Estive poucas vezes com o Miguel Portas, é um facto. Mas não hesito em dizer que foi a sua escola política, que não se limita à sua pessoa, que mais me inspirou nos últimos anos. Escola essa que, longe de quaisquer idolatrias, conseguia encontrar no Miguel uma lucidez que até feria.
E que escola é essa do Miguel? Uma escola da esquerda permanentemente inconformada com os destinos do mundo. Sem dogmas e em luta permanente contra a cristalização, que consegue aliar a forte vontade de mudança com a certeza de que a própria mudança tem de ser constantemente reinventada. Porque o mundo não pára de girar e as dinâmicas sociais e políticas não cessam de evoluir. A escola do Miguel consegue fazer essa ponte entre a certeza de um mundo em permanente mutação e a vontade não relativizável de sobre ele intervir à esquerda, tornando-o mais livre, mais justo, com espaço para todos.
E julgo que a expressão "fazer a ponte" aplica-se particularmente bem ao Miguel. Porque enquanto crente acérrimo do debate, era também dos mais incansáveis defensores de convergências. Nomeadamente nesta esquerda portuguesa sempre tão empenhada em agir de costas voltadas.
O Miguel Portas é com toda a certeza uma das figuras mais marcantes da esquerda portuguesa dos últimos anos. A partida de alguém como ele deixa sempre um vazio. Felizmente as pessoas grandes têm essa capacidade de inspirar e deixar escolas.
2 comentários:
Absolutamente de acordo!
Gostei de ler. Tudo.
E sublinhei:
«(...) aliar a forte vontade de mudança com a certeza de que a própria mudança tem de ser constantemente reinventada. (...)»
É isso mesmo que homens como Miguel Portas, «incansáveis defensores de convergências», sabem inspirar com pedagógica lucidez.
LdO
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