É certo que o mundo das sondagens por vezes parece um pouco alheado do mundo real. De qualquer modo, os diversos números das últimas semanas têm identificado algumas tendências difíceis de ignorar. Por um lado, uma clara recuperação do PS. Em prejuízo do PSD, do Bloco e do PCP, o Governo que assumiu o mais austero pacote de medidas das últimas décadas pode estar em vias de ser reconduzido. Por outro lado, e depois de se prever que desapareceria devido à ascenção laranja, o CDS de Portas parece caminhar imparável para um resultado histórico, com o PSD a oferecer-lhe de bandeja uma série de votos.
Estas tendências, estão a ocorrer sobretudo devido a um desempenho comunicacional brilhante de José Sócrates e Paulo Portas. Os líderes do PS e CDS quase não têm cometido erros na sua comunicação política. Este seu elevado desempenho, esta sua capacidade de dar a volta às situações, de renascerem das cinzas, de possuirem 7 vidas, tem merecido a admiração e aplauso de diversos sectores. São considerados “animais políticos” e admirados como tal. Se calhar vale a pena esmiuçar um pouco melhor os traços políticos de José Sócrates e Paulo Portas.
No que ao primeiro-ministro diz respeito, não haja dúvidas que é um sobrevivente político como nunca se viu na democracia portuguesa. Depois de lhe terem sido passadas ínúmeras certidões de óbito político, Sócrates surpreende e dá a volta. Ora temos um Sócrates defensor do investimento público, ora temos um apologista do aperto do cinto; ora temos um defensor do papel do Estado na economia, ora temos um apologista das privatizações; ora temos um defensor do Estado Social, ora temos um responsável por inúmeros cortes nas prestações sociais; ora temos o primeiro-ministro que não governava com o FMI, ora temos um primeiro-ministro que anunciou um “bom acordo” com o FMI. Alguns apelidam-no de persistente, outros simplesmente de sobrevivente. De qualquer modo, parece certo que José Sócrates ganhou já um lugar no pódio dos políticos marcantes da democracia portuguesa.
E se consideramos Sócrates um comunicador impar e um sobrevivente impressionante, o que dizer de Paulo Portas? Neste aspecto, o currículo do líder do CDS é no mínimo invejável. Já trouxe grandes vitórias ao seu partido, mas também alguns dissabores. Já o levou ao governo, mas também já teve de conviver com sondagens que diziam que o partido desapareceria. Pelo meio, Portas ora defende menos Estado, ora defende apoios aos agricultores; ora critica o Estado social, ora defende pensões para os mais idosos; ora coloca a boina da lavoura, ora confessa-se fã de sushi, de cinema e de Corte Maltese.
Para além de serem grandes comunicadores e de possuirem um instinto de sobrevivência impressionante, Sócrates e Portas têm em comum a facilidade com que alteram de perfil, como se adaptam às situações e meios que os envolvem, como mudam de discurso e de prioridades. È o conjunto destas habilidades impares que lhes confere o estatuto de animais políticos.
Mas se estas características até podem ser aplaudidas pelos apreciadores do marketing e da comunicação política, estranho é quando são encaradas como qualidades pelo eleitorado. Fará sentido depositar o voto em alguém com uma incrível capacidade de mudar de perfil, de discurso, com uma habilidade grande para se adaptar, para dar a volta e até ludibriar aqueles que o rodeiam? O voto assumido em animais políticos é, a meu ver, um dos fenómenos mais intrigantes do estudo dos comportamentos eleitorais. Se calhar chegámos a uma variante do mitico slogan político brasileiro: “aldraba, mas faz!”
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
(Imagem: Riskici)
Estas tendências, estão a ocorrer sobretudo devido a um desempenho comunicacional brilhante de José Sócrates e Paulo Portas. Os líderes do PS e CDS quase não têm cometido erros na sua comunicação política. Este seu elevado desempenho, esta sua capacidade de dar a volta às situações, de renascerem das cinzas, de possuirem 7 vidas, tem merecido a admiração e aplauso de diversos sectores. São considerados “animais políticos” e admirados como tal. Se calhar vale a pena esmiuçar um pouco melhor os traços políticos de José Sócrates e Paulo Portas.
No que ao primeiro-ministro diz respeito, não haja dúvidas que é um sobrevivente político como nunca se viu na democracia portuguesa. Depois de lhe terem sido passadas ínúmeras certidões de óbito político, Sócrates surpreende e dá a volta. Ora temos um Sócrates defensor do investimento público, ora temos um apologista do aperto do cinto; ora temos um defensor do papel do Estado na economia, ora temos um apologista das privatizações; ora temos um defensor do Estado Social, ora temos um responsável por inúmeros cortes nas prestações sociais; ora temos o primeiro-ministro que não governava com o FMI, ora temos um primeiro-ministro que anunciou um “bom acordo” com o FMI. Alguns apelidam-no de persistente, outros simplesmente de sobrevivente. De qualquer modo, parece certo que José Sócrates ganhou já um lugar no pódio dos políticos marcantes da democracia portuguesa.
E se consideramos Sócrates um comunicador impar e um sobrevivente impressionante, o que dizer de Paulo Portas? Neste aspecto, o currículo do líder do CDS é no mínimo invejável. Já trouxe grandes vitórias ao seu partido, mas também alguns dissabores. Já o levou ao governo, mas também já teve de conviver com sondagens que diziam que o partido desapareceria. Pelo meio, Portas ora defende menos Estado, ora defende apoios aos agricultores; ora critica o Estado social, ora defende pensões para os mais idosos; ora coloca a boina da lavoura, ora confessa-se fã de sushi, de cinema e de Corte Maltese.
Para além de serem grandes comunicadores e de possuirem um instinto de sobrevivência impressionante, Sócrates e Portas têm em comum a facilidade com que alteram de perfil, como se adaptam às situações e meios que os envolvem, como mudam de discurso e de prioridades. È o conjunto destas habilidades impares que lhes confere o estatuto de animais políticos.
Mas se estas características até podem ser aplaudidas pelos apreciadores do marketing e da comunicação política, estranho é quando são encaradas como qualidades pelo eleitorado. Fará sentido depositar o voto em alguém com uma incrível capacidade de mudar de perfil, de discurso, com uma habilidade grande para se adaptar, para dar a volta e até ludibriar aqueles que o rodeiam? O voto assumido em animais políticos é, a meu ver, um dos fenómenos mais intrigantes do estudo dos comportamentos eleitorais. Se calhar chegámos a uma variante do mitico slogan político brasileiro: “aldraba, mas faz!”
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
(Imagem: Riskici)
1 comentário:
O famoso slogan da política brasileira não é o citado, nasceu referido a Ademar de Barros e é «rouba, mas faz...» que também se pode aplicar em Portugal. Quanto à admiração do articulista com os referidos personagens, Sócrates e Portas, tem um nome à milénios, desde a Grécia: demagogos! Desde então dizem que o Povo (qual Povo? Uma parte do Povo)gosta. Pior para o Povo.
Enviar um comentário