domingo, 24 de abril de 2016

Mudanças: Glob@ctivism


A vida dá algumas voltas... Devido a um novo desafio profissional, estou a viver em Paris. Como tal, passou a ser complicado acompanhar e sobretudo sentir a atualidade nacional. Deste modo, após 9 anos e meio, coloco agora o Ativismo de Sofá, que tanto prazer me dá, em stand by. É um "até já".

Mas como a possibilidade de escrever num blogue é de facto viciante, já arranjei um novo espaço mesmo aqui ao lado.


Digamos que o espírito é mais ou menos o mesmo, com a ligeira diferença de o enfoque ser a atualidade internacional. Num mundo cada vez mais interligado - política, económica, cultural e até socialmente - o global passou a ser o novo local. Podemos hoje assumir uma cidadania global, focada em mostrar as diferenças que nos enriquecem, mas também as semelhanças que nos unem. O Glob@ctivim pretende refletir isso mesmo.

terça-feira, 15 de março de 2016

#TrumpDonald


Possivelmente já tudo foi dito ou escrito sobre Donald Trump. E se não o foi, o próprio continuará a fazer questão de dar ao seu país e ao mundo um milhão de más razões para que se continue a falar e a escrever sobre a sua pessoa. As primárias nos partidos americanos são tipicamente alvo de uma ampla cobertura internacional. Mas o fenómeno Trump conseguiu de facto captar a atenção do mundo inteiro. E não pelas melhores razões.

A candidatura de Trump começou por ser uma piada. Alimentada pela comunicação social, como tipicamente acontece neste tipo de situações, começou por ser um fenómeno interessante de seguir. Permitiu que a campanha das primárias saísse da normalidade em que tipicamente ocorre. Trump brindou os americanos com declarações insólitas, imprevisíveis, totalmente fora da caixa e politicamente incorrectas. Disparou em todas as direcções e conseguiu acumular manchetes nos jornais e notícias de abertura nas televisões de todo o mundo. Fez também a delícia dos comediantes, fornecendo todos os dias matéria-prima interessante para ser trabalhada.

Mas, como tipicamente acontece com estes fenómenos, o que começou por ser uma piada começou aos poucos a ganhar contornos bastante mais assustadores. Trump deixou de ser simplesmente o candidato que dava cor e animação à campanha republicana, para aos poucos ser assumido como o favorito na maioria dos Estados americanos. A piada tornou-se bastante real, ao ponto de hoje ser quase certo que um dos candidatos à presidência da ainda única superpotência mundial será um perigoso populista. Alguém com perigosas visões sobre o papel dos Estados Unidos no mundo, com ideias muito limitadas e obtusas sobre o ideal americano de liberdade e igualdade.

Uma das melhores formas de avaliar um político passa por analisar o tipo de sentimentos que desperta nas pessoas. Ou seja, a que tipo de valores apela? Que tipo de relacionamento com o outro advoga? Como encara a diferença? Que tipo de papel atribui-se no futuro do país? Vista deste prisma, a qualificação da candidatura de Trump não deixa margens para dúvidas. O milionário americano assenta o seu discurso político no medo e até no ódio. Medo da diferença, medo dos outros. Apela aos sentimentos mais básicos do eleitorado americano, atribuindo-se o papel messiânico de “tornar a América grande outra vez”.

Como sempre acontece nestas alturas,  importa voltar a lembrar porque surgem subitamente este tipo figuras populistas no espectro democrático. Porque encontram um terreno tão fértil? Onde assenta a sua base de apoio? Na verdade, o seu discurso anti-sistema, disparando contra tudo e contra todos,  denunciando a corrupção e o distanciamento dos políticos, consegue sempre colher grandes simpatias junto de um eleitorado tipicamente alienado.  Por outro lado, a sua capacidade de falar uma linguagem popular simples, sem relativismos, assim como a sua disponibilidade para falar sem filtros, expressando sem rodeios os medos e raivas populares,  fazem com que a sua candidatura rapidamente comece a colher simpatias.

O populismo é provavelmente um dos perigos mais antigos dos sistemas democráticos. Basta recordar que os pensadores da Grécia clássica já alertavam para o referido fenómeno há mais de 2500 anos. No entanto, apesar da sua antiguidade, os últimos anos têm sido férteis no surgimento deste tipo de fenómenos (basta lembrar Marine Le Pen ou Beppe Grillo). Não existem soluções fáceis para combater este tipo de fenómeno, uma vez que são o reflexo de uma série de debilidades da democracia. De qualquer modo, para além de atacar os problemas estruturais na base do seu surgimento, se calhar podemos começar por estar mais atentos ao seu surgimento e condená-los logo à partida, buzinando em vez de até lhes achar graça numa fase inicial.

PS: Vale a pena visitar o site www.trumpdonald.com e buzinar aos ouvidos do milionário americano.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

terça-feira, 1 de março de 2016

Fazer Diferente


Três meses depois, afinal a geringonça até funciona. Afinal os entendimentos à esquerda são possíveis. Afinal estes entendimentos conseguem garantir a estabilidade. E, pasme-se, a Europa e as agências de rating não ostracizaram Portugal, levando-nos de imediato a um segundo resgate. Com base numa política de “um dia de cada vez”, a solução governativa encontrada tem demonstrado alguma robustez, tendo inclusive virado a página da austeridade em algumas áreas importantes. Não é uma política perfeita ou isenta de críticas (pelo contrário), mas sim uma política do possível, mostrando que as alternativas afinal até existem.

Mas, tendo em conta que esta é uma maioria apoiada por toda a esquerda parlamentar, importa não só que as políticas sejam diferentes, mas também que o modo de governar consiga ser libertado de velhas práticas. Importa fazer diferente, demonstrando seriedade na governação, respeitando o bem público e não menosprezando a inteligência dos cidadãos. Eis três áreas onde a mudança é particularmente bem-vinda.

1 - No Jobs for the Boys
Sempre que um novo Governo entra em funções, existem centenas de cargos e lugares que passam imediatamente a estar ao alcance da nova força política. Para além dos gabinetes ministeriais, o sector público disponibiliza lugares de direcção em Institutos Públicos, Fundações, Empresas Públicas, entre muitos outros. A tentação de distribuição destes lugares pelos mais fieis, pelos que ajudaram a alcançar o poder, é imediata. Os manuais de ciência política referem-se a estas práticas como “distribuição de recursos”. Importa que esta maioria governamental possa mostrar diferenças relativamente ao que sempre tem acontecido quando o poder muda de mãos em Portugal. 

2 – Transparência na Contratação Pública
A contratação pública acaba também por ser frequentemente “afectada” pela chegada de novos atores governamentais. Subitamente, surgem novos fornecedores, novas necessidades e novas soluções indispensáveis a contratar. Como é evidente, sabemos que é através da contratação pública que muitas vezes se compensam os mais fieis pelo apoio concedido no passado e no presente. Coloca-se rapidamente o interesse público em segundo plano, contratando-se o que não se deve a quem não se deve. Importa que o presente governo consiga ser diferente a este respeito, demonstrando total seriedade em toda e qualquer contratação pública.

3 – Mudar o que está mal, continuar o que está bem
“Mudar tudo” acaba por ser sempre a opção mais fácil para quem assume um novo Executivo. Para quê continuar a trabalhar em projetos lançados por outros? Para quê erguer bandeiras ligadas ao anterior Executivo? Mais vale lançar novos projetos, novas prioridades, novas marcas, certo? Pois, mas a verdade é que as mudanças de rumo acabam por ser sempre bastante dispendiosas para o erário público. Inúmeros projetos ficam a meio, estudos válidos são colocados na gaveta para que (adivinhe-se) novos projetos e novos estudos possam surgir. Só uma mente bastante pequena poderá considerar que um antecessor só fez asneiras. Importa assim aplicar a mesma energia na mudança do que está mal e na continuidade do que está bem.

Como é evidente, não podemos esperar este mundo e o outro do novo Governo. E importa ter presente que, apesar do cenário político inovador, trata-se de um Governo do PS, partido que governou Portugal inúmeras vezes nestes 40 anos de democracia. De qualquer modo, o facto de ser suportado politicamente pelo Bloco e pelo PCP concede a todos uma responsabilidade adicional. O Bloco e PCP podem e devem assumir-se sempre como os garantes de que, para além das políticas, também as práticas governativas são diferentes. É com certeza isso que o eleitorado espera deles.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Um dia de cada vez


Qual a esperança média de vida do actual Executivo? Durará até ao final do ano? Chegará ao fim da legislatura ou não ultrapassará sequer os dois anos de vida? A verdade é que ninguém sabe. Podem arriscar-se palpites e prognósticos. Podem fazer-se previsões com uma base mais científica ou panfletária. Mas torna-se verdadeiramente impossível prever com a mínima certeza o que vai acontecer. 

E assim acontece, em primeiro lugar, porque o presente já é em si mesmo uma surpresa. Alguém imaginaria que a esquerda conseguir-se-ia unir e suportar um governo como actualmente o está a fazer? Passaria pela cabeça de alguém que a histórica fractura política entre a esquerda moderada e a esquerda radical, com raízes que remontam ao período ainda antes do 25 de Abril, seria tão facilmente ultrapassada? De todo. 

O pragmatismo das atuais lideranças do PS, Bloco e PCP foi determinante. António Costa, goste-se dele ou não, conseguiu reverter um cenário altamente desfavorável numa oportunidade. Estando a sua sobrevivência em causa como líder do PS, usou toda a sua habilidade política para se manter à tona de água, quebrando gigantescos tabus ao ensaiar uma solução de entendimento à esquerda. Catarina Martins e Jerónimo Sousa responderam também com um pragmatismo notável, engolindo todas as críticas anteriormente feitas ao PS e focando-se no essencial. Tentar uma solução que procure virar a página da austeridade em Portugal ou, em alternativa, manter-se comodamente na oposição? Bloco e PCP abraçaram a solução mais pragmática, mais responsável e que era também a menos provável.

Quais são, no entanto, os grandes riscos da actual solução governativa? Acima de tudo, o facto da confiança entre PS, Bloco e PCP ser algo ainda muito recente. Algo que evolui a cada dia que passa, mas em evidente construção. O facto da referida confiança não ser ainda plena determina que qualquer uma das forças políticas também não tenha absoluta certeza sobre quanto tempo durará o actual entendimento. Estão todos empenhados que se cumpra uma legislatura, mas as certezas não existem. 

E quando assim acontece, acabam também por ser indisfarçáveis os sinais externos de navegação à vista. Sente-se que cada parceiro se comporta focado no impacto eleitoral de cada um dos seus posicionamentos, como se as eleições pudessem estar ao virar da esquina. O PS preocupado em aumentar o seu score, depois do desaire das últimas eleições. O Bloco empenhado em não perder os bons ventos dos últimos tempos, procurando mostrar que pode ser-se responsável e vertical ao mesmo tempo. E o PCP querendo demonstrar o seu empenho nesta solução que visa virar a página da austeridade, ao mesmo tempo que não abdica da sua grande base de apoio reivindicativo.

Num cenário em que PS, Bloco e PCP mantêm um equilíbrio difícil apesar de tudo, as surpresas conjunturais são, sem dúvida, um dos principais desafios. E as legislaturas são, como todos sabemos, feitas deste tipo de surpresas. O caso BANIF demonstrou desde logo essa dificuldade de sintonia entre os parceiros. Mas o equilíbrio será sobretudo complicado se as pressões de crise económica aumentarem significativamente, intensificando as pressões externas para a contenção nos gastos públicos e para a aplicação de novas vagas de austeridade.

Tendo em conta o acima exposto, a abordagem de “um dia de cada vez” é com certeza a mais sensata. Ou seja, mais do que adivinhar dificuldades futuras, cada parceiro deve focar-se nos desafios de cada dia, ultrapassando-os da melhor forma possível. E deve fazê-lo sobretudo dando garantias aos Portugueses que existe segurança governativa. Que o entendimento em curso não se desmoronará ao virar da esquina. Um dia de cada vez para demonstrar que o ovo de Colombo da esquerda portuguesa é possível.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Legalização da Cannabis: fraturante, mas pouco...


Quando países como o Canadá ou Uruguai têm já praticamente data marcada para a entrada em vigor da legalização da cannabis para fins recreativos, ou quando países como a África do Sul ou o México estão já discuti-lo abertamente, percebemos que esta suposta causa fraturante está a deixar verdadeiramente de o ser.

Que o diga a The Economist, que destaca a legalização da Cannabis na edição desta semana. Começa a ser indefensável a proibição, centrando-se sim a discussão no m\odelo de legalização a adoptar: 1) modelo mais aberto ou mais fechado de distribuição e retalho? Taxação elevada ou não deste tipo de produto? Que limitações à publicidade?

E aqui no burgo, até quando esta continuará a ser vista como apenas uma causa de esquerdalhos?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O Mistério


A entrevista de Rui Rio, e as reações postivas que se fazem sentir nas redes sociais, desembocam no seguinte mistério: já alguém tentou explicar a Passos Coelho que, se calhar, o seu tempo chegou ao fim? 

Obviamente que, se o barco deste Governo virar amanhã, Passos é o candidato natural do PSD. Mas, assumindo a fraca probabilidade de tal não acontecer já amanhã, não deixa de ser um pouco estranho este consenso no PSD em torno de ex-primeiro-ministro. 

Ninguém disposto a arriscar, chegar-se à frente e marcar terreno? Mistério...
(Imagem: Jornal de Negócios)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Food for the Soul

Le Monde Diplomatique - Edição de Fevereiro já nas bancas


"Este mês destacamos o dossiê sobre «O flagelo da pobreza energética em Portugal». Miguel Heleno centra-se em «Combater as desigualdades: o desafio da transição energética no sector doméstico» e Lise Desvaléés em «Saúde, eficiência e direito à energia: pistas para uma mobilização». Carla Baptista parte do filme Spotligth para perguntar se estamos perante a «glória ao jornalismo ou requiem pelo jornalismo?» e Nuno Domingos reflecte sobre «o clube étnico e o clube cívico» no futebol português. 

No internacional, uma investigação ao Parlamento Europeu leva Susan Watkins a perguntar se ele será realmente a solução para a democracia europeia e Bernard Cassen reflecte sobre o «“Brexit”: David Cameron apennhado na própria ratoeira». Continuamos a acompanhar o Tratado Transatlântico, desta vez incidindo sobre os problema da «arbitragem internacional». A volta ao mundo deste mês leva-nos também às ameaças de uma nova intervenção na Líbia, ao prosseguimento dos combates das mulheres iranianas, às casas móveis em que são forçados a viver cada vez mais americanos e ao tempo em que «os jihadistas eram nossos amigos». Boas leituras!"

Índice de artigos aqui.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Prognósticos só no fim do jogo


Os resultados das presidenciais vieram confirmar alguns traços no sistema partidário que se fizeram sentir nas últimas legislativas. Se à direita o equilíbrio de forças não parece ter-se alterado significativamente, à esquerda o status quo entre o PS, o Bloco e o PCP está muito longe do que existia há apenas um ano atrás.

Como é típico no mundo do comentário político, multiplicam-se agora os prognósticos sobre o futuro. E são assumidos por vezes de forma tão determinista ou fatalista como se não existisse um passado que nos trouxe até aqui. E sobretudo, são prognósticos feitos assumindo que a luta política nos dias que correm é algo linear, perfeitamente previsível, onde o inesperado raramente acontece. Vejamos alguns destes prognósticos. 

O PS corre o risco de desintegrar-se – Apesar de não ser consensual, ouvimos este tipo de prognóstico por estes dias de vozes tão diferentes como o Vasco Púlido Valente, a Clara Ferreira Alves ou a São José Almeida. É verdade que o PS vem de sucessivas derrotas eleitorais e de lutas internas particularmente corrosivas. É verdade também que hoje o seu governo assenta num conjunto de compromissos e num equilíbrio de forças particularmente desafiantes. Mas não é menos verdade que o facto de liderar hoje o Executivo do país não só acalma imediatamente as hostes internas, como concede ao partido o palco e instrumentos privilegiados para bem definir o seu futuro. Nos últimos 40 anos, o PS já atravessou diversos momentos bastante mais difíceis do que o actual. Basta recordar os 10 anos de Cavaco no Governo e os danos que causaram no Largo do Rato. O PS conseguiu inúmeras vezes erguer-se quando conseguiu aliar uma liderança carismática com oportunidades conjunturais. Não há razão nenhuma para achar que hoje tal cenário não é possível ou até o mais previsível.

O Bloco está a ocupar um novo espaço político Os dois últimos resultados eleitorais demonstram que o partido está com saúde e recomenda-se. Tem conseguido transformar o que até há um ano atrás era uma posição extremamente vulnerável numa oportunidade impar de demonstração de solidez, de inteligência política e de responsabilidade até. E o eleitorado tem reconhecido e valorizado este novo posicionamento do Bloco. No entanto, importa não esquecer que continua a ser um partido relativamente recente, com uma limitada estrutura militante e particularmente vulnerável a flutuações eleitorais. Os últimos tempos têm sido extremamente positivos, mas assumir que assim continuará de forma quase inevitável implica ignorar todo o historial do Bloco.

O PCP está em declínio acelerado – A derrota nas últimas presidenciais foi particularmente dura. Os comunistas desceram vertiginosamente em alguns dos bastiões, levando-os a um dos piores resultados de sempre. Também é evidente que o bom resultado do Bloco veio trazer um nervosismo adicional à Soeiro Pereira Gomes. Mas assumir que estamos perante um declínio sem retorno do PCP implica uma manifesta ignorância sobre a base de militância dos comunistas, assim como o que se passou nos últimos anos. Desde a queda da URSS, a certidão de óbito ou de insignificância dos comunistas já foi passada diversas vezes. E o que é que aconteceu? O PCP conseguiu sempre uma forte resiliência política, apoiada quer na sua fortíssima base militante, quer pela sua força sindical que possui, quer pela sua capacidade de penetração no poder local. Em modo Mark Twain, podemos dizer que as notícias sobre a morte do PCP são manifestamente exageradas. 

Tendo em conta a pouca previsibilidade da luta política, cujo cenário governativo que hoje vivemos em Portugal é dos mais emblemáticos, importa mais do que nunca lembrar a velha máxima do grande intelectual João Pinto: “Prognósticos só no fim do jogo”. 

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Medidas populistas?


Tenho lido com cada vez maior intensidade que António Costa está a governar de forma populista, preparando-se para eleições a curto prazo. Veja-se este artigo aqui, por exemplo. Mas tal raciocínio só faz sentido à vista desarmada. Quem disse que a maioria do eleitorado gosta do "alargar do cinto"? Quem disse que medidas como a reposição das 35 horas na Função Pública fazem ganhar votos? Quem disse que retomar o investimento público é o caminho da reeleição?

O discurso do "vivemos assim das nossas possibilidades" continua bem vivo. Conseguiu a eleição de uma maioria há 4 anos atrás e, contra todas as expectativas, conseguiu muitos mais votos do que se estava à espera em Outubro passado. 

Goste-se ou não, o caminho seguido pelo atual Governo está muito longe de ser o caminho mais fácil. O caminho mais fácil implica sempre dar uma no cravo e outra na ferradura. Para o bem ou para o mal, devido aos acordos parlamentares à esquerda, não está a ser este o caso.
(Imagem: Dinheiro Vivo)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Shearwater - Quiet Americans


"Chamam-se Shearwater, chegam do Texas (um dos bastiões conservadores dos Estados Unidos, sistematicamente votando nos candidatos republicanos quando chega o dia da eleição) e fazem do seu novo álbum um dos mais poderosos manifestos de crítica sobre a América dos nossos dias que temos escutado na forma de música nos últimos tempos.", Nuno Galopim no Blitz

Letra
"I can't help it, if all the world is ending
All the life is gone while you're calling out this name
Where are the Americans?

Your dimmed conscience, your hands and eyes that wander
Stumbling down the road
Or collapsing on parade

Or lying alone in the eastern light
Sleeping in the morning hours, the only sound
From the lantern covered hills, the only light
From the day yet to begin, the only sign
Of the guns in silhouette
The only sound, the only light

Only, only!

Our dull silence, our disconnected lives
Pull out the lightning dust
At the mention of his name
Whither the Americans!

Shake the memories off, hide the evidence under
Piss on the world below
Like a dog that knows its name
Where are the Americans?

All calling on their own tonight
Filling the remaining hours
The only sounds are the bells upon the hill, the only light
Are the lanterns in the wind, the only sight
Skims the rust off the rails
The only sound, the only light

Only, only!

The only light is the day yet to begin
The only sign of the lives in silhouette
The only sound is the rushing of the wind
The only light is not the only life

Only, only!"
Fonte: Genius.com

Discussão Orçamental e os Ângulos das Notícias


Percebo que a imprensa queira vender papel sublinhando as dúvidas que a Comissão tem sobre a proposta de Orçamento. O documento avança em sentido contrário ao que a troika defendeu em Portugal nos últimos anos. Estranho seria se não levantasse dúvidas em Bruxelas. Notícia fácil, portanto.

Pessoalmente, achava bastante mais interessante que a imprensa dedicasse umas páginas ao facto de termos um Executivo que vai discutir com Bruxelas opções orçamentais. Não necessariamente numa tentativa de confronto ou de desafio, mas sim de discussão de caminhos diferentes, discussão de alternativas. Este ângulo da notícia não merece ser melhor coberto?

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Chemical Brothers + Beck


Um luxo: novo single dos Chemical Brothers com o Beck.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O novo lema de Marcelo


O professor continua a não perder uma oportunidade para elogiar António Costa. Não tendo concorrência à sua direita, importa pescar no centro e no centro-esquerda.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Bom som


Ouvi hoje na Antena 1 e gostei. O video deste "Praia da Indepenência" não é muito feliz. Mas a musicalidade lusófona e a vibração deste single torna-o particularmente agradável.

O Golias


As sondagens não deixam margem para dúvidas: Marcelo Rebelo de Sousa é ultra favorito à vitória nas presidenciais do próximo Domingo. Surge destacadíssimo, conseguindo um score bastante superior à soma dos resultados estimados para Maria de Belém, Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias e Edgar Silva. Apesar dos debates televisivos não terem corrido tão bem quanto seria expectável, as sondagens confirmam o que há muito se adivinhava: estas presidenciais parecem um autêntico passeio para “o Professor”. Como chegámos a este cenário de um Golias que nem tem de se esforçar para contornar os diversos Davids que lhe foram colocados no caminho?

A história tem sido relativamente bem contada nos mais diversos espaços. Marcelo Rebelo de Sousa foi, nos últimos 15 anos, o comentador mais visto do país. O seu espaço de comentário, sem contraditório, nos Telejornais de Domingo em canal aberto (primeiro TVI, depois RTP e regresso à TVI) dá-lhe um nível de popularidade impar junto do eleitorado. Foram 15 anos de exposição, 15 anos de acompanhamento da actualidade política, 15 anos de cumplicidade com uma audiência e 15 anos num formato que qualquer ator político daria tudo para ter. Foram 15 anos em que o histórico e ex-líder do PSD foi camuflando a sua imagem de político, ao mesmo tempo que se apresentava como um conselheiro, como uma académico, como um comentador descomprometido. 

Marcelo consegue hoje ser uma figura pública que todos os portugueses conhecem, genericamente simpatizam e recorrentemente confiam. E é sobretudo a conjugação destes três grandes atributos – popularidade, simpatia e confiança – que coloca a sua candidatura tantos passos à frente das restantes. Numa eleição tão personalista como esta, o facto de um candidato partir para uma campanha detendo já os referidos atributos concede-lhe uma vantagem quase impossível de superar.

E sejamos claros: a vastíssima maioria do eleitorado não anda propriamente a fazer análises profundas sobre o que distingue cada um das candidaturas. Não anda a reflectir sobre as ideias que os candidatos têm para o país. Não anda a ver os debates televisivos ou a acompanhar o diário da campanha. Também não está atenta às polémicas ou pequenos episódios que vão enchendo os jornais diariamente, às pequenas vitórias ou derrotas que cada candidato vai sofrendo ao longo da campanha. 

A vastíssima maioria do eleitorado dedica um tempo muito limitado a recolher informação que oriente a sua decisão eleitoral. A decisão é sobretudo tomada com base na empatia que sente perante o candidato e na relativa confiança que nele sente que pode depositar. A sua decisão é também tomada tendo como referência as opções das pessoas do seu círculo mais próximo (e.g. o cônjuge, o colega de trabalho, o familiar que respeita, o amigo que até anda mais atento às questões políticas). Assim sendo, se um candidato – como é o caso de Marcelo – beneficia já de uma popularidade ímpar quando comparado com os seus adversários, tudo se conjuga para que não existam surpresas no dia das eleições.

Marcelo apresenta-se como um autêntico Golias. Possui um capital de reconhecimento público impressionante. Não tendo sido possível à esquerda encontrar alguém com o mesmo peso, compete agora aos Davids desta eleição – Belém, Nóvoa, Marisa e Edgar – arranhá-lo suficientemente para que haja pelo menos uma segunda volta. 

Já vimos muitos Golias tombar e sabemos também que o cidadão comum por vezes prefere entregar o seu voto a um David. Estes últimos dias de campanha serão assim fundamentais para mobilizar voto a voto. Cada pessoa que se conseguir convencer a não votar em Marcelo será uma vitória. Eis o gigantesco e urgente desafio que a esquerda tem entre mãos.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

domingo, 17 de janeiro de 2016

Tarantino


O novo filme já aí está. Algumas críticas mais positivas, outras salientando que a época dourada ficou lá atrás. Vale a pena ler a peça do Ipsilon

Mas para quem coloca Tarantino bem lá no topo (é o meu caso), ainda antes de ver Os Oito Odiados, já há um lugar reservado na prateleira dos filmes de culto.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A propósito da CMTV na NOS


Confesso fazer parte da raça snob que fica sempre um pouco incrédula quando alguém ao seu lado no quiosque compra o Correio da Manhã. Como é possível ler aquele tipo de jornal onde o país se resume à gatunagem, aos acidentes e aos esfaqueamentos? E aplico o mesmo raciocínio à CMTV.

Mas há duas semanas atrás, um artigo do Pacheco Pereira chama a atenção para um pequeno grande pormenor que parecemos esquecer quando avaliamos os Correios da Manhã desta vida e os comparamos com os ditos jornais de referência.

"A atitude altaneira que muitas vezes se toma com o Correio da Manhã, (...) esquece que no meio de muita coisa inominável que enche as paginas do jornal, há aquela rara coisa que é suposto ser o cerne do jornalismo, ou seja, notícias. Há aliás muitas vezes mais notícias no Correio da Manhã do que nos outros jornais todos, o que se passa é que estão tão misturadas em títulos populistas, muitas vezes igualando o que é relevante com o trivial puxado para o escândalo, em que o estilo sobrepõe-se ao conteúdo." in Público

Eco-Socialismo, explicado em 200 caracteres por Viriato Soromenho Marques


"...a crise do ambiente chama a atenção para o facto de estarmos a usar a natureza de uma forma predatória; o socialismo chama a atenção para o facto de estarmos a utilizar as pessoas, não respeitando a sua dignidade. No fundo, são duas formas de abuso." in Público.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Sobre as 35 horas

Alguém avaliou de facto o impacto orçamental do aumento há dois anos atrás das 35 para as 40 horas semanais? De todo, tal como afirma Mário Centeno. Existiram de facto poupanças? Dúvido. A produtividade aumentou? Duvido. 

Importa que a avaliação da reversão desta situação aconteça "para ontem". É verdade que o regresso às 35 horas não pode provocar rupturas nos serviços públicos. Mas não é fácil explicar a alguém que, de um dia para o outro, passou a trabalhar mais uma hora por dia, porque é que não pode, de um dia para o outro, voltar a trabalhar menos uma hora por dia.