Sócrates Strikes Back
Sócrates está de volta. Aliás, em linguagem “starwariana”, Sócrates contra-ataca. No espaço de uma semana, voltou à ribalta. Deu uma grande entrevista, visitou o estabelecimento prisional de Évora, jantou com os fiéis do movimento “José Sócrates, sempre”. E voltou bem ao seu estilo. Disparou em todas as direcções: acusou a justiça, atacou a oposição, deu recados ao seu partido. E conseguiu com este seu regresso voltar a abrir telejornais, a encher páginas de jornais e a ser o objecto de colunas de opinião um pouco por todo o lado. Aliás, este artigo enquadra-se bem nesta onda que varreu esta semana o país.
Your eyes can deceive you. Don’t trust them
E o que nos diz Sócrates? Depois de uma fase em que negava tudo, passou a admitir que afinal recebia empréstimos do amigo Santos Silva. Empréstimos generosos, necessários para fazer face às “dificuldades de liquidez” durante os seus anos de estudo em Paris. Mas desengane-se quem sequer considere que Sócrates não pagará ao seu amigo os simpáticos empréstimos. Desengane-se também quem possa achar que gastar centenas de milhares de euros em dois ou três anos significa levar uma vida de luxo. Nada disso. Tudo não passa de um terrível mal-entendido, de uma terrível campanha contra a sua pessoa. Quase citando Obi-Wan Kenobi, Sócrates lembra-nos que não devemos acreditar naquilo que vemos.
I find your lack of faith disturbing
Mas o animal político que há em Sócrates não se fica por aqui. Se à opinião pública em geral pede que não acredite no que lhe é servido, aos mais próximos pede naturalmente mais. Aos poucos começou a deixar escapar que esperava mais apoio do seu partido, aos poucos começou a saber-se não estava satisfeito com a descolagem de que estava a alvo por parte do PS. Porque estaria a vasta maioria dos responsáveis do seu partido a manter a distância? Estarão a perder a fé no ex-grande-lider? Os sinais de falta de fé de alguns camaradas seus tiram Sócrates do sério.
António, I am your father
E, como é evidente, foi desde sempre a figura de António Costa que esteve debaixo dos holofotes a este respeito. Desde que foi eleito secretário-geral, Costa teve de sempre de lidar com a grande sombra de Sócrates sobre a sua figura. E visto bem, não podia ser de outra maneira. Costa foi o braço direito de Sócrates. Foi durante bastante tempo o seu número 1. Estranho seria, portanto, que esta sombra não existisse. Estranho é aliás que esta sombra não se faça sentir com maior intensidade. Não sendo umbilical, a ligação política de António Costa a José Sócrates dificilmente pode ser ignorada.
I sense great fear in you, Skycosta
Se olharmos com alguma distância para o que de facto está a suceder – um ex-primeiro ministro sob fortes suspeitas de corrupção, sem que tal salpique qualquer dos seus ex-ministros, ex-secretários de estado ou membros de gabinete – percebemos claramente que estamos no domínio do pouco provável. É portanto natural que o caso Sócrates seja o maior pesadelo de António Costa. Sobretudo agora que o ex-primeiro-ministro parece decidido a não ficar quieto, a aproveitar todos os palcos disponíveis e a assumir-se novamente como ator político de pleno direito.
May the force be with us
Apesar de todos os contornos suspeitos neste caso, apesar da imprensa nos brindar com episódios que nos levam a crer já ter percebido o enredo do filme, importa que o Estado de Direito funcione de facto. Até prova em contrário, qualquer suspeito é inocente. Até prova em contrário, a justiça age em nome do bem público. Haja portanto discernimento na resolução deste caso. E que, acima de tudo, este não termine como muitos, i.e., sem qualquer resolução. May the force be with us.
Artigo ontem publicado no Açoriano Oriental