O mundo da política é conhecido pela forte encenação em que incorrerem os seus actores. Hoje dizem uma coisa e amanhã dizem outra. E quando dizem preto, por vezes querem dizer branco. A política moderna e, sobretudo, a política mediática, correspondem a um universo de máscaras onde o parecer tem tanta ou mais importância do que o ser. A gestão de posturas, perfis e posicionamentos afirma-se aliás como uma das mais conhecidas artes do actor político. Daí que a política tenha o seu quê de Carnaval. As máscaras são um adereço fundamental de qualquer político. E existem alturas que estes a elas recorrem com particular intensidade. Por razões relativamente claras, tal é o que se passa sobretudo nos momentos de crise económica.. Uma vez que a tensão política se intensifica, exigindo mais dos actores que nela participam, o recurso a máscaras para agrado do eleitorado assume uma preponderância significativa.
Mas vejamos então o que se passa em Portugal. É já razoavelmente consensual entre as diversas forças políticas que a presente legislatura não chegará ao fim. E a probabilidade de terminar ainda durante este ano começa a tornar-se igualmente clara. Embora a futurologia em política seja conhecida precisamente pela sua inexactidão, as expectativas comandam fortemente os diversos actores. Deste modo, assumindo a proximidade de uma mudança de ciclo, os diversos partidos começam a posicionar-se de forma mais atenta. Fazem-no de maneiras naturalmente diferentes, tendo sempre presente a postura que o eleitorado que procuram captar mais apreciará. Uma vez que prevêem que poderão ocorrer eleições a curto prazo, dedicam particular atenção nestes momentos de fim de ciclo à gestão dos seus posicionamentos.
Neste contexto, do mesmo modo que um posicionamento mais proactivo para a queda do governo pode ser assumido como táctico, o mesmo acontece com os posicionamentos mais passivos a este respeito. A postura da “responsabilidade”, não querendo assumir o ónus de provocar a queda de um Executivo, dificilmente pode ser considerada menos táctica. Porque ela corresponde igualmente a uma forma de captação de apoio eleitoral. Daí que o debate que se instalou nas últimas semanas sobre o posicionamento dos diversos partidos da oposição relativamente a uma eventual queda do Executivo tenha sido muito limitado. Comentadores de diversos quadrantes dividiram os partidos em posturas de responsabilidade e posturas de tacticismo. Como se a postura de um PSD que não quer para já a queda do Executivo fosse menos táctica do que a postura do Bloco ou do PCP.
É natural que os partidos actuem de forma táctica. Num cenário concorrencial, estranho seria que não agissem com o objectivo de maximizar a sua influência. O modo de funcionamento da democracia em toda a sua plenitude assim o exige. Podemos gostar mais ou menos da táctica que cada partido assume, considerar que a mesma se adequa mais ou menos ao que o país precisa. Não podemos é considerar que uns agem de forma táctica e outros de forma responsável.
Virgílio Ferreira disse o seguinte: “Que ideia a de no carnaval as pessoas se mascaram. No carnaval desmascaram-se”. Se calhar não vale a pena estar a apontar especificamente que partidos estão mais fielmente mascarados no momento actual. Fica à consideração de cada um tal interpretação. Mas importa não esquecer que na política, tal como no Carnaval, as máscaras proliferam. Resta saber interpretá-las sem dramas, não esquecendo que, do mesmo modo que sem máscaras não existiria Carnaval, sem máscaras também não existiria democracia.