Em menos de 24 horas, ficámos a saber 1) que o FMI quer mais cortes em Portugal, 2) que o Governo contraria o FMI sobre a necessidade de mais ajustamentos nos salários, 3)que o Governo aprovou a exigência do FMI quanto à facilitação dos despedimentos e 4) que o Parlamento Europeu acusa a troika de ter agravado a crise nos países intervencionados. Em pouco tempo conseguimos ouvir algo e o seu contrário com uma velocidade super-sónica.
Trocado por míudos, o FMI que até já chegou a ser-nos apresentado como o membro mais bonzinho da troika, exige agora que a sangria continue. O Governo Português, conhecido por querer ir além da troika, prontifica-se agora a dizer que “já chega”. Mas fá-lo no mesmo dia em que, por mero acaso, aprova uma medida acabada de sugerir pelo FMI. Por seu turno, a Europa malvada que nos submeteu a esta terrível intervenção externa, vem agora dizer-nos que foi tudo um tremendo erro.
Momentos de crise como o atual sempre foram propícios a posicionamentos gelatinosos, capazes de criticar hoje o que ontem defendiam fortemente, capazes de elogiar hoje o que ontem desfaziam alegremente. Não é portanto novidade este troca-tintismo permanente. Pelo contrário, ele é o conhecido garante de que tudo seguirá o rumo traçado sem grandes sobressaltos e confusões.
Também não é infelizmente novidade a confusão, a dificuldade de posicionamento e, em última análise, a desilução total que os cidadãos sentem perante os seus supostos representantes. Como é possível manter a sanidade e a confiança em algo tão manifestamente incoerente?
De qualquer modo, apesar do troca-tintismo ser claro, assumido e reconhecido por todos, a coerência tende a ser vista como uma atitude radical. Algo exótico, marginal até, utilizado sobretudo por uns chatos que por aí andam. Comentários para quê?
Artigo publicado no Esquerda.net
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