Cavaco Silva venceu, mas algo ficou no ar. Apesar de ter descido percentualmente e em termos absolutos relativamente ao que obteve há cinco anos, a sua vitória foi indiscutível. Deixou o principal adversário a mais de 30 pontos, uma margem que fala por si. De qualquer modo, Cavaco sai com algumas mossas sérias deste processo. Ficaram no ar dúvidas graves e legitímas quanto à sua proximidade às figuras do BPN/SLN. A questão das acções compradas a preço de saldo a um grupo que cometeu inúmeras irregularidades e a questão da sua casa de férias na aldeia BPN, cuja escritura é mais do que duvidosa, mancharam a imagem que os portugueses tinham de Cavaco Silva. A sua honestidade e idoneidade sairam machucadas de todo este processo. Ficou no ar uma nova e bastante obscura faceta do Cavaquismo: o SLNismo.
O resultado de Manuel Alegre é o reflexo da missão quase impossível que tinha pela frente. Bater-se contra um presidente que se recandidata é um tarefa hérculea. Mas como se tal não bastasse, saltou à vista uma contradição grande na sua campanha: é que ao mesmo tempo que se afirmava como o candidato do Estado Social contra o candidato que venera os mercados, Alegre foi apoiado pelo partido responsável por um dos piores planos de austeridade de que há memória. Foi uma candidatura com uma dificuldade acrescida para encontrar o seu espaço, em assumir um posicionamento claro relativamente à agenda governamental em vigor. O problema de Alegre não foi tanto o facto de ter sido apoiado pelo PS e pelo BE, mas sim a sua candidatura ter coincidido com um momento de fragilidade e impopularidade impares do Partido Socialista.
As grandes surpresas vieram de Fernando Nobre e José Manuel Coelho. Ambos conseguiram resultados bem acima do que lhes era apontado nas sondagens. Quanto a Fernando Nobre, apesar de alguns momentos menos felizes, conseguiu sair-se bem tendo em conta toda a componente civica da sua candidatura. Quanto a José Manuel Coelho, diria que os 4,5 % que obteve são preocupantes dado perfil populista da candidatura. Coelho é aliás o exemplo de que até na oposição o jardinismo consegue fazer escola. Posto isto, importa realçar que os candidatos exteriores ao sistema partidário foram os que obtiveram resultados mais surpreendentes.
Francisco Lopes e Defensor Moura foram os que menos surpresas trouxeram à noite eleitoral. O primeiro, apesar de ter diminuido o score comunista obtido nas legislativas, teve um resultado que está muito longe de envergonhar. Por seu turno, o ex-presidente da Câmara de Viana do Castelo teve um baixo resultado, mas tal não impediu que terminasse de forma honrada depois de ter feito uma boa campanha.
O nível da abstenção foi terrível, mas pouco surpreendente. Um dos factores que mais determina o obstencionismo é a falta de competitividade previsível do acto eleitoral. Tendo em conta que as sondagens asseguravam a reeleição de Cavaco com valores próximos dos 60% e a mais de 30 pontos do segundo classificado, era mais do que expectável que o cenário abstencionista fosse negro.
Quanto ao futuro, tudo continua a indicar que um novo ciclo político surgirá em 2011. Saber se Sócrates cairá fruto de uma dissolução vinda de Belém, de uma moção de censura ou da sua própria demissão, é um pormenor nesta fase. Os dados estão lançados para que a impopularidade do actual Governo continue a crescer. Assim sendo, qualquer passo em falso poderá ser a gota de água para que o eleitorado passe a concordar com a sua queda. E este último aspecto é determinante para que os restantes actores políticos resolvam avançar com o golpe de misericórdia.
O resultado de Manuel Alegre é o reflexo da missão quase impossível que tinha pela frente. Bater-se contra um presidente que se recandidata é um tarefa hérculea. Mas como se tal não bastasse, saltou à vista uma contradição grande na sua campanha: é que ao mesmo tempo que se afirmava como o candidato do Estado Social contra o candidato que venera os mercados, Alegre foi apoiado pelo partido responsável por um dos piores planos de austeridade de que há memória. Foi uma candidatura com uma dificuldade acrescida para encontrar o seu espaço, em assumir um posicionamento claro relativamente à agenda governamental em vigor. O problema de Alegre não foi tanto o facto de ter sido apoiado pelo PS e pelo BE, mas sim a sua candidatura ter coincidido com um momento de fragilidade e impopularidade impares do Partido Socialista.
As grandes surpresas vieram de Fernando Nobre e José Manuel Coelho. Ambos conseguiram resultados bem acima do que lhes era apontado nas sondagens. Quanto a Fernando Nobre, apesar de alguns momentos menos felizes, conseguiu sair-se bem tendo em conta toda a componente civica da sua candidatura. Quanto a José Manuel Coelho, diria que os 4,5 % que obteve são preocupantes dado perfil populista da candidatura. Coelho é aliás o exemplo de que até na oposição o jardinismo consegue fazer escola. Posto isto, importa realçar que os candidatos exteriores ao sistema partidário foram os que obtiveram resultados mais surpreendentes.
Francisco Lopes e Defensor Moura foram os que menos surpresas trouxeram à noite eleitoral. O primeiro, apesar de ter diminuido o score comunista obtido nas legislativas, teve um resultado que está muito longe de envergonhar. Por seu turno, o ex-presidente da Câmara de Viana do Castelo teve um baixo resultado, mas tal não impediu que terminasse de forma honrada depois de ter feito uma boa campanha.
O nível da abstenção foi terrível, mas pouco surpreendente. Um dos factores que mais determina o obstencionismo é a falta de competitividade previsível do acto eleitoral. Tendo em conta que as sondagens asseguravam a reeleição de Cavaco com valores próximos dos 60% e a mais de 30 pontos do segundo classificado, era mais do que expectável que o cenário abstencionista fosse negro.
Quanto ao futuro, tudo continua a indicar que um novo ciclo político surgirá em 2011. Saber se Sócrates cairá fruto de uma dissolução vinda de Belém, de uma moção de censura ou da sua própria demissão, é um pormenor nesta fase. Os dados estão lançados para que a impopularidade do actual Governo continue a crescer. Assim sendo, qualquer passo em falso poderá ser a gota de água para que o eleitorado passe a concordar com a sua queda. E este último aspecto é determinante para que os restantes actores políticos resolvam avançar com o golpe de misericórdia.
Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
Sem comentários:
Enviar um comentário