quarta-feira, 30 de abril de 2008

Ironias, muitas Ironias – Resposta ao Dr. Paulo Estevão

Aguardei pela continuação da resposta do Dr. Paulo Estêvão mas, uma vez que esta ainda não surgiu na integra, aproveito para responder já às "questões desnecessárias" avançadas.

Folgo saber que estava a ser irónico, Dr. Paulo Estêvão. Confesso que por momentos hesitei, dado o discurso acutilante por si utilizado. Mas ainda bem que partilhamos este sentido irónico. Aliás, no post em que pareço estar melindrado, estava também a ser irónico. Que coincidência, não é? A ironia tem destas coisas.

De qualquer modo, como concordará, a ironia pode gerar alguns mal-entendidos, sobretudo quando utilizada na palavra escrita. Entre irónicos, tal não constituirá grande problema, mas para os mais sérios pode tornar-se incómodo. Para evitar estas questões, acrescentarei um esclarecimento ao meu post inicial do Activismo de Sofá, sublinhando tratar-se de um discurso irónico. Do seu lado, o Dr. Paulo Estêvão fará naturalmente como entender.

Por último, parece-me oportuno fazer o seguinte esclarecimento. Apesar da presente troca blogosférica de galhardetes, aprecio a actividade do meu “oponente”. Embora me encontre bem distante ideologicamente do Dr. Paulo Estêvão, e não concorde com muitas das suas posições, parece-me que o líder do PPM Açores tem feito um meritório esforço de agitação positiva do ambiente político açoriano. A sua incansável atenção à realidade política regional, como o demonstra aliás a sua activa participação na blogosfera, são virtudes que merecem ser sublinhadas.

No presente caso, e é naturalmente livre de discordar, parece-me que o Dr. Paulo Estêvão se precipitou claramente na resposta ao Activismo de Sofá. A dinâmica calorosa da discussão política propicia, por vezes, este tipo de descuidos. Espero, portanto, e sem pretensiosismo, que o Dr. Paulo Estêvão retire alguns ensinamentos da presente troca de ironias. Eu já retirei os meus.

Saudações

terça-feira, 29 de abril de 2008

António Costa: Primeiros Balanços começam a Surgir

alguns posts atrás, acautelamos a necessidade que António Costa deverá começar a ter em “apresentar obra”. Apesar de ainda beneficiar de um relativo estado de graça, os primeiros balanços começam a surgir. E não são muito positivos…

Na sua crónica desta semana no Público, o insuspeito Pedro Magalhães traça um quadro algo demolidor dos 280 dias de mandato de António Costa. Parte de um episódio recente sobre a ampliação da Gare do Oriente e o desconhecimento da CP. Passa pelas medidas simples prometidas e ainda não cumpridas (pintura de passadeiras, ataque ao estacionamento em segunda fila e em cima dos passeios e recuperação dos espaços verdes). Alerta ainda para a falta de atenção que, em benefício de António Costa, tem caracterizado a comunicação social.

Pedro Magalhães conclui que “uma das consequências de ser ter eleito António Costa parece ter sido a de colocar na presidência da câmara alguém que ainda não se deu devidamente conta de quão limitados são os seus reais poder, influência e capacidade de realização.” Termina a sua crónica com a seguinte frase: “Mas verdade seja dita, António Costa já tinha explicado, na Quadratura do Círculo, que "uma coisa são os valores (de esquerda), outra coisa é a sua aplicação no dia-a-dia."

António Costa tem mesmo de acautelar a sua actuação. De outro modo, a quebra de expectativas em seu torno poderá provocar-lhe surpresas pouco agradáveis no âmbito da sua recandidatura.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Resposta ao Dr. Paulo Estêvão sobre a Disciplina de Ciência Política

O Dr. Paulo Estêvão, líder do PPM Açores e Vice-Presidente do PPM nacional, respondeu ao desafio que lhe lancei, fundamentando a sua posição contra a obrigatoriedade de uma disciplina de ciência política no âmbito do ensino secundário. A discussão começou aqui, seguiu para aqui e aqui. Continua agora com o presente post.

Mas, antes de mais, devo sublinhar o seguinte. Pareceu-me que, de forma algo precipitada, e com vista a enquadrar a sua resposta, o Dr. Paulo Estêvão revelou uma grande facilidade na emissão de juízos de valor, ao mesmo tempo que demonstrou possuir um vasto e intrigante conhecimento sobre a minha pessoa:

1) “O autor do “Activismo de Sofá” é um auto-assumido preguiçoso”;
2) “O seu exemplo de “Activismo de Sofá” não será o melhor exemplo comunitário…”;
3) “[O autor do Activismo de Sofá] abstém-se de dar o seu contributo na “vida real”;
4) “[O autor do Activismo de Sofá] passa a vida a desancar nos desgraçados dos políticos que lhe aparecem na frente. Mas que alternativa oferece o senhor à sociedade? Falta-lhe algum conhecimento ideológico?”
5) “O que lhe falta a si é o mesmo que falta a muitos dos nossos jovens. Garanto-lhe que não resolve isso com aulas de Ciência Política.”

Bem… Confesso ter ficado surpreendido com o tom despropositado de algumas afirmações, que facilmente podem ser entendidas como acusações. Fiquei surpreendido sobretudo tendo em conta o seu autor que, a propósito, não revelou uma grande facilidade na identificação de ironias no discurso - e.g. ponto 1) e 2). Terei entendido mal o tom geral do post? Não me pareceu, mas admito naturalmente ser esclarecido a este respeito.

De qualquer modo, vamos então ao debate de ideias, Dr. Paulo Estevão, que se quer caloroso, mas sem resvalar para afirmações que possam parecer excessivas. Centrar-me-ei na temática da disciplina de ciência política, abstendo-me naturalmente de responder às considerações que teceu sobre este blogue e o seu autor.

a) No que à balcanização do sistema de ensino diz respeito, tendo a concordar consigo, embora não tenha uma opinião solidamente formada a este respeito.

b) Quanto aos conteúdos da disciplina de ciência política existirem em disciplinas como educação cívica e história, tenho as maiores dúvidas. Com o mesmo raciocínio, em última análise, poderíamos quase dizer que os conteúdos da disciplina de Português estão dispersos por uma série de outras disciplinas. Por outro lado, como julgo que concordará, a transmissão eficaz dos conhecimentos de uma determinada área académica faz-se com um corpo global de conteúdos coerentes, e não com a sua “balcanização” (expressão sua) por diversas disciplinas.

c) Quanto ao facto de considerar perigosa a existência de uma “disciplina estatal de explicação da hermenêutica política”, parece-me um argumento pouco sólido à partida. Posso concluir da sua afirmação que duvida do carácter científico da ciência política? Ou duvida do carácter cientifico na elaboração dos programas escolares?
No primeiro caso, é naturalmente livre de ter as suas opiniões, mesmo que as referidas esbarrem no reconhecimento indiscutível, a nível nacional e internacional, da área académica da ciência política.
No segundo caso, com o referido raciocínio, deveremos também acabar com os conteúdos que diz já existirem nas disciplinas de história e educação cívica?

d) Sobre as orientações pedagógicas, a respeito da abordagem dos programas em algumas escolas e municípios deste país, tendo a não ser tão pessimista como o Dr. Paulo Estêvão. Mais uma vez, a irmos por aí, invalidávamos a existência de uma série de outras disciplinas ou conteúdos das mesmas. Não é isso que pretendemos, pois não?

e) Por último, relativamente à solução que apresenta para o desinteresse dos jovens – “uma atitude diferente de todos em relação à vida cívica” – parece-me um contributo um pouco modesto para a “vida real” (expressão sua). Se me permite, neste caso concreto, parece que afinal foi aqui o activista de sofá a tentar apontar soluções de política pública, não caindo portanto em aspirações algo vagas de mudança da realidade social.

Saudações

domingo, 27 de abril de 2008

Orgulhosamente Oportunistas

O presidente do Comité Olímpico de Portugal apelidou hoje de “oportunistas” todos aqueles que defendem o boicote aos jogos olímpicos devido à questão do Tibete ou dos direitos humanos na China.

Oportunistas?!? Será que o sr. presidente do Comité Olímpico português queria mesmo utilizar este adjectivo? Ficámos então a saber que todos aqueles que querem que a China mude, que querem que os direitos humanos sejam respeitados naquela potência emergente, e que utilizam a proximidade dos Jogos para defender afincadamente as referidas causas, são todos uns “oportunistas”. Enfim, sem comentários…

Jardim: o Fait Diver Continua

Alberto João Jardim declara que ainda poderá candidatar-se a líder do PSD. (ainda vamos aqui?!?) Mas, para isso, exige que todos os candidatos que não merecem qualquer confiança o apoiem. Brutal…

Como condição para a sua candidatura, Jardim exige que todos os candidatos o apoiem contra Ferreira Leite. E acrescenta: “Não quero ser mais um metido num saco de gato de candidaturas que não merecem sequer qualquer confiança”,

Com os seus disparates regulares, Jardim lá vai conseguindo manchetes contínuas na imprensa. E contra este blogue falo também. A táctica de Jardim é boa, uma vez que é difícil resistir a descrever ou comentar o disparate.

Resposta Provocatória ao Líder do PPM-Açores

No seguimento do post abaixo sobre a disciplina de Ciência Política, o Activismo de Sofá recebeu o mais curto comentário da sua história: um mero “Não.” Bem… Confesso que esperava um pouco mais do Dr. Paulo Estevão, líder do PPM Açores e Vice-Presidente do PPM nacional.

Como é natural, o post poderia ter sido melhor fundamentado. Poderia ter beneficiado de uma melhor argumentação, sobretudo tendo em conta a problemática tão complexa do alheamento político dos jovens. Mas será que merecia um “não.” tão peremptório ? Quatro simples caracteres?

Terá sido uma gralha do Dr. Paulo Estevão? Se não, confesso que estava à espera de uma maior vontade de discussão por parte do tão activo líder do PPM Açores e Vice-presidente do PPM nacional. Fica a provocação…

sábado, 26 de abril de 2008

A Disciplina de Ciência Política do 12º Ano

Ainda na sequência da recorrente questão do alheamento político da juventude, vale a pena recordar que só muito recentemente foi aprovada uma cadeira de Ciência Política para o ensino secundário. É uma disciplina opcional e consta que ainda é muito pouco leccionada. Mas poderá fazer parte da solução.

A referida disciplina possui uma base programática ambiciosa, mas que em muito poderá sustentar o interesse dos mais novos sobre os domínios da política, do Estado, da democracia. Eis alguns dos módulos previstos no programa da disciplina.

- O Poder Político e o Estado
- O Constitucionalismo Liberal e os Direitos do Homem e do Cidadão
- As Ideologias Políticas
- A Reflexão Contemporânea sobre as Funções e a Extensão do Estado
- Regimes políticos democráticos e não democráticos
- Sistemas de governo na actualidade
- A relação dos cidadãos com a política
- O sistema político em Portugal

Para os mais curiosos, o programa pode ser consultado aqui. Nas páginas 7 a 9 é apresentada a estrutura de conteúdos do programa.

Sem querer ser corporativista, não faria sentido que a referida disciplina passasse a ser obrigatória no âmbito do ensino secundário?

Os Jovens e o Alheamento Político

É um assunto corrente e não um exclusivo português. O alheamento da actualidade política e a preferência por outras formas de participação é típico nas juventudes ocidentais. De qualquer modo, em vez de se assumir como uma quase fatalidade, importa analisar seriamente o contributo do sistema educativo para este progressivo alheamento político.

Não foi ontem, mas não passaram assim tantos anos desde que deixei o 3º ciclo ou o secundário. Garanto que, antes de ingressar na faculdade, o que sabia sobre o 25 de Abril e sobre a história recente portuguesa devia-se muito pouco ao que aprendi na escola. A segunda metade do século XX em Portugal fazia parte daquele pedaço da disciplina de História que os professores guardavam para o fim, e que merecia pouco mais do que meia dúzia de aulas.

Pegando neste mero exemplo dos programas de História, parece que existe muito mais interesse em preparar os meninos para as práticas da agricultura do feudalismo do século XIII, ou para a economia mercantil da expansão portuguesa, do que dotar-lhes de bases históricas recentes que lhes enquadrem o presente.

Desfile do 25 de Abril em Lisboa

Realizou-se mais uma vez, entre o Marquês e o Rossio. Nalguns anos vê-se que a afluência é menor. Noutros, não envergonha ninguém. Continua cá, com velhos e novos, para recordar Abril.

Alguns poderão considerar esta forma de comemorar bastante antiquada. Realizar uma marcha, uma parada, uma manif para comemorar a liberdade? Se calhar por isso é que nunca conseguimos ver lá representantes maiores das instituições políticas do país. Receio de serem assobiados? É bem possível…

De qualquer modo, para saudosos ou esperançosos, para os mais cépticos e para os mais convictos, o desfile tem permanecido ano após ano. Partidos, sindicatos, associações, autarquias, anónimos, entre outros, fazem questão de marcar presença. Comemoram a liberdade, comemoram a democracia. Existirão valores mais dignos de serem comemorados publicamente?

PS: Cavaco anda impressionado com a ignorância dos jovens sobre o 25 de Abril. Para “iluminar” o presente Governo, poderia já agora explicar como combateu a referida ignorância durante os seus 10 anos de governação.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Santana Lopes: Roteiro de um Regresso

Santana é o candidato que enfrentará Ferreira Leite. Está decidido. Trata-se do político que viu o seu governo ser destituído há menos de 3 anos e meio, numa humilhação quase sem precedentes na democracia portuguesa. Vale a pena recordar o roteiro do regresso do menino guerreiro.

Em Dezembro de 2004, Sampaio destitui o Governo de seis meses de Santana após uma governação catastrófica que até já era alvo de gozo em toda a opinião pública. Santana “desaparece” durante um ano e meio. Em Novembro de 2006, publica um livro com a sua versão da injustiça que lhe foi cometida. No mesmo mês, dá a primeira grande entrevista a Judite Sousa. Saiu-se muito bem, conseguindo justificar aquilo que até há um ano era injustificável.

Já em Março de 2007, consegue ir aparecendo cada vez mais na Assembleia, deixando recados ao líder. Aparece no corrente ano como comentador regular na televisão. Após a derrota do PSD nas intercalares de Lisboa, Santana começa a voltar a falar para o partido, criticando a direcção de Marques Mendes. Em Setembro, consegue a aprovação da opinião pública com a sua atitude de não continuar a entrevista interrompida pela chegada de Mourinho. Em Setembro, com a vitória de Menezes assume interesse na liderança da bancada parlamentar e consegue a aprovação do novo líder.

Em Abril de 2008, depois da demissão de Menezes, Santana é candidato à liderança do partido. Não parte como favorito, mas são poucos os que arriscam o prognóstico de uma derrota catastrófica no embate que se segue.

E amanhã, o que se segue? É fantástico como a “besta” de há três anos e meio consegue hoje ser novamente candidato a líder do principal partido da oposição. Santana Lopes é um verdadeiro fenómeno.

Nota: Este texto constitui uma actualização de um post feito em Outubro de 2007. Suspeito que novas actualizações se seguirão num futuro próximo.

O Dark Side do PSD

As dúvidas em torno do candidato da ala Menezista/Santanista permanecem. Os noticiários avançavam ontem com as possibilidades de Santana Lopes e de Alberto João Jardim (?!?) como eventuais candidatos… Os próprios comentadores na Sic-Noticias (Ricardo Costa e Henrique Monteiro) não disfarçavam o incómodo em torno deste Dark Side do PSD.

O PSD sempre se caracterizou pela existência de ínúmeras alas, estruturadas em torno de determinados barões. A corrida à liderança agora em curso revela-se um estudo de caso perfeito para a análise deste fenómeno. Por um lado temos Ferreira Leite, apoiada pelas alas barrosista e mendista do PSD, correntes que apesar de tudo se caracterizam por alguma seriedade.

Mas no que diz respeito a uma candidatura da ala menezista/santanista, teme-se o pior. Santana Lopes?!? Alberto João Jardim?!? Já agora, porque não Valentim Loureiro? Esta ala acaba por representar a face mais populista do PSD. A face que possui maiores carências no domínio da seriedade e honestidade. Representa, no fundo, o Dark Side do PSD.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Ratificação do Tratado de Lisboa: a Oportunidade Perdida

A ratificação hoje do Tratado de Lisboa pode representar uma vitória rumo a um progressivo federalismo europeu. Mas perdeu-se mais uma vez a oportunidade de consultar os cidadãos sobre os destinos da Europa. É lamentável que assim seja.

O tratado cujo conteúdo é desconhecido de 99% dos portugueses bem pode representar uma vitória para a Europa. Mas resta saber se o representa também para os povos europeus. Apesar dos riscos de um referendo, este teria representado uma oportunidade sem pararelo para se discutir a Europa, seus desafios, suas oportunidades. Não foi isso que aconteceu.

Neste contexto, é curioso verificar que foram precisamente os partidos ditos mais europeístas, que tudo fizeram (e conseguiram!) para esquivar-se à discussão e ao escrutínio popular do tratado. Tudo isto como se fosse perfeitamente normal em democracia o afastamento popular das grandes decisões políticas…

terça-feira, 22 de abril de 2008

Ferreira Leite e o Poder das Elites no PSD

Ferreira Leite apresenta-se agora como a principal candidata à liderança. Conseguiu o apoio dos principais barões do partido, o que não é algo a desconsiderar. Basta lembrar o que sucedeu o Menezes, o líder que foi eleito pelas bases há apenas 6 meses atrás…

A corrida à liderança do PSD parece agora estar mais estabilizada. Com Ferreira Leite como candidata, resta saber se a ala menezista/santanista entrará ou não na corrida. Santana Lopes será o candidato? A ver vamos. Mas a actual crise no PSD demonstra bem o papel determinante que as elites do partido possuem.
Menezes foi eleito contra quase todos os barões há apenas seis meses atrás. Não teve a vida nada fácil, sendo sujeito a um desgaste constante. O seu destino decidiu-se na semana em que os únicos dois barões que o apoiavam lhe retiram o tapete: Mota Amaral e a sua saída da Fundação Sá Carneiro e Ângelo Correia e suas declarações. É caso para dizer que, no PSD (assim como na maioria dos partidos políticos), as bases são importantes, mas as elites é que são determinantes.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O Balanço Negativo da Visita de Cavaco à Madeira

Terminada a visita que se iniciou com uma polémica mais do que à altura, o balanço só pode ser negativo. Cavaco Silva esquivou-se claramente na assunção das suas competências enquanto Presidente da República.

As declarações de Jardim quanto ao “bando de loucos” que existe na Assembleia Legislativa Regional Madeirense até poderiam ser consideradas banais dado o espírito de “democrata combativo” do seu protagonista. Mas trataram-se de declarações proferidas nas vésperas da recepção do Presidente da República, órgão de soberania garante, em última análise, da democracia portuguesa. Por outro lado, o facto de Cavaco se ter sujeitado a não ser recebido na Assembleia Legislativa Regional foi também um péssimo sinal transmitido ao país.

No fundo, e perante as contrariedades apresentadas, o que fez Cavaco? Contra todos os apelos da oposição madeirense, literalmente assobiou para o lado, remetendo-se a um vago papel de mediador e de mensageiro da bonança. Como desde logo sublinhou Medeiros Ferreira, “estamos perante a primeira grande derrota política de Cavaco Silva neste seu primeiro mandato”.

Sócrates foi aos Açores, mas à Madeira nem pensar

Sócrates esteve hoje nos Açores no Congresso do PS. Esteve lá a apoiar Carlos César e já num acto preparatório das regionais de Outubro. Outras visitas à região seguir-se-ão até lá, certamente. Nada mais natural. Mas é interessante relembrar que nas regionais madeirenses do ano passado, o primeiro-ministro e secretário-geral do PS nem sequer se deslocou à Madeira.

As regionais de Outubro nos Açores serão certamente um passeio para Carlos César. O seu oponente social-democrata goza de um popularidade ínfima. O congresso do PS que se realizou este fim-de-semana foi uma consagração de César, o socialista açoriano que conquistou a região há já 12 anos. A presença de Sócrates foi importante, mas a sua ausência certamente não impediria o destino já traçado para as eleições de Outubro.

Esta visita aos Açores acontece cerca de um ano depois das regionais antecipadas na Madeira, onde Sócrates nem se deslocou para grande desilusão dos socialistas madeirenses. Acontece também no mesmo dia em que, depois de convidado/desafiado por Alberto João Jardim para visitar a Madeira, Sócrates respondeu não ter nada previsto para os próximos meses.

O primeiro-ministro e secretário-geral do PS gosta de visitar os Açores. É uma região “amiga”. Mas evita a todo o custo a chatice que pode representar uma visita à terra hostil do temível Alberto João. Se calhar, em 2011… Quem sabe?

sábado, 19 de abril de 2008

20 Canções para Zeca Afonso – 25 de Abril, às 21h no CCB

Eis um espectáculo certamente a não perder. Ocorrerá no 25 de Abril no grande auditório do Centro Cultural de Belém. Recordar Zeca Afonso, as músicas de sempre mas com novas sonoridades jazzisticas, é a ementa prometida.

“… a raiz popular presente na música de Zeca Afonso é recriada num contexto inovador que concilia as melodias das canções (vozes), os timbres jazzísticos do trio de Jazz (guitarra, baixo e bateria) que acompanha os instrumentos solistas (saxofone e piano) e a ambiência subtil do quarteto de cordas, numa fusão única de universos musicais que se complementam e enriquecem.”

O espectáculo contará com 11 músicos em palco: Alexandra Ávila (voz), João Almeida (voz), João Paulo Esteves da Silva (piano), Jorge Reis (saxofones), Rafael Fraga, (guitarras), Augusto Macedo (baixo), Bruno Pedroso (bateria e percussões), e o Quarteto de Cordas composto por António Jorge Nogueira (violino), Otto Pereira (violino), Sandra Raposo (viola) e Carlos Costa (violoncelo).

Mais informações sobre o projecto podem ser encontradas aqui. Poderão ser ouvidos alguns temas no leitor de MP3 na barra lateral deste blog. Fica a sugestão.

Eu também sou candidato a líder do PSD!

Foi uma decisão difícil. Reflecti e ponderei bastante. Não sou consensual entre os barões mas tenho recebido muitos apoios das bases do partido. É um sacrifício pessoal mas faço-o pelo PSD e por Portugal!

Desculpem a ironia mas, depois de saber que Patinha Antão é mais um dos ilustres que se dispõe a liderar o PSD e enfrentar Sócrates em 2009, por momentos achei que também aqui o activista de sofá se poderia candidatar. No fundo, o que é preciso para se apresentar como candidato a líder do PSD? Chama-se a comunicação social e pronto, está feita uma candidatura?

Bem, aplauda-se a forte democracia interna que o PSD demonstra possuir. Ou será que esta multiplicação de candidaturas apenas demonstra a total desorientação em que se encontra o partido? Humm… Deixem-me pensar… Um segundo… Ok, acho que me inclino mais para a segunda hipótese.

Os Candidatos a Sério

Depois de um dia em que três candidaturas para levar pouco a sério foram apresentadas, eis que surgem os primeiros sinais das negociações entre barrosistas e mendistas. Os mendistas defendem Marcelo Rebelo de Sousa. Os barrosistas dividem-se entre Ferreira Leite e Rui Rio. O que será melhor para o PSD?

Uma candidatura de Marcelo parece pouco provável. Estranho seria se o professor de Direito quisesse abandonar a sua confortável posição de senador para se sujar com a luta política, ainda por cima tendo em conta as fracas possibilidades de êxito em 2009. Quanto a Rui Rio, tenho dúvidas que as bases do PSD queiram novamente entregar o destino do partido a um autarca, ainda por cima que governe algures nas margens do Douro.

Neste contexto, Ferreira Leite parece ser uma hipótese com maior viabilidade. Reúne muitos consensos entre os barões do partido e, estranhamento ou não, agrada a uma larga fatia do eleitorado. Estará disposta a voltar realmente à luta política? Eis a questão.

Vá lá, chega de brincadeira. Onde estão os candidatos a sério?

Em apenas um dia, três candidatos à liderança do PSD: Aguiar Branco, Passos Coelho e ainda Neto da Silva. Humm… Quer dizer… No fundo… Bem, agora a sério, onde estão os verdadeiros candidatos?

Esta sexta-feira foi grande e certamente de grande inquietação nos bastidores sociais-democratas. Quem se chega à frente? Alguns não hesitaram, mostrando-se dispostos a salvar desde já o partido. Mas será com qualquer um destes ilustres desconhecidos que o PSD pretende enfrentar Sócrates em 2009? Vá lá vai…

Estranhamente ou não, foi na despedida, hoje em entrevista à SIC Noticias, que Luis Filipe Menezes se revelou mais certeiro. Considerou que aqueles que já se apresentaram como candidatos à liderança não deviam ser levados a muito sério. Aguardemos então que os reais candidatos se apresentem nos próximos dias.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Saída de Menezes: E agora, PSD?

Não foi preciso o recurso “à bomba”. Menezes saiu pelo seu pé. Nem sequer concedeu aos seus críticos a possibilidade de o enfrentarem em congresso ou em directas. E agora, PSD?

O curto reinado do autarca de Gaia chegou ao fim. Possivelmente num tempo recorde. Acusando um desgaste impressionante para alguém que foi eleito há pouco mais de 6 meses, Menezes surpreendeu pela forma como bateu com a porta. Resta saber como se alinharão agora os seus críticos.

Quem se chegará à frente para disputar a liderança de um partido em cacos? Aguiar Branco? António Borges? E Santana, o que fará? E os barrosistas, como Morais Sarmento ou Arnaut? E os barões, como Ferreira Leite, por exemplo? São muitas as interrogações… A saída sem aviso prévio de Menezes colocou o típico dilema aos interessados na liderança: avançar agora e enfrentar Sócrates em 2009 com fracas hipóteses de sucesso, ou esperar pacientemente pelo cenário pós-2009?

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Eu é que sou o presidente da Junta!

Começou hoje o julgamento de Avelino Ferreira Torres, O ex-presidente da Câmara de Marco de Canavezes e actual vereador de Amarante reafirmou bem o seu estilo ao longo do dia. As suas declarações à televisão e as descrições que nos chegam do julgamento deixam-nos a pensar sobre a qualidade de alguns autarcas que existem neste país. O curto relato feito pelo Público sobre um episódio do julgamento é bastante elucidativo a este respeito.

«"O senhor procurador é tendencioso", afirmou o ex-presidente da Câmara do Marco de Canaveses, tendo sido mandado calar pela juíza-presidente, Teresa Silva. "Então tape-me a boca", retorquiu. "Tapar a boca não é uma expressão que se use neste tribunal", advertiu a juíza. Ferreira Torres não se conteve: "Não admito lições de moral quando sou mais velho que a senhora". "A idade aqui não conta, senhor Avelino Ferreira Torres", admoestou, de novo, a presidente do colectivo.»

“Já no exterior do tribunal, Ferreira Torres voltou a insurgir-se contra a juíza. "Não é a senhora juíza que me diz como devo falar. Sou maior e vacinado", afirmou aos jornalistas. A postura do procurador também foi visada pelo arguido. "Não admito que o procurador fale com uma testemunha [neste caso, a assistente no processo] como seja a guardar cabras", concluiu.”

Desculpem-me o previsível desabafo mas como é que tão eloquente personalidade conseguiu ser eleita para onde quer que seja? Como é possível que este estilo do “eu é que sou o presidente da junta” ainda consiga vingar em tantas zonas do país?
A propósito, vale a pena recordar a peça do Edição Extra sobre Avelino Ferreira Torres. Aqui ao lado no Activismo TV ou no Activismo Tube.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Santana Lopes: Um fã de Berlusconi

A vitória de Berlusconi fez novamente tremer uma parte da Europa. Como é possível que o povo italiano reconduza ao poder um dos mais populistas líderes dos nossos tempos? Mas há quem não se preocupe com tais dilemas. Santana Lopes é um deles.

Aqui há um ano, ou menos, em Itália, e sobre Itália, dizia- se que não havia alternativa de direita. Pois lá está, outra vez”. E acrescenta: “Acima de tudo, há que felicitar Silvio Berlusconni pela sua enorme capacidade de resistir, de acreditar, de ultrapassar obstáculos, de lutar, de ressurgir das derrotas, de vencer os seus adversários, de calar tanto detractor.

Bem…Gabe-se a sinceridade. É caso para dizer que ao menos ficamos a saber bem quem são as referências de Santana Lopes.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Sócrates, Fernanda Câncio e o Programa na RTP

O burburinho já se fazia sentir há algum tempo. O PSD está incomodado por a jornalista do Diário de Notícias, e suposta namorada do primeiro-ministro, apresentar agora um programa na RTP2.

Mas os sociais-democratas não sabem (ou não querem saber) como justificar tal incómodo, tendo-se desdobrado em argumentos sem qualquer cabimento (ver aqui e aqui). A estratégia tem sido lançar umas achas para ver se a fogueira pega. Enfim… Aproveitamentos políticos que, infelizmente, não deveriam surpreender ninguém.

Fernanda Câncio possui uma carreira jornalística que a desobriga de prestar provas a quem quer que seja. À partida, não é portanto de estranhar que esteja agora a apresentar um programa na RTP2. No entanto, o seu suposto envolvimento com o primeiro-ministro faz com que a situação seja um pouco mais delicada. Por uma questão de ética, ou mesmo de cautela política, deveria ter procurado manter-se o mais afastada possível de qualquer compromisso profissional extraordinário com organismos ou empresas com participação pública.

Sim, sem dúvida que a vida pessoal de Sócrates apenas a ele diz respeito. Mas quando esta, por alguma razão, se entrecruza com serviços a prestar ao Estado, ou a empresas dele dependentes, a questão começa a ganhar outros contornos...

O Bloco cada vez mais intragável para o PS

Pedro Magalhães dedica a sua crónica de segunda-feira no Público à evolução do Bloco de Esquerda e à forma como este se tem vindo a afirmar no sistema partidário português. Contrariando alguns exemplos da “esquerda libertária" europeia, considera que o fantasma de uma coligação entre o BE e o PS é cada vez mais irreal.

O professor do Instituto de Ciências Sociais começa por sublinhar que o Bloco foi inicialmente encarado como um partido da esquerda libertária, modelo relativamente conhecido na Europa. Este tipo de partidos distingue-se da “velha esquerda” pela afirmação de valores pós-materialistas (e.g. ambiente, direitos das mulheres e das minorias sociais, liberalização de costumes, primazia da liberdade individual, entre outros).

Sublinha que, apesar de não ser regra, alguns destes partidos têm conseguido estabelecer coligações governamentais proveitosas com o centro-esquerda. A “comestibilidade” de algumas das suas prioridades para os partidos de centro-esquerda tem sido uma das razões do sucesso das coligações.

Pedro Magalhães conclui, no entanto, que tal cenário é cada vez mais remoto em Portugal: “O BE vem-se progressivamente afirmando cada vez menos como um partido da esquerda libertária (…) e cada vez mais com um partido da esquerda socialista tradicional, opositor aos desvios "neoliberais" do Governo do PS. (…) Eleitoralmente, a estratégia parece correctíssima. A ironia é que, se o perfil anterior até o tornava "comestível" para um governo PS com este primeiro-ministro, o novo perfil torna-o cada vez mais intragável.”

Uma boa análise. Resta saber se as consequências da estratégia seguida são, de facto, as desejadas pelo Bloco. Como o próprio Pedro Magalhães afirma: “a perspectiva de um futuro de eterno combate na oposição arrisca-se a ser ainda mais desmobilizadora do que os riscos que advêm da aproximação ao poder.”

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sobre a Visita do Sr. Silva à Madeira

“Cavaco Silva optou por não se pronunciar sobre a polémica lançada hoje em torno da sessão solene, em sua honra, no Parlamento Regional, que não se realizou.” Que previsível, não?

Os disparates de Alberto João Jardim conseguiram mais uma vez abrir telejornais e fazer manchetes na imprensa escrita. Infelizmente, tal não constitui novidade. E os seus disparates terminam novamente sem quaisquer consequências. Sem que qualquer órgão do Estado tome qualquer acção condenatória de tais disparates. Nem o visado, Cavaco Silva, Presidente da República por sinal, mostrou-se disposto a desafiar o “democrata combativo” madeirense. É deprimente…

Há duas semanas, Pacheco Pereira afirmou que era preciso destronar Luis Filipe Menezes, “à bomba” se necessário. Ora aqui está algo que poderá interessar à oposição madeirense. Será que já pensaram em encomendar um servicinho a Pacheco Pereira?

As Ministras de Zapatero

Na apresentação da composição do seu governo, Zapatero surpreendeu ao anunciar uma equipa ministerial composta maioritariamente por mulheres. Alguns considerarão que se trata de puro folclore político. Julgo que poderá ser bastante mais importante do que isso.

Nove ministras e oito ministros: eis a composição do novo governo Espanhol. Poderá questionar-se se tal se trata de uma mera manobra de propaganda política. Uma medida eleitoralista para “inglês ver”? Alguns questionar-se-ão até se as ministras foram escolhidas exclusivamente pelo seu mérito, ou se foi o seu sexo que prevaleceu.

Uma vez que não acredito em absolutismos da meritocracia, e que até considero que a discriminação positiva não é motivo de vergonha, resta-me aplaudir a opção de Zapatero, independentemente da paridade ter sido ou não uma prioridade.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Henriquices do Activismo de Sofá

Apesar de raros, há dias em que não nos apetece falar da actualidade. Não nos interessa o que se passou na política nacional ou internacional. Estamos pouco preocupados com as últimas tricas partidárias ou com as grandes opções governamentais. No dia em que se é pai, tudo isto nos passa ao lado.

Este não é um blogue de teor pessoal. É sim um blogue de comentário da actualidade (ou pelo menos tenta ser). A actualidade de ontem deste activista de sofá foi marcada pelo nascimento do seu filho. Foi marcada pela responsabilidade de se ter tornado pai. Uma responsabilidade e um desafio que julgo não ter paralelo.

Por lamechice ou não, mas certamente por estar a transbordar de orgulho, achei por bem partilhar esta notícia com os “milhões e milhões” que por aqui passam. Será que o Activismo de Sofá assumirá agora uma face mais paternal? Ou, pelo contrário, tornar-se-á ainda mais exigente na análise e critica da actualidade? A ver vamos. ;)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A Direita em Cacos

No PSD, até Ângelo Correia, fervoroso apoiante de Menezes, já se mostra desiludido. No CDS, a liderança de Portas nem sequer está a conseguir acalmar as hostes, para já não falar dos tristes números das sondagens. Para onde vai esta Direita?

É normal que, no primeiro mandato de um governo com maioria absoluta, a oposição se ressinta. O estado de graça de um Executivo, ou o desejo de estabilidade por parte do eleitorado, pode dificultar muito os trabalhos dos que se assumem como alternativa. Mas o Executivo de Sócrates até tem oferecido à oposição diversos brindes, sendo desnecessário enumerar aqui os inúmeros dossiers que têm provocado o desgaste do Governo desde o ínicio do ano.

O PCP e o BE têm conseguido aproveitar bem as escorregadelas governamentais. O que se passa então com o PSD e CDS? O "cheiro a poder” teima em não aparecer e, como tal, “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Os "Contornos Políticos" do Julgamento da Extrema-Direita

No dia em que se inicia o julgamento de 36 elementos da extrema-direita em Portugal, um dos advogados de defesa considera que o processo tem “contornos políticos”. Ora, já agora, importa rever um pouco algumas das acusações que sobre estes “perseguidos políticos” recaem.

Em Abril do ano passado, em 60 buscas domiciliárias, foi apreendido o seguinte material (segundo o Público): "15 armas de fogo; milhares de munições de calibres diversos; explosivos; dezenas de facas e soqueiras; Sprays; Inúmera literatura e propaganda nazi; várias embalagens de esteróides (presume-se que os mesmos fossem utilizados não apenas em proveito próprio, mas que também fossem comercializados, revertendo o dinheiro para o financiamento do Portuguese Hammerskin)".

Mas importa também recordar outras acusações que sobre estes senhores recaem:

- Ameaças à juíza Cândida Vilar, depois de na Internet terem surgido mensagens dirigidas aos nacionalistas pedindo-lhes que ninguém a esquecesse.
- Ameaças aos Gato Fedorento, divulgando na Internet o colégio frequentado por uma das filhas dos humoristas.
- Ameaças a Daniel Oliveira, quando este foi abordado pelo Líder da Frente Nacional e pelo n.º 2 do PNR. Foram proferidas várias ameaças de morte, sendo depois repetidas no fórum que dirigem na internet.

Como é natural, o Estado de Direito deve ser respeitado até ao limite. E se Mário Machado foi mantido em prisão preventiva de forma infundada, deverão ser apuradas responsabilidades. Mas daí a considerar-se que se trata de um “julgamento político”, e que os 36 arguidos estão a ser perseguidos apenas por delito de opinião, parece-me que vai uma enorme distância. Mas ok, presunção da inocência até ao fim. A ver vamos.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Quem consegue apagar a Chama Olímpica?

As imagens apresentadas sobre a passagem da tocha olímpica por Londres e Paris são bastante elucidativas da contestação que os Jogos Olímpicos de Pequim estão a originar. A contestação aos jogos começa a assumir um efeito bola de neve.

O tema do boicote aos jogos, quer por causa da questão do Tibete, quer pela defesa dos direitos humanos na China, entrou definitivamente na agenda. A cobertura que o tema merece na comunicação social indicia que não desaparecerá facilmente. Ontem e hoje assistiu-se às tentativas de apagamento da chama olímpica. Outros protestos, mais ou menos simbólicos, seguir-se-ão seguramente.

Sobre o relevo político que a questão começa a assumir, destaca-se agora a ameaça de boicote por parte de Sarkozy. Para alguns será normal, mas não deixo de achar curioso que tal posição esteja a ser assumida em primeira mão por um líder proveniente da direita política.

domingo, 6 de abril de 2008

O Assobiar para o lado do PSD

Num tempo em que o PSD tem procurado espaço a todo o custo, a maioria das vezes de forma claramente desastrada, nem uma palavra se tem ouviu ainda sobre a nomeação de Jorge Coelho para a Mota-Engil. Curioso, não?

Será que o assunto não merece relevo? Os sociais-democratas nada têm a opor aos livres mecanismos de funcionamento do mercado, é isso? Ou será que os seus telhados de vidro exigem um cauteloso silêncio sobre esta questão?

Em vez de tocarem neste assunto sensível, os sociais-democratas parecem entretidos a: 1) lançar acusações não concretizadas a Fernanda Câncio, 2) apoiar Alberto João e 3) levantar o velho tema de uma nova constituição. É uma questão de prioridades…

sábado, 5 de abril de 2008

Betão, o Ópio do Povo

Que o Governo tem tentado mudar a sua imagem, parecem não restar grandes dúvidas. Desde os tímidos passos atrás no fecho das urgências à descida do IVA, passando até pelo piscar de olho à esquerda nos casos do Amadora-Sintra e do fim do divórcio litigioso. Mas eis que surge agora a cartada impiedosa: o lançamento de grandes obras públicas.

O editorial de José Manuel Fernandes no Público destaca bem esta última tendência do Executivo de Sócrates. A 3ª travessia do Tejo é apenas um dos exemplos a acrescentar ao novo aeroporto, ao TGV, às novas barragens e aos novos 1600 kms de auto-estradas que aos poucos vão sendo anunciados por todo o país.

A preparação do embate de 2009 faz-se anunciando medidas e apresentando resultados, mas importa não descurar a incontornável “obra”. E por “obra” entenda-se o betão que poderá ser recordado pelas gerações vindouras. Sócrates bem o sabe e, por isso, tem-se desdobrado em promessas de mais e melhor betão para o bom povo português.

A derrota de Mugabe e a Mudança no Zimbabué

Apesar de com grande cautela, os resultados das legislativas no Zimbabué poderão indiciar importantes sinais de mudança. Mas é o cenário pós-2ª volta das presidenciais que maiores receios suscita.

Se Mugabe vencer, não será certamente fácil acalmar os apoiantes da oposição. Se o cenário for o inverso, teme-se a reacção dos apoiantes de Mugabe, mas também do exército e das forças de segurança, dada a sua proximidade com o partido do poder. O caos pós-eleitoral, à semelhança do que sucedeu recentemente na Nigéria, é uma possibilidade bastante real.

De qualquer modo, no caso de Mugabe ser novamente derrotado na segunda volta das presidênciais, tudo indica que se poderá assistir à substituição de uma longa ditadura por via eleitoral, fenómeno raro na história política. Não será fácil, mas esperemos que a referida raridade se concretize.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Ser Ministro fica bem no Currículo

Jorge Coelho deverá assumir a presidência executiva da Mota-Engil, o maior grupo de construção civil a nível nacional. Eis um exemplo de como a dedicação à política, nos partidos certos, não constitui um sacrifício pessoal, mas sim um bom investimento.

São mais do que conhecidos os casos de altos responsáveis públicos que, após o exercício de funções governativas, ascendem de forma meteórica quando regressam ao mercado de trabalho. Apesar disso, algumas vozes continuam a defender que o exercício de cargos públicos é mal remunerado e pouco atractivo para largas franjas da sociedade. O exemplo de Jorge Coelho é apenas mais um que demonstra bem o quanto a política pode ser um bom investimento.

Mas a notícia hoje divulgada levanta também outras questões. O Grupo Mota-Engil encontra-se envolvido num sem número de grandes obras públicas. Resta saber o quão ético é, para um ex-Ministro das Obras Públicas e figura de referência do partido governamental, assumir as funções que agora lhe estão a ser atribuídas no maior grupo de construção civil do país. Opps… Esqueci-me que a ética não é para aqui chamada.
PS: O Diário Económico destaca hoje um artigo sobre a presença de ex-governantes nas grandes empresas a operar em Portugal. Vale a pena. Via www.esquerda.net.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sobre a ex-Nova Lei Eleitoral Autárquica

Depois dos entendimentos e desentendimentos, dos pactos e "despactos", o projecto da nova lei eleitoral autárquica não deverá ser aprovado. Dada a polémica em seu torno, a falta de acordo entre o PS e o PSD é positiva.

Como escrevi anteriormente, até nem acho ser demasiado crítico que o partido mais votado obtenha a maioria absoluta dos lugares no executivo municipal. Aliás, em termos de sistema político, considero estranho que um órgão executivo integre representantes da oposição. No entanto, o modelo em vigor para as autarquias locais assume a referida particularidade dado o défice de competências atribuídas à Assembleia Municipal. Foi a fórmula encontrada para garantir a representatividade.

Com a mudança que agora era negociada, assistir-se-ia a um reforço do poder do partido vencedor sem que tal representasse um equivalente reforço dos poderes da Assembleia Municipal. Nesta perspectiva, até é positivo que o lobby das autarquias do PSD tenha impedido o acordo quando à nova lei.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Marcelo, Amigo, o PSD está Contigo?

Na sondagem ontem divulgada pelo Correio da Manhã, Marcelo aparece como a personalidade do PSD preferida pelos inquiridos para disputar as eleições de 2009 contra Sócrates. Mas o interessante é que mesmos os eleitores sociais-democratas em 2005 afirmam preferir o Professor de Direito.

Marcelo recebe 35,6% das preferências de todos os inquiridos e colhe 35,5% das preferências dos inquiridos que votaram no PSD em 2005. O segundo lugar do pódio das preferências é ocupado por Rui Rio com 18,5% e 31,6% respectivamente. Só depois, e muito mais abaixo, surge Menezes com 14,7% da totalidade dos inquiridos e cerca de 13% junto dos eleitores sociais-democratas. Santana Lopes, por seu turno, obtém 11,9% das preferências dos inquiridos e supera o líder do seu partido entre os eleitores sociais-democratas (14,2 %)

A sondagem demonstra bem a desorientação do eleitorado do PSD. Por um lado, deposita as suas esperanças no mediático Marcelo, uma escolha quase natural neste tipo de sondagens. Mas importa também salientar o relevo crescente que o místico Rui Rio começa a assumir, certamente pela inexistência de outras alternativas credíveis. Quanto a Menezes… Se calhar já se começa a habituar a tantos maus desempenhos.

Impedimentos dos Autarcas Acusados e a Jogada do PS

O Público noticia hoje que o PS pretende voltar a discutir a proposta do PSD que visava suspender os mandatos dos autarcas acusados de crimes praticados em funções públicas com penas superiores a três anos e todos os crimes de corrupção. E, além disso, impedir candidaturas - e recandidaturas - de pessoas nas mesmas circunstâncias.”

Ainda nos tempos de Marques Mendes, e com a promessa de dignificar o exercício das funções autárquicas, a proposta foi aprovada pelo PSD e pelo PS na generalidade em Dezembro de 2005. Ficou adormecida desde então. Com a eleição de Menezes, o PSD deixou naturalmente de ter qualquer interesse em tal proposta, sobretudo tendo em conta que o novo líder prometeu pacificar as hostes com os autarcas do partido.

Estando agora em curso a discussão do acordo para a nova lei eleitoral autárquica, o PS lembrou-se de repescar a referida proposta. Vá-se lá saber porquê...