Ok, é verdade: os eleitores flutuantes fazem-me ranger os dentes. Não consigo evitá-lo. Como polítólogo, compreendo perfeitamente o fenómeno. Como cidadão, acho muito mais difícil perceber o "flutuanço". Paradoxal, não? O sector do eleitorado que tipicamente decide as eleições, que ora vota no centro-esquerda, ora vota no centro-direita, deixa-me incomodado. Por estar ideologicamente tão no centro do centro, mostra conseguir defender hoje uma coisa, e amanhã o seu contrário. E fá-lo sem problemas, e fá-lo sem sequer perceber muito bem que o está a fazer.
Mas se consigo dar de barato a flutuação de um cidadão que, como é evidente, tem mais do que pensar do que no futuro do país, tem mais do que se preocupar do que a coerência política das suas ideias, irrita-me sobretudo a figura do "comentador flutuante". Chateiam-me cada vez mais os Josés Gomes Ferreiras, os Pedros Santos Guerreiros, os Henriques Monteiros, os Ricardos Costas e as Constanças Cunhas e Sás.
Antes, o pais vivia acima das suas possibilidades, os portugueses viviam no bem bom, a troika foi quase aplaudida e os sacrifícios eram necessários perante o regabofe socrático. Depois começou a perceber-se que, espera lá, afinal a austeridade tinha de ter alguns limites, que era preciso não praticar uma política de terra queimada, que os sacrifícios eram necessários, mas convinha não mandar o bebé fora com a água do banho. No momento atual, os flutuantes são já quase campeões da esquerda. O Governo é incompetente e primário, era evidente que o país assim não iria lá e eles, no fundo, sempre o disseram.
E, um dia que o pais saia deste buraco, não tenhamos dúvida que os comentadores flutuantes dirão que foi um sacrifício necessário, que Passos e Portas foram corajosos e que foram homens do seu tempo. E pachorra, hein?
Sem comentários:
Enviar um comentário