sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Nas Tintas

Em momentos difíceis como os actuais, existirá sempre alguma tendência para simplificar aquilo que à partida até pode ser um pouco complexo. Para tomar o todo pela parte, para colorir ou sublinhar aquilo que, sendo relevante, até pode não ser o essencial. E é normal que se proceda a esta simplificação como forma de tornar mais facilmente entendível o panorama em curso. Claro que cada lado desenhará o panorama a seu gosto, nomeadamente na identificação dos bons e dos maus da história, das vítimas e dos culpados. Mas não se trata necessariamente de um fenómeno de manipulação ou deturpação da realidade, mas sim de uma tendência natural de simplificação, com os seus aspectos positivos e as suas vicissitudes.

No caso da presente crise europeia, entre os diversos fenómenos como os acima descritos, não deixa de ser interessante verificar que o destaque assumido por Merkel e Sarkozi e a forma como têm mantido as rédeas curtas dos PIGS consegue por momentos reduzir a Europa a meia dúzia de Estados-membros. De um lado, os duros alemães e os algo tontos franceses e, do outro, os irresponsáveis e endividados da Europa do Sul. Então e o resto da Europa, qual o seu papel nesta novela?

Onde anda o Reino Unido, a Bélgica, a Holanda, ou a Áustria? E os escandinavos, qual o seu posicionamento? E os pequenos países como o Luxemburgo, o Chipre ou Malta? E os bálticos, o que pensam eles sobre o que se está a passar? E os diversos Estados-membros da Europa Central e de Leste, como a Polónia, a Hungria, a República Checa, a Eslovénia, a Eslováquia, a Roménia, a Bulgária? O que pensam sobre a crise do euro, como se posicionam sobre as decisões em curso?

Como assertivamente referiu Clara Ferreira Alves no último Eixo do Mal, a verdade é que se estão mais ou menos nas tintas para o que se está a passar na Europa do Sul. Aliás, manifestam preocupação, mas apenas numa perspectiva de não serem eles as próximas vítimas da desgraça que agora atingiu os vizinhos. Qual solidariedade, qual quê. É o salve-se quem o puder, é o cada um por si. E só muito estranhamento tal comportamento pouco fraterno nos poderia causar alguma confusão. Basta pensarmos por exemplo no comportamento que Portugal tem tido com os Gregos. A única preocupação tem sido distanciarmo-nos ao máximo e quando muito até ajudar no linchamento de que são alvo, esperando assim que os outros não olhem para nós.

E assim anda a União Europeia. Importa relembrar que as uniões não se vêem nos bons momentos, mas sim nos maus. E esta tão evidente ausência de solidariedade dos Estados-membros, esta incapacidade de pensar, sentir e agir como um todo com um mínimo de coesão é apenas mais um sinal que a Europa precisa de ser urgentemente repensada, reformada e até refundada. De outro modo, o nacional-“tintaismo” continuará a ganhar terreno.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net

(Imagem: Mercy Online)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A melhor maneira de não se fazer nada

Consegui apanhar hoje na SIC Notícias o directo da audição no Parlamento do ex-Secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. Discutiam-se as ruinosas parcerias pública-privadas, nomeadamente as SCUTS. A discussão resume-se assim: PSD acusa PS de ter celebrado parcerias ruinosas para o país. PS lembra PSD que os seus governos também o fizeram. E pronto. Comentários para quê?

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Transições Incertas

Quando um regime ditadorial cai bruscamente, os países entram na cinzenta fase da transição para a democracia. Tal como é descrito nos diversos manuais destas áreas, trata-se de um período de indefinição onde a democracia pode surgir ou, pelo contrário, originar-se um novo regime ditadorial. Alguns dos países onde está a ocorrer agora a primavera árabe estão precisamente a passar por este período de incerteza.

Em poucos dias, tivemos sinais de esperança e de preocupação. Na Tunísia, tudo indica que as primeiras eleições livres correram bem, independentemente de ter ganho um partido não secular. Na Líbia, por seu turno, o linchamento de Kadhafi é no mínimo preocupante. Oxalá os líbios consigam rapidamente virar a página deste triste episódio.

domingo, 23 de outubro de 2011

Saco de Gatos


A Europa está a dar mais uma demonstração da sua incapacidade para gerir a crise em curso. Entre adiamentos vergonhosos, governação franco-alemã despudorada e receituários de recapitalização bancária cujos efeitos há muito estão demonstrados, a UE faz uma triste figura perante os seus cidadãos e mesmo perante o panorama internacional. Nunca como hoje a UE conseguiu encaixar-se tão bem no histórico paralelismo com a Torre de Babel.

Bem sei que vai soar a sentimentalismo de esquina, mas enquanto europeísta convicto sinto-me particularmente envergonhado com a triste figura que todo o edifício comunitário se está a prestar nos momentos presentes.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Da Resignação à Indignação

O fim-de-semana ficou sem dúvida marcado pelas chamadas “manifestações dos indignados”. Em cidades de todo o mundo ouviram-se muitas vozes contra o actual estado de coisas. Manifestaram-se contra a actual crise financeira, as suas causas e a forma como está a ser gerida, contra a desregulamentação dos mercados, contra um status quo político que tudo assume como inevitabilidade, sempre atento à estabilidade financeira mas pouco preocupado com o bem estar dos povos. Protestou-se também contra a falta de qualidade da democracia, contra o distanciamento entre eleitos e eleitores e a favor de uma democracia mais aberta à participação dos cidadãos. E houve até quem ligasse, e bem, todas estas questões à dimensão ambiental, sublinhando o desrespeito do modelo económico actual e o consumismo em que assenta o mesmo para com o meio ambiente.

É certo que todas estas causas convenientemente agrupadas sob a chapéu da indignação, parecem à primeira vista pouco mais do que uma grande salganhada. Não é pois de estranhar que no sábado tenhamos ouvido jornalistas a dizer que se trata de um movimento sem ideologia certa, unido apenas pela indignação. Se tal assunção até não soa mal quando dita num qualquer directo, revela no entanto uma miopia significativa. Como se não fosse visível a olho nu que a indignação crescente reúne-se consensualmente na crítica, mais ou menos construtiva, ao modelo político e económico que o Ocidente conheceu nas últimas décadas: a democracia representativa (que satisfaz um número cada vez menor de cidadãos) assente na economia de mercado (que, baseada num sistema financeiro internacional totalmente desregulado, nos trouxe ao panorama actual). Posto isto, a ideologia destas movimentações será assim tão difusa? Julgo que não.

E as manifestações de sábado mostraram isso mesmo. Sobretudo em Portugal. Se na gigantesca manifestação do 12 de Março apenas era consensual a crítica ao Executivo de então, este 15 de Outubro foi diferente. Por um lado, denotou-se que quem lá estava, protestava com uma convicção clara: de que a austeridade não é o caminho, que afundará a economia portuguesa e que a solução para o problema em que o país se encontra está longe de poder ser restrita ao âmbito nacional. Por outro lado, os números da adesão, mas não só, demonstram que a resignação parece estar a dar lugar à indignação. Sobretudo com os cortes dos subsídios da função pública, o país parece ter começado a perceber o que são políticas recessivas. Subitamente, o colega de trabalho (que até é um fulano calmo), a vizinha do 2º dto (que não gosta de políticas) e o Sr. Carlos do café (que apenas fala do tempo e da bola) começam a deixar transparecer a sua indignação.

A resignação começa a dar lugar indignação porque as pessoas sabem que tal é o mínimo que podem fazer perante o que se está a passar. Demonstram assim que não estão com vontade de pagar uma crise que não provocaram e que não acreditam que a austeridade seja o caminho para a ultrapassar. Como é sabido, é nos momentos de crise, envolvendo tensão e até conflituosidade, que surgem as grandes mudanças. Daí o tão repito chavão do “fazer da crise uma oportunidade”. Mas se até agora os defensores do “temos vivido acima das nossas possibilidades” estavam a levar a melhor, a situação parece estar efectivamente a mudar. O conjunto alargado de movimentos sociais em todo o mundo está de facto a despertar consciências com o seu apelo à indignação e a sua exigência de um mundo melhor, mais justo, mais democrático, mais amigo do ambiente. No fundo, um mundo onde as pessoas são mais importantes que os mercados. Simples, não?


Artigo publicado na terça-feira no Açoriano Oriental

terça-feira, 18 de outubro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

Tumultos?!

Quando chego a casa pelas 19h, ouço uma jornalista em êxtase na RTP a falar em confrontos e tumultos na manifestação em Lisboa. Sim, ouviram bem, "tumultos" ?!? A vontade de sangue é grande, nós sabemos. Mas podia ser um pouco melhor disfarçada, não?

E o país começa a indignar-se


As manifestações de hoje numa série de outras cidades do país demonstram que a indignação cresce. Sentiu-se na rua que os protestos já estão a abranger muito mais do que a "malta do costume".

A elevada adesão teve o seu quê de surpresa, uma vez que há apenas uma semana atrás ninguém conseguiria prever o seu sucesso ou não. Mas também é verdade que se os portugueses não são capazes de se indignar com o que agora lhes estão a fazer, então não sei então o que lhes poderá indignar.

Vemo-nos daqui a pouco

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ah e tal, fazer da crise uma oportunidade

É normal que em momentos como o actual uma série de chavões e soundbytes vão ganhando relevo. O “fazer da crise uma oportunidade” é talvez um dos que assumiu particular destaque. Com ligeiras variantes, é repetido até à exaustão por um conjunto muito variado de opinion makers, particularmente aqueles que vêem no momento presente uma oportunidade singular para por ordem na casa. Ou seja, para acabar com o modelo de Estado-Providência com o argumento de que temos vivido acima das nossas possibilidades. Não é portanto necessário ser-se um horrendo esquerdista para se perceber que os sectores políticos mais à direita encaram esta crise como o ónus perfeito para fazer valer a sua visão do mundo.

Mas é também particularmente interessante verificar que sejam agora estes sectores da direita a mais utilizar o slogan da crise como oportunidade, quando é sabido que este tipo de visão até está tradicionalmente associada às teorias marxistas de transformação social. Como é sabido, estas sempre encararam os momentos de crise como momentos ímpares para, aproveitando a revolta popular e a predisposição para a mudança, impulsionar rupturas com o sistema vigente e conseguir grandes saltos em termos de progresso social e político. Não é por acaso que as crises são historicamente grandes impulsionadoras das revoluções.

Assim sendo, é natural que haja hoje grande apreensão entre os sectores da esquerda sobre as consequências da crise. Sobretudo num momento em que as opiniões públicas parecem semi-anestisiadas pelo discurso da austeridade. Os tempos não são os mais animadores, é certo. Mas, não querendo cair em clichés, importa não perder de vista a potencial de oportunidade que estes momentos de mudança encerram.

As manifestações que amanhã ocorrerão em todo o mundo são apenas um exemplo de que esta crise também consegue despertar consciências e gerar desenvolvimentos com alcances dificilmente previsíveis. Amanhã exige-se justiça económica, exige-se uma melhor democracia, exige-se a paz, exige-se até um mundo melhor. Retomam-se as conhecidas dinâmicas do “ser realista, exige o impossível” com uma vitalidade como há não se via. Tal é impulsionado por uma diversidade impressionante de movimentos sociais, vindos até dos sítios mais inesperados (veja-se o relevo crescente do movimento Occupy Wall Street).

Em suma, começa a ser tempo da esquerda exigir de volta uma máxima que é sua por natureza. Até porque começa a estar à vista de todos que as oportunidades não são assim tão desanimadoras no panorama actual.



Artigo hoje publicado no Esquerda.net


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

15 de Outubro - A Democracia sai à Rua


"As pessoas não são descartáveis, nem podem estar dependentes da especulação de mercados bolsistas e de interesses financeiros que as reduzem à condição de mercadorias. O princípio constitucional conquistado a 25 de Abril de 1974 e consagrado em todo o mundo democrático de que a economia se deve subordinar aos interesses gerais da sociedade é totalmente pervertido pela imposição de medidas, como as do programa da troika, que conduzem à perda de direitos laborais, ao desmantelamento da saúde, do ensino público e da cultura com argumentos economicistas."


Ler a convocatória na integra aqui.

Aparece e trás um amigo também!

domingo, 9 de outubro de 2011

Notas sobre a Madeira


1 - Dizer-se que esta é uma vitória à tangente de Jardim e que tal representa um enfraquecimento do líder madeirense parece-me uma visão muito optimista. Pode ter sido o pior resultado de sempre de Jardim, mas conseguiu-o contra tudo e contra todos, após semanas e semanas de exposição mediática negativa. Se isto não é uma estrondosa vitória, o que será?

2 - O CDS consegue de facto um resultado impressionante. Mas parece-me que tal resulta também da expectativa mediática que se gerou em torno da sua candidatura. Desde logo, e sem se perceber como, se assumiu que José Manuel Rodrigues teria um grande resultado. Estas expectativas tão mediatizadas atraem votos.

3 - Os resultado do PTP e do PND são a demonstração que, até na oposição Jardim consegue fazer escola. Como tem sido sublinhado por diversos comentadores, trata-se da aplicação do folclore político celebrizado por Jardim contra o próprio.

4 - A esquerda, no seu todo, foi a grande derrotada. PS, CDU e BE têm de repensar a sua estratégia na região. É certo que não é só na Madeira que os tempos não andam famosos para a esquerda política, mas os resultados no arquipélago são um desaire que não deve ser minimizado.

5 - A qualidade da democracia da Madeira sai bastante mal tratada destas eleições. Há muito que estão identificados os perigos que Jardim representa. Mas esta foi de facto a campanha em que tal foi explicitado com maior clareza. E mesmo assim o eleitorado concedeu-lhe uma nova maioria absoluta. Relativizar tal facto e desculpabilizar o eleitorado é um sério contributo para não se ver a real dimensão do problema.

O Criativo


Num artigo hoje publicado no Expresso, entitulado "Os Inadaptados", Mário Crespo estabelece um fortíssimo paralelo entre Alberto João Jardim e (imagine-se!?) a CGTP e a UGT. Segundo o pivot da SIC Notícias, as semelhanças são inúmeras: vivem noutro tempo, acham que o Estado pode tudo pagar e que os sacrifícios podem ser contornados.

É preciso ser-se, no mínimo, um verdadeiro criativo para encontrar tal paralelismo entre o sindicalismo português e Alberto João Jardim. Já para encontrar paralelismo entre o populismo de Jardim e o populismo de Mário Crespo não acho necessária tanta criatividade. É que, pelos vistos, ambos têm uma capacidade impressionante de mobilizar os alhos e os bugalhos que forem precisos para fazer valer um ponto de vista prévio.
(Imagem: Vagueando)

sábado, 8 de outubro de 2011

Uma boa notícia


Segundo o próprio anunciou, o ciclo político de Carlos César acabará no próximo ano, 16 anos depois de se ter iniciado. Confesso-me surpreendido por esta notícia. Não é comum um líder que ganharia sem grandes dificuldades um próximo mandato, abandonar tal possibilidade.

Mas esta notícia parece-me boa em vários domínios. Todos parecem ganhar com ela. César tem assim hipótese de sair com altos índices de popularidade. A oposição tem uma possibilidade adicional para mostrar o que é que vale nas próximas eleições. Os açorianos, após 16 anos de status quo político, serão convidados a escolher uma solução que será sempre de mudança (maior ou menor).

Por último, até para o PS Açores esta poderá ser uma boa notícia. É certo que não vai ser fácil. A saída de um líder carismático convida fortemente a uma travessia no deserto. No entanto, após 16 anos, uma mudança de liderança representa sempre a possibilidade de uma forte lufada de ar fresco. Resta agora ter capacidade de aproveitá-la.
(Imagem: PDA)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Offshore Político




E em plena campanha eleitoral, Jardim continua a passar o dia a fazer inaugurações. Mas o que impressiona não é o facto de Jardim o fazer. Mas sim a atitude bocejante das autoridades competentes perante mais este atropelozito às regras democráticas. Quem aguarda uma palavra do Presidente da República, deverá fazê-lo sentado. E a Comissão Nacional de Eleições, terá perdido de vez a esperança de se fazer respeitar na Madeira?

O Clientelismo (na Madeira e não só)



Tudo indica que Jardim deverá conseguir uma nova maioria absoluta nas regionais do próximo fim-de-semana. Como é possível que os madeirenses o elejam novamente depois de tudo o que se está a passar? Como é possível que, após 33 anos de Jardinismo, se continue a querer mais do mesmo, afastando-se mais uma vez a possibilidade de mudança? Eis algumas das perguntas que andam no ar por estes dias. A explicação de censo comum que ouvimos da maioria dos comentadores é que os Madeirenses querem Jardim porque este lhes garante obra, lhes garante desenvolvimento. Trata-se de uma explicação fácil, que peca sobretudo por ignorar uma série de outros mecanismos que garantem a perpectuação no poder dos actores políticos.

Centremo-nos no caso da Madeira. Após mais de três décadas de poder, Jardim e o PSD-Madeira estão em todas as esferas da sociedade madeirense. Como? Uma das principais fontes do poder é a distribuição de recursos. Através de acções como as nomeações para o aparelho governativo, a concessão de empregos no sector público, a atribuição de subsídios ou outros apoios a empresas, associações ou à própria Igreja, a contratação de serviços ao sector empresarial na região - da empreitada pedida a uma empresa de construção civil à produção de um evento a uma empresa de gestão cultural, passando por publicidade oficial nos media regionais – compram-se fidelidades políticas muito significativas. São mecanismos geradores de dependências económicas que muito ajudam à manutenção do poder.

É este clientelismo que garante que os empresários X, Y e Z, que sempre tiveram contratos com o governo regional, não tenham interesse na mudança política; que o líder de uma associação que recebe fundos do governo regional não ande a defender a mudança; que a Igreja, que tem beneficiado de bons apoios na região, se alterne entre o apoio mais explícito e o silêncio aprovador; que a imprensa na região, dependente da publicidade oficial, não tenha vontade de levantar grandes ondas; que o o reitor da universidade, que até vai inaugurar um edifício novo no próximo ano, se abstenha de ter uma intervenção pública crítica da vida política regional; que o chefe dos bombeiros do concelho Y, a quem foi prometida uma nova ambulância até ao final do ano, simpatize com o sr. Jardim. E milhares de exemplos poderiamos dar sobre a forma como se estrutura o clientelismo numa realidade como uma região autónoma.

Mas é também esta tão grande capacidade de distribuir recursos que garante dificuldades adicionais à oposição para se constituir como alternativa. Numa sociedade em que estar contra um poder quase omnipresente é um garante de dificuldades adicionais a nível profissional, para não dizer social, só os mais arrojados embarcam em tal aventura. Por outro lado, a capacidade que o aparelho governamental tem em absorver os quadros que vão surgindo na região, convidando-os a assumir responsabilidades na administração pública ou em empresas públicas, asfixia a capacidade da oposição segurar gente nas suas fileiras.

Exemplos como os acima demonstram os perigos de estadas prolongadas no poder, independemente da força política que o ocupa. Neste caso em concreto, a sociedade madeirense encontra-se já tão enredada pelos tentáculos do poder do governo regional e do PSD-M, que deixou de ter a autonomia necessária ao bom funcionamento da democracia na região. Eis porque a rotatividade no poder é um importante indicador da qualidade da democracia. Tal garante a não proliferação de uma série de vícios associados às longas estadias no poder. E, como todos sabemos, infelizmente não é só na Madeira que tal fenómeno acontece.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

(Imagem: Ramble Tamble)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Cavaco pede aos Portugueses para não desistirem (dele)






O Presidente da República apelou hoje para que os portugueses não desistam (dele) nesta fase em que "a tentação da desistência pode ser grande".
In Diário de Notícias
(Não aconteceu, mas podia ter acontecido...)

Cultura Pirata na Sociedade da Informação

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