No que a reputação em Portugal diz respeito, por vezes parece que existe o BES e existem os outros bancos. Apesar do setor bancário ter ficado bastante mal visto nestes anos de crise, o BES parece sempre destacar-se dos outros bancos pela neblina permanente que existe em seu redor. O facto de pertencer a uma das famílias mais ricas do país, mas sobretudo mais influentes, para isso contribui. O facto de estar a associado a um grupo económico bastante mais abrangente, ligado aos mais diversos setores económicos, também ajuda à referida reputação.
Por outro lado, as ligações estreitas deste mundo dos negócios Espírito Santo à esfera política em Portugal sempre proliferaram. Esta situação que se verificava já durante o Estado Novo parece ter mantido uma intensidade significativa em democracia. E não menos importante, o facto deste grupo económico ser atualmente um ator incontornável da presença portuguesa em Angola, com negócios mais ou menos claros, ligações ao poder político mais ou menos evidentes, ajudam também à reputação que aqui referimos.
Depois de ter atravessado estes anos da crise como uma das instituições económico-financeiras supostamente mais sólidas, os grandes abalos parecem agora estar a surgir de todos os lados no Grupo Espírito Santo. No final de Maio, fica-se a saber que a Espirito do Santo Internacional, a holding não financeira do grupo, não registou 1200 milhões de euros em dívida nas contas de 2012, encontrando-se assim numa situação de falência técnica. Em entrevista ao Jornal de Negócios, Ricardo Salgado prontificou-se a responsabilizar o contabilista pelo desvio. Como este tipo de “solidariedade” tem normalmente perna curta, o visado contabilista devolveu a acusação, sublinhando que Salgado sabia de tudo.
No início deste mês ficámos também a saber que o BES Angola perdeu o rasto a empréstimos de 5700 milhões de euros. Coisa pouca portanto. O banco terá concedido crédito de forma discricionária, sem garantias, a beneficiários desconhecidos, com dossiers que simplesmente não existem. Os holofotes viraram-se nomeadamente para Álvaro Sobrinho, ex-presidente do BES Angola, e para as empresas a ele ligadas. Sobrinho que, como tem vindo a ser noticiado, possui uma carteira de investimentos variada e também nebulosa, nomeadamente em Portugal.
Como se os episódios acima não bastassem, deflagrou nestes últimos dias a sucessão na liderança do grupo Espírito Santo. A sucessão foi imposta pelo Banco de Portugal, tendo em conta as sucessivas notícias negativas que sobre o grupo pairam. Depois de 20 anos à frente do gigante Português, Ricardo Salgado e uma série de caras conhecidas, passam agora a integrar um “Conselho Estratégico”. Não deixa de ser brilhante a criação deste tipo de órgão novo para acomodar as referidas saídas, mantendo-se assim as ligações da família Espírito Santo ao banco.
No meio de toda esta novela BEStial, na qual nos perdemos nos meandros e detalhes, como no meio de golpadas e trafulhices, ficamos mais uma vez com a terrível perceção sobre como funciona este gigante português. Percebemos mais uma vez de modo boquiaberto onde assenta o seu poder, as suas ligações duvidosas, a falta de seriedade de muitos dos seus responsáveis. Não ficamos surpreendidos, porque estamos cansados de saber sobre a obscuridade que domina estes meios. Estamos também bastante familiarizados com a impunidade que acaba sempre por ser a grande vencedora destes processos. Mas não podemos deixar de ficar “um bocadinho” preocupados porque, no meio de toda esta patetice, é também a economia do país que fica imediatamente em causa, com impactos diretos nos mais diversos setores. Em última instância, adivinhem quem acabará por pagar a fatura de todas estas cowboiadas? Pois… Esta parte é muito pouco bestial.
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