terça-feira, 19 de agosto de 2014

O que faz falta é animar a malta!


Este ano é que é, este ano é que vai ser, pá! ;)

Sintomas de Partido (quase) Único


Quando parecia que a região já tinha ido a banhos, o Presidente da Câmara Municipal da Povoação, faz uma dura crítica ao Governo Regional dos Açores pelos atrasos na execução da Carta Regional das Obras Públicas. Carlos Ávila, histórico do PS no arquipélago, manifestou igualmente em tom inflamado grandes dificuldades em conseguir dialogar com o Governo da Região. Este tipo de episódio não constitui em si mesmo nada de muito extraordinário. Um presidente de uma Câmara mostrar-se desagradado com uma estrutura governamental de âmbito regional ou nacional do mesmo partido é relativamente normal. Diria até que é salutar mostrar externamente que, apesar de Câmara e Governo serem da mesma cor política, existem ideias diferentes, existe diversidade de pensamento. O que tornou este episódio deliciosamente insólito foi o que se seguiu.

A Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores (AMRAA), liderada também por um autarca socialista, resolveu demarcar-se prontamente das declarações do autarca da Povoação, considerando que as mesmas tiveram “um teor ofensivo”, sublinhando que “não podem ser toleradas atitudes deste género por parte de nenhum dos autarcas da região”, uma vez que “a linha de cooperação mantida com o Governo Regional tem garantido importantes conquistas para o Poder Local dos Açores” (!?!). Ou seja, em vez de apoiar ou remeter-se ao silêncio caso discordasse (alternativas típicas neste tipo de situações), a Associação que representa os municípios dos Açores decidiu sair rapidamente em defesa do Governo Regional, assumindo as dores do mesmo e criticando ferozmente o presidente de um dos seus municípios. Foi um gesto bonito…

O episódio acabou por ter seguimento, com a Câmara da Lagoa, também socialista, a solidarizar-se com a Câmara da Povoação e a condenar o “gravíssimo” precedente da AMRAA por “colocar em causa uma relação de lealdade institucional  a que está obrigada para com os seus associados”. Por ser turno, o presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, Ricardo Rodrigues, decidiu também assumir a defesa do Governo Regional, ao considerar que a Associação de Municípios não tem dever de solidariedade com o Presidente da Câmara da Povoação. O ex-Secretário Regional e ex-Deputado à Assembleia da República lembra que os dois níveis de poder - Administração Regional e Local - são “autónomos” e, da mesma maneira que “não aceitaria que o Governo Regional criticasse o poder municipal”, também não aceita o inverso (?!?). Ricardo Rodrigues, o grande campeão do diálogo e da concertação. 

A insólita troca de galhardetes acabou por ter um rápido final feliz, com o anúncio na semana passada da adjudicação pelo Governo de uma empreitada na Ribeira Quente prevista na Carta Regional das Obras Públicas. 

Podem naturalmente ser retiradas várias conclusões do episódio acima. Sublinharia sobretudo o facto de se passar entre responsáveis de um mesmo partido que neste momento domina não apenas o Governo Regional, mas também a vasta maioria dos municípios. O referido cenário hegemónico acaba por proporcionar este tipo de insólitos. Não só uma suposta oposição acaba por surgir no seio do próprio PS, como as lealdades partidárias acabam por gerar disfuncionalidades institucionais entre órgãos de poder. Neste caso, tivemos Câmaras opondo-se a Câmaras do mesmo partido, dividindo-se entre ortodoxos e heterodoxos do Governo Regional.

O facto do partido estar em todo o lado acaba por fazer com que os seus atores políticos se confundam nos papeis que devem desempenhar. Uma vez que competição eleitoral deixou de os preocupar pelas conhecidas debilidades da oposição, o seu quadro de referência passa a ser as lutas internas do próprio partido. Sintomas de partido hegemónico. Sintomas de partido (quase) único.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

Os Campeões da Indignação


Torna-se tristemente interessante assistir à troca de galhardetes entre PS e PSD neste caso do BES. Cada qual fala mais alto e mostra-se mais indignado. Uma espécie de “segura-me ou eu vou-me a eles!”. Se um diz que os contribuintes não deverão ser lesados, o outro diz que nunca os contribuintes poderiam pagar pela vigarice e pelos crimes deste bando de criminosos. Se um diz que é preciso apurar responsabilidades, o outro logo sobe a parada dizendo que é preciso punir severa e exemplarmente estes grandes bandidos. Se um diz que não era difícil prever que isto ia acontecer, o outro logo responde que era mais do que evidente que esta catástrofe estava prestes a suceder. Acompanhar as declarações do PS e do PSD sobre o caso BES, ou acompanhar as cabeças pensantes do costume da nossa praça, equivale a assistir a um verdadeiro campeonato da indignação.

E a discussão torna-se sobretudo interessante quando a troca de galhardetes recorda o caso BPN e procura daí tirar ilações. Por um lado, temos o PS, o grande obreiro da nacionalização do famigerado banco, a exigir que o Governo garanta que o problema do BES não se refletirá no bolso dos contribuintes. Ou seja, o mesmo partido que nacionalizou os prejuízos do BPN e que continua a defender, embora por vezes de forma envergonhada, que tal foi a melhor solução, exige agora a façanha que garante não ter sido possível na altura que governava o país. É brilhante.

Do outro lado, temos o Governo e a maioria PSD/CDS a defender de forma pouco segura a atual solução. Juram a pés juntos que nunca será algo tão desastrado e desastroso como a atuação Governo PS no caso BPN. Ao mesmo tempo, garantem que as responsabilidades serão apuradas. Curiosamente (ou não), recordamo-nos pouco de ter assistido na altura a uma oposição assim tão veemente do PSD ao processo de nacionalização do BPN. Pelo contrário. E quanto ao apuramento de responsabilidades, recordamo-nos todos da forma “esforçada e empenhada” como o PSD tentou que tudo fosse clarificado no caso BPN.

Todos sabemos que PS e PSD agirão sempre como Dupond e Dupond nestes momentos, procurando que sobressaiam diferenças que não existem ou divergências de fundo que nunca ninguém conheceu. Se calhar não temos de esperar algo diferente de partidos que têm ocupado rotativamente o poder nos últimos quarenta anos. Se calhar temos mesmo de deixar cair qualquer expetativa de seriedade quanto a estes super-heróis da rotatividade. Mas espanta-me o facto de continuar a não ver gente suficiente a afastar-se e a denunciar esta novela que nos é oferecida. Como se estivéssemos condenados à parvalheira total.

Artigo publicado na sexta-feira no Esquerda.net

domingo, 10 de agosto de 2014

E de repente... Tudo faz sentido


Este não pretende ser um post sentimental. Lírico ou romântico (que ideia...). Pelo contrário, consegue ser de um realismo profundo. Está repleto de experiência empírica, cientificamente demonstrável. Eis o que descobri há literalmente meia dúzia de anos atrás: poucas coisas conseguem encher a vida de sentido num estalar de dedos. Ter um filho é provavelmente a mais poderosa delas todas.

O correr dos dias fazem com que a vida seja uma sequela de diversidades. Uns dias mais solarengos, outros mais nublados, outros chuvosos até. Enfim, é a vida, como todos a conhecemos. Cheia de altos e baixos, dispensando grande dissertações a este respeito.

Mas eis que, de repente, no meu caso, surgiram os filhos. E eles trazem consigo o poder mágico de conseguir relativizar tudo à volta. Para o bem e para o mal, tudo parece acessório. Tudo parece secundário face ao seu bem estar, à sua felicidade, ao seu futuro. Conseguem trazer consigo o sentido da vida. São uma espécie de concentrado vitamínico que nos abre os olhos e nos enche de força.

Há seis anos e meio, o Henrique trouxe consigo este elixir de clarividência e determinação. Há quase quatro anos, a Luísa conseguiu com uma perna às costas o mesmo feito. E agora, eis que surge o Manuel. Mostra-me novamente que tudo faz sentido, que tudo vale a pena, que a vida serve para ser vivida, sem contemplações, sem hesitações, tirando todo o proveito dela. Obrigado aos três por me mostrarem este segredo mais mal guardado do mundo todos os dias. 

Bem-vindo ao mundo, Manuel. Não sei se o mundo estará à tua altura, mas tu estarás com certeza à altura dele.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Coisas realmente importantes


E agora quem me indemniza pelo facto de ter um Banco Mau estampado na minha camisola do Sporting, hein?

Debater a Banca: Combater um Espírito Pouco Santo


A actual crise no Banco Espírito Santo é a maior de sempre no sistema bancário português. Com um resultado negativo recorde de quase 3 600 milhões de euros no primeiro semestre de 2014, o BES é mais um exemplo desastroso de uma crise financeira que se arrasta há quase seis anos. Em Portugal, nenhum banco saiu incólume. Só graças aos empréstimos de curto prazo do Banco de Portugal e aos fundos para a recapitalização da banca é que os bancos portugueses têm sobrevivido. Os apoios públicos não têm tido, no entanto, qualquer contrapartida por parte da banca, nem na gestão dos seus balanços, assumindo de vez as perdas totais de forma a permitir uma saudável retoma da sua actividade, nem nas suas prioridades de concessão de crédito, nomeadamente na urgente recuperação do investimento produtivo e criador de emprego.

Com uma banca que hoje só serve de lastro à economia portuguesa e um modelo de sistema financeiro que está na origem da actual crise económica, é urgente debater no espaço público o que realmente mais importa – as políticas públicas e a redefinição do sistema financeiro de modo a torná-lo compatível com o interesse público e o desenvolvimento económico e social do país. Sabemos da necessidade de um sector bancário saudável para uma economia saudável, mas não estamos dispostos a pagar a mera socialização das perdas privadas. A falência do actual modelo deve ser pois uma oportunidade para colocar a banca ao serviço do emprego e do progresso social.

Este é um debate urgente que interessa a todos. Participa e divulga!

BEStialidades e Estupidificação Pública


Em pleno Agosto, quando o país já entrou a banhos e já estávamos todos prontos para mergulhar na estupidificante silly season, eis que os enredos na novela Espírito Santo teimam em densificar-se. Soubemos este fim-de-semana que o Estado vai apoiar o banco em 4,9 mil milhões, através da linha de capitalização dos bancos da troika. Ficámos também a saber que panorama bancário nacional terá um Novo Banco, no fundo um “banco bom”, para deixar descansados todos os depositantes do antigo BES. 

Como já vem sendo apanágio neste tipo de novelas, as novidades multiplicam-se todos os dias. Entre comunicados do Banco de Portugal, declarações dos diversos partidos, notícias a todo a hora e análises dos comentadores da praça, o cidadão comum assiste a este processo com uma contemplação estupidificante. Por um lado tem a certeza que não consegue apreender toda a sua complexidade. Por outro lado, também sabe que o que é verdade hoje, deixará de o ser amanhã. Na espuma dos dias, está sobretudo preocupado em saber se mais este colapso bancário nacional terá consequências no seu bolso. Uns dizem que sim, outros dizem que não. O melhor é segurar firmemente a carteira, porque os carteiristas andam por aí.

Mas torna-se também interessante acompanhar as fases que suportam a total estupidificação pública em torno deste colapso do BES. Aliás, quem por estes dias lê o que vai saindo na imprensa e a sua interpretação pelos comentadores mainstream da praça, fica bastante elucidado sobre as referidas fases. Tivemos primeiro a “Fase Surpresa”. Ou seja, quase todos os comentadores da praça mostraram-se surpreendidos com o que se estava a passar. Sem perceber em detalhe o fenómeno, os Marcelos Rebelos de Sousa, os Marques Mendes, os Ricardos Costas e os Josés Gomes Ferreiras da nossa imprensa apressam-se a reproduzir estranhas verdades, como por exemplo a que “o BES não tem nada a ver com o GES. O primeiro está de boa saúde, o segundo é que está com problemas”. Os resultados estão à vista. No caso BPN, tivemos esta fase em torno do quase consenso em nacionalizar o Banco, sob pena de toda a economia portuguesa colapsar.

Temos depois a “Fase da Indignação”. Ou seja, a fase em que dissiparam-se algumas dúvidas, a fase em que o que ontem era verdade passou hoje a ser uma mentira e em que estamos por isso muito indignados. Encontramo-nos precisamente nesta fase no caso BES. Quem leu os jornais este fim de semana, percebeu que da esquerda à direita, todos os comentadores da praça condenam veementemente o vilão Ricardo Salgado. Todo o mal assenta na sua pessoa e na sua capacidade de enganar o país. Como se um processo desta dimensão pudesse ser imputado apenas a um indivíduo e não existissem centenas de coniventes com tudo o que se passou. Mas uma vez que as responsabilidades são difíceis de apurar, é bastante mais conveniente centrar o mal numa pessoa e no seu círculo mais próximo.

Não tardará e chegaremos à “Fase do Era Evidente”. Ou seja, os mesmos comentadores que há umas semanas se mostraram surpresos e que agora se mostram indignados, não tardarão a dizer em pouco tempo que tudo isto “era evidente”. Era evidente que o existiam negócios duvidosos e obscuros no BES, era evidente que Ricardo Salgado era um bandido, era evidente que tudo isto ia colapsar. 

E assim vamos, de escândalo em escândalo, de miséria em miséria, vivendo felizes e contentes com os desmandos que todos os dias sucedem no país. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém. A culpa é do sistema. Hoje assistimos a esta novela BEStial que passa em horário nobre. Amanhã outra surgirá. A estupidificação pública prossegue e continuam a ser muito poucos os que estão verdadeiramente dispostos a acabar com a mesma.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental