quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Bem me quer, mal me quer…

É sempre interessante ver o posicionamento do pensamento político à direita relativamente a este tipo de medidas. Por um lado, fazem finca pé para o não aumento dos impostos, sempre prontos a utilizar o argumento de que tal seria muito duro para o orçamento das famílias portuguesas. Mas se as medidas visarem cortar nos salários ou nos apoios sociais, aí logo se esquecem das famigeradas famílias portuguesas.

Para a posteridade

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O diabo está nos pormenores

O comunicado sobre o PEC 3 que se encontra no Portal do Governo é bastante elucidativo sobre onde se pretende obter poupança. No que a despesas sociais diz respeito, os cortes são claros e quantificados (e o valor do aumento do IVA também não deixa margem para dúvidas). Já quanto à redução da despesa através de outros mecanismos - extinção de empresas públicas ou redução de benefícios fiscais para pessoas colectivas, por exemplo - aí ficou-se pela enunciação de intenções. Comentários para quê?
(Imagem: Diabo a 4)

Sobre o discurso do esforço e do sacrifício

Novas medidas de austeridade devem hoje ser anunciadas, sob o signo do “esforço e dos sacrifícios que todos temos que fazer”. É um enunciado interessante, que provoca sempre alguma empatia. Chega a convocar uma espécie de espírito de missão ao povo português com contornos quase cristãos. Daí ser um discurso que pega razoavelmente bem. O problema é que acaba por se desmoronar ao primeiro questionamento: desde quando é justo ou sequer razoável todos termos de fazer sacrifícios?
(Imagem: Palavras da Vida)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Obrigado, Pedrinho

É sabido que o relacionamento entre Cavaco Silva e Passos Coelho nunca foi famoso. E mais recentemente não faltaram pequenos episódios de desencontros e incómodos mútuos. Basta para isso recordar a questão da proposta de revisão constitucional do PSD. Mas o braço-de-ferro que Passos Coelho tem despoletado com o PS a propósito da aprovação do orçamento de Estado acaba por ser um dos melhores presentes que o novo líder do PSD poderia oferecer a Cavaco.

Subitamente, o actual PR assume o papel de árbitro conciliador, convocando os partidos para acalmar os ânimos. Tudo em nome da estabilidade política e consequentemente económica. Haverá coisa que o eleitorado mais aprecia num PR do que este papel paternalista? Tenho dúvidas. Cavaco fica a dever no mínimo um almoço a Passos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Querem saber onde poupar? Perguntem aos funcionários

Em tempos de crise, a pressão para a poupança nos gastos públicos é cada vez maior. E embora se deva distinguir muito bem entre despesa pública e desperdício público, é indiscutível que este último não é bom em lado nenhum. Traçam-se então extensos planos de cortes, chegando-se ao paradoxo de, em tempos de crise, poupar-se extensamente nas prestações sociais.

Sem dúvida que a grande máquina do Estado - a Administração Pública - é um dos sítios onde melhor se deve procurar a poupança. Mas ao mesmo tempo que ouvimos falar em cortes cegos nas despesas, continuam a sair cá para fora notícias sobre frotas renovadas e outros gastos insultuosos. Cortar em baixo é fácil, mas as regalias em cima costumam manter-se.

Neste contexto, e para inverter tal tendência, quem melhor do que os funcionários de uma instituição/organismo para identificar onde se encontra o desperdício? Quem melhor do que eles para identificar onde há excesso de mordomias e regalias? Devia ser lançado um concurso a todos os funcionários públicos que consistiria apenas na seguinte pergunta: "No seu organismo, onde pouparia?". Embora fosse incómodo para as chefias públicas, garanto que o contributo para a redução da despesa pública seria grande.
(Imagem: Whidbey Island Bank)

Não me esqueci deste blog

Uma nova situação profissional e uma vida familiar a exigir cada vez mais atenção fazem com que aqui o Activismo de Sofá esteja com dificuldades em estar tão em cima do acontecimento como já esteve. Ao ponto de ficar dias seguidos sem novos posts. São fases. Agradecemos desde já a compreensão aos milhões e milhões (e milhões) que nos seguem diariamente. ;)
(Imagem: Sodahead.com)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Jornalismo e a Internet

Na comemoração dos 15 anos do Público Online, o seu fundador, José Vítor Malheiros, deu uma entrevista onde discorre sobre os efeitos da revolução provocada pela internet no jornalismo. As opiniões de Malheiros são evidentemente discutíveis, mas se calhar por isso mesmo vale a pena ler a entrevista.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

As Mulheres e a Toponímia em Lisboa

"Lisboa tem cerca de 3600 arruamentos com toponímia. Deste universo, aqueles que se referem a mulheres são apenas 3%." (in Josefa de Óbitos, 2010, p. 11, Quidnovi, Lisboa)

A pergunta a Jerónimo

No âmbito do fórum online comemorativo dos 15 anos do Público online, tive oportunidade de colocar a seguinte questão a Jerónimo de Sousa:

09:55
João Ricardo Vasconcelos :
Bom dia, Jerónimo de Sousa. Sem retirar naturalmente qualquer mérito ao candidato Francisco Lopes, não considera que o apoio do PCP a Manuel Alegre teria sido uma óptima demonstração da capacidade da esquerda se entender em momentos fulcrais como o actual? Obrigado, Cumprimentos
quarta 22 de setembro de 2010 09:55


09:57
Jerónimo de Sousa:
Nós temos um projecto claro que não se confunde com ambiguidades de outras candidaturas, que em muitos aspectos estão comprometidas com as políticas dominantes. É uma candidatura que mobiliza e une todos aqueles que aspiram a uma mudança real.
quarta 22 de setembro de 2010 09:57


Se pudesse ter respondido a Jerónimo (a aplicação não permite reagir às respostas, apenas formular uma pergunta), teria escrito qualquer coisa como:

09:59
João Ricardo Vasconcelos
Se calhar em momentos de crise como o actual, e estando em causa uma candidatura tão forte como a de Cavaco, seria importante o PCP demonstrar desde logo que é capaz de desenvolver entendimentos... Felizmente sabemos que, caso haja uma segunda volta, o apoio dos comunistas a Manuel Alegre não falhará.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Atenção: Carrilho à Solta

Goste-se ou não do senhor, a súbita demissão (ou substituição, se preferirem) de Manuel Maria Carrilho no cargo de embaixador da UNESCO está muito mal explicada. Por um lado, parece que surge na sequência do livro lançado e entrevista dada ao Expresso. Por outro lado, será o governo tão pouco prudente ao ponto de levar a cabo um acto censório tão às claras?

Mas a estranhesa desta caso não se fica por aqui. É que enquanto esteve na UNESCO, Carrilho esteve entretido e comprometido com a actual liderança socialista. Agora deixa de o estar, o que pode ser chato para o Governo e para o próprio PS.
(Imagem: Macroscopio)

A Trapalhada Atendível

No ano em que se preparam as presidenciais e no ano em que Portugal se depara com um dos piores cenários económicos em democracia, o PSD entendeu por bem apresentar uma proposta de revisão constitucional. Se calhar tal acto até pode não ser considerado estranho tendo em conta o velho desconforto que o partido sempre manifestou com o texto constitucional. Se a isto adicionarmos a vontade de afirmação de um novo líder que se apresentou como a lufada de ar fresco liberal que o país tanto precisa, compreendemos então melhor o porquê desta aventura

O problema é que a aventura não tem corrido bem. Por um lado, existe um problema relativamente estrutural: as ideias de liberais de não intervenção do Estado na economia são relativamente estranhas ao eleitorado português. Ou seja, grande parte do discurso do novo líder do PSD corre o risco de não ser bem entendido pela opinião pública. Em Portugal, o centro-direita nunca se afastou muito de concepções social-democratas ou democratas cristãs de intervenção do Estado na economia. Aliás, goste-se ou não, o alargamento do sistema público de saúde ou de educação foi também feito por governos de centro-direita, nomeadamente pelos governos do actual presidente da República. Não é portanto de estranhar que as concepções liberais de Passos sejam pouco entendidas até pelo eleitorado típico do PSD e mesmo por alguns militantes do seu partido.

Por outro lado, como se tal não bastasse, a forma como a liderança laranja tem gerido o dossier tem deixado muito a desejar. Veja-se o caso do “despedimento com razão atendível” que, depois de fortes críticas, passou a contar no projecto de revisão constitucional como “despedimento com razão legalmente atendível”. A introdução do “legalmente” criou uma redundância que apenas veio demonstrar o pouco à vontade que o PSD tem com a matéria em causa (como se as razões atendíveis previstas na anterior formulação incluissem ilegalidades). Mas fez mais do que isso. Eliminando-se um conceito consagrado como é o de “justa causa”, o projecto do PSD veio conceder ao legislador um cheque em branco na definição em lei ordinária sobre o que é que se entende por “razão atendível”. As cerradas críticas ao projecto não se fizeram esperar.

O projecto de revisão constitucional laranja veio conceder a Sócrates a possibilidade de se afirmar de repente como o grande defensor do Estado Social. Assim sendo, concedeu um importante balão de oxigénio para um Governo socialista que muitos consideravam num processo de queda irreversível. Mas os efeitos de tal projecto não se ficam por aqui. Basta ver o desconforto que tem gerado em Cavaco Silva, que já o elegeu há muito como tema tabu. Não só por algumas das concepções liberais do mesmo distanciarem-se do seu perfil politico-ideológico, mas sobretudo pelo incómodo que qualquer posicionamento ideológico claro implica para alguém que está apostado em mostrar-se acima da política.

O novo líder do PSD está em maus lenções e todo o país já o percebeu. Mas para lá deste cenário pantanoso em que se meteu, e para lá da estratégia de fuga para a frente que tem seguido, importa também não perder de vista o posicionamento do PS a este respeito. Manter-se-á de pedra e cal ou irá evoluir? Apostaria à partida na primeira hipótesedado que no momento presente convém-lhe afirmar um forte distanciamento ideológico com o PSD. O problema é que basta olharmos um pouco para trás para percebermos com que partidos se fizeram as sucessivas revisões constitucionais até ao presente. È toda uma tradição que está ser posta à prova...
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Artigo publicado hoje no Açoriano Oriental
(Imagem: Tisserand)

domingo, 19 de setembro de 2010

Sobre a Warhol TV

Visitei a exposição Warhol TV no Berardo. Vale bem a pena. E convém ir com tempo para se conseguir perceber melhor Andy Warhol e o mundo em que vivia. Ou que gostava de pensar que vivia...

Genial

Se antes já estava curioso por ver o novo documentário sobre Joaquin Phoenix, a golpada mediática aqui descrita despertou ainda mais o interesse.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Tudo ou nada


As hipóteses de Manuel Alegre vencer Cavaco Silva não são, à partida, as mais animadoras. Impedir uma reeleição presidencial é uma tarefa hercúlea. O eleitorado já mostrou inúmeras vezes que, quando convidado a optar pela manutenção ou pela mudança em Belém, escolhe a segunda opção. Parece revelar-se mais simples manter lá quem já se conhece, sobretudo quando se está habituado a encontrar na figura presidencial uma voz parternalista e conciliadora. Manter lá alguém que se afirma ora preocupado com isto, ora preocupado com aquilo, falando numa espécie de código presidencialês.

Cavaco, neste sentido, está a gerir relativamente bem este seu final de mandato. Colocando-se acima do poder, como uma espécie de voz da consciência colectiva, lá vai mandando os seus recados contidos e devidamente codificados. Raramente se precipita nas reacções, preferindo silêncios ligeiramente interrompidos por populares apelos à estabilidade governativa. Tem procurado encarnar tudo o que o eleitorado tem sido habituado a esperar de um Presidente da República. A sua tentativa de postura apolítica procura fazer esquecer que se trata de um dos políticos que mais responsabilidades teve no Portugal democrático, acumulando 15 anos nos dois cargos de maior relevo do sistema político.

Não vai ser fácil derrotar Cavaco Silva, é um facto. Precisamente por isso, mais do que tal se afirmar como factor desmobilizador, tem de ser encarado por todos aqueles que não o apoiam como motivo extra para a mobilização. À esquerda não restam dúvidas que Manuel Alegre é o candidato que melhor conseguirá contribuir para uma segunda volta. É o candidato que melhor conseguirá construir pontes com o eleitorado que não se identifica com Cavaco. Não é o candidato perfeito e estranho seria se assim o fosse. Mas é alguém com inúmeras provas dadas no panorama da esquerda e é com certeza a único candidato com capacidade para ameaçar a reeleição de Cavaco.

Joga-se agora o tudo por tudo na campanha de Manuel Alegre. Ou se consegue algo de facto mobilizador, uma campanha utilizando todos os meios à disposição para demonstrar que o país não precisa de mais 5 anos de cavaquismo, não precisa de mais 5 anos do candidato do PSD e do CDS, ou então a reeleição será certa. Não querendo assumir um ar profético, este é o momento em que todos os esforços nunca serão demais. É o momento de dar a cara, de mobilizar pessoa a pessoa, de ganhar voto a voto, de envolver todas as personalidades que possam ser uma referência para a população. Venham os autocolantes para os carros, os pins para a lapela, venham os lenços para as varandas, venha tudo pró menino e prá menina. É o tudo ou nada. Ou vai ou racha. Porque no dia seguinte ou estaremos alegres, ou estaremos tristes. Simples, não?
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Artigo publicado hoje no Esquerda.net
(Imagem: Hand Made)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A corrida aos holofotes

Pelos vistos alguns círculos mais conservadores ainda não perdoaram a Cavaco o não veto ao casamento LGBT. Se calhar até avançarão com um candidato, não para ganhar (como é evidente), mas para terem acesso aos holofotes da campanha eleitoral. Enfim, estão no seu direito...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Má Ideia

Após meses de discussão, foi aprovada a proibição do véu integral muçulmano em França. Não é uma questão pacífica e compreendo os argumentos de quem acha que este é o caminho. Pessoalmente, julgo que nestes casos é preferível levar a água ao “nosso” moinho, não seguindo o caminho da proibição. Sobretudo porque tendo em conta a sensibilidade cultural da questão, a reacção poderá ser a radicalização. Ou seja, precisamente o inverso do que se pretende.
(Imagem: Secção dos Direitos Humanos da Associação Académica de Coimbra)

Subway Life

O artigo que saiu no Ípsilon sobre o livro de António Jorge Gonçalves convence-nos. Desenhar pessoas que andam no metro em 10 cidades do mundo, eis a essência de Subway Life. Chega esta semana às livrarias e a mim já me deixou bastante expectante. Se calhar porque sempre achei delicioso andar nos transportes públicos e observar o “mundo real”.
(Imagem: Urban Photo)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Curiosa Solução

Não sou constitucionalista e nem sequer sou jurista, mas a substituição de despedimento por “razão atendível” por “razão legalmente atendível” parece à primeira vista uma solução algo curiosa e paradoxal até. É que, deste modo, é a lei fundamental (a Constituição) que se subjuga à lei ordinária. Ou seja, se assim é, então para quê tal preceito figurar numa Lei Fundamental? Com a configuração agora proposta, a Constituição limita-se a conceder um cheque em branco ao legislador, como desde logo afirmou Garcia Pereira.
(Imagem: Dar a tramela)

Já nas bancas

Mais informações sobre a edição de Setembro aqui.

Insólitos

Esforçamo-nos por fugir às notícias do insólito que todos os dias fazem capa em determinada imprensa. Mas verdade seja dita: algumas conseguem proporcionar-nos aquele grandioso “wtf” matinal que nos teletransporta um pouco da rotina e normalidade quotidiana. Reparem só nas pérolas abaixo:

- Mordeu polícia ao ser tratado por tu (DN, 13/09/2010)

- Fugiu da prisão há 14 anos mas foi apanhado depois de participar num programa televisivo (Público, 14/09/2010)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Tudo por tudo

Não é novidade para ninguém que as hipóteses de Manuel Alegre vencer Cavaco Silva não são, à partida, as mais animadoras. Impedir uma reeleição presidencial é uma tarefa hercúlea. Precisamente por isso, mais do que tal ser um factor desmobilizador, tem de ser encarado pelos seus apoiantes e simpatizantes como um factor extra de mobilização.

É o tudo por tudo. Ou se consegue algo de facto mobilizador, uma campanha utilizando todos os meios à sua disposição para demonstrar que o país não precisa de mais 5 anos de cavaquismo, não precisa de mais 5 anos do candidato da direita, ou então a reeleição será certa. Não querendo assumir um ar profético, este é o momento em que todos os esforços não serão demais. Mobilização pessoa a pessoa, ganhar voto a voto, envolvimento sério de personalidades que possam ser uma referência para a população, autocolantes para os carros, pins na lapela, pró menino e prá menina, é o tudo ou nada. Ou vai ou racha, não tenhamos dúvidas a este respeito.
(Imagem: Manuel Alegre)

Branco e azul ou azul e branco

O livro de Hugo Marçal chama-se "Sabão Azul e Branco". Mas eu devo pertencer à minoria que sempre disse e ouviu dizer "sabão branco e azul". Que estranho... Será que ainda há espaço para introduzir mais esta questão totalmente lateral no processo Casa Pia?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Socialnomics - Recomenda-se

Para quem vive neste mundo das redes sociais, gostava de o perceber um bocadinho melhor e, quem sabe, tirar proveito desta sua experiência pessoal para uso profissional, vale pena ler o Socialnomics. Saiu em 2009, é um bestseller da Amazon e foi editado em português em Junho pela Presença. Vale a pena ir acompanhando aqui o site do autor, Eric Qualman.

Começo a ficar seriamente cansado de tanto malhar na Justiça Portuguesa


"Acórdão da Casa Pia sem data para entrega a advogados. (...) A juíza presidente do colectivo, Ana Peres, informou ontem, através do Conselho Superior da Magistratura, que "surgiu um problema informático aquando da impressão e gravação do acórdão para suporte digital", o que impediu que o documento fosse depositado na secretaria judicial como estava previsto" (Público, 10/09/2010). Enfim, comentários para quê?
(Imagem: Saber Partilhar)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Será pedir muito?

Segundo o DN, a Igreja vai promover um estudo sobre a prática dos fiéis em Portugal (e.g. saber se os católicos vão ou não à missa) e o que pensam. Ainda bem que assim é. Resta agora esperar que o estudo seja feito com objectivos sérios de reflexão interna e não com objectivos exclusivos de legitimação da instituição perante a sociedade (do tipo: “3 milhões de portugueses vão à missa!"). Pedir grande seriedade nestes estudos será pedir muito?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Estamos sintonizados com o Bartoon


Assim de repente, o Bartoon de hoje quase parece surgir no seguimento do post que fiz na segunda-feira. :)
(Imagem: Público)

Notas soltas sobre o processo Casa Pia

Anos e anos de circo. O processo Casa Pia figura certamente entre os mais mediáticos processos judiciais até hoje ocorridos em Portugal. Foram anos e anos de suspeitas, de julgamentos, de dúvidas, de caras conhecidas ou nem tanto que viram o seu nome manchado. O processo até conseguiu, num dado momento, assumir contornos políticos. Durante décadas ninguém conseguirá pronunciar o nome “Casa Pia” sem se recordar deste processo. Foi um processo que alimentou muitas páginas de jornal, muitos comentários televisivos. Passou por tantas fazes que até se torna difícil recordar a sua origem. Foram muitos anos de espectáculo mediático-judicial.

Mas o circo ainda não acabou. E ainda não acabou porque, como todos sabemos, o processo continuará de recurso em recurso para instâncias superiores ainda por muito tempo. Anos certamente. Esta é outra das caracteristicas do nosso sistema de justiça: enquanto os arguidos conseguirem pagar a bons advogados, estes arranjam forma de ir prolongando o processo ad eternum. Como é evidente, qualquer sistema deve dar o máximo de garantias de defesa aos acusados. E deve também poder ser conduzido com o rigor que se exige, seguindo tramites que assim o garantem. Mas quando tal permite que os processos se arrastem anos e anos, algo não pode estar bem.

Culpados ou inocentes? Um dos problemas que mais salta à vista com a evolução deste processo Casa Pia é que a Justiça Portuguesa está a atravessar um período tão mau que a leitura de uma sentença não consegue ser um tira teimas quanto à culpabilidade ou inocência dos visados. Poucos serão os que mudaram de opinião na última sexta-feira. Ou seja, atingiu-se um grau tão elevado de descredibilização que hoje em dia um culpado pode estar a ser condenado e nós duvidamos. E um inocente pode estar a ser elibado e nós também duvidamos. Qualquer cidadão minimamente informado tem hoje razões para desconfiar da Justiça Portuguesa. Escusado será sublinhar os perigosos efeitos de tal sentimento.

Alguém viu por aí os responsáveis da Casa Pia? Um dos traços mais curiosos deste processo é a ausência de responsáveis da instituição entre os arguidos. Ou seja, tudo se passou durante anos e anos, mas pelos vistos ninguém sabia de nada. Os responsáveis da instituição andaram distraídos durante tantos anos, mostrando-se agora surpreendidos com a monstruosidade do que se passava dentro dos seus muros e colocando-se na primeira fila da defesa das vítimas. Enfim, este elibar dos responsáveis e da própria instituição assume contornos bizarros.

Pedofilia passou a estar no dicionário. Antes do processo Casa Pia, a questão da pedofilia era um problema remoto. Algo que acontecia, que sabia-se que acontecia, mas que facilmente era desculpabilizado e mantido entre portas. Nos últimos anos, a realidade mudou e o mediatismo de todo este processo para isso contribuiu. Surgiram naturalmente alguns alarmismos injustificáveis, sem dúvida. E é também impossível esquecer a caça às bruxas que este processo originou em determinado momento. Mas regra geral, os ânimos foram-se acalmando. E, felizmente, hoje ninguém duvida que a pedofilia constitui um dos mais hediondos crimes.

Sentimento de justiça precisa-se. O ideal seria que anos e anos de circo tivessem servido para alguma coisa. Tivessem servido para se ter a certeza que se está a fazer justiça, que os culpados estão a ser condenados e, sobretudo, que as vítimas conseguirão finalmente encontrar alguma paz a este respeito. Mas alguém acredita que foi este o resultado deste processo? Enfim, é triste…

Artigo publicado ontem no Açoriano Oriental
(Imagem: iDias)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mais uma prendinha de Isabel Alçada

A opção por um ensino recorrente de tipo profissionalizante até pode ser legítima, se for bem fundamentada. Embora sabendo que muitos não concordarão, até admito à partida poder dar de barato tal questão. Mas o que não pode acontecer é o país chegar ao princípio de Setembro e só agora saber que o Ministério da Educação resolveu extinguir o ensino recorrente (vulgo ensino nocturno). Depois do encerramento das 701 escolas, eis mais uma prendinha de Isabel Alçada neste início de ano lectivo.
(Imagem: Platonismo Político)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Menos encenação, sff

Obviamente que a democracia se faz de negociações devidamente encenadas e dramatizadas. Jogos de força e trocas de palavras que alimentam os media para consumo do eleitorado (como se este gostasse...). Mas assistir a toda esta dança por parte de Sócrates e Passos Coelho, líderes de dois partidos que comprovadamente sempre concordaram no essencial, começa a ser um bocadinho enjoativo.

domingo, 5 de setembro de 2010

Festa do Avante


E lá se foi mais uma edição da festa do Avante. Sendo-se comunista ou não, não há como não tirar o chapéu a um evento com tal dimensão.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sobre o genocídio das escolas

O ano lectivo está prestes a começar e, para grande espanto, a medida de encerramento compulsivo das 701 escolas com menos de 20 alunos vai mesmo avançar. Com uma lista divulgada a menos de um mês do início das aulas, e com uma estranha conivência da maioria dos autarcas, o bizarro argumento de que a pequena dimensão da escola contribui para o insucesso escolar vai mesmo vingar. Alguns protestos fizeram-se sentir, algumas reacções indignadas de encarregados de educação e de autarcas que sentem não ter sido ouvidos fizeram-se ouvir. No entanto, regra geral o genocídio das escolas está a passar quase incólume. Esperemos que os próximos dias tragam novidades neste sentido.

Para além do impacto negativo que a transferência de crianças para locais mais afastados da sua residência tem, torna-se quase escusado sublinhar o papel incontornável dos estabelecimentos de ensino nos meios mais pequenos. Funcionam normalmente como importantes dinamizadores da vida local, ajudando a contrabalançar o envelhecimento e a desertificação de que tanto se fala. Estas pequenas escolas constituem-se nas pequenas aldeias como um dos últimos vestígios de serviços públicos disponíveis. O seu encerramento representa um arrepiante baixar de braços relativamente a qualquer estratégia de planeamento e organização do território. Trata-se de um despudorado abraçar das lógicas centralistas.

Mas um dos aspectos mais interessantes desta questão do encerramento diz respeito à linha argumentativa de que, nos novos e maiores estabelecimentos, os alunos beneficiarão de melhores instalações e melhores meios de apoio ao ensino. Tal acontece por oposição às pequenas escolas que agora encerram, em grande parte degradadas e onde a falta de meios é de todos conhecida. Ou seja, em vez de se apurarem responsabilidades sobre a ausência de investimentos que dignifiquem estas pequenas escolas, assume-se como fatalidade a falta de meios ou as poucas condições. Moral da história: a técnica do deixar apodrecer continua a ser muito conveniente em diversas áreas das políticas públicas.

Com o argumento de que tudo está a ser feito para o bem dos alunos, aqui e ali temperado com a bandeira da sustentabilidade (leia-se economicismo), o processo de encerramento das escolas está a avançar sem grandes sobressaltos. A suposta correlação que indica que a pequena dimensão das escolas provoca insucesso escolar é tão válida como pensarmos que a pequena dimensão das aldeias provoca o envelhecimento dos seus habitantes… Por este andar, e seguindo estas lógicas, já deve faltar pouco para uma medida administrativa de encerramento compulsivo das aldeias do país e transferência dos seus habitantes para "centros habitacionais com melhores condições”.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net
(Imagem: Stop Mega Sheds)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Cuidado com o Dinamite


Os tumultos em Moçambique parecem querer relembrar-nos que em situações extremas de pobreza, de desespero, de falta de perspectivas, não é necessário haver um facto extraordinário para que a revolta se manifeste. Numa situação explosiva, qualquer coisa pode servir de rastilho porque o combustível está espalhado por todo o lado. Enfim, são dinâmicas mais do que evidentes, mas que por vezes parecem cair no esquecimento.
(Image: Freelance Copyrighters Blog)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vivó Metro!

Permitam-me o desabafo pessoal: passados sete anos e meio a ter de abandonar Lisboa todos os dias pela manhã para trabalhar em Oeiras, eis o lema de quem a partir de hoje voltou a trabalhar na Grande Alface: Vivó Metro!
(Imagem: Planeta Gadget)