terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O Golias


As sondagens não deixam margem para dúvidas: Marcelo Rebelo de Sousa é ultra favorito à vitória nas presidenciais do próximo Domingo. Surge destacadíssimo, conseguindo um score bastante superior à soma dos resultados estimados para Maria de Belém, Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias e Edgar Silva. Apesar dos debates televisivos não terem corrido tão bem quanto seria expectável, as sondagens confirmam o que há muito se adivinhava: estas presidenciais parecem um autêntico passeio para “o Professor”. Como chegámos a este cenário de um Golias que nem tem de se esforçar para contornar os diversos Davids que lhe foram colocados no caminho?

A história tem sido relativamente bem contada nos mais diversos espaços. Marcelo Rebelo de Sousa foi, nos últimos 15 anos, o comentador mais visto do país. O seu espaço de comentário, sem contraditório, nos Telejornais de Domingo em canal aberto (primeiro TVI, depois RTP e regresso à TVI) dá-lhe um nível de popularidade impar junto do eleitorado. Foram 15 anos de exposição, 15 anos de acompanhamento da actualidade política, 15 anos de cumplicidade com uma audiência e 15 anos num formato que qualquer ator político daria tudo para ter. Foram 15 anos em que o histórico e ex-líder do PSD foi camuflando a sua imagem de político, ao mesmo tempo que se apresentava como um conselheiro, como uma académico, como um comentador descomprometido. 

Marcelo consegue hoje ser uma figura pública que todos os portugueses conhecem, genericamente simpatizam e recorrentemente confiam. E é sobretudo a conjugação destes três grandes atributos – popularidade, simpatia e confiança – que coloca a sua candidatura tantos passos à frente das restantes. Numa eleição tão personalista como esta, o facto de um candidato partir para uma campanha detendo já os referidos atributos concede-lhe uma vantagem quase impossível de superar.

E sejamos claros: a vastíssima maioria do eleitorado não anda propriamente a fazer análises profundas sobre o que distingue cada um das candidaturas. Não anda a reflectir sobre as ideias que os candidatos têm para o país. Não anda a ver os debates televisivos ou a acompanhar o diário da campanha. Também não está atenta às polémicas ou pequenos episódios que vão enchendo os jornais diariamente, às pequenas vitórias ou derrotas que cada candidato vai sofrendo ao longo da campanha. 

A vastíssima maioria do eleitorado dedica um tempo muito limitado a recolher informação que oriente a sua decisão eleitoral. A decisão é sobretudo tomada com base na empatia que sente perante o candidato e na relativa confiança que nele sente que pode depositar. A sua decisão é também tomada tendo como referência as opções das pessoas do seu círculo mais próximo (e.g. o cônjuge, o colega de trabalho, o familiar que respeita, o amigo que até anda mais atento às questões políticas). Assim sendo, se um candidato – como é o caso de Marcelo – beneficia já de uma popularidade ímpar quando comparado com os seus adversários, tudo se conjuga para que não existam surpresas no dia das eleições.

Marcelo apresenta-se como um autêntico Golias. Possui um capital de reconhecimento público impressionante. Não tendo sido possível à esquerda encontrar alguém com o mesmo peso, compete agora aos Davids desta eleição – Belém, Nóvoa, Marisa e Edgar – arranhá-lo suficientemente para que haja pelo menos uma segunda volta. 

Já vimos muitos Golias tombar e sabemos também que o cidadão comum por vezes prefere entregar o seu voto a um David. Estes últimos dias de campanha serão assim fundamentais para mobilizar voto a voto. Cada pessoa que se conseguir convencer a não votar em Marcelo será uma vitória. Eis o gigantesco e urgente desafio que a esquerda tem entre mãos.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

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