Uma semana depois do corte no rating da dívida Portuguesa, tivemos oportunidade de assistir a uma série de reacções dignas de nota. Não que não fossem previsíveis, mas sobretudo por representarem a chegada de alguns sectores e instãncias a uma série de ideias que há muito têm marcado presença nos debates sobre estas questões. Neste sentido, ganhou particular destaque a verdadeira bofetada ideológica que alguns sectores com um pensamento económico assumidamente liberal sentiram no seguimento da acção da Moodys. Afinal os mercados não agem com a racionalidade que lhes era atribuída; afinal não reagem positivamente a uma linha de reformas políticas que lhes devia merecer agrado. A descida do rating veio demonstrar que as soluções de índole liberal estão longe de poder resolver o problema.
Por outro lado, tem sido também notável acompanhar as reacções das instituições comunitárias e de outros Estados-membros ao sucedido. Também aí se começa a reconhecer com maior clareza que não basta sacrificar os elos mais fracos da economia europeia para acalmar a instabilidade financeira . Pelo contrário, percebeu-se desta vez com ainda maior clareza que não chega a Europa responder a um problema desta natureza apenas assente nos interesses e estados de espírito de cada um dos seus Estados-membros. A União precisa de encontrar uma resposta como um todo, que lhe permita resistir a este tipo de embates financeiros, sob pena de todo o edifício comunitário permanecer em risco.
No que a este último aspecto diz respeito, alguns sinais positivos começaram a surgir. As aproximações da Comissão e do BCE em torno do problema demonstram isso mesmo. E o medo de que outros Estados-membros sejam arrastados para cenários semelhantes leva a que medidas mais estruturais comecem a estar com maior clareza em cima da mesa. A Europa parece estar disposta a procurar soluções nestes domínios. Mas será mesmo assim?
O problema é que esta está longe de ser a primeira vez que os problemas se colocam com tanta clareza. Por um lado, não é a primeira vez que se obtém um relativo consenso da esquerda à direita sobre as necessidades de reforma do sistema financeiro internacional. Importa relembrar que pouco depois da falência da Lehman Brothers e do perigoso efeito de contágio que se seguiu, variados sectores assumiram que nada poderia continuar como antes. Que sérias reformas seriam necessárias para que o sistema financeiro interrnacional não se comportasse de tal forma. Muitos chegaram inclusive a proclamar o fim do modelo económico internacional vigente. Por outro lado, algum tempo depois, com os ataques especulativos à dívida grega, irlandesa e portuguesa, também então se assumia como evidência a necessidade da Europa ter de assumir um papel mais determinante na prevenção e capacidade de resposta a este tipo de situações.
Passados quase três anos do colapso da Lehman Brothers, são praticamente inexistentes as medidas estruturais tomadas neste sentido. E um dos exemplos mais claros a este respeito são as próprias agências de rating que, consensualmente cobertas de responsabilidades sobre o actual panorama, continuam a beneficiar do mesmo grau de confiança dos investidores. Assim sendo, tudo nos leva a crer que será necessário bastante mais do que um consenso ideológico sobre algumas falhas do actual sistema e alguma predisposição da Europa para agir nesse sentido. É que todos já vimos estes consensos existirem anteriormente. A ver vamos.
Artigo hoje(3ª feira) publicado no Açoriano Oriental
(Imagens: Rato na Roda)
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