Em 1999 aparecia a estrela com cabeça no panorama político português. O Bloco de Esquerda estava a começar e com ele nascia uma nova esperança de transformação da sociedade portuguesa num espaço mais justo, mais democrático e mais emancipado.
O Bloco modificou a maneira de fazer política em Portugal. Um partido aberto à participação de todos os e de todas as que quisessem dar voz a uma esquerda que não se resignava, que combatia, que propunha, enfim, que transformava. O Bloco foi vitorioso em muitas lutas, apesar de nunca ter aprendido a celebrá-las.
Inovador, com uma mensagem forte e definindo posições sobre temas esquecidos no debate público em Portugal, foi o Bloco que relançou a discussão sobre: o fim da criminalização das mulheres que recorriam ao aborto; o enquadramento legal da violência doméstica; a atualidade do feminismo; a necessidade de um internacionalismo solidário; o combate contra a precariedade; o direito ao lazer e à cultura; a luta contra todas as formas de discriminação; a necessidade de uma reforma fiscal a favor das pessoas.
O Bloco surgiu para desbloquear o impasse que se fazia sentir à esquerda, surgiu para mostrar que uma nova esquerda era possível. No entanto, persistiu num conjunto de erros sobre os quais sempre se recusou a refletir. Paulatinamente, o partido foi perdendo a capacidade de fazer balanços e de mudar linhas políticas desajustadas.
Nos últimos anos, por circunstâncias estruturais diversas, por erros estratégicos e também por alguma incapacidade de adaptar os seus objectivos originais a um novo contexto, o Bloco tem mostrado grande dificuldade em quebrar o impasse à esquerda. Em detrimento da construção de um programa político que respondesse aos problemas das pessoas, agregador de todas e de todos que se reivindicam de uma visão exigente dos direitos de cidadania, o partido foi dando primazia às disputas de aparelho, com o consequente enquistamento político.
O Bloco de Esquerda não soube enfrentar a crise económica que o país atravessa. O seu programa foi variando de acordo com agendas mediáticas e parece estar hoje reduzido a proclamações sobre a dívida e o tratado orçamental, sem que sejam convenientemente consideradas as implicações de tais opções políticas, em especial na esfera europeia. A manifesta falta de um programa que ancore a ação do partido traduziu-se num ziguezague político entre a abertura e o fechamento, sendo o último a marca da ação política do último ano.
Entrámos no Bloco vindos de origens diversas. O percurso de cada um/uma de nós dentro do partido foi substancialmente distinto. Demos, ao longo da nossa militância, contributos diferentes, na medida do que queríamos, sabíamos e podíamos. A conclusão a que chegamos é, no entanto, comum: no Bloco de Esquerda estão muitas das pessoas que consideramos companheiros/as de ideologia e de luta; no entanto, lamentamos que o partido tenha deixado de constituir um instrumento político útil para responder às exigências e aos problemas do país. O Bloco deixou de somar e acaba hoje por contribuir também, de forma ativa e/ou passiva, para o bloqueio à iniciativa programática à esquerda e à necessidade de unidade popular contra a direita e as suas políticas. Acreditamos que os mais recentes desenvolvimentos da vida interna do partido não apontam para nenhuma alteração de fundo – nem do seu funcionamento interno nem da sua capacidade de falar para o país –, o que nos leva hoje a decidir deixar de ser aderentes do Bloco de Esquerda.
Subscrevem:
Alexandre Abaladas
Gonçalo Grade Monteiro
Gustavo Toshiaki
João Ricardo Vasconcelos
João Rodrigues
Joana Batista
Luís Martins Pote
Margarida Santos
Mariana Maia Nogueira
Mário Olivares
Miguel Sacramento
Nuno Teles
Rita Cruz
Rita Namorado
Sofia Crisóstomo
Vítor Sarmento
Sem comentários:
Enviar um comentário