quarta-feira, 30 de julho de 2014

Partidos e Financiamentos

Quando ontem li que os orçamentos de cada candidatura à liderança do PS rondariam os 160 mil euros, fiquei um pouco desconcertado. Mais de 300 mil euros em donativos levanta sempre algumas dúvidas sobre a real "generosidade" de tão grande vaga de mecenato.

Hoje leio que será o próprio partido a atribuir 150 mil euros a cada candidatura. E fico novamente desconcertado. Um partido que consegue desembolsar sem grande cerimónia 300 mil euros, não está nada mau...

Partidos e financiamentos, eis um tema que gera sempre desconfortos, desconfianças e sentimentos de falta de transparência.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Não pretendes ter (mais) filhos? Vamos ter de te taxar


Para além de querer ficar bem na fotografia, um amigo alertou-me para uma conveniência adicional desta suposta e súbita política de apoio à natalidade. Num contexto de constante subidas de impostos, este torna-se um excelente alibi para onerar quem, pelas mais diversas razões, não pretende fazer crescer a família. Um excelente alibi, portanto.

Portugueses, multiplicai-vos!

O Governo anunciou esta semana um pacote generoso de medidas de apoio à natalidade. Assumindo a necessidade de apoio às famílias portuguesas nestes domínios como uma das suas prioridades, foi apresentado um leque diversificado de medidas. Desde incentivos no IRS, até vantagens e alargamento das licenças parentais, passando por incentivos às empresas que contratem mulheres grávidas e reduções no pagamento de água e luz. Uma mão cheia de medidas procurando tirar Portugal da cauda da Europa no que à taxa de natalidade diz respeito. Uma espécie de apelo à multiplicação dos Portugueses.

Como é evidente, se calhar hoje mais do que nunca, não basta querer ter um filho e avançar com tal vontade. Pelo contrário, com a diminuição das redes de suporte familiar, com a rede pública de ensino ou de saúde a cumprir cada vez menos o seu papel, entre diversos outros fatores, ter um filho assume-se como um ato de coragem cada vez maior. Precisamente porque a componente financeira assume uma centralidade crescente nesta decisão. Neste sentido, as políticas de incentivo à natalidade que consigam amortecer o impacto financeiro são naturalmente importantes. 

Não haja portanto grandes dúvidas que, se excluirmos dimensões pessoais que não cumpre aqui profundar, a componente de estabilidade financeira é o primeiro dos fatores de decisão para se avançar com o projeto de ter um filho. Por assim o ser, não deixa de ser curioso e paradigmático que o Governo que mais conseguiu degradar a situação financeira dos Portugueses assuma agora como bandeira o impulso à natalidade. No fundo, o Governo que teve o “viver acima das possibilidades” e o “apertar o cinto” como um dos seus principais slogans. O Governo durante o qual a taxa de desemprego bateu recordes e que não se cansou promover medidas de precarização do mercado de trabalho, tudo em nome da flexibilização que necessitávamos para captar investimento externo. O Governo que avançou com cortes salariais nunca vistos e que elevou os impostos como não havia memória, diminuindo drasticamente o rendimento disponível dos Portugueses. O Governo que mais eliminou direitos e regalias dos trabalhadores, porque era importante por termo ao regabofe.

O Governo que mais desinvestiu na educação, na saúde e na segurança social públicas, em nome de objetivos de racionalização duvidosos. O Governo que chegou a aplaudir a imigração de uma nova geração qualificada, considerando que era importante a juventude sair da sua “zona de conforto”. E muitas outras bandeiras poderiam aqui ser recordadas. Algumas mais simbólicas, outras mais estruturais, mas cujos impactos os Portugueses conhecem bem no país e sobretudo no seu bolso. Toda uma conjuntura criada que, entre as suas diversas consequências, conseguiu aprofundar a quebra na natalidade, precisamente porque degradou de forma quase criminosa a situação financeira das famílias Portuguesas.

Perante este cenário bastante mais estrutural em que o país está mergulhado, o conjunto de medidas anunciadas surgem como meros salpicos de água perante um incêndio de grandes dimensões. Como se alguém decidisse ter um filho fazendo contas aos benefícios fiscais ou aos passes familiares para os transportes que agora consegue ter acesso. Como se qualquer uma destas tipo de medidas conseguisse mitigar de forma minimamente estruturante a triste realidade económica a que chegámos. 

Dito de forma simples, o Governo que mais buracos criou na estrada da natalidade, prontifica-se agora a oferecer amortecedores e capacetes a quem queira percorrer a referida estrada. É bonito, sem dúvida. 

Artigo publicado no Esquerda.net e no Açoriano Oriental 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Do melhorzinho que para aí anda

O "Nas Nuvens" do Nuno Artur Silva, no Canal Q . Não o consigo ver religiosamente. Mas quando o apanho, fico sempre preso.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Não deu tempo

Eu ia fazer um post sobre a detenção do Ricardo Salgado... Mas ele já foi libertado . Foi bom...

sábado, 19 de julho de 2014

Priceless

Depois de jogar à bola na rua com o filho, e depois de ir ao estádio com ele, entrámos numa nova fase: fazermos campeonatos de FIFA juntos. Priceless...

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Abrir Buracos e vender Amortecedores

Acho lindo e paradigmático que o Governo que mais buracos abriu na estrada da natalidade (desemprego, precarização, cortes nos salários, impostos, etc) esteja agora tão empenhado em vender "amortecedores" (benefícios fiscais, licenças alargadas, etc). Comentários para quê?

Food for the Soul



Gosto destes novos sons em estilo old school. Não têm nada de novo. Apenas aquele delicioso rock puro as usual.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Mini-Carta de um Pai ao Dr. Passos Coelho


Exmo. Dr. Passos Coelho,

Leio nos jornais que quer remover obstáculos à natalidade. Reduções no IMI, nas tarifas da água e passes familiares são algumas das promessas em cima da mesa. Muito giro, muito interessante...

Enquanto pai à beira do terceiro filho, tenho umas ideias para lhe dar bastante mais simples, que originarão o tal impulso à natalidade que procura:

  1. Páre de criar Desemprego
  2. Páre de cortar nos Salários
  3. Páre de aumentar os Impostos
E podia continuar o leque de "Páres". Mas não. Fico-me por aqui. Simples, não?

Disponível para qualquer esclarecimento adicional.
O pai de uma família quase numerosa

Contagious, de Jonah Berger

Ora aqui está uma leitura que agora terminei e que recomendo vivamente. De forma simples e extremamente acessível, Berger apresenta alguns princípios determinantes para o marketing (de produtos, serviços ou ideias) nos dias que correm. Princípios básicos que poderão fazer toda a diferença na comunicação.

Uma obra assumidamente de livraria de aeroporto, com todos os requisitos que lhe são típicos (best seller do NY Times) e que cumpre na perfeição os objectivos de quem o compra: conseguir em poucas páginas algumas fórmulas mágicas que ajudam a compreender importantes dimensões da atualidade.

Para os curiosos, a Talk at Google pode ser encontrada aqui.

Evidências

Algumas evidências sobre a desvinculação do Fórum Manifesto do Bloco de Esquerda:
1 - Não existem bons ou maus neste processos, culpados ou vítimas, honestos e desonestos. Os dois lados da barricada são constituídos numa vastissima maioria por gente séria (as excepções existem em todo o lado e estranho seria se não existissem);
2 - Este processo termina assim por existirem desencontros políticos que foram considerados determinantes, nem mais nem menos do que isso. Ninguém foi empurrado a sair, ninguém foi preso para ficar.
3 - Se o Bloco foi a sede para mais um tão grande desencontro (episódio que se tem sucedido nos últimos tempos), tem naturalmente razões para se questionar porque não tem conseguido manter-se como um espaço de encontros.
4 - Mais do que assumir um processo de saídas como algo normal ou como uma tragédia, importa ao Bloco  demonstrar qual a sua estratégia para o futuro. Demonstrar como pretende dar a volta.

terça-feira, 8 de julho de 2014

A Crise como Oportunidade?


E, de repente, tudo se desmoronou. Seria demasiado cruel desejar esta derrota estrondosa do Brasil. Mas sendo um facto consumado, ao menos sirva para que o país reflita sobre os disparates cometidos à conta da Copa. 

Estas bofetadas, estes terramotos, não sendo desejáveis, podem contribuir para a mudança. Se assim for, eis a "crise como uma oportunidade".
(Imagem: Expresso)

Os Desafios do Bloco – Parte 3


No primeiro artigo publicado, sublinhei causas estruturais e conjunturais que levaram aos maus resultados eleitorais dos últimos anos. No segundo artigo, destaquei o impacto destes resultados na estrutura interna do partido. No presente artigo, centro-me nas grandes decisões que o Bloco tem de tomar e na forma como deverá responder aos desafios em curso.

O objetivo de construir uma esquerda grande há muito entrou no discurso do Bloco. Neste sentido, a grande decisão de fundo a tomar será sobre a dimensão que a referida esquerda grande poderá assumir. Poder-se-á trabalhar para construir uma esquerda grande ortodoxa, cuja dimensão eleitoral valerá curiosamente entre os 3% e os 5%. Para o efeito, seguir-se-á uma abordagem mais radical, com um discurso endurecido ideologicamente e com um posicionamento no quadro político menos propenso a pontes e entendimentos com outros partidos e movimentos sociais. Tal opção é legítima e possivelmente mais segura até. 

A alternativa ao cenário acima passa por um Bloco disposto a arriscar na construção de uma esquerda grande que eleitoralmente poderá chegar aos 10%, 15% ou até 20%. Tal implicará um posicionamento político bastante diferente do acima exposto. No fundo, uma postura menos rígida ideologicamente, menos institucional até, claramente centrada na possibilidade de crescimento e na necessidade de construção de pontes e entendimentos com setores diversos da esquerda política em Portugal. 

Reconhecendo a legitimidade de qualquer uma das abordagens, escusado será sublinhar que sou bastante mais favorável à segunda alternativa acima exposta. E assim acontece, antes de mais, por estar convencido que é esta segunda abordagem que maior capacidade terá de alcançar a vasta fatia do eleitorado que já votou no Bloco ou que se sente naturalmente muito próxima do Bloco. Um eleitorado que é tendencialmente urbano, tendencialmente qualificado e tendencialmente jovem, representando assim um segmento particularmente exigente. Por razões diversas, este eleitorado tem-se sentido menos atraído pelo Bloco, sendo por isso necessária uma forte estratégia para trazê-lo de volta.

E é aí que a política de abertura, de alianças e de entendimentos assume uma particular importância. Uma esquerda de 15% ou 20% não se constrói sem uma grande predisposição para o estabelecimento de pontes e de convergências com qualquer força política deste espaço político. Com partidos e com movimentos sociais, mais ou menos alinhados com os posicionamentos do Bloco, importa abrir possibilidades de articulação e de esforço político conjunto. É isso que eleitorado acima referido espera, não se convencendo com as pequenas quezílias ideológicas que tendem a manter a esquerda totalmente dividida. O mínimo fechamento pouco justificado perante esta possibilidade de entendimento será entendido como isolacionismo e sectarismo. 

Importa igualmente assumir a possibilidade de exercício do poder como algo tangível. Algo para o qual se luta em cada eleição. E a não ser que um partido como o Bloco passe a ser maioritário no espaço político à esquerda, tal acesso a funções governativas só poderá ser feito com uma política de alianças. O Bloco não quer ser o CDS da esquerda, que troca os seus princípios por lugares no Governo. Mas o Bloco tem também de reconhecer que a política feita apenas na oposição é uma política incompleta, desequilibrada, paradoxal até.

O país precisa de um Bloco com nova força. Um partido que, mostrando ter aprendido com alguns erros cometidos, volte a assumir-se como a nova esquerda, moderna e exigente, que conseguiu mobilizar tanta gente. Uma esquerda criativa, inteligente, surpreendente, pouco crente em verdades feitas e sempre descomplexada na busca de novas soluções e abordagens. Eis o “pequeno” desafio que o Bloco tem pela frente nos próximos tempos. Quem disse que gostamos de desafios fáceis?

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

Política da Falta de Memória


Ao mesmo tempo que o PS continua a sua lavagem de roupa suja em praça pública, a maioria governamental ganhou a nova esperança de conseguir vencer as legislativas de 2015. Para além deste momento menos bom no PS estar a dar um novo impulso ao seu adversário, estas dinâmicas refletem também um fenómeno mais do que conhecido no panorama político atual: a falta de memória.

Por um lado, o PDS e CDS apostam agora tudo no branqueamento das suas principais políticas dos últimos anos. Tentam fazê-lo a coberto da suposta responsabilidade com que conduziram a austeridade. Foram duros, mas apostam agora tudo na mensagem de que o pior já passou, que o país está a sair do buraco, que os sinais de melhoria estão à vista. E repetindo esta mensagem até à exaustão, ela começa a ganhar as suas raízes e a ser assumida como uma quase verdade. O eleitorado quer mensagens de esperança, quer mensagens que lhe permitam virar a página deste período negro, por isso adere com alguma facilidade a este tipo de narrativa.

Por seu turno, o PS submerso na sua espécie de guerra civil interna, também não parece muito preocupado em sequer disfarçar as jogadas sujas, as golpadas e os ódios que na sua estrutura interna proliferam. Apenas está apostado em que este processo seja rápido, porque sabe que o eleitorado conseguirá esquecê-lo no espaço de poucos meses. E caso vençam as legislativas de 2015, as facadas internas de hoje rapidamente se transformarão em abraços amanhã, porque o poder tem a magia de tudo curar no seio de uma estrutura partidária.

“Há muita falta de memória”. A frase curiosamente celebrizada por Jorge Coelho reflete uma das maiores fatalidades da política dos dias que correm. O alheamento que existe, associado a uma mediatização que conduz em absoluto a agenda política, determina que o que hoje é feito dificilmente será devidamente recordado ou julgado amanhã. Ou seja, o ator político pode mover-se quase à vontade, fazer e prometer o que entender, dizer uma coisa e o seu contrário no espaço de poucos dias, que dificilmente será responsabilizado por tal facto. Dificilmente alguém o questionará no futuro sobre os seus anteriores atos ou sobre a coerência das suas posições. Remotamente, tal cenário até existe, mas as possibilidades de acontecer são ínfimas.

Enquanto assim acontecer, enquanto a aposta na falta de memória compensar largamente, dificilmente o panorama se alterará. Enquanto os cidadãos continuarem alheados, enquanto a sociedade civil não tiver força para denunciar estes processos, enquanto a comunicação social tiver dificuldade em cumprir o seu papel de “watch dog”, a política da falta de memória continuará alegremente.

Artigo ontem publicado no Esquerda.net