No meio da crise, do clima de pré-férias, regularmente interrompido pelos esqueletos tirados do armário de Miguel Relvas, as eleições regionais açorianas de Outubro têm passado praticamente despercebidas da agenda nacional. Na imprensa nacional as notícias são mais do que poucas e as próprias máquinas partidárias tem deixado transparecer pouca preocupação com o que se passará lá no meio do Atlântico. Claro que nos Açores não existe um Alberto João capaz de fazer manchetes diárias. Mas, se calhar, um bocadinho mais de atenção ao cenário do arquipélago não fazia mal a ninguém.
Depois de 16 anos de governação do PS, a não recandidatura de Carlos César abre espaço à mudança no cenário político regional. Esta será naturalmente menor se o PS sair vencedor, dando lugar a pelo menos a uma mudança de rosto na presidência do Governo Regional. Por sua vez, a mudança será maior se o PSD sair vencedor destas eleições, abrindo lugar a um novo ciclo político na região. Apesar de serem mais do que conhecidos os efeitos perversos de um governação que dura há 16 anos, é evidentemente preferível que a direita política não regresse ao poder na região.
De qualquer modo, esta natural preferência de que a direita não vença as eleições regionais não pode determinar qualquer tipo de contentamento com uma nova vitória do PS na região. Dada a forma como Carlos César passou o testemunho a Vasco Cordeiro, o atual candidato socialista, os dados estão lançados para que se verifique uma perpetuação quase perfeita do poder socialista no arquipélago. O consenso do partido em torno da candidatura de Vasco Cordeiro demonstra aliás que a máquina regional do PS não tem vontade de grandes mudanças. Ou seja, a região corre o risco de se manter entregue ao mesmo aparelho político, encharcado com todos os vícios que 16 anos de poder determinam.
É neste contexto que a afirmação do Bloco na região assume um papel determinante. Na ausência de qualquer tipo de entendimento político que pudesse resgatar os socialistas da pura continuidade, o Bloco tem a importante responsabilidade de ganhar o descontentamento de uma série de setores da população. Nomeadamente, a jovem classe média urbana açoriana que, longe de ver na candidata do PSD Berta Cabral uma alternativa, também se sente pouco satisfeita com uma pura mudança de rosto na liderança socialista. Por outro lado, uma vez que a maioria absoluta pode fugir aos socialistas, e perante um CDS sempre pronto a assumir um papel de charneira, o Bloco pode naturalmente ser confrontado com a necessidade de assegurar algum tipo de entendimento à esquerda.
As eleições regionais açorianas de Outubro não serão um desafio fácil para o Bloco. E estranho seria se assim o fossem. De qualquer modo, Zuraida Soares já demonstrou inúmeras que não se contenta com desafios fáceis, lutando incansavelmente por uma política de esquerda infelizmente muito pouco experienciada pelos açorianos nestes quase 40 anos de democracia.
Artigo hoje publicado no Esquerda.net
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