Antes de mais, devo dizer que tenho boas impressões sobre Vasco Cordeiro. Não tendo acompanhado em detalhe o seu percurso político, há já diversos anos que me parece o melhor sucessor que o PS poderia escolher para Carlos César. Vasco Cordeiro é sem dúvida um candidato muito forte para as Regionais que se avizinham. E para isso também contribuem algumas caras (sublinho o “algumas”) de uma nova geração que o rodeia e que consegue ver além do seguidismo partidário e do clubismo político. Que entende a política como um confronto de ideias e projetos e não um simples combate desportivo do “nós contra eles”.
Posto isto, para lá das naturais divergências políticas, o que me faz sentir tão pouco seguro com o ciclo que Vasco Cordeiro agora pretende iniciar? O atual candidato do PS/ Açores à Presidência do Governo Regional bem pode continuar com a sua natural campanha ora visitando a freguesia X, ora dizendo-se preocupado com o assunto Y, ora prometendo valorizar o tema Z. Mas o que os açorianos gostariam neste momento de melhor perceber em Vasco Cordeiro resume-se a uma pergunta simples: o Vasco é o candidato da mudança ou o candidato da continuidade? Eis o dilema do Vasco. E não nos venha por favor com conversas vazias de “mudança na continuidade”.
Importa não esquecer que Vasco Cordeiro é o delfim de todo um ciclo de 16 anos de governação. Foi aliás designado sucessor de Carlos César por votação unânime do Secretariado Regional e da Comissão Regional do PS/Açores. É portanto o candidato consensualmente aceite por toda a máquina partidária que governou a região na última década e meia, o que não abona muito a seu favor. Porque é a toda esta máquina partidária que agora o apoia fervorosamente que Vasco terá de agradar. Máquina esta que, depois de 16 anos de poder, está naturalmente encharcada de vícios, com pouca vontade que mexam no seu queijo e que deseja sobretudo uma mini-micro-nano mudança para que tudo fique na mesma. Sem grandes ondas, sem grandes agitações. Vasco terá assim de fechar os olhos a muitos compadrios e influências instaladas, terá de comer muita carne assada com os caciques dos diversos concelhos e terá de fazer muitos brindes com a oligarquia política, económica e até social que conduz a região.
E a demonstração de que Vasco Cordeiro terá muito poucas hipóteses de se desprender minimamente do passado é a omnipresença de Carlos César na sua candidatura. Aliás, todo o cerimonial desta passagem de poder foi feito de modo a que ninguém esqueça que Vasco apenas surge porque César magnanimamente resolveu retirar-se e o escolheu como seu sucessor. Posto isto, conhece-se alguma crítica de Vasco Cordeiro aos 16 anos de governação de Carlos César? Pois… Não deverá existir deste modo qualquer balanço sério deste longo período. E digamos que 16 anos é mais do que tempo para se realizar um balanço honesto do que correu bem, e sobretudo do que correu mal.
Acredito na boa-fé de Vasco Cordeiro e de alguns dos seus seguidores mais próximos. Mas estarão limitadíssimos na implementação de qualquer mudança ao rumo seguido nos últimos anos. É por isso que uma futura governação de Vasco Cordeiro precisaria de um contrapeso que não deverá vir apenas dos partidos da direita na Assembleia Legislativa Regional. É pena que a esquerda regional esteja tão pouco predisposta a entendimentos. Porque estes com certeza libertariam um eventual futuro Governo de Vasco Cordeiro das amarras do aparelho instalado no Governo Regional e nas Câmaras governadas pelo PS, obrigando-o à mudança necessária a qualquer região que há 16 anos vive sob a liderança do mesmo partido.
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
(Imagem: Perfil no Facebook de Bruno Pacheco)
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