Como as sucessivas sondagens têm vindo a demonstrar (e a fomentar), o voto útil é um dos fenómenos que com maior clareza se consegue antecipar sobre as legistivas que aí vêm. Tal justifica-se em parte pela disputa renhida ao centro que se faz sentir entre PS e PSD. No entanto, é curioso verificar que as sondagens apenas reflectem tal tendência à esquerda, com o Bloco e o PCP a diminuirem os seus resultados relativamente à última eleição. Pelo contrário, à direita é o expressivo resultado previsto para o CDS que marca as diversas sondagens. Estranhas dinâmicas estas, não?
Não parecem existir razões muito claras que ajudem a perceber a ausência de voto útil à direita, sobretudo tendo em conta que o PS há várias semanas recuperou a distância que tinha relativamente ao PSD. A proeminência e o perfil de forte comunicador de Paulo Portas em contraponto ao ainda algo novato Passos Coelho apresenta-se como uma das poucas possíveis explicações. Mas se o cenário é difícil de perceber à direita, à esquerda a complexidade não se afigura menor. Após 6 anos de governação em que o o primeiro-ministro acumulou um desgaste mais do que significativo, após as mais severas medidas de austeridade de que há memória e a constante mudança de posicionamentos políticos, o que cativa no PS estes cerca de 6% a 7% de eleitorado que há dois anos votou Bloco e PCP?
O temor de um governo composto pela direita economicamente mais liberal de que há memória é uma das naturais explicações. A não concordância com o contributo do Bloco e PCP para a queda do actual Governo está igualmente longe de poder ser descartada. Por último, importa também ter em conta a hipótese do eleitorado que suportou a subida do Bloco e do PCP nas últimas eleições apostar agora, numa altura de tremenda pressão para o voto útil, em regressar ao PS.
Esta última hipótese, aliada ao facto das sondagens apontarem um número muito significativo de indecisos, consegue criar um cenário explicativo relativamente sólido sobre o que se está a passar à esquerda. Assim sendo, para além de se tentar convencer os indecisos com poucos vínculos ideológicos, é sobretudo da conquista deste eleitorado que flutua entre o centro-esquerda e a esquerda que pode depender a repetição dos bons resultados obtidos pelo Bloco e pelo PCP há dois anos atrás. Da mesma maneira que a vitória nas eleições disputa-se tipicamente ao centro, a vitória no panorama à esquerda ou à direita disputa-se (não exclusiva mas fortemente) nas fronteiras entre o eleitorado moderado e o eleitorado radical. No caso do Bloco, uma vez que possui um eleitorado mais volátil que o PCP, tal ideia ganha particular consistência.
Ganhar o referido eleitorado flutuante não se afigura fácil num contexto de forte pressão para o voto útil. E não vou naturalmente armar-me em spin doctor ou marketeer de sofá e tentar elencar o que pode convencer tal eleitorado (até porque tal seria matéria para diversos artigos). Mas retomo uma ideia ontem deixada por Pedro Magalhães no i: terão sido apenas as ideias económicas do Bloco que lhe terão valido a confiança de 10% do eleitorado há dois anos atrás?
Não parecem existir razões muito claras que ajudem a perceber a ausência de voto útil à direita, sobretudo tendo em conta que o PS há várias semanas recuperou a distância que tinha relativamente ao PSD. A proeminência e o perfil de forte comunicador de Paulo Portas em contraponto ao ainda algo novato Passos Coelho apresenta-se como uma das poucas possíveis explicações. Mas se o cenário é difícil de perceber à direita, à esquerda a complexidade não se afigura menor. Após 6 anos de governação em que o o primeiro-ministro acumulou um desgaste mais do que significativo, após as mais severas medidas de austeridade de que há memória e a constante mudança de posicionamentos políticos, o que cativa no PS estes cerca de 6% a 7% de eleitorado que há dois anos votou Bloco e PCP?
O temor de um governo composto pela direita economicamente mais liberal de que há memória é uma das naturais explicações. A não concordância com o contributo do Bloco e PCP para a queda do actual Governo está igualmente longe de poder ser descartada. Por último, importa também ter em conta a hipótese do eleitorado que suportou a subida do Bloco e do PCP nas últimas eleições apostar agora, numa altura de tremenda pressão para o voto útil, em regressar ao PS.
Esta última hipótese, aliada ao facto das sondagens apontarem um número muito significativo de indecisos, consegue criar um cenário explicativo relativamente sólido sobre o que se está a passar à esquerda. Assim sendo, para além de se tentar convencer os indecisos com poucos vínculos ideológicos, é sobretudo da conquista deste eleitorado que flutua entre o centro-esquerda e a esquerda que pode depender a repetição dos bons resultados obtidos pelo Bloco e pelo PCP há dois anos atrás. Da mesma maneira que a vitória nas eleições disputa-se tipicamente ao centro, a vitória no panorama à esquerda ou à direita disputa-se (não exclusiva mas fortemente) nas fronteiras entre o eleitorado moderado e o eleitorado radical. No caso do Bloco, uma vez que possui um eleitorado mais volátil que o PCP, tal ideia ganha particular consistência.
Ganhar o referido eleitorado flutuante não se afigura fácil num contexto de forte pressão para o voto útil. E não vou naturalmente armar-me em spin doctor ou marketeer de sofá e tentar elencar o que pode convencer tal eleitorado (até porque tal seria matéria para diversos artigos). Mas retomo uma ideia ontem deixada por Pedro Magalhães no i: terão sido apenas as ideias económicas do Bloco que lhe terão valido a confiança de 10% do eleitorado há dois anos atrás?
Artigo hoje publicado no Esquerda.net
(Imagem: Brother Soft)
1 comentário:
Muito bacana o seu blog.
Cumprimentos!
O Falcão Maltês
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