As últimas sondagens já vinham anunciando a aproximação cada vez maior
entre a actual maioria e o PS. A margem, que nunca foi grande, foi diminuindo
mês após mês sob o olhar atento de todos. E eis que, a menos de quatro meses
das eleições, temos a primeira grande sondagem onde se verifica mesmo uma
ultrapassagem do PS pela coligação PSD/CDS. Com uma diferença mínima, é certo,
e dentro das margens de erro das sondagens, sem dúvida. Mas uma demonstração
clara que a perspectiva de mudança nas próximas eleições deixou de ser uma
certeza. Pelo contrário, chegámos ao momento em que a referida mudança começa a
ser algo tão provável como a manutenção da actual maioria.
No meio deste cenário, os primeiros olhares debruçam-se naturalmente
no PS. Não só não estão a conseguir descolar nas sondagens, como começam a dar
alguns sinais de serem ultrapassados pelo PSD/CDS. E tal torna-se
particularmente relevante quando António Costa sustentou a sua candidatura à
liderança do PS após o seu antecessor vencer as Europeias, mas com um resultado
que “soube a pouco”. Ou seja, assente no argumento de que António José Seguro
não conseguia, apesar de um contexto de amplo descontentamento na opinião
pública, fazer com que o PS descolasse nas sondagens. Costa depara-se agora com
um cenário igualmente intrigante ao vivido pelo seu antecessor. E parece que
não existe carisma, estado de graça ou empatia com a comunicação social que
valha ao líder socialista no momento actual.
Mas a actual sondagem continua a não dar razões de festejo para a
esquerda à esquerda do PS. O PCP mantém o score na casa dos 10%, sendo sim a
verdadeira novidade uma subida abrupta do Bloco de Esquerda (passa de 4% para
8%). Candidaturas como o LIVRE/TEMPO DE AVANÇAR mantêm valores na casa dos 2%,
à semelhança do que tem acontecido nos últimos meses. A confirmar-se a real
duplicação das intenções de voto no Bloco, temos uma esquerda na casa dos 20%.
Mas tal duplicação carece ainda de alguma sustentação em próximas sondagens.
Tendo em conta o presente cenário, a pergunta da ordem do dia
formula-se mais ou menos desta maneira: “Como é possível que, após anos de
austeridade, anos de subida do desemprego e de diminuição dos salários, anos de
recordes de emigração, anos de diminuição dos direitos em todas as frentes…
Como é possível que o eleitorado não deseje de forma mais clara a mudança”?
Estaremos perante uma espécie de síndrome de Estocolmo, em que a vítima
estabelece, apesar de tudo, uma ligação sentimental positiva com o agressor?
O desgaste de imagem de António Costa e o fantasma Sócrates (a sua
prisão, mas sobretudo a recordação da sua governação) são assumidos por alguns
sectores como os principais motivos dos atuais resultados. Por outro lado, o
que se está a passar na Grécia e, sobretudo, o que nos chega pela comunicação
social sobre a crise grega gera um efeito conservador no eleitorado. O discurso
do “nós não somos a Grécia” regressou em força. No fundo, começa a instalar-se em
força a ideia que nós fizemos sacrifícios (e os Gregos, não), por isso não
devemos deitar tudo a perder.
Vasco Púlido Valente, na sua crónica no Público do passado Domingo,
apresenta ainda uma outra justificação. Comparando com o que sucedeu com
determinados povos em dados momentos históricos, os Portugueses habituaram-se
ao presente quadro. Ou seja, vivem uma situação objectivamente má, reconhecem
os erros e a incompetência de quem os governa, mas temem sobretudo uma qualquer
mudança de quadro. Habituaram-se a este referencial e não querem passar por novas
incertezas.
As sondagens valem o que valem e esta é só mais uma. De qualquer modo,
julgo que hoje já ninguém consegue negar a tendência de clara aproximação entre
o PS e o PSD/CDS, com a consequente indefinição sobre o que se passará nas
legislativas de Outubro. Até lá, valerá com certeza a velha máxima de “as
eleições não se ganham, perdem”. Ou seja, ganhará as eleições quem cometer
menos erros.
Artigo publicado terça-feira no Açoriano Oriental
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