terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Quanto custam as Low Cost


É natural que a liberalização de algumas rotas aéreas nos Açores seja um dos assuntos do momento na região. Durante muitos anos, os açorianos tiveram de pagar preços bastante elevados pelas deslocações para o Continente. Porque não se conseguiam os mesmos valores aplicáveis às passagens Lisboa-Funchal? Porque é que um turista continental teria de pagar centenas de euros para ir aos Açores quando possui passagens a 20 ou 30 euros para inúmeros destinos europeus? 

Os voos da Ryanair e da Easy Jet para os Açores em 2015 surgem assim como a grande boa nova do ano. E embora muitos possam considerar que as low cost implicam uma diminuição do nível de serviço e que as pessoas rapidamente ressentir-se-ão, dificilmente tal constituirá um empecilho ao seu sucesso. Os passageiros estão dispostos a diminuir a sua comodidade em nome dos preços mais baixos. Por outro lado, têm sido também muitos os que têm alertado para os perigos da massificação do turismo no arquipélago. Certo… Mas tendo em conta o cenário actual de diversos hotéis fechados e de desemprego no sector, falar dos riscos da massificação parece despropositado.

No entanto, o detalhe que parece estar a despertar estranhamente pouco interesse a nível regional diz respeito ao impacto que a vinda destas companhias áreas pode ter na SATA. Sendo esta uma empresa regional, com inúmeros trabalhadores nos mais diversos sectores, a sua saúde financeira dificilmente pode ser considerada um detalhe. 

Goste-se ou não, a SATA cresceu consideravelmente nos últimos 15 a 20 anos. De forma mais ou menos sustentada, com a criação da SATA Internacional, a companhia aérea açoriana deixou de ter nos voos inter-ilhas a razão da sua existência, passando então a mover-se em mercados bastante mais alargados. Seja nas ligações ao Continente Português, à Europa ou aos Estados Unidos e Canadá, a SATA alargou em muito a sua atuação, levando a bandeira açoriana a destinos distantes

No entanto, pelo que fomos sabendo aos poucos, os prejuízos na companhia foram-se avultando. Algumas rotas revelaram-se apostas pouco conseguidas e a sua frota carece também de alguma renovação. Informações negativas foram surgindo aos poucos de forma oficial e oficiosa, sem que se percebesse bem de quem é a responsabilidade, muito menos o que está a ser feito para contrariar a situação. Apenas algumas das rotas entre o arquipélago e o Continente continuavam a ser porto seguro da companhia. Rotas estas assentes num mercado fechado e subsidiado, há muito criticado pelos preços praticados, mas cujo modelo foi até há pouco defendido (de forma mais ou menos explicita) pelas autoridade públicas regionais.

É neste cenário que surge a notícia da liberalização. Ou seja, depois de diversos anos em que a empresa se apoiou (erradamente, é certo) num mercado fechado por opção política, este mesmo poder político parece agora apostado em alterar abruptamente as regras do jogo, colocando de imediato em risco quem até então protegera. De um dia para o outro, quem trabalha na SATA, quem sempre deu o seu melhor pela empresa, quem sempre fez o seu trabalho e não tem quaisquer responsabilidades na eventual gestão pouco sustentada da mesma, tem sérias razões para ficar preocupado. A SATA vai estremecer com a vinda das low costs, parece certo. E as autoridades regionais parecem estar pouco empenhadas em acautelar o custo desta mudança de modelo na operadora aérea e em quem nela trabalha.

É natural que a vinda das low costs seja aplaudida pelos utilizadores das referidas rotas áreas. Mas importa que os referidos aplausos não ofusquem as responsabilidades do Governo Regional em acautelar o futuro da SATA. Se não está a fazê-lo, faz muito mal em não ter em conta o referido custo das low costs. Se está a fazê-lo, está a comunicá-lo muito mal. Os trabalhadores da SATA merecem respeito.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

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