quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Humor Negro

A propaganda em torno da morte do "querido líder" atingiu níveis bizarros. Como se já não bastassem as sessões de choro colectivas nos quatro quantos do país, chegou-se até ao paranormal, com uma ave branca (maior do que uma pomba) a limpar a neve dos ombros de uma estátua de Kim Jong-il ou a forma como o gelo se quebrou num lago onde oficialmente o querido líder nasceu.


Primeira reacção: rir à fartazana com este tipo de disparates. Reacção no segundo seguinte: lamentar que uma sociedade totalitária, ao nível do "1984", ainda subsista nos dias que correm. Reacção no outro segundo: indignar-se, claro, e questionar como o mundo continua a girar apesar do que se passa na Coreia do Norte.

(Imagem: The Australian)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Feliz 2013...

Todos desejamos que 2012 seja melhor do que 2011. Este ano que passou foi de má memória, nem valendo a pena enumerar aqui os “presentes” que país recebeu nestes últimos doze meses. Mas também não será por acaso que, mesmo para os mais optimistas, as grandes promessas/esperanças de retoma transferiram-se directamente para 2013. Ou seja, tudo indica que 2012 será um ano para esquecer. Aliás, será com certeza ainda pior do que o ano que agora termina. Como é consensual nos mais diversos sectores, 2012 será o ano em que a recessão na economia portuguesa mais se fará sentir, não parando o actual Executivo de encontrar fórmulas criativas para descrever o que aí vem.

Numa atabalhoada declaração, Álvaro Santos Pereira acabou por dar um dos tiros de partida ao dizer que 2012 seria o ano do “começo do fim da crise”. Uma formulação interessante, cujas subsequentes explicações quase levaram a um desmentido. Mas são as formulações do próprio primeiro-ministro que mais dúvidas conseguem levantar. Na sua comunicação de Natal ao país, Passos falou em democratizar a economia, através de uma série de reformas estruturais. Sublinhou que 2012 será o ano de transformação do país. O problema é que a transformação a que se refere é a mesma que há algum tempo atrás confessou que implicaria que o país empobrecesse…

Como há muito vem sendo dito e repetido, a transformação preconizada pelo primeiro-ministro acarreta riscos bastante sérios. Utilizando a famosa expressão popular, o país corre inclusive o risco de morrer da (suposta) cura. Ao nível do sector público, a sede de poupança e de combate ao desperdício tem sido tanta que tem levado a que a Administração Pública se encontre paralisada em diversos sectores. O anúncio de fusão de inúmeros organismos e os grandes atrasos das novas leis orgânicas que se seguiram colocam a nu a difícil governabilidade da estrutura governativa criada. Chegou-se aliás a um panorama em que a razão da poupança se deve ao facto de inúmeros sectores estarem parados. No fundo, uma lógica semelhante a “se ficarmos na cama todo o dia, poupamos energias”. Sendo o aparelho público uma peça dificilmente contornável na economia portuguesa, a sua paragem brusca acarreta naturalmente consequências negativas para uma série de esferas de actividade.

Mas as razões da recessão em curso não se ficam naturalmente por aqui. Uma série de medidas de controlo do défice, desde o aumento de diversos impostos ao corte de prestações ou mesmo regalias sociais, têm contribuído decisivamente para o abrandamento económico do país. Se a isto somarmos a natural falta de confiança dos diversos actores económicos internos e externos, a contracção do investimento e a consequente subida em flexa do desemprego, percebemos bem as consequências negativas da receita económica aplicada. Com menos dinheiro a circular e com menos confiança para investir ou simplesmente consumir, não há economia que resista.

Podemos naturalmente considerar que se trata do sacrifício necessário para regenerar a nossa economia e sairmos assim da crise. Eis uma boa narrativa. Mas terão sido os problemas da economia nacional que nos trouxeram até aqui? Estará alguém convencido que nos conseguiremos levantar independentemente da crise internacional em curso? Como se houvesse uma luz ao fundo do túnel e dependesse apenas de nós alcançá-la. Não quero com este texto deixar uma mensagem pessimista à beira de um ano novo. Mas se calhar, no contexto actual, os melhores votos que podemos fazer a alguém nesta quadra será algo como: “boa sorte para si, para os seus e para todos nós em 2012 e feliz 2013.”



Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

(Imagem: Key Imagery)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Think Different

De há um tempo a esta parte, aprendemos que aqueles que defendem direitos sociais são conservadores. Passos Coelho parece agora querer acrescentar um novo capítulo à referida lição: a liberalização económica em curso, que está a gerar uma forte recessão e a empobrecer o país, deve ser chamada de "democratizar a economia". Brilhante...
(Imagem: Deserto do Sara)

sábado, 24 de dezembro de 2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal Praguejante

Palermas! Idiotas! Estúpidos! Cretinos! Palhaços! Imbecis! Otários! Tolos! Paspalhos! Parvos! Tansos! Ursos! Filhos de um raio! Atoleimados! Babosos! Autoritários! Ditadores! Fascistas! Déspotas! Reaccionários! Ultramontanos! Beatos! Direitosos! Atrasados! Pacóvios! Ratos de sacristia! Arrogantes! Fanáticos! Intolerantes! Papistas! Cambada de simplórios!

Aldrabões! Trapaceiros! Desonestos! Mentirosos! Porcos! Sacanas! Filhos da mãe! Cães! Mafiosos! Corruptos! Chulos! Raposas! Víboras! Impostores! Trafulhas! Indecentes! Hipócritas! Desleais! Dissimulados! Falsos! Impostores! Charlatães! Intrujões! Vigaristas! Fingidos!

Irresponsáveis! Palhaços! Incompetentes! Patetas! Inconscientes! Inteligências raras! Burros! Parvalhões! Mentes captas! Loucos! Seguidistas! Tontos! Malucos! Doidos! Inábeis! Incapazes! Inaptos! Basbaques! Paspalhos! Broncos! Ignorantes! Incultos! Iletrados! Básicos! Primários! Meninos! Delirantes! Bananas de uma figa!

Assistir a uma telejornal nos dias que correm torna-se num autêntico festival de insultos e pragas rogadas. Entre Primeiros-Ministros que aconselham a emigrar e ministros da saúde que aumentam taxas moderadoras em 150% e 200%, é quase impossível não se ser um praguejador do pior nível enquanto se assiste ao noticiário. É impossível conter-se perante ministros da economia apenas preocupados em fazê-la parar ou ministros da administração interna empenhados em fazer dos cidadãos parvos. Está a ser um Natal muito praguejante. As minhas sinceras desculpas ao Pai Natal e ao menino Jesus.



Artigo hoje publicado no Esquerda.net

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ao que chegámos...




O negócio da privatização da EDP é ganho por uma empresa 100% detida pelo Estado Chinês. Comentários para quê? Torna-se tristemente bizarro ouvir os apologistas da saída do Estado Português do mercado falar sobre este negócio.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Adeus, meu querido...



Desejar ou celebrar a morte de alguém assume contornos bizarros. No caso de Kim Jong-Il, líder de um regime não apenas ditatorial, mas totalitário, quase temos de fazer um esforço para não celebrar. De qualquer modo, tendo em conta que não se perspectivam mudanças com o sucessor do "querido líder", faria sentido nesta fase uma inteligente ofensiva diplomática procurando algumas brechas no sistema.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Estado não representa os contribuintes?

A discussão em torno das contrapartidas que devem existir para a ajuda pública aos bancos tem-se revelado curiosa, nomeadamente do ponto de semântico. O Presidente da República e agora o Banco de Portugal já manifestaram preocupações quanto à entrada do Estado (esse ser malévolo) nos bancos. E porque não colocar as coisas de outra forma? Sendo dinheiro público, dos contribuintes portanto, porque não falar na entrada dos contribuintes nos bancos?


(Imagem: Kings Clothing)

Já nas bancas



Sumário completo do mês aqui

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dar Música

Uma entrevista feita por Nuno Rogeiro e Martim Cabral a Passos Coelho só podia ser uma autêntica passadeira vermelha para o entrevistado. O perfil político dos dois entrevistadores assim o determinava. Curiosamente, Passos passeou-se tão bem pela referida passadeira que acabou por escancarar todas as debilidades do seu posicionamento.

Num momento em que a casa europeia está a pegar fogo, não vimos o primeiro-ministro afastar-se um milímetro do rumo seguido até aqui, não vimos qualquer preocupação contra o actual directório franco-alemão, não vimos um pensamento estratégico sobre como um país pequeno e periférico como Portugal pode tentar sequer tentar fazer valer um pouco os seus interesses no panorama europeu. Zero...

Ficámos com a certeza que se o barco europeu (e português) for ao fundo, Passos fará com certeza parte da orquestra que dará música até ao fim.

Ainda acredita no Pai Natal?



Qualquer pessoa necessita de histórias simples, com morais maniqueístas e facilmente atingíveis, para poder facilmente interpretar a realidade que a rodeia. E, como seria de esperar, a comunicação política assenta bastante neste tipo de vicissitude. Os actores políticos simplificam a realidade, dando-lhe uma forma adequada à captação de simpatizantes para os seus pontos de vista. Assim sendo, o grande desafio em termos de comunicação política consiste em conseguir produzir uma narrativa que consiga obter mais aderentes do que a narrativa do adversário. Adaptando a ideia à presente quadra, a nosso conto de Natal tem de ser o mais verosímil, de modo a que todos acreditem no nosso Pai Natal.

Transpondo para o momento actual em Portugal, a mensagem de que “andámos a viver acima das nossas possibilidades, sendo agora necessário redimir-nos”, passou muitíssimo bem nos mais diversos sectores sociais. Existe de facto uma grande compreensão perante o quadro de sacrifícios agora pedido. Peguemos então em três exemplos concretos da presente narrativa da austeridade. Ou seja, exemplos que demonstram bem que entre a realidade e a crença produzida vai uma enorme distância.

Em primeiro lugar, andamos agora convencidos que o presente crise se deve à forma descontrolada como uma série de Estados europeus geriu a dívida soberana. No fundo, os Estados gastaram mais do que deviam em infra-estruturas e num Estado social acima das suas possibilidades. Eis pois a razão porque a economia mundial quase implodiu nos últimos anos, certo? Pois... Todos parecem ter-se já esquecido que a presente crise surgiu devido à falência de uma série de empresas financeiras americanas, nomeadamente o Lehman Brothers. Foi o nervosismo de todo um sector totalmente desregulado que magicamente transformou a crise dos mercados financeiros na crise da dívida soberana dos Estados.

Vamos a um segundo exemplo. Parece-nos agora claro que existe um quadro laboral demasiado permissivo em determinados países, com consequências directas na produtividade. Pegamos no exemplo grego e assumimos rapidamente que são pouco trabalhadores, roçando mesmo a preguiça e a malandrice descarada, correcto? Pois... Mas uma simples vista de olhos pelos dados do Eurostat demonstram-nos, por exemplo, que os gregos são o povo que mais horas por semana trabalha na Europa. E esta, hein? Parece que afinal o problema da produtividade grega não surge de um mercado de trabalho demasiado benevolente.

Por último, parece-nos quase indiscutível que é preciso colocar um ponto final aos abusos e despesismo públicos dos últimos anos. É preciso acabar com regalias, com a abstinência no trabalho, com despesas mal feitas. É preciso melhorar a eficiência e a eficácia do aparelho público, atacando sem tréguas os abusos a que era sujeito, correcto? Pois... Mas se fosse esse o objectivo, o rigor, a transparência dos processos e a fiscalização seriam as medidas adequadas para o fim em causa. No entanto, o caminho seguido tem sido o do corte, da eliminação de direitos, das privatizações.

Este último ponto é particularmente elucidativo. Podemos acreditar que os sacrifícios agora pedidos surgem de uma vontade clara de melhorar o modelo económico e social europeu que prevaleceu até à data, eliminando desperdícios e as ditas gorduras existentes. Ou podemos estar certos que é uma mudança de modelo com preceitos liberais que, sendo naturalmente legítima, está a operar-se de forma muito pouco transparente. No fundo, uma mudança demasiado assente em narrativas. Cada um acredita no Pai Natal que quiser…


Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

(Imagem: Clownlink)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

And the winner is... Portugal!

"Desigualdade entre ricos e pobres portugueses é a maior da Europa", relembra-nos mais um estudo da OCDE. Está visto que não nos sabemos governar. Que andamos a viver ao lado das nossas possibilidades. Não haverá para aí uma qualquer troika que nos venha impor um quadro de austeridade à desigualdade?
(Imagem: The Hungry Cat)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Febre Africana


Sempre fui daqueles que muda de canal quando ouve aquelas conversas sobre o potencial de Portugal em África, sobre Portugal poder ser uma porta de entrada para o continente africano devido aos laços da lusofonia, entre outras frases feitas. Sempre achei tal discurso não só despropositado, mas também embrenhado de um forte componente de saudosismo dos tempos do império.

No entanto, depois de quase uma semana em Moçambique numa reunião da CPLP, confesso que regressei bastante convertido sobre o tanto que pode ser feito entre os países de língua portuguesa. As possibilidades de cooperação, as oportunidades de investimento, as potencialidades de intercâmbio cultural. Basta lá estar um pouco para tal evidência se tornar clara, acreditem.

Este é um momento em que os escassos recursos exigem uma definição clara de prioridades. Se Portugal tem este forte capital de proximidade com diversos países africanos, se calhar é tempo de aproveitar seriamente tal mais-valia. As diversas partes agradecem.