sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Tragédia Europeia


Depois de vários anos de austeridade, com os resultados que todos conhecemos, a Europa respirou de alívio por na Grécia ter vencido um dos partidos que trouxe o país à situação atual. Como se não bastasse ter ganho o referido partido, parece que a Europa voltou novamente a respirar de alívio com um governo que representa (imagine-se!) uma união de esforços das forças políticas que até hoje conduziram o país. Uma tragédia grega, mas também um cenário que infelizmente tem acontecido em sucessivos países. 

As reações oficiais ao resultado grego são coerentes com aquela que tem sido sempre a solução encontrada desde que a crise rebentou: intensificar a receita. Ou seja, se a austeridade não está a resultar, nada como termos ainda mais austeridade. Se o desemprego está a subir, nada como flexibilizar o mercado de trabalho. E se a economia está a afundar-se devido à falta de poder de compra dos cidadãos, nada como cortar nos salários. A receita é conhecida e, apesar de ser agora floreada com discursos sobre crescimento e emprego, parecem existir poucas novidades no que a políticas concretas diz respeito. Com o presente leque de soluções, os resultados estão à vista. Uma tragédia europeia.

E esta tragédia dos países europeus e da Europa como um todo tem sido tão evidente que as críticas surgem já dos mais improváveis setores. Uma das capas de Junho do insuspeito Economist era ilustrativa a este respeito: mostrando um navio no fundo do mar com a inscrição “economia mundial”, dentro do navio alguém pergunta: “Sra. Merkel, já podemos ligar os motores?” Em forma de balanço da recente cimeira do G8, o New York Times faz também um balanço dramático da política europeia impulsionada pela chanceler alemã. A tragédia europeia há muito ultrapassou as fronteiras comunitárias. 

A União Europeia é com certeza um dos mais interessantes projetos políticos desde o final da II Guerra Mundial. Conseguiu criar um espaço de paz, de união de esforços e de algum consenso económico-social num território anteriormente dominado por divisões, desentendimentos e conflitos até entre os diversos povos. É esse projeto que está em causa no momento presente. Tenho a certeza que muitas mentes espertas ainda não alcançaram a dimensão da tragédia em que a Europa se encontra mergulhada.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net

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