No espaço de 7 meses, realizar-se-ão as eleições para o Parlamento Europeu. A União Europeia irá a votos possivelmente no pior momento desde o seu nascimento. Nunca os seus pilares foram tão postos em causa, de forma tão generalizada, de forma tão aberta. A crise veio de facto colocar a descoberto todos os pontos fracos da construção europeia: a moeda única e as limitações na política monetária que implica, a política financeira e o posicionamento dos 28 no panorama global, o Estado Social e a sua sustentabilidade a nível Europeu. Não faltarão assuntos para discussão nas eleições que se avizinham. E cada um deles com um profundidade tremenda em termos de debate político-ideológico.
Mas estas eleições serão críticas para a Europa tendo sobretudo em conta que o projeto europeu sofreu uma erosão tremenda nestes últimos cinco anos. Ou seja, para lá da discussão sobre as opções políticas a tomar, a Europa parece ter feito tudo para demonstrar porque é um projeto com tremendas fraquezas, com reversos da medalha com efeitos muitíssimo significativos. Efeitos estes que tocam o dia-a-dia das pessoas, tocam no seu vencimento do final do mês, nos seus direitos, nas suas liberdades e garantias. Nos países intervencionados economicamente – Portugal, Grécia, Irlanda, Chipre – os povos ficaram rapidamente a perceber os efeitos da ação (ou falta de ação) europeia na crise que os assolou. Mas a desilusão europeia não se fica simplesmente por aí. Mas em Espanha, Itália, França, ou mesmo Bélgica e Holanda, também começou a ficar claro que os mecanismos de solidariedade europeia possuem tremendas limitações. E que, no fim de contas, será sempre a soma dos interesses nacionais mais imediatos que determinará o rumo da União.
Os cidadãos sentiram na pele a fraqueza do rumo europeu sobretudo em dois domínios muito específicos: a gestão da crise económico-financeira e, por sua vez, os seus efeitos no modelo de Estado Social nos diversos países. Na gestão económica financeira da crise, ficaram a descoberto todas as fragilidades e perigos até da moeda única, que consegue deixar os Estados aderentes sem importantes mecanismos de resposta perante uma situação de crise. E tal fez-se sentir quando os anseios anti-inflacionistas de uma parte da União conseguiram deitar por terra as hipóteses de recuperação da sua outra parte em apuros. Ficou também a descoberto que, apesar de um discurso inflamado sobre os caprichos dos mercados financeiros internacionais, as medidas concretas para os combater - papel de equilíbrio do Banco Central Europeu, por exemplo - surgiram já bastante tarde e, por vezes, de forma limitada.
Relativamente ao Estado Social, proclamado também euforicamente nos mais diversos quadrantes como um património central e inalienável do edifício europeu, ficou também claro para os cidadãos que o discurso da sua defesa consegue virar rapidamente. As críticas ao seu peso tremendo no orçamento dos países, à sua sustentabilidade, ao bloqueio que representa às visões mais liberais de crescimento económico, tudo parece ter ganho uma clareza adicional neste últimos cinco anos.
Os cidadãos dos diversos Estados-membros viram assim, de forma bastante pouco agradável, que a Europa possui limitações e riscos tremendos. Como se de um momento para o outro, o sonho europeu desabasse e deixasse a nu todas as suas fragilidades. Perante este cenário, chegámos a um bom momento para pensar com mais seriedade do que nunca sobre a Europa que temos e, sobretudo, a Europa que queremos. Que Europa queremos construir? Quais as suas áreas-chave? O que podemos fazer a este respeito? Escreverei sobre estas questões no próximo artigo.
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
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