terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sai uma dose de jornalismo decente para a mesa do fundo sff


No dia em que um novo Governo é anunciado, corro os três canais de notícias (23h15). Dois deles estão a falar de bola... E no terceiro surge o Medina Carreira...

Open Data e Big Data


No mesmo dia, e de forma diferente, chegaram-me às mãos três bons artigos sobre a temática dos dados. Para os interessados ou simples curiosos, aqui ficam as referências:

(Imagem: Slideshare)

Prova de Fogo


Se não existirem surpresas de maior, António Costa liderará o próximo Governo Constitucional. Depois de uma saga que dura há várias semanas, com os prognósticos a mudarem de dia para dia, parece ser finalmente este o desfecho mais provável. Não será um Governo de Esquerda, como desde o primeiro dia começou por ser apelidado por muitos. Será sim um Governo do PS com o apoio dos partidos da esquerda parlamentar. Um pequeno detalhe que faz evidentemente toda a diferença.

Um Governo de Esquerda exigiria, desde logo, que existisse um entendimento pré-eleitoral entre as forças políticas. Não necessariamente uma aliança pré-eleitoral, mas pelo menos um compromisso assente em linhas programáticas comuns, devidamente apresentado e clarificado perante o eleitorado. Algo que demonstrasse o alinhamento dos partidos da esquerda, as pontes e os denominadores comuns chegados em diversas áreas, e que se materializariam depois num determinado programa de Governo. Este tipo de plataforma de entendimento prévio teria sido fundamental para que o eleitorado estivesse desde logo plenamente consciente do alinhamento das forças políticas em causa.

Ora, gostemos ou não, a forma como foi construído o actual entendimento PS-BE-PCP-PEV foi bastante diferente do cenário acima. Na verdade, foi um processo que surpreendeu tudo e todos. Se Costa, Catarina e Jerónimo estiveram bem em reagir imediatamente ao resultado eleitoral, colocando desde os primeiros dias em cima da mesa o que estava a ser construído, a verdade é que o cenário entretanto desenvolvido era muito pouco evidente antes de 4 de Outubro. A direita política foi surpreendida, os comentadores também, assim como o eleitorado. E parece evidente que nem os militantes dos referidos partidos deixaram de acolher com surpresa (a maioria positivamente, mas nem todos) os esforços de entendimento empreendidos.

De qualquer modo, apesar das conhecidas fragilidades do processo constitutivo do entendimento à esquerda, tudo indica que a experiência governativa que ai vem será provavelmente das mais interessantes da nossa democracia. A busca de compromissos obrigará cada um dos quatro partidos da esquerda a ter de conciliar a sua matriz programática com a evidente necessidade de compromissos. Terá de conciliar as grandes expectativas do seu eleitorado com a necessidade de manter uma solução governativa que dependerá sempre de um esforço comum. Com naturais e suportáveis riscos associados, veremos a democracia a funcionar no seu melhor.

Por outro lado, a experiência governativa que aí vem não deixará de ser promissora porque, pela primeira vez, a esquerda abandona em força a confortável posição de costas voltadas das últimas décadas. E agora nada poderá ser como antes. As expectativas estão criadas, demonstrou-se contra a opinião de muitos que um entendimento é possível e os dados estão lançados para que, no futuro, o referido entendimento possa acontecer inclusive com maior robustez. Uma página importante da democracia portuguesa encontra-se prestes a ser virada.

O Governo de António Costa será a maior prova de fogo para a esquerda portuguesa dos últimos anos. O sucesso do entendimento à esquerda abrirá com certeza a porta a futuros entendimentos, a nível central ou mesmo local. Por seu turno, o seu insucesso implicará danos em cada uma das forças políticas e estenderá uma passadeira vermelha a uma maioria absoluta PSD-CDS. 

Não há espaço para falhas nos tempos que aí vêm. A esquerda estará com certeza à altura da oportunidade que todo este processo abriu. 

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

PS: Artigo escrito antes de ser conhecida a resposta de António Costa às 6 questões ontem colocadas por Cavaco Silva.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Cavaco surpreendeu (ao não surpreender)


Por ter uma posição tão defensiva e por colocar condições tão facilmente ultrapassáveis. Ao ponto da resposta socialista já ter sido enviada a Belém. Será que simplesmente achou que era tempo de recuar e de remeter-se ao seu papel? Quando a esmola é grande...

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Cavaco sem tempo para indigitar Costa porque "agora mete-se o Natal e o Ano Novo"

Notícia completa aqui.  O senhor de Boliqueime é um malandreco. Sabe muito bem que cada dia que passa, que cada dia de indefinição, será sobretudo imputado à esquerda. Para quê a pressa? 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O Povo não gosta de Desassossegos

Estamos a viver tempos políticos interessantes. Com certeza dos mais interessantes das últimas décadas. O facto de termos hoje um cenário altamente improvável há pouco mais de um mês atrás, onde a cada dia que passa há novidades, há novas perspetivas e há expectativas crescentes, faz com que a política tenha subitamente voltado a ser discutida intensamente. As pessoas sentem-se obrigadas a posicionar-se: “Existe ou não legitimidade política para um Governo de Costa apoiado pelo Bloco e PCP?”; “Cavaco dará ou não posse a Costa?”; “Como reagirão os mercados a esta nova solução governativa em Portugal?”; “Um Governo de Costa conseguirá aguentar uma legislatura?”. Perguntas que nos invadem todos os dias através dos telejornais, da imprensa escrita, das redes sociais.

No entanto, se estes são tempos interessantes para comentadores e estudiosos, para activistas e amantes da política, a generalidade da população não vive naturalmente o atual momento com o mesmo entusiasmo. Tem opiniões genéricas e posiciona-se sobre o que se anda a passar, mas não anda propriamente a perder o sono com estas matérias. Mais do que estarem interessados em "acordos históricos à esquerda" ou na condenação de supostos “golpes de secretaria”, a maioria dos portugueses espera sobretudo poder ter alguma definição a curto prazo. Quer saber quem é o Governo, quem é a oposição e de que modo tal se refletirá no seu bolso a curto e médio prazo.

A generalidade dos portugueses não passa propriamente os seus serões a ver os debates nos canais de informação. Não compra diariamente o jornal e não anda nas redes sociais a discutir o futuro do país e do mundo. Para a vastíssima maioria das pessoas, a política é algo relativamente distante. Que importa ter debaixo de olho porque o que lá se passa reflectir-se-á nas suas vidas, mas que se acompanha com peso e medida. Assim sendo, a maioria do eleitorado quer sobretudo alguma estabilidade política, que lhe permita enfrentar os seus dias com alguma previsibilidade e evitando surpresas desagradáveis (como a crise em que o país mergulhou nos últimos anos).

Deste modo, deverá ter-se este referencial em mente para traçar e analisar os cenários futuros. Por exemplo, se Cavaco Silva nomear António Costa e rapidamente se formar uma solução de governo que garanta estabilidade ao país, a vasta maioria do eleitorado conformar-se-á com a mesma. PS, Bloco e PCP enfrentarão desafios gigantescos de articulação, de confiança, de posicionamentos, é um facto. Mas se o contexto internacional ajudar e as perspectivas económicas, verdadeiras ou não, continuarem a ser de crescimento, teremos uma solução duradoura e com o necessário apoio popular.

Mas a mesma lógica poderá aplicar-se caso Cavaco decida manter o atual Governo em gestão. É um cenário bastante menos provável, mas o actual Presidente da República já demonstrou ter uma forte queda para a imprevisibilidade. Se por hipótese Cavaco decidisse manter Passos e Portas em gestão, a maioria parlamentar de esquerda enfrentaria dificuldades sérias para deslegitimar o Governo em funções. Apesar dos naturais choques iniciais, rapidamente a maioria da população demonstraria que não quer ir às urnas outra vez. Que gosta pouco de conflitualidade politica e que, por isso, dever-se-á “deixar o Governo trabalhar”.

A estabilidade, a forma como o contexto internacional a propicia ou não e a gestão das expectativas do eleitorado a este respeito, são as questões centrais dos próximos tempos. Qualquer que seja a solução que seja adoptada após o chumbo que hoje ocorrerá do programa do Governo, esta terá de gerir a estabilidade com um dos bens mais valorizados pelos Portugueses. O povo não gosta de desassossegos.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Os dois lados de uma moeda


Pedro Nuno Santos dá hoje uma entrevista ao Público centrada no acordo em desenvolvimento à esquerda. Na página e meia de perguntas e respostas, consegue ser de uma disciplina irrepreensível, não dizendo nem mais nem menos do que deve dizer, não comprometendo o que ainda está a ser negociado, não beliscando qualquer dos seus parceiros à mesa das negociações. PNS apenas não pouca palavras no optimismo com que encara o processo em curso.

E qual é o outro lado da moeda de quem lê a entrevista? Percebe-se claramente que é necessária uma disciplina férrea, nervos de aço e uma grande dose de optimismo para colocar um futuro acordo destes de pé. Embora muito pouco esteja a transpirar cá para fora, percebe-se que as máquinas partidárias estão nervosas e que o que está a ser construído baralha muitas contas internas Como é natural, este não é o melhor dos sinais a deixar passar para fora...
(Imagem: Público)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Uber e Airbnb: afinal qual é o problema?


Depois das reações à Uber que se verificaram em diversos países , também o Airbnb enfrenta agora alguns percalços, nomeadamente na sua cidade mãe - São Francisco. Mas qual é o problema com este tipo de aplicações?

Como é evidente, o problema não está nas aplicações em si, mas sim na mudança que vieram despoletar nos respetivos sectores. No fundo, vieram potenciar o que há muito existia - transporte privado e alojamento local respetivamente - permitindo que atinja agora proporções até pouco inimagináveis. E vieram colocar a nu diferenças gritantes na regulação no seio destes sectores que importa agora acautelar. 

Impedir as Uber ou as Airbnb de operar equivale, com o devido respeito pela história, à destruição de máquinas pelos operários. Não faz sentido. 

Faz sim sentido que se comece imediatamente a rever a regulação dos respetivos sectores. Se o setor dos taxis tem de obedecer a determinadas regras para operar, e o mundo do transporte privado de passageiros existe hoje quase sem regras, importa que a regulamentação destes dois mundos seja revista, aproximando as duas realidades (eventualmente flexibilizando o sector dos taxis e endurecendo a regulação do transporte privado de passageiros).

O mesmo acontece com o mundo do alojamento local. Está visto que necessita de maior regulação. De outro modo, canibalizará injustamente o sector hoteleiro, ao mesmo tempo que impulsionará ainda mais a especulação imobiliária, sobretudo nos centros históricos das cidades. Lisboa é a aliás um exemplo claro de como a desregulação do alojamento local começa a ter efeitos muito pouco saudáveis para quem vive no centro das cidades.

Wake up and smell the coffee


Quando somos levados a pensar que o drama dos refugiados veio despertar consciências... Quando somos levados a pensar que a calamidade em curso, com as suas imagens difíceis de apagar, despertou o melhor que a solidariedade e fraternidade podem ter... Embatemos de frente com a realidade. A extrema-direita, o racismo e a xenofobia ganharam com tudo isto um novo fôlego. Aqui no rectângulo, o fenómeno não é tão evidente. Mas leva-me a crer que apenas varia a intensidade da evidência.
(Imagem: Reuters)

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Governo das Esquerdas ou Governo do PS com o apoio parlamentar das Esquerdas?


Sendo esta uma questão aparentemente semântica, faz naturalmente toda a diferença. Goste-se ou não, é sobretudo a segunda possibilidade que está neste momento em cima da mesa, como aliás tem vindo a ser sublinhado de forma mais ou menos cautelosa quer pelo PCP, quer pelo Bloco.
(Imagem: Observador)

domingo, 1 de novembro de 2015

A Turquia ficou mais longe


Péssimas notícias. A maioria absoluta obtida por Erdogan é uma espécie de moção de confiança ao endurecimento do regime levada a cabo pelo AKP nos últimos anos. É impressionante como, em tão pouco tempo, conseguiu-se afastar tanto a Turquia da democracia. O país encontra-se agora no lugar 149º, num total de 180º, do ranking sobre liberdade de imprensa dos Repórteres sem Fronteiras. Comentários para quê?

Racismo em Angola


Boa peça hoje no Público sobre o racismo em Angola. Relembra que a colonização Portuguesa, mesmo em plena segunda metade do século XX, estava longe de ser branda no que à questão racial diz respeito. Vale sempre a pena voltar a desconstruir estes mitos da memória coletiva.

A peça faz também um bom retrato da situação nos últimos 40 anos, onde a elite colonial branca foi substituída por uma nova elite africana, mas as estruturas de dominação foram apenas ajustadas. Como aliás acontece na vasta maioria dos países vítimas de colonização.

A raça (ser mais ou menos branco, mais ou menos presto), para além de ser algo sempre presente no subconsciente coletivo, mesmo nos dias de hoje, cruza-se evidentemente com as condições económicas da população. Quanto mais escura a cor da pele, muito maior a probabilidade de pobreza.Ver peça aqui e video aqui.