As hipóteses de Manuel Alegre vencer Cavaco Silva não são, à partida, as mais animadoras. Impedir uma reeleição presidencial é uma tarefa hercúlea. O eleitorado já mostrou inúmeras vezes que, quando convidado a optar pela manutenção ou pela mudança em Belém, escolhe a segunda opção. Parece revelar-se mais simples manter lá quem já se conhece, sobretudo quando se está habituado a encontrar na figura presidencial uma voz parternalista e conciliadora. Manter lá alguém que se afirma ora preocupado com isto, ora preocupado com aquilo, falando numa espécie de código presidencialês.
Cavaco, neste sentido, está a gerir relativamente bem este seu final de mandato. Colocando-se acima do poder, como uma espécie de voz da consciência colectiva, lá vai mandando os seus recados contidos e devidamente codificados. Raramente se precipita nas reacções, preferindo silêncios ligeiramente interrompidos por populares apelos à estabilidade governativa. Tem procurado encarnar tudo o que o eleitorado tem sido habituado a esperar de um Presidente da República. A sua tentativa de postura apolítica procura fazer esquecer que se trata de um dos políticos que mais responsabilidades teve no Portugal democrático, acumulando 15 anos nos dois cargos de maior relevo do sistema político.
Não vai ser fácil derrotar Cavaco Silva, é um facto. Precisamente por isso, mais do que tal se afirmar como factor desmobilizador, tem de ser encarado por todos aqueles que não o apoiam como motivo extra para a mobilização. À esquerda não restam dúvidas que Manuel Alegre é o candidato que melhor conseguirá contribuir para uma segunda volta. É o candidato que melhor conseguirá construir pontes com o eleitorado que não se identifica com Cavaco. Não é o candidato perfeito e estranho seria se assim o fosse. Mas é alguém com inúmeras provas dadas no panorama da esquerda e é com certeza a único candidato com capacidade para ameaçar a reeleição de Cavaco.
Joga-se agora o tudo por tudo na campanha de Manuel Alegre. Ou se consegue algo de facto mobilizador, uma campanha utilizando todos os meios à disposição para demonstrar que o país não precisa de mais 5 anos de cavaquismo, não precisa de mais 5 anos do candidato do PSD e do CDS, ou então a reeleição será certa. Não querendo assumir um ar profético, este é o momento em que todos os esforços nunca serão demais. É o momento de dar a cara, de mobilizar pessoa a pessoa, de ganhar voto a voto, de envolver todas as personalidades que possam ser uma referência para a população. Venham os autocolantes para os carros, os pins para a lapela, venham os lenços para as varandas, venha tudo pró menino e prá menina. É o tudo ou nada. Ou vai ou racha. Porque no dia seguinte ou estaremos alegres, ou estaremos tristes. Simples, não?
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