Bem sei que utilizar um título bombástico é uma má onda. Por outro lado,
até é perigoso avançar com este tipo de ideias. Não vá alguém levá-las a sério. De qualquer modo, nos tempos que correm, tenho a sensação que algo como o acima anunciado já não é assim tão despropositado. O inconcebível de há uns meses atrás é hoje possível. Tornou-se possível o inconcebível. Atingimos um nível de austeridade tão significativo que os mais graves atropelos sucedem-se sem que a opinião pública reaja de forma minimamente proporcional. E inúmeros exemplos podem ser encontrados a este respeito.
Veja-se o caso do despedimento dos 800 formadores e dos 200 funcionários dos centros Novas Oportunidades. Há um ano, tal facto seria alvo de cobertura noticiosa durante um tempo razoável. No entanto, há pouco mais de uma semana atrás, tal caso manteve-se nas homepages dos sites noticiosos durante meio dia e deu (com sorte) direito a uma notícia nos noticiários da noite. Desapareceu da agenda com uma velocidade impressionante.
Embora com uma cobertura noticiosa diferente, veja-se a facilidade com que o (suposto) acordo da concertação social derrubou de uma só vez uma muralha de direitos do trabalho. E tudo aconteceu sem grandes hesitações, contando inclusive com o selo branco de uma central sindical que há menos de dois meses atrás estava na rua a fazer uma greve geral.
O impensável está de facto a acontecer. E, apesar da indignação se fazer sentir em crescendo, as tensões sociais em curso geram perigosos comportamentos de caça às bruxas. Procura-se fervorosamente os grandes responsáveis internos pela presente desgraça. Tal sorte tanto pode calhar a uma entidade abstrata como “os políticos”, como ir parar ao malandro do vizinho do lado que “vive acima das suas possibilidades”.
Assim sendo, não seria assim tão estranho que bombas como as que dão título a este artigo surgissem um dia destes na agenda. Pior ainda: haveria uma assustadora fatia da opinião pública que aplaudiria este tipo de sacrifício coletivo na grande fogueira da austeridade.
Artigo ontem publicado no Esquerda.net
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