sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cavaquismo e SLNismo


Neste último dia de campanha, uma coisa parece certa relativamente a Cavaco Silva: foi igual a si mesmo em todo este processo. No fundo, apresentou na perfeição algumas das características mais claramente associadas ao estilo cavaquista de se estar na política. A primeira delas foi o sempre preocupante facto de Cavaco não se considerar um político. Ou seja, a figura política da nação que mais cargos de relevo e durante mais tempo ocupou na democracia portuguesa não pertence à classe política. Continua a considerar-se um “humilde professor”, um técnico especializado que coloca despretensiosamente os seus serviços ao dispor do Estado e do povo português. Enfim, a oeste nada de novo.

A segunda característica de destaque que não surpreendeu foi o seu difícil relacionamento com o confronto político e com o questionamento da comunicação social. Mais uma vez, optou pela figura reservada que prefere o silêncio ao confronto de ideias, prefere o caminho do tabu e da vitimização pessoal ao esclarecimento. A terceira característica igualmente preocupante que se destacou foi a ideia de que se pode prescindir da democracia se causas de força maior se impuserem. Foi o que o actual Presidente da República fez ao invocar o contexto de crise e os custos dos actos eleitorais para que uma 2ª volta não aconteça. No fundo, considerou deste modo que até na democracia se pode poupar, ideia que assenta na perfeição no tal estilo cavaquista.

Mas esta campanha eleitoral tornou clara para a generalidade da população uma característica do Cavaquismo até agora algo mitigada: o SLNismo. Com tantos factos por esclarecer, com tantas proximidades e ingenuidades muito mal explicadas por parte do actual presidente, muitas dúvidas ficaram no ar. O país ficou a perceber que o honestíssimo, incorruptível e ultra-sério Cavaco Silva afinal parece ter uma série de coisas a esconder. Não que qualquer responsabilidade criminal lhe possa ser atribuída por tais proximidades, mas sim inevitáveis responsabilidades políticas por estar tão perigosamente próximo das caras que estão na origem do maior rombo nas finanças públicas de que há memória.

O Cavaquismo já tinha muitas facetas. Mas parecem restar poucas dúvidas que o SLNismo foi a maior revelação desta campanha. Importa assim acreditar que, entre todas as outras dimensões, esta falta de transparência, estas relações duvidosas, estas promiscuidades que tanto lesam o erário público, não sejam esquecidas quando os portugueses votarem no próximo Domingo. Se tal esquecimento suceder, se se fingir que nada se passou, tal não será certamente um sinal de saúde democrática.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net

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