades feitas e sempre descomplexada na busca de novas soluções e abordagens. Eis o “pequeno” desafio que o Bloco tem pela frente nos próximos tempos. Quem disse que gostamos de desafios fáceis?