1 - Flic Flac à retaguarda
Durante muitos anos, quando questionávamos sobre os preços elevados das passagens aéreas nos e para os Açores, habituamo-nos a ouvir que não havia alternativa. Assim acontecia porque os custos de operação eram efectivamente elevados. E a liberalização de rotas aéreas nos Açores era uma ideia que colocaria em causa a coesão regional, uma vez que apenas as rotas lucrativas seriam interessantes para os operadores privados. Subitamente, no espaço de dois ou três anos, tudo mudou. Uma espécie de flic flac à retaguarda permitiu que o Governo abrisse os olhos e constatasse outros caminhos possíveis. Passou a ser urgente abrir as rotas e todos os que recomendaram cautela a este respeito são mentes fechadas pouco preocupadas com o progresso da região.
2 - De Bestial a Besta
A SATA sempre foi assumida pelas autoridades regionais como um verdadeiro serviço público. Uma companhia de bandeira, prestadora de um serviço de qualidade que em nada ficaria atrás das grandes companhias de aviação. Os preços das passagens eram altos, mas a qualidade e a segurança não tinham preço. As opções estratégicas tomadas eram arriscadas, mas era necessário ambição para levar os Açores mais longe. No entanto, e de repente, tudo parece ter mudado. Os prejuízos da empresa começaram a vir a público, começou a ser clara a sua falta de competitividade e até os seus trabalhadores foram subitamente promovidos a privilegiados, tal era a quantidade de regalias que lhes assistia. A SATA passou de bestial a besta num estalar de dedos.
3 - Uma espécie de fábula da Olívia patroa e da Olívia costureira
Sendo o Governo Regional o único accionista da SATA, é particularmente interessante acompanhar o seu posicionamento ao longo do processo. Ora vemos o Governo “accionista” a defender a SATA e as suas opções estratégicas dos últimos anos, ora vemos o Governo “imparcial” a garantir que não se intromete nas opções da empresa, ora vemos o Governo “defensor dos açorianos” a dizer-se muito preocupado com as opções da empresa. Portanto, uma conveniente (e algo doentia) mudança de camisola ao sabor dos acontecimentos.
4 - O Governo da República é uma vergonha! Às terças e quintas…
O Governo Regional pode e deve ter uma posição sobre a abertura das rotas aéreas açorianas. Mas a competência última deste processo pertence ao Governo da República. Assim sendo, foi naturalmente necessário um bom entendimento entre os dois governos para que se chegar à solução agora em curso. Mas a julgar pela informação que chegou a público, o referido entendimento deve ter um mero pormenor que “interessa pouco”.
5 - Para quê envolver os verdadeiros especialistas?
Os trabalhadores de uma empresa são os primeiros interessados no seu futuro, mas também os maiores especialistas sobre a mesma. Conhecem-na por dentro, sabem os seus pontos fortes e são exímios em identificar os seus pontos fracos. No entanto, em todo este processo de abertura do espaço aéreo, parece que a sua opinião servia de pouco, uma vez que nunca ou quase nunca foram ouvidos. Pelo contrário, foram sabendo do futuro da empresa pela comunicação social.
6 - Está-se a destruir a empresa? Que SATICE…
Uma vez que o espaço aéreo foi aberto sem que a SATA fosse minimamente preparada para o efeito, é hoje consensual o risco que tal representa para a actividade da empresa. Tem subitamente de concorrer de igual para igual com low costs, cujo modelo de negócio é evidentemente diferente. E tem de fazê-lo no seguimento de acordos feitos com as referidas empresas que limitam a margem de actuação da transportadora aérea açoriana. Está-se a destruir uma empresa bandeira dos Açores? Que SATICE… Está-se a colocar-se em causa o trabalho de centenas de açorianos? Que SATICE…
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
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