sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sobre a descida do PSD

O PSD tem hoje a sua primeira forte descida na era Passos Coelho, reflectindo o tiro no pé que foi a apresentação da revisão constitucional e a crítica ao veto da compra da Vivo. A sondagem mostra que até à lavagem dos cestos é vindima. De qualquer modo, a não ser que Passos não aprenda com os erros, tudo leva a crer que não passará de um ligeiro percalço. A ver vamos.
(Imagem: Viriato 15)

António Feio (1954-2010)

António Feio é daquelas pessoas que, apesar de nunca termos conhecido pessoalmente, nos parece sempre tão familiar, não é? E não é só por ser actor, mas sim por conseguir desde sempre irradiar uma atitude e uma forma de estar na vida que gera uma empatia e uma proximidade automáticas. Felizmente estas pessoas nunca nunca morrem.
(Imagem: Palácio de Inverno)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Não podemos demitir a Justiça Portuguesa?!?

E aí está, dois dias depois da conclusão aplaudida de um processo, a tradicional porcaria já foi colocada na ventoinha. Afinal afinal, Sócrates e Silva Pereira, Ministro e Secretário de Estado do Ambiente de então, não foram ouvidos porque não houve tempo. A Justiça Portuguesa consegue assim a enorme proeza não só de assumir a sua profunda incompetência (em anos de processo, não houve tempo…), como fechar uma componente de um processo deixando no ar as suspeitas do costume. Parece triste demais para ser verdade...
(Imagem: 1402 Audio)

Cavaco e a Despolitização das Presidenciais

As presidenciais, sobretudo as mais recentes, sempre se revelaram momentos eleitorais privilegiados para a formação de dicotomias esquerda-direita. Por estar em causa um cargo unipessoal, mas também por o sistema eleitoral assim o proporcionar com a possibilidade de uma 2ª volta. Presentemente, o facto do PSD e do CDS estarem com Cavaco Silva e de PS e do Bloco estarem com Manuel Alegre cria por si só um interessante efeito de polarização. Sem dúvida que candidatos como Fernando Nobre e o candidato do PCP ainda por conhecer estão longe de poderem ficar fora desta equação. Mas as sondagens já estão aí a demonstrar que o grande combate está traçado entre Cavaco e Alegre. E se se proporcionar uma 2ª volta, tal efeito será ainda mais evidente.

Nos próximos seis meses, muitos serão certamente os temas que irão dividir ideologicamente os diversos candidatos. E ainda bem que assim é, porque o assumir de diferenças, o preconizar caminhos diferentes, está na base do próprio fenómeno político. A distinção de posicionamentos, apesar de pouco frequente, é clarificadora para o eleitorado. Neste contexto, a recente proposta de revisão constitucional apresentada pelo PSD assumiu-se como um bom tiro de partida neste sentido. Os recuos propostos nos domínios da saúde, da educação ou dos direitos laborais demonstraram com coerência a linha liberal de Pedro Passos Coelho.

O posicionamento de Alegre não foi complicado a este respeito. As suas críticas surgiram em perfeito alinhamento com todas as forças político-sociais na esquerda do panorama político – partidos, sindicatos, movimentos sociais. Já o posicionamento de Cavaco revelou-se compreensivelmente complicado. Apesar do seu perfil ideológico obrigá-lo a concordar na generalidade com as propostas de Passos Coelho, Cavaco sabe que o perfil ideológico típico do eleitorado português não se tem demonstrado particularmente receptivo a um liberalismo económico puro e duro. Optou, neste sentido, por se manter um pouco ao lado da polémica, escusando-se a comentar com clareza as propostas do novo líder laranja.

Não será de admirar que outros episódios semalhantes a este surjam, com Cavaco a fugir convenientemente de um posicionamento político-ideologico. Do mesmo modo que sabe da pouca simpatia do eleitorado a liberalismos económicos puros e duros, o actual Presidente da República também sabe que o eleitorado tende a ver no Chefe de Estado uma figura para lá da dicotomia esquerda-direita. A expressão “presidente de todos os portugueses” sintetiza bem a referida tendência. Estando em causa uma reeleição, Cavaco fará tudo para despolitizar os seus posicionamentos, abusando certamente da postura presidencial. Alegre fará naturalmente o inverso, pois sabe que só assim poderá distinguir-se do seu principal adversário.

Será portanto um jogo interessante de acompanhar. Ambas as posturas não só são expectáveis, como legitimas. Nesse aspecto, estranho seria que um actor político agisse contra o seu interesse. Dificilmente o fará (a não ser que veja proveitos a médio prazo num posicionamento aparentemente desinteressado). No entanto, para lá de moralismos, não tenhamos dúvidas que um posicionamento assumidamente político-ideológico é mais esclarecedor para o eleitorado. Cavaco dificilmente optará por tal caminho. Assim sendo, resta ao menos esperar que os que nele votarão tenham plena consciência desta sua estratégia, não caindo no erro de o considerar para lá destas coisas da esquerda e da direita. Tal assumir-se-á sempre como um erro grosseiro.
.
Artigo publicado terça-feira no Açoriano Oriental
(Imagem: Sexo Forte)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Não faz muito sentido

Vemos muita gente clamar uma vitória estrondosa pelo facto da Justiça não ter acusado Sócrates de nada. Vemos também alguns opinion makers (aqui e aqui) a defender que Sócrates merece um pedido de desculpas. Ambos acrescentam depois que a Justiça em Portugal funciona muito mal… Há qualquer coisa neste argumentário que não faz muito sentido, pois não? Aplaude-se e usa-se como fundamentação uma decisão judicial e depois acrescenta-se que a Justiça funciona mal?

Pode-se sempre esclarecer que, quando se critica o mau funcionamento da Justiça, aponta-se apenas a morosidade inacreditável dos processos e as cirúrgicas fugas de informação. Ou seja, criticam-se tais aspectos, mas confia-se no entanto na capacidade do sistema produzir Justiça. Humm… Mas esta não é mesma justiça que ilibou Isaltinos, Fátimas Felgueiras, Domingos Névoas e outros que tais?

Moral da história: como é evidente, pode-se e deve-se acreditar na inocência de Sócrates. Não haja dúvidas a este respeito. E é normal que o facto de não ter sido acusado de nada sirva para reforçar seriamente tal convicção. Mas utilizar como tira teimas uma decisão da Justiça portuguesa não é a melhor das estratégias.
(Imagem: Xafarica)

Empresas Excêntricas

A Câmara de Lisboa tem uma longa tradição de “excentricidade” nas suas empresas municipais. Os casos de gestão “exótica” sucedem-se. O último foi este da EPUL, sugerindo que os seus funcionários abdicassem de parte do seu salário e literalmente o doassem à empresa. É muito à frente…
(Imagem: Lisboa Lisboa)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Piadinha que só um ditador merece

1,5 milhões?!? Fogo, o senhor saiu-nos caro até fim...
(Imagem: DDB)

Um digno sucessor de Mário Lino

Depois da nota do seu gabinete ter feito manchetes, António Mendonça veio ontem afirmar que afinal a privatização da TAP não é urgente. Esta é apenas mais uma calinada do ministro que no mesmo dia que afirmava que o novo aeroporto e a terceira travessia do Tejo eram para avançar dentro da normalidade, vinha dizer ao fim do dia que afinal não é bem assim. Os dossiers SCUTs e Chips seguiram também caminhos semelhantes. O seu currículo de trapalhadas começa a ser promissor, já começando a fazer alguma sombra ao seu inesquecível antecessor.
(Imagem: Por tudo e Nada)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Que conveniente...

Acenar com a privatização da TAP com o argumento de que esta não resistirá a uma nova crise é deveras conveniente. Depois do discurso de que "não se deve privatizar uma empresa quando ela está a dar prejuizos", surge a variante do "mais vale privatizar agora antes que venham prejuízos ainda maiores". Todo o tipo de discursos já devem ter sido aplicados para tentar justificar a privatização da TAP, o que não deixa de ser sintomático...

Na Madeira, os deuses estão sempre loucos

«Na festa do Chão da Lagoa, o líder regional madeirense poupou José Sócrates e apontou ao presidente do seu partido. Ou é solidário, "ou então passe bem"». (Público,26/07/2010)
(Imagem: Puta da Loucura)

domingo, 25 de julho de 2010

Vespas e Vestidos no Mude

Vale a pena ir dar um vista de olhos à exposição agora inaugurada no Mude. Vespas, muitas vespas, de todas as formas e feitios estão lá presentes. Pelo meio, vestidos... (?!) É caso para dizer que é pró menino e prá menina.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quando a esmola é grande…

Se foi efectivamente o governo português que travou a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, uma salva de palmas, sff. E a solução do referido país entrar numa espécie de estágio, à semelhança do que acontece com as adesões à UE, em que se avalia o cumprimento de uma série de exigências, parece à partida uma solução razoável.

Resta agora perceber as entrelinhas. É necessário p/ex que este estatuto de candidato não signifique efectivamente o melhor de dois mundos para o regime de Malabo, permitindo que o business se desenvolva a todo o vapor a coberto do referido estatuto e que essas coisas chatas da democracia e dos direitos humanos sejam algo “para se ir fazendo”. Surpreendam-nos, vá lá...
(Imagem: Piri Piri 40 graus)

O oportuno tiro no pé

Olhando para o percurso de Passos Coelho desde a sua ascensão à liderança do PSD, parece que assistimos ao súbito aparecimento de uma espécie de Aquiles. Fruto do desgaste do seu principal adversário, Passos começou a afirmar-se como um concorrente quase impossível de bater dado o rumo dos acontecimentos. Uma boa gestão da componente de comunicação e a união conseguida no partido, aliadas a um estado de graça junto de opinion makerse a uma clara vontade de alternância na opinião pública, tornaram rapidamente o novo líder do PSD no primeiro-ministro que se segue. Conseguiu, portanto, o invejável estatuto de inevitabilidade.

Apenas um calcanhar é apontado a este Aquiles. É que a sua ideologia liberal diverge do posicionamento ideológico típico da maioria do eleitorado português. A importância dada a matérias como o livre funcionamento dos mercados e o inequívoco apoio ao recuo estatal em sectores como a educação ou a saúde serão sempre matérias sensíveis de transmitir à opinião pública e mesmo ao seu partido. O primeiro sinal de fragilidade neste sentido foi a reacção da actual direcção "social-democrata" ao veto do Governo à compra da Vivo pela Telefónica. Usando o fraco argumento de que o Estado não deve intervir nos mercados, Passos deu por si encostado ao posicionamento dos espanhóis, sendo incompreendido pela opinião pública, mas também pelo seu próprio partido. O novo líder esteve mal, mas o assunto foi ultrapassado com alguma celeridade pelo surgimento de outros temas na agenda.

Mas eis que surge então uma monumental escorregadela desta nova direcção do PSD. A proposta de revisão constitucional apresentada revelou-se um tremendo tiro no pé. Conseguiu reunir a esquerda - partidos, sindicatos, movimentos sociais - na crítica aos recuos do Estado Social, mas obteve também a oposição em quase uníssono dos constitucionalistas quanto às mudanças na duração de mandatos e nos poderes do Presidente da República. E Passos bem pode vir explicar que se trata apenas de uma proposta sujeita ainda a discussão. Bem pode emendar à pressa alguns aspectos. As ideias centrais sobre a mesma estão criadas. Se calhar pela primeira vez, esta nova direcção do PSD demonstra um tremendo amadorismo na gestão mediática de um dossier.

É sabido que em política não se ganha, perde-se. Por outras palavras, é sabido que ganham aqueles que menos erros cometem. Nesta perspectiva, o tremendo tiro no pé de Passos Coelho pode e deve ser utilizado massivamente para demonstrar o que o moderno, jovem e dinâmicolíder do PSD tem a propor ao país, detalhando preto no branco a mudança por ele preconizada. E apesar deste deslize de Passos estar a ser aproveitado pela actual direcção do PS com uma boa dose de hipocrisia, importa que este dossier ajude a clarificar o que separa a esquerda da direita nas presidenciais que se seguem. Importa que se sublinhe esta divisão ideológica, estas diferenças de projectos para o país, demonstrando bem aos portugueses o que está em jogo. O combate que ai se aproxima entre Alegre e Cavaco é perfeito neste sentido.

Artigo hoje publicado no Esquerda.net

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A Realpetrolik no seu melhor

Luis Amado vê a aproximação da Guiné Equatorial à CPLP com "naturalidade", acrescentando que “não é difícil perceber as razões porque um país com as especificidades históricas e geopolíticas da Guiné Equatorial procura aproximar-se de uma organização como a CPLP”.

O pragmatismo costuma ser o nome do meio dos Ministros dos Negócios Estrangeitos. De qualquer modo, das declarações de Amado subentende-se que questões como o respeito pela democracia e pelos direitos humanos na Guiné Equatorial são perfeitamente laterais quando está em causa a integração de uma nova potência africana do petróleo.

Isto para já não falar que a ligação do referido país à lusofonia é anedótica. Basta dizer que deixou de ser uma colónia portuguesa no longínquo ano de 1778. O português terá agora de ser declarado à pressa uma das linguas oficiais.
(Imagem:Extreme Centre)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Me very Moderno

"O presidente da câmara de Gaia elogiou a proposta «moderna e ousada» de revisão constitucional do PSD". (TSF, 21/07/2010) Gosto do adjectivo "moderno" aplicado a esta situação. Nos tempos em que toda a gente procura ser "moderno", soa a argumento de peso. Por momentos até fico com pena de não concordar com a proposta, porque eu até gosto de ser moderno, pá... Que chatice...

A 1ª grande escorregadela de Passos Coelho

É oficial: a apresentação da proposta de revisão constitucional do PSD está a revelar-se um tremendo tiro no pé. Conseguiu reunir a esquerda na crítica aos recuos do Estado Social e conseguiu reunir a oposição de institucionalistas e constitucionalistas quanto às mudanças na duração de mandatos e nos poderes do Presidente da República. E até no seio do partido as críticas já se fazem sentir (aqui, aqui e aqui).

Passos bem pode vir explicar que se trata apenas de uma proposta, sujeita ainda a discussão. As ideias centrais sobre a mesma estão criadas. Se calhar pela primeira vez, esta nova direcção do PSD revelou um tremendo amadorismo na gestão mediática de um dossier.
(Imagem: Arrastão)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Esticar a corda

É conhecida a tendência do PSD para levantar o tema da revisão constitucional simplesmente "porque sim". Mas fazê-lo no momento presente, mostrando ao país todos os cánones liberais da nova direcção (ver aqui e aqui, p.ex) é uma jogada arriscada. É possível que alguma coisa nos esteja a escapar, mas actuar assim equivale a colocar neons no seu próprio calcanhar de Aquiles.

A Cultura em Coimbra

Vale a pena ler este artigo do Y sobre as actuais dificuldades de afirmação de Coimbra no plano cultural. Aposto que o artigo fornece-nos um panomara excessivamente decadente deste sector na cidade. De qualquer modo, é elucidativo das dificuldades de afirmação cultural de referência fora de Lisboa e do Porto.
(Imagem: DEEC UC)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A síndrome Peter Pan?

Pelo que pudemos ler, Pedro Alves, o novo secretário-geral da JS, parece querer continuar a linha política dos seus antecessores Pedro Nuno Santos e de Duarte Cordeiro. O que é positivo. Mas o que me deixa sempre alguma perplexidade é ver “jovens à beira dos 30”, com um já significativo percurso profissional, assumirem a liderança de uma juventude partidária. Estarão assim tão próximos dos problemas (e do registo) da juventude que se encontra ainda no secundário, na casa dos 16 anos? E dos jovens do ensino superior, com cerca de 20 anos?

As juventudes partidárias é que sabem o que é melhor para si. E, como é evidente, mais do que um dado do BI, a juventude de alguém afere-se sobretudo pela condição que tem e que procura ter perante a vida. Mas o facto de vermos jovens cada vez menos jovens à frente de juventudes partidárias desperta sempre alguma desconfiança. Soa sempre a síndrome Peter Pan, do quero ser eternamente jovem, parecendo que lá estão não tanto por empenho no mundo da juventude, mas sobretudo por ser um caminho mais fácil de afirmação no seio da estrutura nacional de um partido. É uma tendência antiga das juventudes partidárias e que teima em não ser ultrapassada.
(Imagem: Mi Isla Interior)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

E porque hoje é sexta-feira


Pixies - Hey

Há sons que são como o Vinho do Porto (quando mais velhos, melhor)… Ou como o Peter Pan (nunca envelhecem). Como se o som não fosse suficiente, o vídeoclip acima é um clássico do You Tube.

Made by Paulo Portas

A afirmação de Paulo Portas parece totalmente despropositada e descontextualizada. Uma espécie de devaneio do líder dos populares. O problema é que, como toda a gente sabe, Portas preocupa-se sobretudo em marcar a agenda. E, com maior ou menor grau, conseguiu-o. Portas sempre foi e continuará a ser um mestre da golpada mediática.
(Imagem: Condomínio Privado)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O calcanhar de Aquiles

Passos Coelho é actualmente uma espécie de Aquiles. O estado de graça em que se encontra, por oposição a evidentes sinais de decadência de quem permanece no poder, parece torná-lo invencível. As sondagens dão-lhe vantagem, os opinion makers quase garantem que será o próximo primeiro-ministro e seu partido encontra-se unido como há muito não se via (a entrevista de Paulo Rangel no Domingo ao Púbico é exemplo disso mesmo). Tudo parece correr bem ao novo líder do PSD. E apesar das arriscadas aproximações ao Governo em medidas de austeridade - aumento de impostos, congelamento de salários, cortes nas prestações sociais, SCUTs - o argumento da responsabilidade colou relativamente bem e as sondagens aí tem estado para demonstrar isso mesmo.

No grave momento de crise económica que o país atravessa, o liberalismo económico de Pedro Passos Coelho tem sido aplaudido numa série de matérias: da defesa de cortes nas despesas do Estado à crítica aos boys nas empresas públicas, da crítica ao endividamento público à redução dos salários dos políticos. Passos tem conseguido marcar a agenda em inúmeros domínios, demonstrando que apontar o dedo aos esbanjadores irresponsáveis recorrendo ao discurso do “temos vivido acima das nossas possibilidades” funciona particularmente bem em tempos de crise. O liberalismo do líder do PSD tem permitido que se posicione bem neste tipo de questões.

No entanto, como é sabido, o liberalismo possui também algumas dimensões menos populares, sobretudo no contexto português. A questão do veto do Governo à compra da Vivo pela Telefónica foi paradigmática a este respeito. Passos, de forma coerente em termos ideológicos, criticou o bloqueio de Sócrates à compra pela empresa espanhola. Fê-lo aliás em coerência com a sua postura crítica relativamente às golden shares do Estado, nomeadamente na Portugal Telecom. O problema é que este rasgo de coerência correu-lhe mal. Por mais que o eleitorado não tenha particular afecto por empresas públicas, não gosta da ideia das mesmas cairem nas mãos de capital estrangeiro. E não está preocupado com as regras de livre funcionamento do mercado. Apreciou portanto a acção do Governo Português e, se calhar pela primeira vez, não compreendeu de todo o posicionamento do líder do PSD. Possivelmente nem sequer o eleitorado mais fiél dos sociais-democratas o conseguiu fazer.

E este episódio é apenas uma amostra sobre o quanto algumas ideias liberais de Passos Coelho não terão acolhimento fácil no eleitorado português. “O principal partido da oposição pode ter encontrado um líder que o uniu e que tem boa imagem na televisão. Mas as questões políticas fulcrais neste país, nomeadamente qual deve ser o papel do Estado na economia parecem continuar a separá-lo da maioria dos portugueses.” A frase de Marina Costa Lobo, polítóloga do Instituto de Ciências Sociais, publicada em artigo do Jornal de Negócios na passada semana, sintetiza bem o calcanhar do Aquiles do PSD.

Como vai Passos Coelho dar a volta a esta questão? Como contornará esta dificuldade ideológica de fundo? Simples: por mais que goste de ser visto como um líder da nova direita liberal, Passos será pragmático. Terá de ser contido nas palavras numa série de matérias. Não quer dizer que não as tente colocar em prática, mas arranjará formas de as apresentar de outra maneira. E será também obrigado a ser flexível numa série de domínios, até porque o liberalismo a sério nunca foi um cânone do seu partido. O novo líder do PSD terá assim de começar a esconder muito bem este seu calcanhar. Caso contrário, o seu estado de graça corre o risco de acabar abruptamente.
.
Artigo publicado ontem no Açoriano Oriental
(Imagem: Luis Bastos)

O Mundo é dos Espertos

A redução da pena de Isaltino Morais é apenas mais um exemplo de como só os pobres diabos são presos neste país. Quem consegue pagar um bom advogado pode ir tranquilamente, de recurso em recurso, vendo ser revista a sua pena. O mundo é dos espertos, como alguns tanto gostam de sublinhar... O mundo não sei, mas este país tenho a certeza que sim.
(Imagem: RTP)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Um "bocadinho" desorientada...

Não coloco em causa a competência da ministra por estar muito pouco informado sobre o seu trabalho. Manifesto-me apenas sobre o que tem transpirado cá para fora, para a opinião pública que se encontra menos por dentro do que se passa no sector da cultura.

Em tempos de PEC, Gabriela Canavilhas causou espanto por, lado a lado com os cortes que anunciou na cultura, assumir que tal prejudicaria fortemente os artistas independentes (se prejudica, então porque corta? Porque não assume outra opção?). Depois ficámos a saber que afinal os cortes não seriam tão grandes quanto isso. A seguir indignou-se de forma pouco feliz, acusando o Bloco de estar por detrás dos protestos dos artistas. Este fim-de-semana presenteou o país com um insólito comunicado ministerial que certamente ficará para a história: congratulava-se com a demissão do seu Director-Geral das Artes. Ontem, por seu turno, ficámos a saber que os cortes anunciados afinal não existirão, pelo menos neste ano.

Canavilhas até pode recolher algumas simpatias por estar a conseguir menorizar os cortes inicialmente anunciados. Mas a sequência de acontecimentos atribui-lhe uma imagem de desorientação política não menosprezável.
(Imagem: Passageiro em trânsito)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre as Presidenciais Brasileiras

Porque as presidenciais no gigante latino-americano são já em Outubro, vale a pena ler o artigo do Público para se ficar com panorama razoável da situação. Depois de Lula, o poder ficará no PT ou regressará ao PSDB?
(Imagem: Da nossa janela)

A Espanha ganhou, mas o Paul é que foi a estrela

Mau sinal

Segundo a OCDE, os portugueses estão entre os europeus que avaliam de forma mais negativa o impacto da imigração nas economias nacionais. Quase 40% fazem um balanço negativo, colocando Portugal no 6º lugar europeu dos menos agradados com a imigração. É um dado a não menosprezar e que infelizmente acaba também por não ser surpreendente. É que quando a crise aperta, a culpa normalmente é do imigrante.
(Imagem: Chuck's Fun Page)

domingo, 11 de julho de 2010

Dica Domingueira

Para quem ainda não passou por lá, vale mesmo a pena visitar a exposição de Nadir Afonso no Museu do Chiado. Estará lá até 3 de Outubro. Conseguir aproveitar os Domingos de manhã, altura em que os museus são gratuitos e que o MNAC em particular se encontra às moscas, torna o programa perfeito. Para mais informações sobre a obra do pintor/arquitecto, ver aqui.
(Imagem: MNAC)

sábado, 10 de julho de 2010

Realpetrolik

A anunciada admissão da Guiné Equatorial na CPLP é uma anedota de mau gosto. De péssimo gosto aliás tendo em conta a triste realpolitik do petróleo que está por detrás da admissão deste recordista de atropelos aos direitos humanos. Ver a este propósito os artigos do Público de hoje (aqui, aqui, aqui e aqui). Ver também o artigo de Marina Costa Lobo publicado há duas semanas no Jornal de Negócios.
(Imagem: Wikipedia)

Exotismos

Já tínhamos visto responsáveis governamentais serem remodelados, vindo depois a público criticar ferozmente o Executivo. Mas ver um Ministério congratular-se com a demissão de um Director-Geral, atribuindo-lhe os grandes males da casa é, no mínimo, “exótico”.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

"Ai chega, chega, chega a minha agulha… ♫"

… afasta, afasta, afasta o meu dedal, Brejeira, não sejas trafulha, Ó bela vem coser o avental” (Beatriz Costa, A agulha e o dedal)

É difícil ficar-se indiferente à intensa aproximação dos últimos tempos entre Sócrates e Passos Coelho. Sobretudo pelas suas consequências, mas também pela fraca qualidade de toda a encenação. Uma sequela de aproximar e afastar constante, uma espécie de pecar compulsivo com um indisfarçável desconforto posterior, um vício ou tentação que gera sentimentos de culpa de parte a parte. Seguem-se depois os ânimos exaltados e o subir de tom na troca de acusações. Após a aproximação, há que dar lugar ao afastamento. O clássico de Beatriz Costa, por entre chegas à minha agulha e afastas o meu dedal, acaba por reflectir de forma trágico-cómica o referido fenómeno.

Tudo parece ter começado a intensificar-se com o PEC II. Aprovado pelo PS e PSD com medidas duríssimas, foi interessante verificar como o elogio mútuo da responsabilidade apareceu sempre intercalado com um apontar de diferenças e responsabilidades. As ligeiras querelas que surgiram deram particular jeito, ficando bem na fotografia. A série Chips & SCUTs foi igualmente interessante. Durante a manhã tínhamos entendimento à vista, ao fim da tarde era-nos servida uma discussão de meia-noite.

Mais recentemente, as reacções ao veto à compra da Vivo pela Telefónica também têm sido curiosas de observar. Ora tivemos dirigentes laranjas a colocarem-se ao lado do Governo (e.g. Paula Teixeira da Cruz, reflectindo certamente o posicionamento da maioria do eleitorado social-democrata), ora temos Passos Coelho a sublinhar que o Governo agiu mal, não deixando o mercado funcionar. As trocas de acusações de ajoelhamento perante os espanhóis e de atitude colonialista sucederam-se.

Por último, a questão da proposta de revisão constitucional que o PSD promete apresentar também tem gerado alguns episódios interessantes. O mais recente deu origem a uma troca de acusações em que Sócrates, num rasgo de progressismo, disse que não contassem com ele para introduzir o neoliberalismo na Constituição. Passos respondeu ao seu parceiro político das 2ªs, 4ªs e 6ªs que não existia qualquer tendência neoliberal no PSD (?!?).

Por entre tantas aproximações intercaladas de declarações públicas de repúdio, os portugueses lá vão assistindo entediados a este filme de série B. E o recurso à musicalidade para ilustrar o que se está a passar acaba por ser uma solução legítima para os mais deprimidos. Para aqueles que apreciam os clássicos, A Agulha e o Dedal é perfeito. Para explicar às crianças o que se está a passar, poder-se-á recorrer ao “Ora chega, chega, chega, Ora arreda lá pr'a trás!“ do “Indo eu a caminho de Viseu”. Finalmente, para quem aprecia um estilo tipo música do mundo, neste caso não deverá perder o encantador tango do bloco central.

Artigo publicado hoje no Esquerda.net
(Imagem: Mundo Utópico da Dri)

Num quiosque perto de si

Já saiu a edição de Julho do Le Monde Diplomatique. Sumário completo do mês aqui.

Sobre as libertações em Cuba

Embora tímidos e infinitamente insuficientes, são positivos os sinais que chegam de Cuba. Será que os dirigentes cubanos alguma vez compreenderão que só com a democracia política se pode conseguir a verdadeira revolução?
(Imagem: Latin Heat)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

RIP RCP


Mais um órgão de comunicação social a encerrar. Depois do 24 horas e do gratuito Global Notícias, eis o Rádio Clube Português. O Verão está a deixar mais pobre a imprensa portuguesa.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Descoberta da Semana


Só ontem descobri a funcionalidade do You Tube que permite gerar automaticamente uma playlist musical com base na primeira música que escolhemos. Por exemplo, ao ouvir o Icecream dos New Young Pony Club, basta seleccionar o botão identificado na imagem acima e conseguimos 40 músicas dentro do mesmo género musical. Entre sons conhecidos e grupos que nunca ouvimos falar, a funcionalidade “parece adivinhar” o tipo de música que procuramos. É brutal. Para quem ainda não conhece, vale a pena experimentar. Equivale a criar uma rádio própria com um simples clique.

Pão para a boca

Este caso do alegado favorecimento do Turismo de Portugal colocando publicidade na ControlInvest (DN, JN) levanta o velho problema dos efeitos da publicidade do Estado nos órgãos de comunicação social. Em tempos de crise, onde sobretudo a imprensa escrita passa por grandes dificuldades, a captação de publicidade de organismos públicos surge como pão para a boca.

De que forma tal distribuição de benesses se reveste de um carácter político? De que forma influencia rumos editorais? E se tal pode acontecer em órgãos nacionais, imaginem o efeito deste fenómeno da publicidade pública nas imprensas regionais e locais… Eis um assunto que merecia ir para a lista de coisinhas importantes que mereciam ser estudadas em Portugal.
(Imagem: Kiosk Sapo)

terça-feira, 6 de julho de 2010

A Revolução Feminina em Marrocos

Bom artigo de Paulo Moura na Pública sobre a mudança da condição feminina em Marrocos. Relata a revolução em curso neste país muçulmano aqui tão perto. Vale a pena ler.
(Imagem: Público)

Por falar em “reflexão”…

De Paulo Pedroso a Ferro Rodrigues, de João Proença a Mário Soares, algumas críticas à esquerda já se fizeram sentir nas jornadas parlamentares dos socialistas (apenas é de estranhar a ausência de António José Seguro). É natural que assim tenha acontecido. Aliás, é conhecida a tendência do discurso interno dos partidos do centro do espectro partidário recair um pouco para os extremos nos momentos de reflexão interna. São dinâmicas normais, portanto.

Mas se calhar, para além do discurso que servirá sempre para encher algumas linhas nos jornais, era mesmo importante os socialistas começarem a aproveitar estes momentos para pensar, de forma implícita, no pós-Sócrates. Não só em termos de liderança, mas também em termos programáticos.

Já surgem rumores de movimentações neste sentido porque se sabe que reconstruir o partido depois de uma liderança tão forte não será tarefa fácil. O Congresso de Fevereiro, depois das presidenciais, será um momento interessante neste sentido. Veremos que alternativas se dão a conhecer (até) lá.
(Imagem: JRP)

Um bocadinho de bom senso, sff

Importa não desvalorizar, muito menos escarnecer, o tipo de crimes que parecem estar a ocorrer na linha de Cascais (ver aqui ou aqui). Mas importa também ter presente que, com a entrada da silly season, parece que subitamente o crime varre o país. Os telejornais começam então a abrir com o assalto à lavandaria das Olaias, com o roubo da ourivesaria em Matosinhos e com as burlas a idosos no Alentejo.

Haja bom senso. É que é muito mais plausível que a ausência de notícias da actualidade nacional empurre a comunicação social para uma cobertura extensiva da criminalidade, do que a ideia que os criminosos e delinquentes resolvem todos cometer crimes quando os termómetros começam a ultrapassar os 30 graus.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Do triste ao deprimente

Ver o ícone da equipa partir para um clube rival sem mais é triste. Mas ver o presidente do clube a tentar linchá-lo em público é deprimente. Não sou grande craque da filosofia futebolística, mas linchar publicamente alguém que é/foi capitão de equipa (i.e. que foi escolhido pelos seus colegas) é capaz de não ser lá muito boa ideia. Penso eu de que…
(Imagem: NAF Brandoa Madragoa)

Sobre a “troca de mimos" do momento

O Bartoon, como sempre, ilustra na perfeição a profundidade desta "troca de mimos" entre Sócrates e a Comissão Europeia.
(Imagem: Bartoon, Público 05/07/2010)

domingo, 4 de julho de 2010

Sugestão de Leitura


Bom artigo da New York Review of Books publicado ontem no P2 sobre o progressiva perda de influência do sionismo liberal na importante comunidade judaica americana.

sábado, 3 de julho de 2010

Cabecinhas Pequenas

Em tempos de austeridade, e num acto que vale sobretudo pelo simbolismo, a Assembleia da República determinou que as deslocações aéreas dos deputados inferiores a 3 horas passarão a ser feitas em classe económica. Mas parece que foi complicado porque muitos deputados, nomeadamente dos Açores e da Madeira (mas não só), consideraram que tal era desprestigiante. Assim se vê o que vai dentro de algumas cabecinhas. É que só cabecinhas muito pequenas podem achar que é desprestigiante para os representantes do "povo" viajarem lado a lado com o "povo".

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ok, já chega, vá lá

Depois dos chips, começa agora a adivinhar-se um acordo na questão das SCUT. Após ter mantido o PS debaixo de fogo durante dias, submetendo-o a grande desgaste, o PSD assume agora uma postura de "ok, já chega, vá lá... Bora dar uma oportunidade a estes coitados".
(Imagem: Class X Radio)

O que poderíamos fazer com 5 mil milhões?

Obviamente que não é desejável um Estado totalitário em termos fiscais, que actue como uma espécie de inquisidor, como um big brother junto dos cidadãos e empresas. Não é isso que se pede. Mas é vergonhoso, sobretudo num momento como o presente, percebermos que se perderam 5 mil milhões em impostos nos últimos anos. No fundo, 3% do PIB, correspondendo a mais de quatro "pacotes" de aumentos de impostos como o lançado em 2010 no âmbito das medidas adicionais ao PEC, deitado fora sobretudo devido a prescrições na cobrança de dívidas fiscais. Não pode ser. O crime não pode compensar.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O que os Portugueses pensam sobre a crise

Estranho seria se os portugueses estivessem todos a aplaudir as medidas de austeridade. Mas a sondagem divulgada na RTP e no DN é sintomática de como a opinião pública encara o rumo que está a ser seguido e as conclusões que daí retira.

Cuidado com os apolíticos

Desde o princípio dos tempos existem políticos ou candidatos a políticos que fazem questão de demonstrar o seu desapego pela actividade política. Fazem, desde modo, uma exaltação da apolítica ou da não-política, fórmula encontrada para que lhes atribuam algum distanciamento de uma classe pouco afamada junto da opinião pública. Este tipo de comportamento reflecte-se em diversos tipos de posturas, mas existem duas que são clássicas: 1) fazendo crer que a actividade política não resulta de uma vontade do próprio, mas sim de uma espécie de dever para com o país, um duro sacrifício a que se submetem em nome dos seus compatriotas; 2) colocando-se acima da política, acima dos partidos, acima da esquerda ou da direita, afirmando-se para além de tudo disso, o que quer que tal signifique.

Curiosamente, e cada um à sua maneira, dois dos actuais candidatos à Presidência da República têm alguma tendência para recorrer às posturas apolíticas. No caso de Cavaco Silva, desde a famosa história da rodagem do seu novo Citroen BX ao Congresso do PSD na Figueira da Foz em 1985 que é conhecida a sua crónica atitude de distanciamento relativamente à actividade política. No fundo, parece que nunca foi Cavaco que quis assumir cargos. Foram sempre os outros que lhe pediram que assim o fizesse. E mesmo depois de ter sido 10 anos primeiro-ministro e 5 anos Presidente da República, continua sem se considerar um político.

O caso de Fernando Nobre é naturalmente diferente. O médico e presidente da AMI fez questão de se assumir desde o ínicio como não-político, como não ligado aos partidos políticos e, de forma ainda mais arrojada, acima de qualquer divisão esquerda-direita. Era espectável que a sua candidatura procurasse manter uma postura de independência. No entanto, no meio de tanta negação, os eleitores podem, deste modo, ficar sem saber muito bem o que pensa e o que defende Fernando Nobre. Guiar-se-á apenas pelo seu bom senso, será? Espera portanto que votem no seu bom senso?

Como é evidente, as posturas acima não acontecem por acaso. A actividade política e seus protagonistas são desde sempre encarados com desconfiança por grande parte da opinião pública. E tal não é um exclusivo português, mas sim uma tendência consolidada em todo o mundo ocidental. A política é uma actividade que, também devido à elevadissima exposição mediática a que é sujeita, transpira vícios, faltas de honestidade e verticalidade, ambições desmedidas, entre outros traços pouco abonatórios. O político parte por isso para a negação da sua condição na tentativa de ganhar alguma credibilidade extra. Tenta apresentar-se como um cidadão comum, sem os tais vícios que são atribuídos aos seus correlegionários.

O problema é que tal distanciamento artificial do mundo político acarreta reversos da medalha há muito conhecidos. Por exemplo, o político que sublinha que a sua função é uma espécie de sacrifício pessoal que faz em nome do povo e do país habilita-se a que tirem sérias ilações sobre a sua falta de frontalidade ou mesmo honestidade. Por seu turno, a fuga permanente aos rótulos de esquerda ou direita também pode não o engrandecer. É que, com todos os defeitos que possuem, tais dimensões são traços que asseguram alguma coerência ideológica ao actor político. Dotam a sua acção de alguma previsibilidade, fazendo que com que a mesma não dependa apenas de coisas tão relativas como o bom senso ou o estado de espírito. Em suma, a política pode não ser a mais nobre das actividades, mas entrar ou permanecer nela negando-a acaba por reflectir traços pouco abonatórios.
.
Artigo publicado terça-feira no Açoriano Oriental
(Imagem: Horta do Zorate)