Com o aproximar das Europeias, tem sido interessante acompanhar o cerco que no PS vai sendo feito a António José Seguro. Uma vez que se assume como certa a vitória dos socialistas nas próximas eleições, todos os que nunca estiveram convencidos com a sua liderança elevam naturalmente o patamar do objetivo a atingir em Junho. Já não basta ao PS de Seguro vencer as próximas eleições, será necessário vencer por muitos. O que, trocado por miúdos, equivale a algo como “ou consegues uma vitória brutal, ou então teremos todas as razões para te fazer a cama”. E sejamos claros: não há nada de verdadeiramente surpreendente nesta atitude. As dinâmicas de competição e poder internas nos grandes partidos ao centro, sobretudo quando estão na oposição, determinam que as suas lideranças estejam sempre a ser postas em causa. É normal que assim seja. Torna-se sim curioso observar todos os argumentos que vão sendo levantados pelos adversários internos para colocar em causa a referida liderança.
A liderança de António José Seguro nunca convenceu uma série de setores do partido. Mas as raízes desta dinâmica são sobretudo estruturais. Ou seja, uma liderança que assume um grande partido do centro no momento em que este atravessa o calvário da oposição, será sermpre fortemente criticada. E numa fase em que não há perspetivas de conseguir o regresso ao poder, tais críticas vão sendo pouco concretas. Não existe portanto um adversário ou corrente interna que se assuma como alternativa, existindo sim uma crítica que tem como principal objetivo marcar terreno para o futuro.
Em linha com o acima exposto, Seguro sentiu esta semana as críticas mais diversas vindas dos seus adversários internos. Em entrevista à Rádio Renascença, Carlos César afirmou que a questão da liderança deve ser reaberta no caso de não existir um bom resultado nas europeias. César nunca se inibiu de criticar esta liderança. Estranho é o ângulo em que esta crítica tem sido feita mais recentemente, sendo agora colocado em causa o rumo “demasiado oponente e pouco proponente da atual liderança socialista”. Não é de facto a primeira vez que César critica Seguro pela direita. Em dezembro último, César também defendeu um governo de coligação PSD e CDS, não deixando de ser curiosa esta sede de uma maior aproximação ao centro.
Por seu turno, como não podia deixar de ser, António Costa também veio a público mandar a sua farpa. Apesar de afirmar que se obriga a bastante “recato” no comentário à liderança do atual secretário-geral, Costa considerou que não basta “ganhar poucochinho”. Ou seja, o maior fantasma que a atual liderança socialista possui não conseguiu deixar de sublinhar o patamar elevado de responsabilidade que António José Seguro tem pela frente. E como bom fantasma que é, António Costa voltou a socorrer-se da postura que o tem caracterizado nestes últimos anos: um habilidoso toca e foge.
Por último, neste mesma semana também vieram a público as reuniões que Mário Soares tem feito com os mais diversos setores conhecidos pela sua relativa oposição à liderança socialista. O histórico líder socialista nunca escondeu a sua pouca empatia com o atual secretário–geral, tendo sempre desenvolvido uma crítica cerrada pela esquerda à atual liderança. Agora já o faz reunindo sem disfarçar diversos setores, o que não deixa de ser um novo patamar de oposição interna.
É deliciosa a variedade de críticas que recaem sobre Seguro. César critica-o pela direita, Costa ao centro e Soares pela esquerda. A isto sim chama-se um verdadeiro cerco. Será que o Tó Zé segura-se após as Europeias? Acho difícil, mas a ver vamos…
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
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