É natural que a candidatura de Cavaco Silva insista que o caso das acções do BPN é um tema lateral, uma campanha negra que revela o desespero da candidatura de Alegre. Em termos de gestão da comunicação política, é o posicionamento mais evidente a ter neste tipo de situações. No fundo, dramatizar e tentar que um tema altamente desfavorável não cresça.
Mas de toda esta situação surge uma evidência ainda mais complicada de ignorar. É que se este caso não inundasse a agenda, isso sim seria de estranhar. Ora vejamos:
- Portugal está na situação económica que está;
- Apesar da penúria, foi assumida a nacionalização do BPN, um negócio ruínoso que arrepia qualquer contribuinte;
- No referido banco estiveram envolvidas inúmeras figuras eminentes do cavaquismo;
- o BPN tem vindo a revelar-se um buraco inacreditável, um antro de falcatruas e negócios ruínosos cuja factura será penosamente paga pelo contribuinte português;
- o ex-primeiro-ministro e, como tal, figura eminente de um dos principais partidos e eterno possível candidato a Presidente de República, consegue um negócio fabulástico de compra e venda de acções não cotadas em bolsa. Negócio este validado por um dos seus antigos subalternos e então responsável máximo do Banco.
Posto isto, insisto: em que país do mundo democrático tal não seria encarado como um perigoso indício de tráfico de influências? Em que país do mundo democrático tal não levantaria suspeitas de favorecimento e de almoços pseudo-gratis? Em que país do mundo democrático uma história como esta não incendiaria uma campanha eleitoral?
(Imagem: The missing link)
2 comentários:
Embora Sócrates ponha as mãos no fogo pela actual gestão do BPN fica por esclarecer por que razão os prejuizos de 700 milhões, em 2008, passaram a ser prejuizos de 2.000 milhões, em 2011. O futuro dirá se 2.000 é, também ele, o número verdadeiro daqui por dois anos
Uma coisa é certa, 2.000 milhões é muito dinheiro. Não é possível dissimular uma fraude desta dimensão. Se alguém se apropriou desse montante tornou-se imensamente rico.
O que mais me espanta é ninguém perguntar aos responsáveis actuais do BPN o que é que concluiram depois de dois anos de acesso a informação previlegiada do banco.
Que golpes foram dados e por quem? Que montantes foram indevidamente apropriados e por quem?
Estas perguntas são bem mais simples e adequadas do que as perguntas que estão a ser feitas a Cavaco Silva. Se Cavaco for culpado até tem, como qualquer criminoso, o direito de ficar calado para não se incriminar a si próprio.
Mas se ele tem o direito a ficar calado a Administração do BPN tem a obrigação de nos dizer se encontrou na papelada algum indício de responsabilidades, ou ilegalidades, do candidato Cavaco na derrocada do BPN.
Esclareçam-nos lá para acabarmos com a palhaçada em que se converteu a campanha para as presidenciais. Ou estão mais interessados nas potencialidades eleitorais desta indefinição?
Trata-se sem dúvida de uma boa questão. Muito maior esclarecimento devia ser dado à opinião pública a este respeito. Concordo em absuto consigo oieste snetido. Embora volte a sublinhar a ideia central do post: estranho seria se este caso das acções de Cavaco não incendiasse a campanha.
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