domingo, 31 de julho de 2011

O mundo é pequeno


Não deixa de ser curioso verificar que o novo dono do BPN, o BIC, é liderado por Mira Amaral, antigo ministro de Cavaco Silva que partilhou durante vários anos o Conselho de Ministros com Dias Loureiro. O mundo é pequeno.
(Imagem: Small World)

Desculpe, importa-se de repetir?!


Depois de ter sido ter gasto mais de 2400 milhões de euros com o BPN, o Estado vende-o agora ao BIC por 40 milhões. Garante que apenas metade dos cerca de 1500 trabalhadores continuarão no Banco e responsabiliza-se ainda por indemnizar a outra metade que verá terminado o seu vínculo contratual. Não há palavras para descrever este negócio...
(Imagem: Daily Eater)

Já agora, sejamos transparentes até ao fim

No meio da batalha política, quase tem sido esquecido o mérito de publicar num único local facilmente consultável todas as nomeações governamentais. De qualquer modo, se é para ser sério e transparente, sejamos até ao fim então. Importa por exemplo colocar todos os extras aos vencimentos mensais brutos enunciados (p.ex: subsídios de representação, de deslocação, de isenção de horário, etc).
(Imagem: Erepublik)

Secretas, eis o problema

Sei que vai soar a lugar comum, mas o que se está a passar nas secretas é apenas um exemplo do lado sombrio deste tipo de organizações que, a coberto da segurança nacional, são também pouco permeáveis a escrutínios e fiscalizações. Tornam-se assim particularmente tentadas a contornos da lei.

Um exemplo

Depois do massacre que surpreendeu o mundo, a Noruega surpreende agora pela reacção que está a ter ao mesmo. Todas as mensagens oficiais apontam no sentido de mais democracia, mais tolerância, mais abertura, colocando liminarmente de lado os discursos securitários que normalmente surgem após este tipo de tragédia. Um exemplo.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Monstruosidade Doentia

Sendo ainda muito recente o massacre norueguês, encontramo-nos naturalmente na fase do “como foi possível”. Como foi possível que alguém seja capaz de fazer explodir uma bomba no centro de Oslo e de matar friamente a tiro durante uma hora e meia 85 jovens? Como foi possível tamanha monstruosidade? Como foi possível que tudo se tenha passado na Noruega, a casa do Nobel da Paz e um daqueles países onde elogiosamente se diz que “nada acontece”? E, mais intrigante ainda, como foi possível que tal monstruosidade tenha sido feita por um norueguês cristão e não por um barbudo de pele e ohos escuros a citar versículos do Corão?

À medida que os dias passam e mais pormenores vão sendo revelados, consegue aumentar ainda mais a incompreensão perante o sucedido. Percebe-se que Anders Behring Breivik gastou vários anos a enquadrar e a fundamentar todo o seu ideário nacionalista. Deixou inclusive o documento entitulado “2083 – Declaração de Independência da Europa”, com mais de 1500 páginas. Um texto que, mesmo merecendo apenas uma leitura muito na diagonal, apresenta-se tremendamente perturbador. Breivik não tem dúvidas: a Europa está a ser colonizada pelo Islão e a hegemonia do marxismo cultural no velho continente é a grande responsável por tal tragédia. Ou seja, o multiculturalismo é o principal problema europeu e o “politicamente correcto” está a impedir os povos europeus de verem e reagirem a este terrível fenómeno. Algumas partes do texto têm até algumas similitudes com o Mein Kampf de Hitler, sendo agora os judeus substituídos pelos islâmicos como bodes expiatórios para todos os males do mundo.

Mas o texto não se fica por aqui. Em 1500 páginas há naturalmente espaço para quase tudo. Desde enquadramentos histórico-ideológicos citando conhecidos historiadores e pensadores do século XX, a verdadeiros manuais sobre como construir bombas ou ataques com anthrax, a conselhos sobre como utilizar a agricultura para encobrir as actividades da revolução nacionalista no velho continente. Há de tudo neste hino à expulsão do islão da Europa, que não por acaso tenta recuperar a figura dos cruzados contra os servos de Alá.

Curiosamente, nas primeiras horas após a tragédia, quando não se sabia ainda quem era o autor dos ataques, já existiam peças a correr nas televisões de todo o mundo que quase davam como certo tratar-se de mais um atentado da Al Qaeda. Nas mesmas avançava-se com a participação da Noruega em alguns conflitos internacionais (do Afeganistão à Líbia) como podendo ter despertado a fúria do terrorrismo árabe. Mas afinal, não. Tratou-se de terrorismo sim, e do pior que o mundo tem assistido, mas praticado em suposta oposição ao mundo árabe. Comentários para quê? Alguém já disse que temos finalmente um terrorrista não sujeito a grandes relativizações. É branco, é cristão, é natural e vive num dos países mais desenvolvidos e mais seguros do mundo. Ou seja, nada tem em termos sócio-económicos ou culturais que possa relativizar a sua culpa.

É natural que em momentos como este se multipliquem apelos diversos. Sabendo à partida não vir acrescentar nada de particularmente original ao que vem sendo dito, importa apenas sublinhar o quão nefastas são as ideologias assentes no ódio. Ideologias holísticas que, não dando espaço a relativizações, consideram que terríveis meios são justificáveis pelo fim grandioso que preconizam. O massacre cometido por Anders Behring Breivik recorda-nos, da pior maneira possível, que o ódio presente em visões políticas simplistas do mundo facilmente degenera em monstruosidades doentias.



Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

domingo, 24 de julho de 2011

Monstruosamente Doentio


O manifesto de 1500 páginas que o monstro norueguês deixou continua na net. E basta fazer um scroll para para se ficar perturbado com o que ia naquela mente. Desde enquadramentos relativamente profundos sobre os efeitos nefastos do marxismo, do multiculturalismo e do politicamente correcto na Europa, até detalhes sobre fabrico de explosivos e conselhos sobre como contornar as autoridades nos dias que correm.

1500 páginas escritas durante anos a planear e a justificar meticulosamente o que se seguiria. É monstruosamente doentio, sem dúvida. Não querendo justificar qualquer caça às bruxas, não deixa de ser estranho que alguém construa tal obra durante tanto tempo de forma totalmente isolada, sem que ninguém se aperceba da sua monstruosidade.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A Euforia Liberal

São mais do que sabidas as peculiaridades dos estados de graça na acção governativa. Tipicamente após a sua eleição, os governos beneficiam deste período de tréguas que lhes permite olear a máquina e ganhar fôlego para o mandato que então se inicia. Assiste-se a uma espécie de tríade misecordiosa perante a acção governativa. Em primeiro lugar, um eleitorado que se mantém na expectativa e que procura então alguma acalmia e estabilidade após o rebuliço eleitoral recente. Por outro lado, e intimamente ligada a esta questão, temos grande parte da oposição obrigada pelo eleitorado a dar algum espaço ao novo Executivo. Como último vértice da mencionada tríade, temos uma comunicação social e respectivos painéis de comentadores com uma acutilância notoriamente suavizada. O fair playdemocrático assim o exige.

Como é evidente, as forças políticas no poder não deixam de tirar todo o partido deste período. Quer dando-se ao luxo de alguns experimentalismos nesta fase inicial, quer levando à letra a velha máxima de “fazer o mal depressa e [eventualmente] o bem devagar”. Apesar dos já significativos erros estratégicos e de comunicação, o actual governo está a aproveitar intensamente o presente estado de graça. E como se tal não constituísse em si uma oportunidade já formidável, os compromissos assumidos com a troika são o alibi perfeito para todo o tipo de medidas menos populares, a maioria legitimidadas com duvidosos nexos de causalidade. “É aproveitar sem pensar duas vezes”, pensarão muitos dos apologistas das reformas em curso.

Para completar este ciclo, amedrontada com todo o panorama vigente, a opinião pública está fortemente convencida desta necessidade de sacrifícios redentores. O discurso do andamos a viver acima das nossas possibilidades tornou-se de tal forma hegemónico que argumentar fora dele passou a ser algo digno de excêntricos sonhadores que não vivem certamente neste mundo.

Não é pois de admirar que, num curto ápice, a direita política esteja a conseguir fazer passar uma série de medidas que há muitos anos ambiciona. Da reforma profunda das leis laborais às privatizações e ao fim das golden shares, da diminuição da carga fiscal sobre as empresas à contracção brutal na Administração Pública e à forte abertura da prestação de serviços públicos pelos privados. O surto liberal aí está, procurando espremer ainda mais o que resta do Estado-providência. Nem os próprios liberais parecem estar a acreditar na enorme passadeira vermelha que à sua frente subitamente se estendeu. Conter esta euforia não será fácil. Importa, por isso, ter presente o velho lema de transformar desafios em oportunidades.



Artigo hoje publicado no Esquerda.net

(Imagem: Lexington 4)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

This is just the beginning

Numa altura em que, não pelas melhores razões, o número de utilizadores de transportes públicos tem vindo a subir, o Governo decreta um aumento médio de 15% sobre as actuais tarifas. Em vez de um aposta sustentada nestes domínios, a visão passa por limitar as redes e aumentar os custos dos utentes. Brilhante.

Mas o pior é perceber que esta pode ser apenas a ponta do iceberg da visão do Executivo sobre a política de transportes públicos. Importa não esquecer que em Janeiro deste ano, Passos defendeu que os passes sociais apenas fossem acessíveis em função dos rendimentos dos cidadãos... This is just the beginning, portanto.
(Imagem: The Bus Shorts)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A queda de um anjo

Uma vez que chegou à presidência da AR como consequência do episódio Fernando Nobre, Assunção Esteves conseguiu granjear elogios dos sectores mais inesperados. O facto de ser uma mulher em tal cargo e de ter feito um discurso inaugural recheado de humildade humanista, permitiu-lhe ter o país a seus pés. Mas eis os primeiros sinais indicando que o seu humanismo não deve ser confundido com santidade. Sem pestanejar, antecipou o debate sobre a revisão da lei laboral, invocando carácter de urgência. Já não há anjos como antigamente...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Perdoai-lhes Senhor que eles não sabem o que fazem

"Todos os professores, funcionários e alunos da Universidade [Católica] se devem apresentar na Universidade com formas de vestuário dignas e convenientes, adequadas ao local de trabalho próprio de uma Universidade e de uma instituição da Igreja"; "Todos são responsáveis pela salvaguarda do ambiente e da imagem da Universidade (...) devendo chamar a atenção para os que se apresentarem de maneira imprópria". (Ver comunicado da UCP na integra)

Bem sei que se trata de um fait diver que nem deveria merecer grande atenção, mas confesso estar na dúvida sobre o que me deixa mais abismado: se a obscurantista relação entre "instituição da Igreja" e "formas de vestuário dignas" (?!), se o espírito educador apelando a que todos se vigiem mutuamente nestes domínios (!?).

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Desnorte Colossal

É sabido que não seria um mandato fácil e que o arranque do mesmo seria particular impopular. De qualquer modo, Passos Coelho parece disposto a intensificar tais desafios acrescentado-lhes gafes e erros estratégicos e de comunicação. O episódio do "desvio colossal" é apenas mais um exemplo neste sentido. Depois da imprensa ter noticiado tal afirmação numa reunião interna do partido, o Governo apressou-se a desmentir. Victor Gaspar apresentou ao país a sua exótica explicação sobre a questão. No entanto, poucos dias depois, Passos vem desmentir o seu ministro, assumindo o desvio de 2 mil milhões de euros. O Governo parece colossalmente empenhado em desbaratar o seu estado de graça.
(Imagem: Cleveland.com)

domingo, 17 de julho de 2011

Spy Gov

Por um lado, temos um Governo que evita usar telefones e contas de e-mail oficiais para comunicações confidenciais. Por outro, é acusado de usar as secretas para investigar um candidato a integrá-lo. O mínimo que se pode dizer é que parece existir aqui um estranho fascínio pelo mundo da espionagem.
(Imagem: Mr Omneo)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um tema interessante

Francisco Assis trouxe para a discussão na campanha do PS a possibilidade de não-militantes votarem em directas dos partidos. Para o efeito, teriam de se dirigir às sedes do PS, registarem-se e possivelmente preencher uma declaração de honra afirmando que se tratam de simpatizantes socialistas. Tal impediria que militantes ou simpatizantes de outros partidos pudessem distorcer a eleição.

Confesso não conhecer bem os efeitos deste tipo de práticas noutros países (EUA, p.ex). Mas num momento em que existe uma grande alergia da vastíssima maioria dos cidadãos em assumir qualquer filiação partidária, este tipo de solução parece-me um caminho interessante para os partidos conseguirem melhor agarrar os simpatizantes, os próximos e os indecisos que gravitam à sua volta. Não era nada mau que a campanha do PS despoletasse algum tipo de discussão minimamente alargada sobre este tipo de questões.

i-Opções


Não sei o que acho mais lamentável:
  • A grande entrevista a Lili Caneças;
  • a confissão de Lili Caneças a dizer que "os meus amigos eram maoistas. Eu sempre fui mais trotskista";
  • o destaque que o i faz na capa e na edição online para a frase acima, sem que haja depois qualquer desenvolvimento mínimo na entrevista a este respeito.
Este é apenas mais um exemplo do tipo de jogadas que afastam progressivamente o i daquele que era para ser o seu público: os segmentos da população com maiores níveis de instrução. São opções...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Google Plus

Até pode ser que se venha a revelar mais uma tentativa falhada de rede social do Google, mas os primeiros sinais não o indicam. Tirando todo o partido do mundo Google (Gmail, Blogger, You Tube, GTalk, Android, etc), o G+ está a ter uma óptima capacidade de contágio a nivel nacional e internacional. O Activismo de Sofá, através do perfil do seu autor, já lá está.

Julgo que vale a pena experimentar. Uma vez que a ferramenta ainda está disponível apenas por convite, quem desejar receber um, coloque o seu endereço de email na caixa de comentários desta mensagem.

Os partidos são seres muito estranhos...


António José Seguro, o homem que manteve sempre a distância em relação a José Sócrates, é considerado o candidato do aparelho. Aparelho este que há três meses, a gosto ou a contragosto, apoiou de forma unânime no congresso adivinhem quem? Sócrates (?!). Por sua vez. Francisco Assis, uma das principais caras dos últimos anos da era Sócrates e apoiado pelos círculos mais próximos do antigo líder, é considerado o candidato da mudança (?!).
.
Os partidos são seres misteriosos. E o PS serve aqui apenas de exemplo. Compreendê-los não está ao alcance do comum dos mortais. Eis o problema.

Londres


Passados 12 anos, foi bom regressar a Londres e lá passar um fim-de-semana alargado. Tudo o que agora disser sobre a capital britânica soará a superficial e a lugar comum. De qualquer modo, aqui fica: continua lá, parece-me que está em forma e que continua a fazer bem a ponte entre o espírito europeu e o americano. Ditas as trivialidades, o melhor mesmo é lá ir de vez em quando, nem que seja de 12 em 12 anos...

Um aspecto que julgo merecer destaque: que todas as capitais, nomeadamente Lisboa, pudessem ter parques como os que podem ser vistos em Londres. Inseridos bem no centro da cidade, mas com uma dimensão que permite dela fugir rapidamente, o St. Jame's Park, o Hyde Park ou os Kensington Gardens são de facto verdadeiros tesouros.

Expectativas Limitadas

Uma semana depois do corte no rating da dívida Portuguesa, tivemos oportunidade de assistir a uma série de reacções dignas de nota. Não que não fossem previsíveis, mas sobretudo por representarem a chegada de alguns sectores e instãncias a uma série de ideias que há muito têm marcado presença nos debates sobre estas questões. Neste sentido, ganhou particular destaque a verdadeira bofetada ideológica que alguns sectores com um pensamento económico assumidamente liberal sentiram no seguimento da acção da Moodys. Afinal os mercados não agem com a racionalidade que lhes era atribuída; afinal não reagem positivamente a uma linha de reformas políticas que lhes devia merecer agrado. A descida do rating veio demonstrar que as soluções de índole liberal estão longe de poder resolver o problema.

Por outro lado, tem sido também notável acompanhar as reacções das instituições comunitárias e de outros Estados-membros ao sucedido. Também aí se começa a reconhecer com maior clareza que não basta sacrificar os elos mais fracos da economia europeia para acalmar a instabilidade financeira . Pelo contrário, percebeu-se desta vez com ainda maior clareza que não chega a Europa responder a um problema desta natureza apenas assente nos interesses e estados de espírito de cada um dos seus Estados-membros. A União precisa de encontrar uma resposta como um todo, que lhe permita resistir a este tipo de embates financeiros, sob pena de todo o edifício comunitário permanecer em risco.

No que a este último aspecto diz respeito, alguns sinais positivos começaram a surgir. As aproximações da Comissão e do BCE em torno do problema demonstram isso mesmo. E o medo de que outros Estados-membros sejam arrastados para cenários semelhantes leva a que medidas mais estruturais comecem a estar com maior clareza em cima da mesa. A Europa parece estar disposta a procurar soluções nestes domínios. Mas será mesmo assim?

O problema é que esta está longe de ser a primeira vez que os problemas se colocam com tanta clareza. Por um lado, não é a primeira vez que se obtém um relativo consenso da esquerda à direita sobre as necessidades de reforma do sistema financeiro internacional. Importa relembrar que pouco depois da falência da Lehman Brothers e do perigoso efeito de contágio que se seguiu, variados sectores assumiram que nada poderia continuar como antes. Que sérias reformas seriam necessárias para que o sistema financeiro interrnacional não se comportasse de tal forma. Muitos chegaram inclusive a proclamar o fim do modelo económico internacional vigente. Por outro lado, algum tempo depois, com os ataques especulativos à dívida grega, irlandesa e portuguesa, também então se assumia como evidência a necessidade da Europa ter de assumir um papel mais determinante na prevenção e capacidade de resposta a este tipo de situações.

Passados quase três anos do colapso da Lehman Brothers, são praticamente inexistentes as medidas estruturais tomadas neste sentido. E um dos exemplos mais claros a este respeito são as próprias agências de rating que, consensualmente cobertas de responsabilidades sobre o actual panorama, continuam a beneficiar do mesmo grau de confiança dos investidores. Assim sendo, tudo nos leva a crer que será necessário bastante mais do que um consenso ideológico sobre algumas falhas do actual sistema e alguma predisposição da Europa para agir nesse sentido. É que todos já vimos estes consensos existirem anteriormente. A ver vamos.

Artigo hoje(3ª feira) publicado no Açoriano Oriental
(Imagens: Rato na Roda)

sábado, 9 de julho de 2011

Grande abraço, Diogo!





Todos sabemos que a morte é uma das inevitabilidades da vida. Trata-se de um daqueles lugares comuns que utilizamos para amortecer quando uma má notícia desse tipo nos chega. Mas nunca é uma verdade que nos convença, precisamente porque a ideia de nunca mais vermos alguém é dificilmente atingível.

Tive o privilégio de trabalhar com o Diogo Vasconcelos. Ele era então o gestor da Unidade de Missão inovação e Conhecimento, o organismo onde comecei a minha carreira profissional. O Diogo era o que até hoje tenho como referência quando oiço a palavra "líder". Alguém incansável, que queria sempre avançar, que queria sempre mais, que via oportunidades onde mais ninguém sonhava. Era, sem dúvida, um visionário, que inspirava pela sua capacidade de ver mas também de concretizar, ultrapassando quaisquer obstáculos com uma energia contagiante.

Confesso que, cá no intimo, sempre gostei de pensar que fazia um pouco parte da sua escola. E julgo que estou longe de ser único de entre aqueles que com ele partilharam os anos de 2003 a 2005. Porque era de facto impossível não se ser contagiado pela sua atitude, pela sua postura, pela sua certeza inabalável que uma Sociedade da Informação e do Conhecimento podia fazer deste mundo um lugar melhor. Contagiava-nos com o seu espírito de missão em torno destas temáticas.

Numa estranha coincidência, precisamente quando venho a Londres passar um fim-de-semana de férias, sou surpreendido com a sua partida. Não há palavras... Pude despedir-me dele dando uma curta mas sincera palavra de força aos seus familiares. Todas as pessoas são especiais, mas algumas conseguem sê-lo de forma arrebatadora. Era sem dúvida o seu caso. Grande abraço, Diogo!

A Bofetada Ideológica




Para lá da descida do rating a Portugal, a semana que agora termina ficou sem dúvida marcada pelas reacções dos líderes de opinião da direita política sobre o sucedido. Antigamente (vulgo antes de 5 de Junho), o episódio originaria um "precisamos de restabelecer a nossa credibilidade junto dos mercados, precisamos de mais austeridade, de mais redução da despesa". Agora, pelo contrário, temos de nos contentar com uma espécie de engasganço mal disfarçado. O corte de rating é infelizmente mais um murro no estômago de todos aqueles que, para não variar, andam a pagar a crise em Portugal. Mas representa sobretudo uma bofetada ideológica nos sectores que defendem que o problema se resume a termos vivido “acima das nossas possibilidades”.

E por maior que seja a onda de indignação que tenha ocorrido a nível nacional e internacional contra a acção da Moodys, os mercados não se comoveram. A bolsa Portuguesa caiu a pique, as obrigações afundaram-se. Aliás, estranho seria se o cenário se revelasse diferente. A chegada da direita política a esta indignação contra as agências de rating pouco ou nada influenciará os mercados. Em primeiro lugar, estes já mostraram ser pouco sensíveis a críticas de “injustiça” ou de “imoralidade”. Em segundo lugar, porque a indignação destes sectores será sempre momentânea e/ou profundamente cirúrgica. Nunca verão o problema no sistema como um todo (tal representaria assumir a sua total errância ideológica), mas sim em pequenas partes do mesmo que precisam de ser afinadas.

Curiosamente (ou não), passados quase três anos da falência da Lehman Brothers e da catástrofe económica financeira que desde então se tem vindo a alastrar, não só todas as tentativas de reforma de fundo têm sido adiadas, como mesmo as reformas cirúrgicas têm passado para segundo plano. Ou seja, nem sequer intervenções cirúrgicas minimamente sérias têm existido. Pelo contrário, tem-se respondido às falhas do sistema alimentando-o cada vez mais. Tem-se ignorado a irracionalidade comprovada de inúmeros dos seus pilares com verdades ideológicas que caem no primeiro teste a que se submetem.

O corte no rating foi uma tremenda bofetada ideológica em inúmeros sectores, é certo. O problema é que as ideologias minimamente sólidas – e o liberalismo, gostemos ou não, tem provado sê-lo – são globalmente pouco abaladas por estes choques com a realidade. Infelizmente não é com murros no estômago ou bofetadas ideológicas que se alteram. É preciso bastante mais do que isso.

Artigo publicado na sexta-feira no Esquerda.net

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Lei contra a Precariedade


Os organizadores da manifestação de 12 de Março em Lisboa e no Porto e os movimentos de trabalhadoras/es precárias/os FERVE, Precários Inflexíveis e Plataforma dos Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual, lançaram uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos no passado mês de Abril. A 'Lei Contra a Precariedade' incide sobre três das principais formas de precariedade: os falsos recibos verdes, a contratação a termo para funções permanentes o abuso no trabalho temporário.

O video acima explica tudo sobre a iniciativa e como contribuir para a mesma. Já foram recolhidas mais de 10 000 assinaturas. É necessário chegar às 35 000 para que a proposta possa ser discutida na Assembleia da República. Participa! Mais info em www.leicontraaprecariedade.net

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Já não há direitas como antigamente

Como está a ser sublinhado em todo o lado, é curioso acompanhar a reacção de inúmeras vozes da direita política ao corte do rating a Portugal. Antigamente (vulgo antes de 5 de Junho), o episódio originaria um "precisamos de restabelecer a nossa credibilidade junto dos mercados, precisamos de mais austeridade, de mais redução da despesa". Agora, temos de nos contentar com uma espécie de engasganço mal disfarçado. Já não há direitas como antigamente...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Chávez e o "nós" que não é majestático


No primeiro discurso aos venezuelanos depois da operação a que foi sujeito, não deixa de ser arrepiante a forma como Chavez considera a sua doença um problema da nação: «Que o meu discurso aqui neste 4 de Julho não signifique que vencemos a batalha. Não! Começámos a "subir a encosta". Começámos a vencer o mal que se apoderou do meu corpo. Mas vamos ter de seguir - começando por mim - um programa estritamente médico-científico..."». Comentários para quê?

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sentido Crítico

Às vezes, no meio de uma agenda mediática fortemente formatada e uniformizada, sucedem agradáveis surpresas de visão crítica por parte dos órgãos de comunicação social. O insuspeito Jornal de Negócios concede-nos hoje, a meu ver, um bom exemplo neste sentido: "Passos e Sócrates tiram um salário à Função Pública". Consegue-nos assim recordar que o corte nos subsídios de Natal não é uma pura excentricidade maldosa de Passos Coelho. Tal medida sucede ao corte nos vencimentos dos funcionários públicos decretado por Sócrates nos finais de 2010.

Um adeus com direito a cambalhota

Primeiro Nobre disse que se não fosse eleito presidente da AR, renunciaria de imediato. Depois, perante as críticas, recuou e deu o dito por não dito. Para terminar, parece ter feito questão de brindar o público com mais uma cambalhota. Deu novamente o dito por não dito e abdicou do lugar de deputado... É certo que a opinião pública tem memória curta. Mas tudo indica que demorará muito tempo até se esquecer da triste figura que Nobre protagonizou.

domingo, 3 de julho de 2011

Coisas boas da vida II

E continuando a onda fútil das coisas boas da vida com o iPad, a Intelligent Life é gratuita neste formato. Vale mesmo a pena poder descarregá-la e poder beneficiar da sua excelente edição para o iPad.

Coisas boas da vida




Bem sei que vai soar a tremenda futilidade, mas a edição do Expresso para o iPad é deliciosa. Comprá-la (0,79€) todos os sábados de manhã começa a ser, no meu caso, uma óptima e viciante forma de iniciar o fim-de-semana.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

As Falsas Promessas

É impossível acabar com as falsas promessas nas campanhas eleitorais. Mas sublinhá-las é o mínimo que se pode fazer para que este tipo de fenómeno não passe absolutamente incólume. No fundo, o "crime" vai continuar a compensar, mas já é uma pequena vitória se compensar cada vez menos.