quarta-feira, 1 de junho de 2011

Partidos à medida é que era, não?


Respeito naturalmente quem opte por abster-se ou, num patamar diferente, opte por votar em branco. Mas não consigo deixar de fazer alguns juízos de valor a este respeito. É que não deixa de ser interessante ver tanta gente a dizer que nenhum partido os convence quando, importa não esquecer, existem nestas eleições alternativas partidárias para todos os gostos. Dos conhecidos partidos com assento parlamentar, ao Partido dos Animais e da Natureza, ao MEP, ao Partido Humanista, ao Partido Pró-vida...

No distrito do Porto, concorrem 17 forças políticas. Repito: 17! Em Lisboa e Braga concorrem 16, em Setúbal concorrem 15 e arriscaria dizer que não existe nenhum distrito do país com menos de 10 forças políticas concorrentes. Bem... Se tanta alternativa continua sem convencer tanta gente, perdoem-me o desabafo (particularmente estranho vindo de quem estuda estas coisas), mas se calhar muita gente só ficaria satisfeita se pudesse ter um partido feito à sua medida...

9 comentários:

alfacinha disse...

quem vote em branco é um voto para o adversário

silvestre disse...

O problema das forças políticas fora dos tradicionais 5, é que não têm estrutura para se impor, ou não têm estrutura de todo. Também acho muitos procuram visibilidade e promoção como o Garcia Pereira. É apenas uma ideia e posso estar enganado. Uma coisa que seduz é força, eu quero que o partido em que acredito seja forte, esta noção de força é um garante de protecção por ilusão que seja. Só há dois partidos fortes em Portugal. Claro que as pessoas poderiam tornar os outros mais fortes, mas quando (como eu) entendem que alguns partidos só querem ser oposição ou não têm muito sentido de Estado, as coisas tornam-se mais difíceis. Assim um voto em branco é sempre uma dor de cabeça a menos. E cumpre-se o dever de votar, mesmo que mostrando o descontentamento.

Eu voto BE, mas porque teoricamente estão próximos dos meus ideiais políticos. Contudo, a atitude dos últimos meses faz-me olhar para eles como gente que só tem vocação para oposição. Então estou a votar no menos mau aos meus olhos. Contudo, admito que há gente que quer votar no melhor aos seus olhos e que na falta de um melhor se recuse a ir pelo menos mau. A democracia (palavra que odeio porque a usam por dá cá aquela palha e à conveniência de cada um) é isto mesmo.

Abraço.

João Ricardo Vasconcelos disse...

Dude, a diversidade de questões que levantas dariam para horas e horas de discussão. :)

No meio da confusão, se calhar convém que se comece por arrumar os assuntos, distinguindo por exemplo a questão da força com o facto do Garcia Pereira só querer promoção. Julgo que não estamos a falar das mesmas questões. Por isso, julgo que primeiro convém arrumar/distinguir os problemas e depois partir para a resolução individual de cada um deles. De outro modo, tudo parecerá um único e gigantesco problema sem solução possível.

De qualquer modo, sem querer ser cassete, diria que participar na definição do destino colectivo dá trabalho. Fazer escolhas políticas envolve riscos, envolve controle de expectativas por estarmos a lídar não com produtos comerciais mas sim com organizações de pessoas. E achar que tais organizações poderão cobrir que nem uma luva as nossas aspirações equivale a assumir que poderemos ter todos aspirações iguais. Faz pouco sentido, não?

Qualquer escolha orienta-se pelo que mais gostamos ou pelo que menos desgostamos. Parece-me evidente e diria que discutir isso equivale a discutir se o copo está meio cheio ou meio vazio. Podemos achar que pensar assim é ser pouco exigente, mas tal pode também assumir outro nome: ter ou não ter cultura democrática.

Claro que podemos sempre alhear-nos de fazer escolhas, assumindo a nossa falta de paciência com a democracia sob a capa do "a culpa é dos partidos e dos políticos". É uma opção, que respeito, mas sobre a qual não consigo deixar de fazer juizos de valor. Abraceee

Anónimo disse...

SIM!! É exactamente isso que pedimos!!

Um partido à medida, um partido onde toda a gente seja ouvida, um partido apartidário, um partido do povo!

Anónimo disse...

Abstenho-me desde 1976 e não vejo agora nenhuma razão para votar. Num momento em que as elites e classes dominantes nos levaram ao pântano. Falar de 10 ou 20 partidos diferentes é não entender que existem outras formas de ver a gestão colectiva de uma comunidade e que não passam necessariamente pelo Estado, nem por esta forma dita de democracia representativa. As comunidades podem criar, ou inventar, inúmeras formas de se organizar, produzir e viver...Se não se compreende isso, não se compreende nada ou, melhor, estamos reduzidos aquilo que são as ideias feitas das ideologias dominantes!

Kaos disse...

A questão da democracia tem muito que se lhe diga e não é por haver uma enorme quantidade de partidos que a faz maia verdadeira. O problema está nas possibilidades que uns têm de ocupar todo o tempo de antena e outros serem atirados para o esquecimento mediático. Políticos, comentadores, e informação não são livres nem identitárias. Pessoalmente deverei ir votar por uma questão de princípios, mas compreendo quem escolha não colaborar nesta mentira
um abraço

João Ricardo Vasconcelos disse...

Anónimo: Coloca uma questão de fundo. Não acho que a democracia se esgote no voto e defendo naturalmente que o caminho passe por complementar fortmente a democracia representativa com inúmeras formas de democracia participativa. Não haja dúvidas a este respeito. Mas não conheço nenhuma democracia que tenha prescindido com sucesso da vertente representativa. Uma coisa é complementar a democracia representativa, outra coisa é prescindir da mesma.

Por outro lado, e agora vou parecer tremendamente reaccionário, diria que 95% das pessoas que se abstém não desenvolvem qualquer tipo de participação política (associativismo, voluntariado, activismo, etc). E não o fazem porque não está nas suas prioridades participar (na gestão do condomínio, na gestão da escola dos seus filhos ou na colectividade local). Ou seja, respeito quem discorde, mas infelizmente acho que o problema central não está na disponibilização de formas de participação mas sim na predisposição ou não das pessoas para participarem no colectivo, na causa pública.

João Ricardo Vasconcelos disse...

Kaos: Sim, o meu argumento dos 17 partidos cai com alguma facilidade. Acho que esta semana ando particularmente com pouca paciência para quem se vai abster dado cenário de governo de direita liberal que as sondagens dizem que aí vem... Mas voltando à questão que colocas, percebo a desigualdade de oportunidades e o quanto o sistema está viciado numa série de sentidos e percebo o argumento de colaborar na mentira. Mas acho excessivamente cómodo e conveniente não se concordar com a mentira e encontrar-se como solução ficar em casa a barafustar. No fundo, não percebo como se pode esperar que as coisas mudem se não se participa...

Anónimo disse...

IDEIAS FEITAS...

Vamos repetir, de forma diferente e não menos correcta, o que o digno autor diz: «diria que 95% das pessoas que VOTAM não desenvolvem qualquer tipo de participação política (associativismo, voluntariado, activismo, etc). E não o fazem porque não está nas suas prioridades participar (na gestão do condomínio, na gestão da escola dos seus filhos ou na colectividade local).»