segunda-feira, 31 de março de 2008

A Presença do Governo e dos Partidos na RTP

O relatório da Entidade Reguladora da Comunicação Social que analisou os serviços noticiosos da RTP entre Setembro de Dezembro de 2007 detecta um relativo excesso de presença do Governo e PS". Tal facto já foi desdramatizado tendo em conta a Presidência Portuguesa da UE. Mas o relatório apresenta mais alguns dados interessantes.

Por exemplo, a análise é também aplicada à RTP-Madeira e RTP-Açores. O senso comum diria que o peso do Governo e do partido que o apoia se faria sentir sobretudo no caso madeirense. Mas não é isso que os dados demonstram.

No Madeira:
“O Governo Regional, juntamente com o PSD Madeira, representam 50,79% do total de presenças de protagonistas desta região.”

Nos Açores:
“O Governo Regional, juntamente com o PS Açores, representam 69,32% do total de presenças de protagonistas desta região.”

Humm... Interessante, não? O extenso relatório está disponível aqui. No final de Abril, será publicado um novo relatório incluindo dados sobre as estações privadas. Veremos quais os resultados que o mesmo apresentará…

O Elogio de Jaime Gama a Alberto João Jardim

Na sexta-feira, no congresso da ANAFRE na Madeira, Jaime Gama não poupou nos elogios a Alberto João Jardim. Elogiou a sua obra no âmbito da autonomia madeirense e enalteceu o exemplo de “político combativo” que é o presidente do Governo Regional.

Toda esta obra [a autonomia regional, presume-se], historicamente, tem um rosto e um nome. E esse nome é o do Presidente do Governo Regional da Madeira, a quem quero prestar, também na diferença de posições, uma homenagem por esta obra e este resultado.

A Madeira tem grandes talentos. Tem, como referi, um exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo – o Dr. Alberto João Jardim”.

Com tais elogios por parte de um histórico socialista, Jardim até pode dispensar os dos seus seguidores. Mas as declarações de Jaime Gama representam mais do que isso. Tratam-se de elogios do Presidente da Assembleia da República a um dos piores exemplos da democracia portuguesa.

A RTP-Madeira fez uma reportagem sobre esta matéria que vale a pena ver aqui. Chamo a atenção para o tom utilizado pelo jornalista locutor que faz a reportagem. Depois de uma intervenção do responsável socialista afirmando dispensar os elogios de Jaime Gama à obra de Alberto João Jardim, o locutor da RTP remata o seguinte: “Obra inversamente proporcional aos resultados dos socialistas na Madeira”. Bem… Um tirada infeliz apenas? Ou será mais do que isso?

domingo, 30 de março de 2008

A Defesa de Honra de Pacheco Pereira

Pacheco Pereira dedicou-se novamente, este sábado, a justificar o seu apoio à invasão americana do Iraque, tentando assim mostrar aos seus críticos que não se deixa abalar. Uma argumentação que apenas tenta disfarçar a dificuldade que um intelectual do seu gabarito possui em reconhecer um erro de análise.

Começa por falar na distinção entre as mentiras condenáveis e as mentiras necessárias dos governos. Tenta deste modo atenuar a posição da administração americana. Embrulha-se depois na convicção da existência de armas de destruição maciça no Iraque. Fá-lo como se uma convicção tivesse quase o mesmo valor que uma evidência. Não se coibe inclusive de utilizar a lei de Murphy como um argumento legítimo para que a guerra nos nossos dias possa ser despoletada.

Termina a sua crónica dissertando sobre o quão fácil teria sido aos americanos encenar a descoberta das armas de destruição maciça, legitimando assim a sua invasão Não recorreram a tais métodos, segundo ele, porque estavam absolutamente convencidos de que tal não seria necessário.

No fundo, Pacheco Pereira tenta, a todo o custo, justificar o seu apoio a algo que hoje é cada vez mais injustificável. É sempre preferível ficar-se com o estatuto de teimoso do que como alguém que muda de opinião ou reconhece um erro.

CDS acha “feia” a nova Travessia do Tejo

Certamente na ânsia de serem dos primeiros a pronunciar-se, o CDS exige um chumbo imediato da opção da nova travessia do Tejo que prevê uma ligação entre Chelas e o Barreiro. Segundo os populares, o impacto visual da mesma é “inadmissível”.

Não quero com isto dizer que o impacto visual não seja fundamental em termos de ordenamento do território. Antes pelo contrário. Mas é interessante ver-se agora um líder de uma distrital (que alguém esta semana afirmava estar morta) assumir desde já tal posição com base nas imagens hoje divulgadas pelo semanário Sol.

Enfim. Parece ter sido a forma encontrada pela distrital do CDS de Lisboa para mostrar que está viva. De boa saúde ou não, essa já será certamente outra história.

sábado, 29 de março de 2008

Dá-me o Telemóvel Já – Do Hip Hop ao Merchandizing

Enquanto o país ainda está submerso em discussões sobre a violência nas escolas, a falta de autoridade dos professores e a falta de educação dos meninos em casa, o fenómeno do “dá-me o telemóvel já” conseguiu rapidamente assumir a forma de um fenómeno de massas

No You Tube já houve quem tivesse tempo de fazer uma música com o sucedido. No mínimo engraçada. Pode ser vista aqui no Activismo Tube. E já há até quem venda todo o tipo de merchandizing com os slogans do sucedido. Desde canecas, t-shirts, tops para senhora ou roupa para o cão, qualquer um já pode ter estampada a frase que por uma semana varreu o país.

Perdoem-me os mais sensíveis, mas fico deliciado com esta espécie de manifestações do caos contemporâneo…

Agradeço ao Sam a dica.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Fim do Divórcio Litigioso: Boas Notícias

Passado um ano de ter chumbado uma proposta semelhante do BE, parece que os socialistas finalmente se sentem dispostos a acabar com o divórcio litigioso, um regime quase arcaico que vigora há 30 anos.

Ainda não são conhecidos os meandros das alterações a efectuar, mas tudo aponta no sentido de uma suavização dos procedimentos para o efeito. Uma forma de alterar o penoso calvário que muitos processos de divórcios eram obrigados a percorrer.

No meio da boa notícia, fica a nódoa de que a referida mudança poderia ter sido iniciada há um ano atrás aquando da proposta do BE. Mas, como sempre, nunca convém a um partido com maioria absoluta deixar que a oposição assuma qualquer protagonismo, mesmo quando até concorda com as medidas propostas. Um paradoxo dos nossos sistemas democráticos…

Sobre a Baixa do IVA

A anunciada descida do IVA para 20% é uma medida no sentido certo, embora seja consensual que o seu impacto será reduzido e que o seu anúncio teve objectivos sobretudo políticos.

Neste contexto, foi interessante verificar a troca de galhardetes entre o PS e o PSD sobre a medida anunciada. Por um lado, Menezes recordou e bem que, há apenas duas semanas, Sócrates afirmara ser “leviano e irresponsável” falar em baixar os impostos. Por seu turno o PS logo respondeu que, apesar do PSD considerar agora a medida de eleitoralista e com reduzidos impactos, há muito que a vinha defendendo.

Como já vem sendo normal, os portugueses assistiram entediados a uma luta para se saber qual dos dois maiores partidos foi menos incoerente… A novela continuará com muitos mais episódios num Portugal perto de si.

PS: o Público disponibiliza uma interessante cronologia sobre a evolução das declarações sobre aumentos e descidas dos impostos.

quarta-feira, 26 de março de 2008

A Justiça que “não dá em nada”

Ontem surgiu a notícia que Pinto da Costa afinal deverá ser julgado no caso do Apito Dourado. À semelhança de muitos outros processos mediáticos surgidos em Portugal nos últimos, o Apito Dourado continua. Estranho é que estes processos parecem nunca dar em nada…

Há alguns meses atrás, quando questionado sobre a falta de resultados dos processos mediáticos dos últimos anos, Pinto Monteiro respondeu (salvo erro) que, apesar de tudo, estes têm contribuído para atacar o clima de impunidade em alguns sectores da sociedade. No fundo, a ideia que os “ricos e famosos” também estão ao alcance da Justiça.

Sem querer clamar por sangue, pergunto se será mesmo esta a lição retirada pelos cidadãos. Não será precisamente o contrário? A ideia da Justiça que “não dá em nada” tem hoje razões adicionais para proliferar…

terça-feira, 25 de março de 2008

O Sentimento de “Mal-Estar”

Vital Moreira disserta hoje no Público sobre o sentimento de “mal-estar”, por vezes infundado, que existe em Portugal. Argumenta que “a nossa opinião sobre o estado do país é quase sempre pior do que os factos”.

Para o efeito, recorre a alguns exemplos em que tal sucede, do crescendo de criminalidade aos índices de pobreza do país, das subidas das taxas de juro à corrupção que alastra na sociedade. Suporta a sua argumentação na conhecida lógica de que o que é mau faz sempre notícia. O “bom” não beneficia de tais privilégios.

É uma tese mais do que conhecida e mais do que comprovada, é um facto. Mas é também um facto que o recurso a ela é sobretudo frequente por parte de Governos que se sentem incompreendidos pelo país que governam. Curioso, não?

segunda-feira, 24 de março de 2008

Governo Minoritário em 2009 e Coligações à Esquerda

No seu artigo de hoje, André Freire questiona a possibilidade da esquerda estar ou não preparada para se coligar em 2009. Avança assim com um dos cenários que começa a ser uma hipótese provável: “E se Sócrates não conseguir uma nova maioria absoluta?”

Os exemplos de coligação à esquerda em Portugal são inexistentes ao nível do Governo da República. A forma como o PS se afirmou no sistema partidário português foi precisamente em forte oposição com as forças políticas existentes à sua esquerda. Não me parece que tal tradicionalismo histórico esteja em vias de ser alterado, quer por vontade do PS, quer por disponibilidade do PCP ou do BE.

É certo que Jerónimo de Sousa falou recentemente na necessidade de uma “ruptura democrática de esquerda”, reunindo “forças políticas, independentes e movimentos sociais”. Mas quem conhece o PCP sabe que a probabilidade de se coligar com os socialistas numas legislativas é quase inexistente. Por seu turno, Francisco Louçã procurou afastar liminarmente tal possibilidade, surpreendo ao ter anunciado a mais de um ano de distância que não se repetirá a coligação com o PS em Lisboa. A existência de legislativas em 2009 apresentou-se, de forma mais ou menos explícita, como a principal justificação.

Posto isto, mais facilmente se assistirá a um governo PS minoritário recorrendo pontualmente a acordos com a direita para ver aprovados os seus orçamentos, do que a um cenário que inclua a já mitológica “coligação à esquerda” que teima em não aparecer há mais de 30 anos

domingo, 23 de março de 2008

Boicotes aos Jogos Olímpicos

Depois de ter já ameaçado fazê-lo na passada terça-feira, o presidente do Parlamento Europeu reforçou ontem o seu apelo a “medidas de boicote” dos Jogos Olímpicos caso a China se recuse a dialogar com o Dalai Lama.

Hans-Gert Pöttering torna-se assim no primeiro político de destaque a nível mundial a defender abertamente um possível boicote aos Jogos, instando os diversos países da UE a falarem a uma só voz na defesa dos direitos humanos.

Importa salientar que na passada sexta-feira se noticiou que Cavaco Silva declinara a sua participação nas cerimónias de abertura dos Jogos. Por momentos pensou-se ser um gesto verdadeiramente solidário e corajoso do PR. Mas não. Os “motivos de agenda” enunciados foram comunicados ao Comité Olímpico Português em 11 de Janeiro. A expectativa foi boa enquanto durou…

Menezes e as Precipitações Oportunistas

Sobre o mediático incidente da aluna que agrediu a professora, Luis Filipe Menezes já disse de sua justiça: responsabiliza o Governo pelo aumento de violência nas escolas, que considera ser "uma consequência da incapacidade da política".

Para Luís Filipe Menezes, a violência nas escolas decorre também do facto de as medidas tomadas por este Governo terem sido percebidas como "um convite ao facilitismo". Humm… Um nexo causal bastante poderoso…

É natural e desejável que o líder do PSD se posicione sobre cada assunto que surge na agenda. E é natural que o faça tentando captar dividendos. Mas, já agora, de vez em quando, se não for pedir muito, convinha que o fizesse com algum nexo.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Parem Tudo! Jerónimo de Sousa Descobriu a Pólvora!

Questionado sobre os acontecimentos no Tibete, o Secretário-Geral do PCP aconselhou “prudência”, declarando que os incidentes dos últimos dias “têm como objectivo político comprometer os Jogos Olímpicos” na China. Conclusão brutal…

As referidas declarações ocorreram ontem, no dia em que o PCP inaugurou uma exposição condenatória dos 5 anos da guerra no Iraque. Jerónimo sublinhou ser necessário “não haver precipitação no julgamento dos factos” face a “notícias contraditórias”, acrescentando que “Sempre defendemos o diálogo, o respeito pelo direito internacional, designadamente o Tibete como parte integrante da China”.

Temo nunca perceber o que ganha o PCP com este tipo de fidelidade ao regime chinês. Pseudo-coerência, será?

A Causa da Indisciplina: o Telemóvel

O video que abriu os telejornais tem provocado espanto. Reinicia-se assim a discussão da indisciplina nas escolas É natural que assim seja. O que não é natural é que o Conselho de Escolas atribua todo o problema ao uso dos telemóveis.

O Jornal da Tarde de hoje da RTP abriu com o referido vídeo (pode ser revisto aqui), seguindo-se uma entrevista a um representante do Conselho de Escolas. O jornalista João Fernando Ramos bem que tentou fazer o seu trabalho, problematizando em torno do tema da violência nas escolas e da falta de autoridade dos professores.

Mas o representante do Conselho de Escolas pareceu concentrado no problema dos telemóveis nas salas de aula. Perante isto, o jornalista terminou aquela que foi uma não-entrevista. Foi melhor assim. Mais um pouco e certamente teríamos dissertações sobre os Ipods e, quem sabe, as canetas USB…

quarta-feira, 19 de março de 2008

Auto-Penitências à Americana

O Governador do Estado de Nova Iorque demitiu-se na sequência de ter sido descoberto que recorria a serviços de prostituição de luxo. O novo Governador já tomou posse. Apenas um dia depois, convocou uma conferência de imprensa confessando que cometera adultério. A sua mulher confessou também que cometera tal pecado… Bizarro, não?

Desde o caso Clinton que parece ter-se formalizado a necessidade de uma figura política se auto-penitenciar em público por pecados cometidos na sua vida privada. A moralidade atribuida ao eleitorado americano parece que assim o exige.

Alguns argumentarão que a conduta privada de uma personalidade política não deverá ser menosprezada. Se assim for, e se levada ao extremo como está a suceder em Nova Iorque, entrar-se-á por um perigoso caminho. E profundamente ridículo também…

terça-feira, 18 de março de 2008

Iraque: 5 anos de Pesadelo

Passados cinco anos do início da Guerra no Iraque, o balanço parece limitar-se a uma discussão sobre o número de vítimas: 150 mil ou 600 000 mil os iraquianos que já morreram? Guerras de números no mínimo sarcásticas.

Perante tão grande catástrofe, lamento mas não me canso de lembrar os seus principais responsáveis: Bush, Blair, Aznar e o nosso José Manuel Barroso também ficou na fotografia. Mas é também impossível esquecer o debate então gerado em Portugal, quando muitas vozes mais fervorosas acusavam os opositores da intervenção de anti-americanismo primário.

Será que se aprendeu alguma coisa com o sucedido? Julgo que sim mas, como sempre, tenho a certeza que não o suficiente.

Palhaçada

No dia em que comemorou os seus 30 anos, o Governo Madeirense anunciou a decisão judicial de condenação de Daniel Oliveira (colunista do Expresso, autor do Arrastão) ao pagamento de uma coima de 2000 euros por difamação contra Alberto João Jardim.

Em causa esteve um artigo publicado por Daniel Oliveira no Expresso em 10 de Junho de 2005, intitulado “O Palhaço Rico”. O referido artigo foi escrito na sequência das já famosas declarações de Jardim em que chama «bastardos» e «filhos da puta» aos jornalistas.

Ironicamente ou não, esta não é a primeira vez que Jardim consegue ver condenados em tribunal cidadãos por difamação à sua respeitável pessoa. A sua táctica de intimidação não se fica pelos disparates que profere regularmente na comunicação social. Confesso que já nem encontro palavras para qualificar a actuação de Alberto João…

segunda-feira, 17 de março de 2008

30 anos de Alberto João

30 anos depois de Alberto João ter chegado ao poder, os balanços até podem divergir quanto ao desenvolvimento alcançado pela Madeira, mas dificilmente o farão quanto à qualidade da democracia no arquipélago.

O editorial de hoje do vice-director do Público, Manuel Carvalho, intitulado “Uma nódoa com 30 anos”, traça um panorama assertivo a este respeito. Muitos podem argumentar que Jardim tem muita obra feita e que transformou a Madeira numa das regiões mais desenvolvidas do país. Mas tal facto não apaga os efeitos nefastos que a sua figura impôs à democracia madeirense.

Desde a intimidação à comunicação social, até às práticas de compadrio e caciquismo constante, passando naturalmente pelo clima de confronto que impõe relativamente ao todo nacional, Alberto João não é certamente uma personalidade que o país se possa orgulhar, antes pelo contrário.

Promete abandonar a liderança do Governo Regional em 2011, deixando naturalmente um sucessor no seu trono. Esperemos que a sociedade madeirense aproveite as eleições regionais que se seguirão para obter uma lufada de ar fresco. No entanto, paradoxalmente ou não, não é certo que tal aconteça…

domingo, 16 de março de 2008

Tibete: O Grande Calcanhar de Aquiles dos Jogos Olímpicos

Com os Jogos Olímpicos, a China joga a imagem que quer passar para o mundo. A causa do Tibete será o maior calcanhar de Aquiles. A violência que sexta-feira ocorreu em Lhasa mostra bem a dinâmica que poderá ocorrer nos próximos tempos.

São poucas as informações que chegam do que sucedeu exactamente na sexta-feira. O regime já tratou de controlar a informação que parte para o exterior do país. Confrontos violentos entre manifestantes e as autoridades resultaram em diversos mortos. Fontes governamentais falam em 10 mortos. Fontes próximas do Dalai Lama contrapõem com mais de 100 mortos.

A China fará um grande esforço para controlar a causa do Tibete, evitando ruídos que possam manchar a imagem de potência continental em mudança, motor de progresso e aberta ao mundo. Mas os activistas do Tibete em todo o mundo já perceberam que o mediatismo dos Jogos Olímpicos é uma oportunidade única para difundirem a sua mensagem.

Sob pretexto ou não dos Jogos Olímpicos, esperemos que a opinião pública mundial esteja atenta. Este blogue estará.

Sobre o Comício do PS

O comício que tanta tinta fez correr foi isso mesmo: um comício. Com declarações inflamadas, com apoio às vítimas socialistas da incompreensão popular… No fundo, um apelo ao cerrar de fileiras dos militantes.

O facto dos sindicatos se terem afastado totalmente da manifestação de professores convocada fez com que comparecessem poucos contestatários às políticas educativas. Ainda bem que assim foi. Mas tal acabou por retirar algum relevo ao que ontem se passou no interior do Pavilhão Académico do Porto. Paradoxalmente ou não, acabou por ser apenas um comício…

sexta-feira, 14 de março de 2008

Controlo de Computadores na Assembleia da República

O Público noticia hoje que o controlo na utilização dos computadores na Assembleia da República poderá ficar mais apertado. O acesso a conteúdos “perigosos” poderá dar direito a uma monitorização apertada por parte dos Serviços de Informática da AR.

Os conteúdos considerados abusivos pelos serviços da AR dizem respeito a pornografia, droga, agressão, jogo, violência e pirataria informática. Ficámos, deste modo, a saber que desde 2006 há um bloqueio automático a sites que se insiram nas referidas categorias. E ficamos também a saber que, desde o início deste mês, existe um despacho a determinar que o centro de informática passe a monitorizar os computadores que persistem na consulta de sites das referidas categorias.

Embora considere uma má política, acaba por ser normal que muitas empresas bloqueiem o acesso a determinados conteúdos aos seus funcionários. Mas constatar que tais medidas são aplicadas na Assembleia da República é, no mínimo, estranho… A casa dos representantes da nação possui políticas internas para controlar o tipo de utilização da Internet efectuada?!? Muito estranho…

quinta-feira, 13 de março de 2008

Jogos Olímpicos de Pequim e a Mudança na China

A realização de um evento como os Jogos Olímpicos num país como a China não é algo que possa passar despercebido. As reacções já se fazem sentir há muito, mas têm vindo a crescer naturalmente com a aproximação do evento.

A última grande polémica girou em torno da demissão de Steven Spielberg do cargo de conselheiro artístico dos Jogos Olímpicos de Pequim. Motivo: a China não tem feito o suficiente para pressionar o governo do Sudão, seu aliado, na gestão da crise do Darfur. Mas outras polémicas têm sido geradas, nomeadamente sobre a questão do Tibete ou sobre o incontornável tema do respeito pelos direitos humanos e pela democracia na China. Como seria de esperar, o governo chinês tem reagido argumentando que um “grupo de indivíduos e forças contra a China que querem causar prejuízo”.

A realização de um evento com a envergadura e simbolismo dos Jogos Olímpicos poderá gerar essencialmente dois tipos de dinâmicas distintas:

1) Legitimação crescente do regime;
2) Mediatização dos problemas do regime;

No momento presente, existe naturalmente um jogo de forças entre as duas dinâmicas. Qual delas sairá vitoriosa?

No meio da Crise, o Azul da Esperança

Num momento em que o PSD enfrenta uma das crises mais latentes dos últimos tempos, Menezes lança as bases do novo partido, com direito a um fundo azul no logótipo e tudo.

Mas, para além da nova imagem, a sessão contou também com alguns anúncios. Importa destacar que, menos de uma semana depois de ter afirmado que o PSD ainda não merecia ser governo, Luis Filipe Menezes sublinhou ontem que o seu partido “já ganhou o estatuto e a credibilidade de poder acreditar na vitória”.

Bem… Os Portugueses ficaram certamente mais descansados por saberem que, numa semana em que o PSD se encontra em quase tumulto interno, o seu líder está cada vez mais convicto com a vitória final.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Crise no PSD e o Barrosismo à Espreita

Aí está mais uma crise no PSD. Os ânimos exaltaram-se por motivos pouco claros, justificando-se apenas pelas tensões que teimam em não desaparecer (antes pelo contrário) perante a liderança de Menezes. De forma cirúrgica, os barrosistas vão mostrando que não se encontram alheados do que se passa no partido.

Remetidos há muito a um quase permanente silêncio, apenas o interrompem em momentos que consideram incontornáveis. Uma preservação da imagem que poderá ser útil quando as expectativas do PSD chegar ao poder se revelarem mais razoáveis. Quando assim for, figuras como Arnaut ou Morais Sarmento dificilmente manterão o actual low profile.

terça-feira, 11 de março de 2008

Sócrates e a Determinação q.b.

Os mais convictos da determinação governamental garantem que nada se alterará com as manifestações de descontentamento dos últimos meses. Mas o discurso de Sócrates não engana. Determinação sim, mas com moderação.

Inúmeros serão certamente os exemplos que se encontrarão nos próximos dias. Sócrates e o seu executivo podem mostrar-se determinados, mas não conseguirão contornar o “xeque” que o eleitorado lhes tem imposto nos últimos meses. Os próximos tempos terão de ser necessariamente de alguma conciliação.

“Um Governo determinado q.b.”. Será certamente esta a ideia que o executivo tentará passar. Não desarmando nos objectivos conseguidos de redução do défice, mas atenuando tal discurso com a assunção da dureza dos últimos três anos e abrindo portas para alguns “doces” nos próximos tempos (redução de impostos, p.ex.).

O problema é que este cenário já se advinhava há dois meses. No entanto, contra tudo e contra todos, persistiu-se desmesuradamente na determinação. De qualquer modo, sob pena da maioria absoluta se revelar desde já um patamar inatingível em 2009, não creio que existam agora muitos outros caminhos disponíveis.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Manifestações, Democracia e Participação Política

André Freire escreve hoje no Público sobre as formas de participação política em democracia. Pegando na temática da manifestação de professores e suas reacções, levanta a velha questão se a democracia se esgota ou não no voto. A este propósito, André Freire aponta muito bem o seguinte paradoxo:

“Por exemplo, apesar de, amiúde, políticos e jornalistas, entre outros, se lamentarem com o declínio da participação eleitoral e exortarem os cidadãos não só a votar, mas também a participar activamente na vida das respectivas comunidades, quando os cidadãos se mobilizam muito (como nas recentes manifestações) logo assistimos a uma desvalorização da participação extra-eleitoral e a uma hipervalorização do voto.”

“Apesar de regularmente se lamentar a fraqueza da sociedade civil e se exortarem os cidadãos a fortalecê-la, nomeadamente para todos termos uma melhor governação, temos assistido recentemente a uma demonização dos sindicatos, que estão entre as maiores organizações da sociedade civil. Ou será que só os empresários representam a sociedade civil?”

domingo, 9 de março de 2008

O Eloquente Emídio Rangel

No mesmo dia em que cerca de 100 000 professores se manifestavam em Lisboa, Emídio Rangel disse de sua justiça na sua crónica no Correio da Manhã. Para quê complicar? Os professores que se manifestam são todos uns arruaceiros pirosos ao serviço do PCP.

Através do Cantigueiro e do Arrastão, cheguei à poderosa crónica ontem publicada. Emídio Rangel não hesita na sua avaliação. Eis alguns excertos que demonstram bem a eloquência de Rangel:

"Eles aí estão ‘em estágio’. Faz-me lembrar os hooligans quando há uma disputa futebolística em causa. Chegaram pela manhã em autocarros vindos de todo o País, alugados pelo Partido Comunista."

"Confesso que tenho vergonha destes pseudoprofessores que trabalham pouco, ensinam menos, não aceitam avaliações e transformaram-se em soldados do Partido Comunista, para todo o serviço."

"PCP pode usar a tropa de choque que agora arranjou para enfraquecer o Governo e utilizar as suas artes de manipulação e demagogia até a exaustão. Mas creio que a reforma tem de se fazer, a bem do País."


Bem… Perdoem-me os leitores mas confesso ter alguma dificuldade em comentar tamanha visão e eloquência.

sábado, 8 de março de 2008

As tristes declarações de Santos Silva

Santos Silva voltou a não desiludir. As suas intervenções públicas fazem-se sempre notar pela ferocidade com que encara a luta política. Desta vez, reagindo a duzentos manifestantes em Chaves à entrada de uma reunião do PS, o Ministro dos Assuntos Parlamentares revelou mais uma vez o seu nível…

"O clima político que algumas pessoas estão a tentar desenvolver em Portugal é um clima de intimidação, é um clima próprio da natureza anti-democrática dessas forças. E se for preciso defender outra vez, como defendemos em 75, a liberdade em Portugal, o Partido Socialista, posso garantir, estará na linha da frente da defesa das liberdades públicas."

"A liberdade é algo que o País deve a Mário Soares, a Salgado Zenha, a Manuel Alegre... Não deve a Álvaro Cunhal nem a Mário Nogueira"

As manifestações à porta de partidos deverão ser desencorajadas. Mas um ministro com a pasta dos assuntos parlamentares fazer este tipo de declarações é mais do que lamentável. É muitíssimo grave. Santos Silva pode ser um bom animador de comícios, mas mostrou mais uma vez que não está à altura de uma pasta ministerial.

Manifestação de Professores: Impressionante

Há muito que não se via uma mediatização tão grande de um acto de contestação a um Governo. A manifestação vinha sendo anunciada na comunicação social há semanas e adivinhava-se uma grande adesão. Mesmo assim, a sua dimensão conseguiu surpreender. “Está na hora de a ministra se ir embora” – eis o slogan mais entoado pelos manifestantes.

O Executivo não conseguirá ficar indiferente ao que hoje sucedeu em Lisboa. Arriscaria dizer até que a contestação às políticas da saúde foi pouca quando comparada. E não foram apenas os “militantes” que estiveram nas ruas. Não foi a "malta do costume" que desceu a Avenida da Liberdade.

Foram dezenas de milhares de professores de todo o país que, num sábado, vieram contestar uma política, uma equipa ministerial, um governo. Uma das profissões que melhor representa a classe média portuguesa mostrou não querer baixar os braços. Algo terá de mudar a muito curto prazo, pois o desgaste que está a acontecer é insustentável para qualquer Governo.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Fiscalização das Secretas e o Triste Argumento de Nuno Melo

O debate ontem no Parlamento aqueceu depois de Nuno Melo ter considerado que o PCP e o BE não deveriam ter assento na Comissão Fiscalizadora das Serviços de Informações da República Portuguesa. O argumento foi simples: “Posso confiar que não divulgariam um qualquer documento ou informação, se nisso vissem vantagem política?”

Estamos certamente habituados ao baixo nível que por vezes atinge a retórica parlamentar. No entanto, ver o CDS desconsiderar assim outras bancadas é mais do que lamentável. Sobretudo tendo em conta as dezenas de milhares de fotocópias da Defesa que Portas levou consigo aquando da sua saída do Ministério, como relembrou Fernando Rosas.

É natural que a fiscalização dos Serviços de Informações exija cautela. Mas se tal representar que apenas os dois maiores partidos possam ter assento na referida comissão, tal será admitir abertamente que o Parlamento possui dois tipos de partidos:

1) Os partidos do sistema, de confiança, responsáveis e com sentido de Estado (vulgo PS e PSD);
2) Os outros partidos, que apenas servem para que algumas margens da sociedade se sintam representadas (vulgo PCP, BE e CDS).

De qualquer modo, do debate de ontem podemos tirar uma importante conclusão - o CDS não tem problemas em se auto-secundarizar.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Ainda sobre o MEP – Movimento Esperança Portugal

Embora com um ligeiro atraso, o site do MEP já se encontra no ar (www.mep.pt). Possuem também um blogue. Lá já se consegue vislumbrar um pouco melhor as intenções do movimento que quer ser um partido.

O discurso de abertura, de criar pontes, de se situar ao centro do centro começa a ganhar alguma forma, mas não muita. Identificam-se com a corrente do humanismo, citando figuras tão diversas como Luther King, De Gaulle e Robert Kennedy. Elogiam Monet Schuman e Adenauer.

Em termos de prioridades, enunciam princípios como “sociedade de famílias”, “cultura de pontes”, “democracia mais próxima do cidadão”, “solidariedade Intergeracional”, entre outros. No fundo princípios muito genéricos que, não sendo propriedades exclusivas da esquerda ou da direita, poderão ter alguma aceitação junto do eleitorado. As posições ou propostas ainda não existem. Serão construídas pela sociedade civil.

Certamente conseguirão as assinaturas necessárias à sua constituição como partido. Mas tal não chega. Precisarão de erguer bandeiras fortes, precisarão de caras conhecidas, precisarão de ganhar a comunicação social e os opinion makers. Tal não é fácil, como sabemos. Mas veremos como decorrerão estes próximos tempos.

Manifestações e Contra-Manifestações

As manifestações de professores prosseguem por todo o país. Uma grande manifestação está convocada para este sábado em Lisboa. O PS/Governo respondeu com um grande comício convocado para dia 15 de Março no Porto. Desde o PREC que não se via algo assim.

É certo que a democracia portuguesa não está habituada a grandes manifestações de apoio a um Governo. Certamente pelas más memórias do Estado Novo ou pelas insónias ainda hoje provocadas pelo Verão Quente de 1975. E é também certo que este tipo de iniciativas acontecem noutras democracias europeias.De qualquer modo, não deixa de ser uma estratégia no mínimo inovadora no contexto nacional a opção por um grande comício de apoio.

Mas quais os objectivos a atingir? Conseguir mobilizar o aparelho do partido para os fortes embates que se têm feito sentir? Conseguir mostrar que o Governo ainda goza do apoio de uma maioria silenciosa? Em qualquer uma das opções, o comício do PS no Porto certamente alimentará ainda mais a onda de manifestações contra o Governo. Ou seja, trata-se de uma estratégia um “bocadinho” arriscada…

terça-feira, 4 de março de 2008

Sobre o misterioso MEP – Movimento Esperança Portugal

Rui Marques, antigo Alto-Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas anunciou a intenção de formar um novo partido, situado estrategicamente ao centro, entre o PS e o PSD. E pouco mais adiantou…

O timing parece bom. Com um Executivo socialista a acusar algum desgaste e com a dificuldade do PSD em conseguir sequer parecer uma alternativa, as lufadas de ar fresco poderão ser bem recebidas pelo eleitorado. Mas muitos mistérios permanecem, pelo menos para já. Quanto aos protagonistas, Rui Marques parece ser o único rosto visível.

No que à linha política diz respeito, esta apresenta-se ainda bastante nebulosa Em declarações à SIC, Rui Marques afirma que o partido pretende situar-se ao centro, procurando unir os portugueses em torno de questões essenciais, em vez de os dividir (referindo-se ao PS e PSD).

No entanto, alguns estudos recentes (ver André Freire, 2007, Esquerda e Direita na Política Europeia, ICS) têm comprovado que uma das características do sistema partidário português é precisamente o forte pendor centrista dos dois principais partidos políticos. Pouco os distingue em termos de projecto político e a estruturação política do eleitorado em seu torno demonstra isso mesmo. Neste contexto, o argumento cimeiro do futuro novo partido não faz muito sentido. Mas a ver vamos…

PS: Já agora, é estranho que um movimento que pretende ser um partido não possua, desde já, um website.
PS 5/03/2008: O website já está no ar: www.mep.pt.

segunda-feira, 3 de março de 2008

A Insegurança dos Seguranças

Os crimes com armas de fogo que têm proliferado nas televisões nas últimas semanas conseguiram elevar o sentimento de insegurança. É o “sentimento” que determina a agenda mediática nestes momentos.

Aproveitando o “sentimento” de insegurança, e na sequência do crime ocorrido no Porto este fim-de-semana, a Associação Nacional de Vigilantes pede agora que os seguranças possam ter acesso a outros meios de defesa, como cassetetes e armas de choques eléctricos.

Humm… Certamente sentir-se-ão mais seguros dos tiroteios com os referidos meios…

Na Rússia, nada de novo

Não surgiram novidades nas presidenciais. Medvedev foi calmamente eleito com cerca de 70% dos votos. Menos do que os obtidos por Putin, mas o suficiente para manter a oposição num segundo plano.

Como manda a tradição, as críticas às fraudes no acto eleitoral proliferaram. Como era de esperar, foi sobretudo Putin que foi eleito, e não o seu suposto sucessor Medvedev. A “democracia” russa funcionou de forma genuína.

A Rússia pode agora continuar a recuperar calmamente o seu lugar no mundo: progressiva recuperação económica, relevo crescente no panorama internacional, entre outros objectivos. A democracia continuará a ser algo assumidamente “para inglês ver”. Nada de novo, portanto.

domingo, 2 de março de 2008

Coligação de Lisboa e o Incómodo do BE

Quando se confirmou a coligação de António Costa e Sá Fernandes, o incómodo em algumas hostes do Bloco não conseguiu ser disfarçado. Desde então, tal desconforto já veio a público algumas vezes. Mas hoje, Louçã não quis deixar dúvidas: em 2009 não haverá nova coligação.

É natural que o desconforto com a coligação tenha surgido desde o início. É a primeira grande experiência governativa do Bloco, ainda por cima em coligação com o partido que actualmente ocupa o Governo. O receio de perder a pureza nas ideias e o risco de contradições geram mal-estar. É o risco do poder…

Mas, a um ano e meio das eleições, colocar em causa uma coligação em curso, ainda por cima em contradição com as declarações de Sá Fernandes, equivale a retirar a confiança política ao seu vereador. Faz sentido que o Bloco se tente afastar do PS no momento actual. Mas há limites, não?

O Novo Courrier Internacional

Finalmente consegui comprar a nova versão da edição portuguesa do Courrier Internacional. É bonita, lustrada, engomada, sofisticada. Por pouco não a confundia com uma revista de moda. Mas não substitui a anterior versão…

As mudanças nos periódicos nunca são muito bem vistas pelos seus leitores mais fiéis. “Estava tudo tão bem, para quê mudar?”. Eis a minha reacção quando soube da passagem do Courrier de semanário para revista mensal. A mais valia da anterior versão baseava-se na possibilidade de acompanhar razoavelmente a actualidade política internacional. Tal deixa de ser possível com uma revista mensal.

No entanto, apesar de ligeiramente contrariado, certamente tornar-me-ei leitor assíduo deste novo Courrier. Afinal de contas, que outras alternativas existem no mercado?