sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

E se os políticos tivessem livros de reclamações?


E se quem neles votasse pudesse ter algo como “se não ficar satisfeito, devolvemos o seu voto”? Ou “se encontrar um melhor político, nós oferecemos a diferença”.

Vem este devaneio a propósito de um fenómeno que não deixa de ser paradoxal nos dias que correm: ao mesmo tempo que os cidadãos adoptam (e bem) uma postura cada vez mais exigente na defesa dos seus direitos enquanto consumidores, assiste-se ao badalado crescente alheamento político da generalidade da população. Ao mesmo tempo que vemos os cidadãos rapidamente reagirem caso um LCD ou um telemóvel que tenham comprado avarie durante a garantia, a postura perante um corte salarial ou a perda de um qualquer direito económico, social ou até mesmo político tende a ser contemplativa. Mas porquê tal discrepância de posturas? Porquê um cidadão consumidor tão activo em contraste com um cidadão político tão conformado?

Como parece evidente, a defesa de um direito de consumo é algo pessoal, é algo que mexe directamente no bolso do cidadão. E se este não reagir, ninguém o fará por ele. Logo, caso algo corra mal, este cidadão consumidor hesita cada vez menos em pedir o livro de reclamações, em desancar o funcionário que lhe presta o serviço ou a pedir até para falar com o gerente. Porque a ele, ninguém engana ou, dito até de forma mais simples, a ele ninguém o faz passar por parvo.

Curiosamente, a nível político, tal grau de exigência parece pura e simplesmente desvanecer-se em franjas cada vez maiores da população. Questões que não afectem em exclusivo tal cidadão, questões da coisa pública, de governança ou questões de direitos, passam a ser vistas como inatingíveis. A indignação existe, mas não dá lugar à acção por não se vislumbrar um retorno imediato de tal esforço.

O fenómeno acima é apenas mais um dos resultados de uma sociedade pautada pelo individualismo. Uma sociedade em que a defesa de direitos comuns, numa lógica solidária, é de facto encarada como quase exótica. Ou seja, as causas de tal fenómeno não constituem novidade. De qualquer modo, independentemente dos juízos de valor que possam ser feitos a este respeito, importa que a política também se consiga adaptar a este individualismo crescente dos cidadãos. E importa também que se aprofundem mecanismos democráticos que possam dar feedback imediato aos cidadãos.

Se calhar têm de ser encontrados livros de reclamações para os cidadãos insatisfeitos com os seus representantes. Se calhar importa aplicar medidas de qualidade que melhorem o desempenho democrático. Se calhar importa encontrar equivalentes políticos aos dois anos de garantia a que os consumidores têm direito quando adquirem um produto. Não se trata de defender uma democracia do consumo. Mas não querendo recorrer a lugares comuns, parecemos chegar sempre à mesma conclusão: a democracia tem de conseguir dar maior feedback aos seus cidadãos. Tem de continuar a profundar mecanismos para melhor responder à sua participação. Tem de compensar o seu esforço participativo. Tem de ser criativa e exigente consigo própria, pois só assim conseguirá inverter a perigosa tendência de alheamento perante a coisa pública.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net

2 comentários:

Unknown disse...

A idéia até é engraçada. E quem sabe não poderá originar uma onda competitiva dentro de cada grupo político? Já se sabe que, em Portugal, entre forças políticas diferentes, parece que nada os une, nem os ideais republicanos... Mas, dentro do mesmo partido, havendo lugar a uma avaliação de cada político, numa base em que a relação com o eleitor tivesse uma peso tal que uma avaliação negativa levasse à sua substituição, talvez a política passasse a ser mais interactiva e mais participativa, com menos abstencionismo.

Anónimo disse...

Pois eu quero reclamar a fernando Nobre vários bilhetes para a festa/concerto de Natal de Dezembro de 2009.
Passo a explicar:
O Colégio Moderno (CM)tem por hábito relaizar na Aula Magna uma festa/concerto de Natal com e para alunos e familiares. Todas essas festas/concertos são gratutitas até porque quem nela intervêm no palco são alunos, professores e auxiliares do colégio e a assistência é, fundamentalmente, constituída por pais,avós e familiares dos alunos (e a quem é, por vezes pedida, determinada "indomentária" especial para os artistas).
Em Dezembro de 2009, para poder assistir à festa/concerto de Natal do CM era necessário pagar um bilhete de €5 por pessoa, o qual não dava acesso a lugar marcado e, segundo o CM, se destinava a uma campanha de solidariedade. Esclareço novamente: com excepção dos alunos que intervieram no espectáculo (no palco), todos os presentes (alunos e familiares) pafgaram €5 cada um para poder assistir à festa/concerto de Natal do CM em Dezembro de 2009.
Fernando Nobre esteve presente na 1.ª fila, ladeado por Maria Barroso e Isabel Soares, que, no fim da festa, chamou Fernando nobre ao palco para lhe entregar o produto da venda dos bilhetes (8 000€) para a AMI.
Fernando Nobre agradeceu e discursou. o discurso foi estranho, porque não abordou o Natal, a solidariedade ou a AMI. Consistiu numa apresentação de FN e das suas relações com a Família Soares, um "quase filho", em salientar a juventude da assistência, a importância da Educação, da Pátria e do contributo que cada um deve à Pátria. em certos momentos, obteve calorosos aplausos da assistência que ali tinha sido levada para assistir a uma festa de Natal.
Confesso que só percebi o discurso de FN quando, já em 2010, anunciou a sua candidatura à PR.
Não tenho dados para provar que os 8 000€ da festa de Natal do CM tenham servido para financiar a campanha eleitoral de FN, mas do que não tenho dúvidas é de que a lotação esgotada da Aula Magna e a juventude da assistência (lembro que os alunos são, na esmagadora maioria, menores de idade) serviu de tubo de ensaio e de estreia a FN que não teve qualquer rebuço em aproveitar uma festividade escolar privada para fins pessoais e eleitoralistas.
Os factos que relato foram presenciados por milhares de cidadãos. Alguns, como no meu caso, estavam ali para assistir à actuação de familiares (um sobrinho) e foram levados, ao engodo, a servir de teste a FN.
Esclareço que nada me move contra FN, a quem, na qualidade de presidente da AMI, muito admirava pela sua obra: a AMI.
Não gosto é de ser "tubo de ensaio", muito menos sem qualquer aviso prévio.
Não gostei de ver usados adolescentes e seu pais.