quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Portugal não é a Grécia


"Não podemos fazer parte da Europa que exaltou com a vitória do Syriza. Não merecemos fazer parte. Porque nunca tivemos coragem para perspetivar uma posição de força nem uma mudança política. Em Lisboa, voltaram a imperar os brandos costumes, a resiliência e o conservadorismo. Faltou coragem. (...) Somos mansos e ficaremos conhecidos como tal. Portugal não é a Grécia. Ou foi a Grécia que não quis ser Portugal?" in A Bica

Tempo de Avançar - A Convenção Cidadã é já no próximo Sábado





quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O crash do Citius nunca aconteceu



Primeiro a responsabilidade não era de ninguém. Depois já era sabotagem, Depois ainda ficámos a saber que a culpa era de uns técnicos que trabalhavam no Instituto. E, por fim, afinal os grandes responsáveis foram o Presidente e o Vice-Presidente do referido Instituto. Que, por sinal, convém que não sejam ouvidos no Parlamento.

Qualquer dia seremos informados que este caso nunca existiu...

Tsiprologia


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Grécia e a Mitologia de Esquina - Ricardo Paes Mamede no Prós e Contras



Excelente explicação sobre os mitos que voltaram a ensombrar a Grécia nos últimos tempos. No presente caso, sobre a ideia que os Gregos são uns malandros que fogem aos impostos massivamente. 
(via Ladrões de Bicicletas)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Não há mudança sem riscos: sobre o acordo do Syriza com os Gregos Independentes


Vale a pena ler o post do Zé Guilherme Gusmão no Ladrões de Bicicletas. Como é evidente, o acordo do Syriza com um partido de direita nacionalista, que já demonstrou estar nos antípodas de Tsipras em domínios como a imigração ou os direitos dos homossexuais, provoca imediata apreensão. 

De qualquer modo, importa ter presente uma outra evidência: não existe mudança a sério sem riscos. Aliás, o sucesso da mudança é sempre incerto. Duvido que alguém possa achar que o caminho de uma mudança a sério na política grega e, em última análise, na política europeia, possa ocorrer de forma calminha, sem sobressaltos, sem passos arriscados. Será sempre um caminho duro, com muitas pedras, com inúmeros obstáculos.

Alguns acharão, legitimamente, que não vale a pena correr tais riscos. Que é preferível não incorrer em tais aventuras. Outros, como a maioria dos gregos ontem demonstrou, defende a mudança. E, como tal, estão seriamente convencidos de que vale mesmo a pena correr riscos, de que a situação do seu país e da Europa exige que se tente uma alternativa. São posturas...

domingo, 25 de janeiro de 2015

Mudança, na Grécia e na Europa


A vitóra do Syriza é um feito notável. A chegada de um partido da esquerda radical ao poder num país europeu não é um pormenor. E é sobretudo interessante verificar que a vitória do partido de Tsipras assenta na implosão do sistema partidário grego, onde o bipartidarismo parece ter finalmente chegado ao fim.

Este feito do Syriza só foi possível devido a uma política cega de austeridade que levou a Grécia a situação de verdadeira calamidade social. Sendo consecutivamente empurrados para um beco sem saida de austeridade eterna, os Gregos decidiram, e bem, que a mudança era uma absoluta necessidade.

Importa agora que a União Europeia saiba ler devidamente estes resultados, que mais não são do que o culminar de toda uma estratégia europeia de resposta à crise profundamente errada. A vitória do Syriza representa o mais duro golpe na política de austeridade advogada e suportada pela União Europeia nos últimos anos . 

Todos os europeus que não se revêem na referida política, que consideram a mesma suicida em termos económicos e sociais, que estão cientes da ameaça que tal representa para a coesão e sobrevivência do projeto comunitário, assim como para a saúde das diversas democracias nacionais, só podem estar naturalmente satisfeitos com a vitória do partido de Tsipras. 

A Europa precisa urgentemente de mudança. As eleições gregas representam um fortíssimo sinal de que a mudança na Europa poderá estar a chegar.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Estamos sempre a aprender com os nossos filhos...


Mesmo quando ainda têm 5 meses... A noite de ontem foi "agressiva". O Manuel (5 meses) não queria dormir. Mas entre as 4 e as 5 da manhã, ao mesmo tempo que o embalava no quarto, de um lado para o outro, tive oportunidade de ver o documentário de Robert De Niro Sr, lançado em 2014 pela HBO.

Já tinha lido que o pai do famoso ator era um conhecido artista nova iorquino. Mas confesso que não tinha noção da sua dimensão. Um dos grandes do expressionismo americano do pós-guerra. Aqui está o trailer do documentário. Poderão também saber mais sobre Robert De Niro Sr aqui e aqui.

Obrigado, Manuel. Estou sempre a aprender contigo. :)

Beck - Live at Union Chapel, 2003


O You Tube permite-nos cada vez mais a descoberta destes pequenos tesouros. Pessoalmente, sou um viciado na descoberta de bons concertos. Priceless... (literalmente) 

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Mais um Degrau, mais uma Etapa

Como é evidente, ainda não será esta semana que será garantida a igualdade de adoptar aos casais homossexuais. A composição parlamentar não o permite. Mas, mesmo com o chumbo praticamente garantido das propostas hoje apresentadas pelo Bloco, pelo PS e pelos Verdes, esta é mais uma etapa, mais um degrau de uma caminhada inevitável.

As cabeças evoluem. Estão hoje mais abertas e tolerantes do que há dois ou três anos. Basta recordar que o PS está hoje do lado da barricada que, ora recusou, ora hesitou estar nos últimos anos.

As mentalidades não avançam com a velocidade que se impunha. É triste, é vergonhoso e muitos sofrem com isso. Mas vão mudando aos poucos. E a discussão de hoje na Assembleia demonstra isso mesmo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Deixem-nos decidir! :: 22 de Janeiro, quinta-feira, 18h


Iniciativa promovida pelo Congresso Democrático das Alternativas a propósito das eleições gregas do próximo fim-de-semana. A não perder.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Da série "Tivemos de arranjar qualquer coisa para escrever esta semana sobre o Sócrates"


"Sócrates abre guerra por botas e cachecol do Benfica; Proibição: Director da Prisão dá prazo para ex-PM entregar calçado que tinha no dia em que foi preso."

"O Director do estabelecimento prisional de Évora fez chegar três ofícios a José Sócrates a meio da semana. um deles o recluso 44 é intimado a entregar ate´segunda-feira dois pares de botas de cano curto que tem estado a usar na cadeia, enquanto os outros dois ofícios formalizam a recusa da direcção da cadeia em deixar o ex-primeiro ministro em ter consigo na cela da prisão um edredão um cachecol do Benfica..."; 

«"Não percebemos a proibição em relação ao edredão, quando há outros reclusos que têm", lamenta o advogado"; "... um dos pares das botas de cano curto eram as que José Sócrates tinha com ele no momento em que foi detido, a 21 de Novembro, sendo que, mais tarde, a seu pedido, lhe levaram um segundo par com um forro mais quente, mais apropriado para o inverno".

"A defesa do antigo governante vai entrar com um recurso na DGRSP, já na segunda-feira de manhã, o que terá, para já, efeitos suspensivos sobre a entrega das botas exigida pela cadeia. Se o recurso não resultar, os advogados admitem levar o caso a tribunal". 

in Expresso, 17/01/2015


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Food for the Soul

O pós-11 de Setembro Europeu?


As operações anti-terrorristas na Bélgica mostram que a Europa está em alerta. Alguns sentir-se-ão mais seguros por ver que as forças políciais estão a atuar. Pessoalmente, não me sinto mais seguro neste clima de detenções e neutralizações abruptas de supostos jihadistas em diversos países europeus (e.g. França, Alemanha, Bélgica, etc).

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

RTP e as mudanças de 360 graus

Governo que se preze tem uma nova estratégia para a RTP. E como o presente está empenhado em tudo superar, temos agora uma segunda Administração nomeada pelo mesmo Governo. Portanto, pedem-nos que esqueçamos o (seu) erro de casting anterior pois agora é que é, agora é vai ser.

Nuno Artur Silva é um nome de peso e respeito. Resta saber se, de mudança em mudança,  de nova estratégia em nova estratégia,  não estamos precisamente a promover a mudança de coisa nenhuma. Não há empresa que resista a tanto trambolhão...

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Galático

Ser o melhor do mundo, pela terceira vez, no desporto mais competitivo e adorado do planeta é um feito galático. Sobretudo numa época em que o futebol passou a ser de facto global, apreciado não apenas na Europa, África e América Latina, mas também no Médio Oriente, na Ásia ou na América do Norte. Basta pensar nos milhões que em todo mundo jogam, consomem e vibram com o futebol, para se perceber que o que ontem aconteceu não foi um pormenor para o país. Ronaldo é de facto galático, conseguindo hoje projetar Portugal onde nenhum outro Português consegue.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Os "Special Ones" do Ministério das Finanças


O Ministério das Finanças vai aplicar uma carreira especial a 234 técnicos superiores de três organismos públicos sob a sua tutela. Devido à "elevada exigência" a que estão sujeitos, estes trabalhadores receberão assim aumentos salariais mínimos de 52 €, No fundo, os funcionários destes três organismos terão agora carreiras especiais iguais às já praticadas noutros dois organismos do Ministério  das Finanças

Como é evidente, não tenho nada contra aumentos salariais na Função Pública. Pelo contrário. Mas não deixa de ser vergonhoso que a Ministra e o Ministério que são os símbolos do rigor e do apertar o cinto, tenham arranjado uma forma "especial" de compensar os seus. E fazem-no com recurso às tais carreiras especiais na Administração Pública que alimentam desigualdades injustificáveis, assim como disfuncionalidades nos quadros do Estado. Vergonha.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Je suis Batata Doce


Vá, sejamos sinceros: as pessoas não estão chocadas por um bando de malucos ter assassinado tragicamente a redacção de um jornal satírico, ferindo assim gravemente a liberdade de expressão. As pessoas estão chocadas por um bando de loucos ter assassinado brutalmente outras pessoas.

Ainda bem que a liberdade de expressão apanhou boleia com esta tragédia e sairá reforçada da mesma. Mas "as pessoas" (essa entidade indiscutível) ficariam igualmente chocadas se um bando de malucos assassinasse brutalmente um grupo de agricultores da batata doce. Desde que tal acto trágico beneficiasse de imediato de igual cobertura mediática.

Merci Charlie


Hesitei bastante em escrever sobre as ações terroristas em França. Por um lado, tudo o que poderia achar nestes primeiros dias sobre o assunto estava a ser dito, e bem, por muitos outros. Por outro lado, porque ansiava pelo primeiro momento em que a "poeira assentasse", permitindo vislumbrar algo para além do horror, do repúdio, da indignação.

Passados estes três dias, sublinharia que a tragédia em França despoletou um consenso em torno da liberdade de expressão. Mesmo que profundamente inconveniente, mesmo que altamente inconveniente, como era o caso do jornal satírico francês.

Não tenhamos dúvidas que, a este respeito, muitos serão mais Charlie do que outros. Existirão os Muito Charlie, os Pouco Charlie e os Charlie Assim-assim. Porque, como bem sabemos, continuam a ser poucos os que defendem a liberdade de expressão absoluta e de forma corajosa como de facto faziam semanalmente os cartonistas e jornalistas do Charlie Hebdo. 

No entanto, estes grandes momentos, sendo tragédias ou não, mudam de facto mentalidades. Não mudam tudo o que haveria a mudar, mas abrem caminhos, o que não deve ser menosprezado. Merci Charlie.

Avançar


Como o post anterior demonstra, estou a contribuir para um novo projeto. Surpresa para alguns, previsível para outros, encontro nesta aventura muitos com quem já trabalhei em ativismos vários, assim como muitos outros que apenas agora começo a conheçer.

Contribuir para um novo projeto político é sempre um acto bastante arriscado. Sobretudo quando andamos nestas andanças há já alguns anos. Conhecemos muitas vicissitudes, já embarcámos em muitas aventuras, já vimos muita coisa.

De qualquer modo, mesmo tendo presente os riscos elevados e as probabilidades limitadas de sucesso, decido avançar porque acho que vale a pena arriscar. Porque não suporto a ideia de ficar parado sem intervir. Porque, se quero a mudança, tenho de fazer algo por ela. Tenho de arregaçar as mangas e ajudar a construí-la. No fundo, uma abordagem que tem tanto de romântica, como de pragmática.

Não será fácil, poderá não resultar... Mas estarei lá a dar o meu contributo, a fazer o meu melhor. Com a responsabilidade de estar a construir algo novo. Onde a experiência contará tanto como a capacidade de pensar de novo, de olhar de maneira diferente, de agir de forma inovadora.

Subscrevi a convocatória para a Convenção Cidadã de 31 de Janeiro porque acredito profundamente no Estado Social, porque sei que um modelo alternativo à austeridade é possível, porque tenho a certeza que a democracia constroi-se com ambição, tentando sempre chegar onde ainda ontem parecia impossível. Subcrevi a convocatória porque a Esquerda não pode parar de procurar denominadores comuns. É tempo de avançar.

Tempo de Avançar, na Região e no País


2015 terá de ser um ano de mudança. Terá de ser um ano decisivo. Não é necessário entrar em grandes explicações sobre a crise em que o país mergulhou. Ela faz-se sentir nas mais diversas esferas das nossas vidas. Sentimo-la nas nossas famílias, com rendimentos cada mais curtos e em que verdadeiros milagres têm de ser feitos para gerir os cada vez mais magros salários. Sentimo-la nas dificuldades crescentes de colegas, amigos e conhecidos, que caíram no desemprego, que viram os seus negócios fechar, cujos direitos foram facilmente assumidos como privilégios. Sentimo-la nos nossos jovens, forçados a emigrar, forçados a adiar o sonho de poder viver autónoma e decentemente. Sentimo-la nos nossos aposentados e idosos, com reformas e pensões cada vez mais curtas. Sentimo-la junto dos mais carenciados que, por uma razão ou por outra, viram o Estado reduzir-lhes abruptamente ou negar-lhes o apoio social que lhes permitia o mínimo de dignidade.

A presente crise não foi um sonho mau que atingiu o país nos últimos anos. Não foi uma nuvem passageira que ensombrou Portugal e que se prepara agora para finalmente nos deixar, possibilitando o regresso do sol que brilha. A crise continua bem presente. O País está mais pobre, mais endividado, com uma economia ainda mais frágil. E, apesar de todos os sacrifícios impostos, apesar da narrativa que teima em sublinhar que vivíamos acima das nossas possibilidades, não existem evidências ou sequer sinais que os supostos problemas estruturais tenham sido resolvidos. Pelo contrário, com o Tratado Orçamental europeu, determinou-se que a austeridade é para continuar, assumindo-se condições de pagamento da dívida praticamente impossíveis de cumprir.

É perante todo este cenário que sentimos necessidade de sublinhar que um outro caminho é possível. Que a alternativa existe e que necessita hoje, mais do que nunca, de ser assumida com coragem e determinação. Sabemos que o Estado Social é hoje mais necessário do que nunca. O país necessita de um sistema de educação público que seja o primeiro garante do equilíbrio social e o verdadeiro sustentáculo de uma economia mais competitiva. O país continua a precisar de um sistema nacional de saúde que assegure cuidados a toda a população. O país exige um sistema de segurança social universal que assegure a todos o direito à dignidade. O Estado Social não pode ser encarado com um privilégio dos cidadãos e um fardo para as contas do país, mas sim como o verdadeiro sustentáculo de uma democracia que apenas agora completou 40 anos de existência.

Em linha com o panorama nacional descrito, os Açores não são excepção. A situação sócio-económica do arquipélago é grave, com níveis de pobreza e exclusão acima da média nacional, com uma taxa de desemprego particularmente elevada. O desempenho limitado em diversos indicadores de desenvolvimento demonstra que a região enfrenta ainda grandes desafios nos domínios da coesão social. Neste contexto, a crise fez-se sentir nas nove ilhas com particular intensidade, com impactos diversos numa economia que continua a denotar diversas fragilidades. Os Açores precisam por isso, enquanto região, enquanto parte de um todo nacional, que uma mudança efectiva se opere no país.

E a mudança que o país precisa terá de ser feita de opções claras. Não basta, por isso, uma mera alternância no panorama governamental. As eleições legislativas de 2015 serão um momento em que importantes escolhas devem ser feitas. E um novo governo que pretenda uma verdadeira mudança precisará de um mandato claro para que possa assumir as referidas opções a nível nacional e europeu. Uma governação progressista verdadeiramente disposta a mudar o rumo dos acontecimentos, recusando a austeridade como forma de sair da crise e a passividade como forma de estar na Europa.

O contexto de urgência em que o país se encontra necessita de uma cultura cidadã exigente, capaz de mobilizar as mais vastas energias democráticas e progressistas. Juntamo-nos por isso, enquanto açorianos, enquanto residentes nos Açores, ao apelo à Convenção Cidadã que terá lugar no dia 31 de Janeiro em Lisboa. Estamos certos que este será um importante momento na construção de uma política alternativa, inteligente, baseada na cidadania. É Tempo de Avançar.

Álvaro Borralho
João Ricardo Vasconcelos
José Manuel Neto Azevedo

Artigo publicado na passada quarta-feira no Açoriano Oriental

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Em jeito de balanço

Gostaria de aqui fazer um daqueles balanços amplos do ano politico em Portugal. Eleger os acontecimentos que marcaram 2014, as palavras do ano e fazer a consequente futurologia sobre o que esperar para 2015. Vou poupar os milhões e milhões que aqui passam diariamente a este tipo de exercício. 

Em vez disso, vou fazer algo um pouco mais fatela e partilhar aqui o que me mais me marcou em 2014: o facto de ser pai pela terceira vez. Não, não foram os inúmeros desafios profissionais ou as aventuras e desventuras político-ativistas que fui desenvolvendo. E foram muitos, tanto num campo como no outro. 

Mas tudo isto parece um detalhe quando temos um filho. E quando tal acontece pela terceira vez, no meu caso percebi bem que todos os meus outros projetos são indissociáveis destes três grandes mega super projetos. Não que esteja submerso pela paternidade ou que julgue que tudo o resto é paisagem. Nada disso. 

Julgo sim que a paternidade dá-nos aquela força, aquele foco, aquela clarividência perante o mundo que nos torna em super-herois (da nossa rua, claro). Venha 2015.

Quanto custam as Low Cost


É natural que a liberalização de algumas rotas aéreas nos Açores seja um dos assuntos do momento na região. Durante muitos anos, os açorianos tiveram de pagar preços bastante elevados pelas deslocações para o Continente. Porque não se conseguiam os mesmos valores aplicáveis às passagens Lisboa-Funchal? Porque é que um turista continental teria de pagar centenas de euros para ir aos Açores quando possui passagens a 20 ou 30 euros para inúmeros destinos europeus? 

Os voos da Ryanair e da Easy Jet para os Açores em 2015 surgem assim como a grande boa nova do ano. E embora muitos possam considerar que as low cost implicam uma diminuição do nível de serviço e que as pessoas rapidamente ressentir-se-ão, dificilmente tal constituirá um empecilho ao seu sucesso. Os passageiros estão dispostos a diminuir a sua comodidade em nome dos preços mais baixos. Por outro lado, têm sido também muitos os que têm alertado para os perigos da massificação do turismo no arquipélago. Certo… Mas tendo em conta o cenário actual de diversos hotéis fechados e de desemprego no sector, falar dos riscos da massificação parece despropositado.

No entanto, o detalhe que parece estar a despertar estranhamente pouco interesse a nível regional diz respeito ao impacto que a vinda destas companhias áreas pode ter na SATA. Sendo esta uma empresa regional, com inúmeros trabalhadores nos mais diversos sectores, a sua saúde financeira dificilmente pode ser considerada um detalhe. 

Goste-se ou não, a SATA cresceu consideravelmente nos últimos 15 a 20 anos. De forma mais ou menos sustentada, com a criação da SATA Internacional, a companhia aérea açoriana deixou de ter nos voos inter-ilhas a razão da sua existência, passando então a mover-se em mercados bastante mais alargados. Seja nas ligações ao Continente Português, à Europa ou aos Estados Unidos e Canadá, a SATA alargou em muito a sua atuação, levando a bandeira açoriana a destinos distantes

No entanto, pelo que fomos sabendo aos poucos, os prejuízos na companhia foram-se avultando. Algumas rotas revelaram-se apostas pouco conseguidas e a sua frota carece também de alguma renovação. Informações negativas foram surgindo aos poucos de forma oficial e oficiosa, sem que se percebesse bem de quem é a responsabilidade, muito menos o que está a ser feito para contrariar a situação. Apenas algumas das rotas entre o arquipélago e o Continente continuavam a ser porto seguro da companhia. Rotas estas assentes num mercado fechado e subsidiado, há muito criticado pelos preços praticados, mas cujo modelo foi até há pouco defendido (de forma mais ou menos explicita) pelas autoridade públicas regionais.

É neste cenário que surge a notícia da liberalização. Ou seja, depois de diversos anos em que a empresa se apoiou (erradamente, é certo) num mercado fechado por opção política, este mesmo poder político parece agora apostado em alterar abruptamente as regras do jogo, colocando de imediato em risco quem até então protegera. De um dia para o outro, quem trabalha na SATA, quem sempre deu o seu melhor pela empresa, quem sempre fez o seu trabalho e não tem quaisquer responsabilidades na eventual gestão pouco sustentada da mesma, tem sérias razões para ficar preocupado. A SATA vai estremecer com a vinda das low costs, parece certo. E as autoridades regionais parecem estar pouco empenhadas em acautelar o custo desta mudança de modelo na operadora aérea e em quem nela trabalha.

É natural que a vinda das low costs seja aplaudida pelos utilizadores das referidas rotas áreas. Mas importa que os referidos aplausos não ofusquem as responsabilidades do Governo Regional em acautelar o futuro da SATA. Se não está a fazê-lo, faz muito mal em não ter em conta o referido custo das low costs. Se está a fazê-lo, está a comunicá-lo muito mal. Os trabalhadores da SATA merecem respeito.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental