quinta-feira, 24 de março de 2011

As eleições que todos quiseram




A presente crise corresponde ao momento em que todos os actores políticos se sentiram confortáveis para ir a eleições. Prontos para o combate, no fundo. Tal é evidente na oposição, mas é também bastante claro na atitude do Executivo. No que a este último diz respeito, basta ver a forma como gerida a apresentação do PEC 4. Teremos, portanto, a curto prazo as eleições que todos quiseram.

PS: Está um homem descansado nas suas férias, a tentar desligar, e o Governo cai. Francamente...


sexta-feira, 18 de março de 2011

Carregar baterias

O autor deste blogue teve de ir de emergência para as Caraíbas para apanhar sol e dormir. Retomaremos a emissão a 31 de Março. Até lá!

Vá lá, mandem-nos abaixo

Para além da triste substância que o PEC 4 encerra, torna-se particularmente interessante analisar o que rodeou o seu anúncio. Recapitulemos então: foi anunciado poucos dias depois do embaraçoso encontro com Merkel, um dia depois do chumbo da moção de censura e na véspera de uma manifestação que, pela mediatização que então merecia, se adivinhava grande. Como se tal não bastasse, o anúncio aconteceu sem informar o Presidente da República, sem assegurar qualquer acordo com o PSD (o parceiro privilegiado nestes processos), quanto mais qualquer articulação com os parceiros sociais. A cereja em cima do bolo deste insólito foi o facto de tal ter sido o culminar de duas semanas de trabalhos de técnicos das instituições europeias.

Ou seja, toda a envolvência do anúncio do PEC 4 foi simplesmente desastrosa para o governo. Pior momento e pior forma de o fazer seriam difíceis. Mas como se justifica então tal façanha? Pura distracção? O actual Executivo pode ter habituado os portugueses a muita coisa, mas as trapalhadas e os acasos estão longe de ser o prato forte do primeiro-ministro. Pelo contrário, a sua persistência e as sete vidas que demonstra ter devem-se também a uma impressionante habilidade política, A uma forte capacidade de resistir e de emergir do caos já depois de lhe terem sido passados inúmeros certificados de óbito político.

Daí que aquilo que podia ser à primeira vista considerado como uma improdência política deva, pelo contrário, ser encarado agora como uma jogada. Arriscada, sem dúvida, mas pensada. Com o seu comportamento kamikase, o Governo antecipou-se ao PSD, obrigando-o agora a uma situação limite em que terá de escolher ficar com o ónus de criar uma crise política ou apoiar pela quarta vez o Executivo que tenta substituir.

Depois de um mês em que se veiculou fortemente o tacticismo vil e irresponsável da moção de censura do Bloco, eis um exemplo claro em como a táctica política está viva e de boa saúde no seio do actual Executivo. È o tudo ou nada, suportado por um discurso do tipo “ou eu, ou o caos”, paradoxalmente assente numa mensagem de suposta responsabilidade. Sócrates sabe bem que, dado o momento difícil, manter a iniciativa do seu lado é uma vantagem a não desperdiçar. Não tem naturalmente a certeza sobre como terminará o jogo, mas sabe que colocar as coisas nos termos em que colocou favorece-o qualquer que seja o desfecho.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net
(Imagem: Bitch of bangkok)

quinta-feira, 17 de março de 2011

Atenção às 7 Vidas

Tudo parece indicar que os dias do actual Executivo estão contados, não é? Não há escapatória possível e as eleições estão mesmo aí, certo? Pois... Apesar das evidências, importa não esquecer que Sócrates já demonstrou ter pelo menos 7 vidas. Até pode ser desta que cai, mas a verdade é que foram já inúmeras as vezes que acabou por escapar praticamente ileso. A ver vamos...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Desculpe, importa-se de repetir?

As aspirações dos jovens estão na ordem do dia. Não há argumentário político desta semana que não invoque os jovens. O problema é que às vezes a coisa corre um bocadinho mal. Pedir aos jovens de hoje a mesma coragem e determinação dos que partiram para a guerra colonial é uma evocação totalmente infeliz. Desde logo pelo "exotismo" da comparação. Mas é também contraproducente. Não sabemos se o Presidente evoca tal determinação baseado na sua experiência ou do seu círculo de amigos (esperemos que não), mas temos a certeza que tal determinação em defender o império está muito longe de poder ser generalizável.

segunda-feira, 14 de março de 2011

As voltas que a (ir)responsabilidade dá

A moção de censura do Bloco, rejeitada na passada 5ª feira, ficou rotulada como irresponsável. A estabilidade era um valor fundamental a defender. Era necessário colocar o interesse do país acima dos interesses partidários, dizia-se então à direita. Curiosamente, fruto do que se passou nos 2 dias seguintes à rejeição da moção (sublinho: 2 dias), dá-se agora como quase certa a queda do actual Executivo a curto ou médio prazo. O que é feito do sentido de responsabilidade do PSD e CDS?
(Imagem: Iva Cão Azul)

domingo, 13 de março de 2011

Impressionante


O que hoje se assistiu na Avenida da Liberdade foi impressionante. Nunca tinha visto uma tão grande manifestação. E se à dimensão do protesto em Lisboa juntarmos os igualmente impressionantes números de Porto e o facto de ter ocorrido numa série de outras cidades do país, ficamos com a noção clara que o que hoje se passou não poderá será facilmente esquecido.

Foi um grito de protesto sem paralelo. E foi sobretudo curioso ver que quem lá estava não eram "os do costume". Para além da juventude dominante, sentia-se a presença de gente que certamente nunca participou até hoje numa manifestação.

O facto de ter sido uma manifestação muito para além dos controlo partidário foi também evidente. Aliás, a desorganização com que tudo decorreu demonstrou isso mesmo. Mas foi também isso que tornou o protesto de hoje algo ímpar.

Uma última nota para os comentadores que agora estão em todas as televisões a comentar o que se passou: deviam ter feito um esforço para lá ter ido. Evitavam-se assim alguns comentários totalmente ao lado a este respeito.
(Imagem: Além Terra)

A Fase Kamikaze

Poucos dias depois do humilhante encontro com Merkel; um dia depois de uma moção de censura; uma dia antes de uma manifestação que adivinhava-se grande; sem consulta a parceiros sociais; sem informar o Presidente da República; sem assegurar alguma base de acordo com o o PSD. Eis apenas um ligeira enumeração do que rodeou o anúncio do PEC 4. O actual Executivo parece ter entrado numa fase Kamikaze. É a única explicação possível para uma tão desastrosa gestão deste dossier. Parece pedir para ser demitido...
(Imagem: Entrementes)

A Resposta Atrasada (e ultrapassada pelos acontecimentos)


Ponto prévio: na blogosfera pede-se rapidez na respostas a comentários. O Tiago merece sem dúvida um pedido de desculpas da minha parte depois de ter comentado um post meu com a inteligência a que nos habituou. Acontece que, durante a minha demora a responder, aconteceram duas coisas que abalaram o panorama político: PEC 4 e a manifestações da Geração à Rasca. De qualquer modo, julgo que vale a pena responder. Não consigo é fazê-lo ignorando o que entretanto se passou.

Quanto à estabilidade governativa, é naturalmente desejável. O eleitorado valoriza-a significativamente e as últimas sondagens têm demonstrado isso mesmo. De qualquer modo, sobretudo depois do que se passou esta sexta-feira, é inevitável recorrer ao conhecido chavão: a que preço? Por outro lado, desculpa responder-te com perguntas, mas parece-te sinceramente que este Governo procura a estabilidade governativa tendo em conta a forma como geriu este dossier do PEC4?

Relativamente à forte possibilidade da direita assumir o próximo ciclo político, concordo que tal deva limitar os desentendimentos à esquerda. Esta foi uma das principais razões que me levou a considerar a moção do Bloco uma jogada arriscada. De qualquer modo, destaco a mensagem que a Helena Roseta ontem deixou na SIC Notícias. Há coisas que um governo de centro esquerda não pode fazer. Há coisas que tem de ter a coragem de dizer que não faz. E se não há de facto alternativa a uma agenda de direita, então que venha a direita aplicá-la.

Por último, tendo em conta o que se passou sexta-feira, julgo que o Governo apropriou-se sem hipóteses do rótulo da irresponsabilidade. Mas, caro Tiago, não estou naturalmente à espera que concordemos a este respeito...
(Imagem: Commonwealth)

quinta-feira, 10 de março de 2011

De apolítico a super-político

Cavaco Silva consegue ter sempre esta capacidade de nos surpreender (um pouco, vá lá). Depois do político que se diz apolítico, temos agora o apolítico que virou super-político.
(Imagem: Graphics Hunt)

Já nas bancas

Sumário completo do mês aqui

terça-feira, 8 de março de 2011

Baile de Máscaras

O mundo da política é conhecido pela forte encenação em que incorrerem os seus actores. Hoje dizem uma coisa e amanhã dizem outra. E quando dizem preto, por vezes querem dizer branco. A política moderna e, sobretudo, a política mediática, correspondem a um universo de máscaras onde o parecer tem tanta ou mais importância do que o ser. A gestão de posturas, perfis e posicionamentos afirma-se aliás como uma das mais conhecidas artes do actor político. Daí que a política tenha o seu quê de Carnaval. As máscaras são um adereço fundamental de qualquer político. E existem alturas que estes a elas recorrem com particular intensidade. Por razões relativamente claras, tal é o que se passa sobretudo nos momentos de crise económica.. Uma vez que a tensão política se intensifica, exigindo mais dos actores que nela participam, o recurso a máscaras para agrado do eleitorado assume uma preponderância significativa.

Mas vejamos então o que se passa em Portugal. É já razoavelmente consensual entre as diversas forças políticas que a presente legislatura não chegará ao fim. E a probabilidade de terminar ainda durante este ano começa a tornar-se igualmente clara. Embora a futurologia em política seja conhecida precisamente pela sua inexactidão, as expectativas comandam fortemente os diversos actores. Deste modo, assumindo a proximidade de uma mudança de ciclo, os diversos partidos começam a posicionar-se de forma mais atenta. Fazem-no de maneiras naturalmente diferentes, tendo sempre presente a postura que o eleitorado que procuram captar mais apreciará. Uma vez que prevêem que poderão ocorrer eleições a curto prazo, dedicam particular atenção nestes momentos de fim de ciclo à gestão dos seus posicionamentos.

Neste contexto, do mesmo modo que um posicionamento mais proactivo para a queda do governo pode ser assumido como táctico, o mesmo acontece com os posicionamentos mais passivos a este respeito. A postura da “responsabilidade”, não querendo assumir o ónus de provocar a queda de um Executivo, dificilmente pode ser considerada menos táctica. Porque ela corresponde igualmente a uma forma de captação de apoio eleitoral. Daí que o debate que se instalou nas últimas semanas sobre o posicionamento dos diversos partidos da oposição relativamente a uma eventual queda do Executivo tenha sido muito limitado. Comentadores de diversos quadrantes dividiram os partidos em posturas de responsabilidade e posturas de tacticismo. Como se a postura de um PSD que não quer para já a queda do Executivo fosse menos táctica do que a postura do Bloco ou do PCP.

É natural que os partidos actuem de forma táctica. Num cenário concorrencial, estranho seria que não agissem com o objectivo de maximizar a sua influência. O modo de funcionamento da democracia em toda a sua plenitude assim o exige. Podemos gostar mais ou menos da táctica que cada partido assume, considerar que a mesma se adequa mais ou menos ao que o país precisa. Não podemos é considerar que uns agem de forma táctica e outros de forma responsável.

Virgílio Ferreira disse o seguinte: “Que ideia a de no carnaval as pessoas se mascaram. No carnaval desmascaram-se”. Se calhar não vale a pena estar a apontar especificamente que partidos estão mais fielmente mascarados no momento actual. Fica à consideração de cada um tal interpretação. Mas importa não esquecer que na política, tal como no Carnaval, as máscaras proliferam. Resta saber interpretá-las sem dramas, não esquecendo que, do mesmo modo que sem máscaras não existiria Carnaval, sem máscaras também não existiria democracia.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

segunda-feira, 7 de março de 2011

Tirar o sono, eis a questão

A manifestação em Luanda contra o regime acabou por mal acontecer. Poucos compareceram e a polícia logo tratou de os levar para a esquadra. O regime não tremeu, mas mostrou que tem medo, jogando na antecipação. Claro que Angola está infelizmente a milhas dos índices de desenvolvimento humano do Magreb. Trocando por miúdos, muita da sua população continua demasiado concentrada na refeição do dia seguinte para se preocupar com essas coisas da democracia. É triste, mas julgo ser uma determinante importante. De qualquer modo, é natural que os ecos do que se está a passar no mundo árabe cheguem às ditaduras dos 4 cantos do mundo. Assim sendo, o regime angolano tem todas as razões para permanecer vigilante. Esperemos que muitos continuem a empenhar-se em tirar-lhe o sono.

domingo, 6 de março de 2011

O tema do momento


O Homens da Luta ganharam o Festival RTP da Canção porque há muito são um fenómeno mediático. Mas também não é por acaso que uma segunda música sobre a crise e os tempos difíceis que o país atravessa consegue marcar a agenda tão fortemente. Não deixa de ser um sinal dos tempos. É o tema do momento. Muito me admira que Tonys Carreiras e companhias ainda não se tenham posto a compor sobre estas questões.

sexta-feira, 4 de março de 2011

A Táctica da Responsabilidade

Sobretudo depois do anúncio da moção de censura do Bloco, um aceso debate gerou-se sobre o posicionamento que os partidos deverão ter perante a continuidade ou não do actual Executivo. A maioria dos opinion makers acabou então por firmar dois posicionamentos antagónicos: por um lado uma postura de suposta responsabilidade, onde se deixa o Executivo governar, não criando entraves formais à sua actividade e, por outro, uma postura de táctica política, recheada de uma espécie de irresponsabilidade vil, que defende a queda do actual executivo. Tem sido este quadro maniqueísta que tem sido maioritariamente apresentado à opinião pública, sendo escusado sublinhar a forma como esta visão coloca a iniciativa do Bloco.

Posto isto, se calhar vale a pena sublinhar alguns pontos a este respeito. Já é perfeitamente consensual para as diversas forças políticas que o actual Executivo não completará a presente legislatura. É igualmente consensual, em todos os quadrantes da oposição, que a política prosseguida é uma das grandes responsáveis pela crise a que chegámos e que as medidas que estão a ser tomadas não a inverterão. Assim sendo, porque será que apenas alguns defendem abertamente a queda do actual executivo? Porque será que a oposição à direita prefere para já resguardar-se numa suposta postura de responsabilidade? Simples: porque apesar de considerar que uma mudança de um governo totalmente desacreditado junto dos mercados se calhar até poderá acalmar os mesmos, teme que o seu eleitorado mais conservador, pouco propenso à mudança, não aprecie a instabilidade daí decorrente.

Assim sendo, a aposta da oposição à direita (sobretudo do PSD) consiste na espera. Aguarda-se a gota de água oportuna que permita começar a defender abertamente a dissolução do Governo e a convocação de eleições antecipadas. E é a esta postura que tem sido atribuído o papel de “responsável”, por oposição a posicionamentos tácticos à esquerda que (imagine-se!) preferem que o país vá já a eleições.

A táctica é algo omnipresente na actuação de qualquer força política em democracia. A resposta às aspirações do eleitorado num panorama de concorrência eleitoral assim o exige. E num momento em que o fim do ciclo político se adivinha, é natural que os partidos procurem posicionar-se para a obtenção do necessário apoio para as eleições que se seguem. Afirmar que é a táctica que preside à actuação da força política A ou B é de uma redundância aflitiva. Afirmar que os posicionamentos das forças políticas no panorama actual se dividem em tacticismo político por um lado e uma postura de responsabilidade por outro é, no mínimo, de uma tontice atroz.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net
(Imagem: Wallpaper)

quinta-feira, 3 de março de 2011

O fim da "grande amizade"

É positivo que Portugal presida ao comité de sanções à Líbia do Conselho de Segurança da ONU. Será sobretudo útil para fazer esquecer a "grande amizade" que Sócrates e Khadafi disseram existir entre os governos dos dois países há apenas dois anos e meio atrás... Uma diplomacia excessivamente assente na realpolitik leva a este tipo de embaraços.
(Imagem: Bissectiz)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sobre a possibilidade de Democracia no Mundo Árabe

São naturalmente legítimas as dúvidas sobre que tipo de regimes poderão emergir da onda revolucionária em curso no mundo árabe. E esta incerteza é natural na medida em que nunca é certo o caminho que a História tomará em qualquer processo de mudança de regime. De qualquer modo, alguns dos posicionamentos cínicos a este respeito, de um indisfarçável conservadorismo que quase torce para que tudo fique ainda pior, chegam a roçar o ultraje. Também por isso, vale mesmo a pena ler o artigo de Nicholas Kristof no í de hoje. Todos aqueles que neste momento arriscam a sua vida e a dos seus em nome da liberdade e da democracia merecem no mínimo um bocadinho de "respect!"
(Imagem: Mideastposts)

terça-feira, 1 de março de 2011

A senhora Merkel

Encenação ou não, o encontro de amanhã entre Sócrates e Merkel demonstra bem a desenvergonhada influência hegemónica que a Alemanha passou a ter no espaço europeu. De qualquer, vamos lá parar de chamar a senhora de "senhora Merkel". Já enjoa um pouco. Desde quando é deselegante chamar uma mulher simplesmente pelo seu nome?

Da série soundbytes infelizes

José Sócrates afirmou ontem que o "PS nunca virou a cara às dificuldades". Guterres não deve ser do PS, portanto. Afirmou igualmente que o partido "... nunca se enganou nas suas escolhas". Só faltou acrescentar que raramente tem dúvidas. Escrever discursos não é uma tarefa simples. Mas está visto que quem escreveu este discurso de Sócrates anda a precisar de umas feriazitas...
(Imagem: Bees'Knees)