terça-feira, 14 de junho de 2011

Perspectivas para o Novo Ciclo Político

Entrando-se agora num novo ciclo político, inúmeras interrogações se colocam sobre o quadro político que nos espera. Estaremos perante um governo capaz de cumprir uma legislatura de 4 anos? E de que modo o quadro de austeridade em curso propiciará novos cenários de instabilidade governativa? Eis apenas duas das questões que se colocam e cuja resposta definitiva é naturalmente impossível de conceder nesta fase. De qualquer modo, tal não impede que se possam ter em conta algumas variáveis e que se possam projectar alguns cenários, não esquecendo no entanto as inúmeras limitações inerentes a tal exercício.

No que à consistência do novo Executivo diz respeito, PSD e CDS tendem a ser bons parceiros de coligação. Embora o perfil de Paulo Portas possa gerar algumas inquietudes face a um Passos Coelho menos experimentado nas lides políticas dos últimos anos, importa ter em conta os últimos exemplos de coligação a nível nacional de ambos os partidos. No governo de Durão Barroso e mesmo no curto governo de Santana Lopes, o PSD ficou com pouco a apontar ao então e actual líder do CDS. Não deverá ser portanto a falta de solidez da coligação que suporta este novo Executivo que o deverá por em causa.

Na oposição, após a pesada derrota sofrida, o PS procederá necessariamente a um realinhamento de estratégia e posicionamento. Tal impõe-se por se encontrar agora na oposição e por ter de assumir a curto prazo uma nova liderança, mas igualmente por esta ser uma legislatura onde a contestação às políticas de austeridade se fará sentir fortemente. Embora tenha sido um dos signatários do compromisso com a troika e sendo certo que o eleitorado não aplaudiria se entrasse já numa postura de pura oposição, o PS procurará capitalizar a médio prazo o crescente descontentamento. Irá portanto aproximar aos poucos o seu discurso dos posicionamentos dos dois partidos à sua esquerda. Este realinhamento à esquerda dos socialistas acontecerá sobretudo enquanto não existirem perspectivas para uma nova mudança governativa. Quando tais perspectivas surgirem, tenderá a alinhar ao centro.

Relativamente ao PCP, o bom resultado eleitoral obtido e a solidez da sua organização levarão a que prossiga de forma reforçada a contestação nas ruas e nos locais de trabalho, em forte sintonia com as lutas sindicais que se adivinham. Dadas as suas características ideológicas e organizativas, os cenários de austeridade previstos para esta próxima legislatura deverão ser propícios à afirmação política dos comunistas.

Quanto ao Bloco, depois da pesada derrota, possui agora o forte desafio de procurar o seu lugar no quadro da oposição ao novo Executivo. Tarefa que contará com a dificuldade adicional de ter um PS também na oposição, conseguindo melhor reter o seu eleitorado mais à esquerda. Tendo os últimos resultados demonstrado com clareza o nível de flutuação do eleitorado potencial do Bloco, este terá de ter agora a capacidade de não se deixar ensanduichar entre comunistas e socialistas.

É neste novo quadro que as diversas forças políticas se movimentarão, importando não ignorar o forte papel que o Presidente da República poderá ter no mesmo. Cavaco já demonstrou inúmeras vezes ser pouco amigo de cenários de instabilidade governativa. Por outro lado, grande parte das medidas de austeridade a aplicar contam com o seu consentimento político-ideológico. Resta portanto saber como será o relacionamento com Passos e Portas. Sabemos que não nutriu até hoje particulares simpatias pelos actuais líderes do PSD e CDS. Veremos como tal se reflectirá no futuro.


Artigo publicado hoje no Açoriano Oriental

(Imagem: The Betadine)

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