domingo, 30 de setembro de 2007

As Directas nos Partidos: Paradoxos Democráticos

As directas no PSD, e tudo o que as envolveu, permitiram que se voltasse a questionar os efeitos da entrega do poder de decisão às bases dos partidos. No fundo, quais os efeitos positivos, mas também negativos, de uma eleição directa de um líder de um partido?

A adopção dos mecanismos de eleições directas para as lideranças partidárias representa, sem dúvida, um importante passo na democratização da vida interna das forças políticas. Os militantes podem, deste modo, sem intermediários, escolher livremente aquele que governará o seu partido no próximo ciclo. No entanto, a referida democraticidade poderá acarretar também efeitos negativos.

Não é um debate novo, nem se restringe ao universo dos partidos. A entrega do poder às bases pode propiciar que fenómenos internos como o populismo, por exemplo, tenham uma maior capacidade de alastramento. No fundo, e dito de forma simples, o retirar do poder das elites partidárias acarreta o risco do confronto de ideias ser feito de forma menos séria, com menos estruturação e com base no aparelho mediático externo à força política.

Neste contexto, serão as directas desejáveis? Não tenho dúvidas que sim. Mas importa que, para isso, os candidatos assumam uma responsabilidade acrescida na correcta informação dos militantes, não caindo na tentação populista. Implica também que os militantes estejam bem prevenidos perante tal tipo de tentação.

Tal como acontece com a maior parte dos instrumentos democráticos, a utilização de mecanismos de eleição directa requer também toda uma aprendizagem. No caso português, como é sabido, só agora estamos a começar. Tal contribui para explicar o que sexta-feira sucedeu com o PSD…

sábado, 29 de setembro de 2007

O PSD com Menezes: Catástrofe Anunciada?

As directas do PSD mostraram o que de pior tem o partido. A vitória de Menezes parece anunciar a vitória do populismo. Mas será que o PSD perdeu assim tanto com as directas? Será que Menezes fará o partido cair em desgraça? Julgo sinceramente que não.

Apesar das directas estarem longe de ser o exemplo de democracia que ontem todos os sociais-democratas tentaram fazer passar, o PSD sempre nos habituou com estas lutas renhidas de facções onde vale tudo. Basta lembrar aliás lembrar como ficaram conhecidos os seus congressos. Se calhar, a barafunda que assistimos nas directas mais não é do que uma perfeita transposição da realidade dos congressos.

Por outro lado, apesar do populismo de que é acusado Menezes, lembremos que este é também o PSD dos Santanas, dos Isaltinos, dos Valentins e dos Jardins. E, estranhamente ou não, o partido sempre sobreviveu com este tipo de figuras. Aliás, nunca deixou de merecer a confiança de muitos portugueses por sua causa. Antes pelo contrário.

Por mais paradoxal que possa parecer, Menezes dificilmente será uma catástrofe para o partido porque representa genuinamente muitos dos quadros e bases do PSD. E porque representa também o tipo de perfil que já fez o PSD ganhar muitas eleições. Se isso é bom ou é mau para o país, essa já é claramente outra questão…

A Vitória do Neo-Santanismo

Luis Filipe Menezes foi eleito líder do PSD. Apesar de todos as trapalhadas cometidas nos últimos dias, da qual se destaca a dos “índios da amazónia”, os militantes confiaram-lhe o futuro do partido.

A vitória de Menezes representa sobretudo a vontade dos militantes para que uma profunda mudança se opere no tipo de liderança do partido. Da seriedade, sobriedade, razoabilidade e rectidão que Marques Mendes tentava transmitir, os militantes optam agora pelo completamente oposto estilo de Menezes. Um estilo mais arrojado, mais aguerrido e destemido, mais emotivo, sem medo de contradições e, sobretudo, mais próximo do populismo.

Os militantes apostam, portanto, num estilo que julgam que poderá fazer mais moça na hegemonia de Sócrates. António José Teixeira referiu há pouco na SIC Notícias que a vitória de Menezes representa o regresso do estilo Santanista. Precisamente. Tudo parece indicar que sim…

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

O PSD e a Dependência do Poder

É banal afirmar-se que o PSD é um partido dependente do poder. Não constitui novidade a referida afirmação. Mas a presente crise parece demonstrar bem mais do que isso. Sem o poder, e com fracas expectativas de o atingir, o PSD bateu no fundo, bem no fundo. É lamentável…

A dependência dos partidos do centro relativamente ao poder é algo quase natural. São estruturas preparadas para o efeito, com quadros cujo exercício do poder constitui uma necessidade quase natural e que tem de ser saciada com regularidade.

Recordamo-nos sem dúvida da desorientação do PS nos tempos de Cavaco Silva. As lutas internas constantes, as divergências quanto ao rumo a seguir, a descrença de muitos dos seus militantes e apoiantes. Tal verificou-se também, embora numa escala menor, durante o Barrosismo. Mas, independentemente da desorientação, o PS parecia sempre encontrar algum refúgio na ideologia, no guinar estratégico para a esquerda, onde aliás muitos dos seus quadros e militantes estão à vontade. O PS conseguiu quase sempre manter a dignidade.

Mas no PSD, a ausência do poder, e a falta de expectativas de a ele aceder, parecem ter efeitos ainda mais nefastos. A crise actual é disso exemplo. Tal pode naturalmente ser explicado tendo por base as raízes e história do partido. De qualquer modo, seria quase impossível prever o quão baixo o PSD poderia descer. É lamentável a presente situação tendo em conta as responsabilidades que, quer queiramos quer não, o PSD possui no nosso sistema democrático…

50 anos do Vulcão dos Capelinhos

Vale a pena de facto recordar o que se viveu há 50 anos atrás no Faial. Sem dúvida que aprendemos nos manuais de história que foi uma erupção grande, que foi uma surpresa para todos açorianos. Mas, recordando hoje alguns vídeos e imagens do que se passou há meio século nos Capelinhos, ficamos mesmo com a certeza absoluta que se tratou algo único então passado nos Açores.

Tive a sorte de, durante este Verão, voltar a visitar a zona dos Capelinhos no Faial. Para além do esplendor de toda aquela paisagem única, tive também oportunidade de visitar o museu dedicado à erupção. Confesso que fiquei ainda mais espantado com a imensidão do fenómeno, com a força que a natureza então exprimiu na ilha do Faial.

Para os que se interessam em hoje recordar os Capelinhos, deixo no Activismo Tube (http://www.activismotube.blogspot.com/) uma pequena peça hoje transmitida pela SIC. Vale a pena dar também uma vista de olhos no dossier que o Público dedica hoje ao tema. E, para aqueles que ainda conseguirem apanhar nos quiosques, relembro que a edição de Setembro da edição portuguesa da revista National Geographic dedica uma grande reportagem à erupção.

Crise PSD: E eis que as Alternativas começam a Aparecer

Com todo este processo, o PSD está a bater no fundo, bem no fundo. Um dos aspectos mais interessantes é que, no meio da confusão instalada, perante o descrédito crescente dos dois candidatos, as verdadeiras alternativas começam aparecer. Perante a confusão de poder instalada, os que ambicionam seriamente o poder (não para já, claro, mas no futuro), começam a dar os primeiros sinais.

Nuno Morais Sarmento, uma das mais sérias hipóteses futuras do PSD que se tem inteligentemente afastado das luzes da ribalta, declarou ao Expresso Online que nenhum dos dois candidatos tem condições para liderar o partido.

Por outro lado, e para além dos rumores e apoios em torno de Ferreira Leite continuarem, também Alexandre Relvas começa a ter um grupo de apoiantes. Os fãs de Rui Rio começam também a fazer algum ruído. Até a hipótese de Paulo Teixeira Pinto começa a ser lançada, para já não falarmos na mais que declarada vontade de regresso de Santana.

Ou seja, no meio da confusão em torno dos dois candidatos que, no cenário político actual, dificilmente irão além do estatuto de líder a prazo, começam a antecipar-se já quem serão os futuros rostos que poderão disputar o poder no partido a médio prazo. No meio da tempestade, as grandes esperanças da bonança começam a dar a cara.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Licenciatura de Sócrates: Quem define a Agenda?

O caso da licenciatura de Sócrates parece estar de volta. O Público dedica hoje grande destaque ao caso. Embora dados novos sejam avançados, vale a pena questionar como e a que propósito aparece novamente esta questão da licenciatura do primeiro-ministro? Quem definiu a agenda?

Pelos vistos, algumas escutas telefónicas foram destruídas, a emissão do certificado no ISEL não demorou tanto quanto tinha sido avançado e as equivalências foram concedidas na UnI antes mesmos que suas notas de Sócrates tivessem sido lançadas no ISEL. Temos caso, portanto.

No entanto, importa questionar como ressurge este processo? O Ministério Público só agora levantou estas questões, ou os média só agora conseguiram acesso às mesmas? Ou os média, ou alguém, considerou que era o momento oportuno para que estas questões fossem lançadas? No fundo, quem ou como se definiu a tão importante agenda do momento? O poder de definir a agenda é decisivo nas nossas sociedades, nomeadamente no combate político... Et voilá...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

CM Lisboa: Começo Arrojado

Depois de fechar o Terreiro do Paço, combater o estacionamento em segunda fila e retomar o Dia Europeu Sem Carros em Lisboa, António Costa começa a sua política pelo que dói mais. O saneamento financeiro é o seu objectivo. Para o efeito anunciou já, entre outras medidas, a duplicação do valor do IMI e a redução de 30% nas despesas de avenças na autarquia lisboeta.

Um “manual político de gestão de mandatos para principiantes” recomendaria que se começasse com doces no primeiro ano, que as reformas que doem fossem aplicadas no segundo e terceiro ano, e que o último ano fosse terminado em grande, com mais doces. António Costa não dispõe de quatro anos. Saltou, portanto, a parte dos doces e entrou decidido nas reformas dolorosas.

Não estou certo que o eleitorado que elegeu António Costa estivesse à espera que a sua primeiríssima grande medida fosse um choque fiscal sobre o lema “colocar ordem na casa”. António Costa ainda merece o benefício da dúvida. Veremos, no entanto, como conseguirá gerir as expectativas num tão curto mandato.

Santana Lopes: um Regresso para Breve?

O Diário de Notícias noticiou hoje (Domingo) a disponibilidade de um regresso em força de Santana Lopes. Não para líder do PSD, mas sim para encabeçar a bancada parlamentar do partido. Segundo Santana, está na hora de fazer uma oposição a sério ao Governo.

Perante a notícia, confesso que o meu primeiro pensamento foi pessimista. Possivelmente esta poderia a melhor prenda de Natal antecipada que o PSD poderia dar a Sócrates. Colocar Santana como líder da bancada seria perfeito para que Sócrates se deliciasse ainda mais a acusar o PSD sobre o descalabro do seu último governo. Santana seria o aliado perfeito no prolongamento da actual era socialista.

Mas, num segundo pensamento, confesso que fiquei com dúvidas. Embora seja claro que Santana tenha deixado uma péssima imagem, também é verdade que o povo tem memória curta… No momento actual, poderia ser um pouco precipitado o regresso em força de Santana mas, daqui a um ano, quem sabe…

sábado, 22 de setembro de 2007

Clã – As Teimas estão Tiradas

Os Clã regressam agora com o seu quinto álbum de originais. Tira a Teima é o título do seu novo trabalho, assim como do single que o encabeça. Iguais a si mesmos, não desapontam. O single demonstra mais uma vez porque se destacam no nosso mercado nacional.

Considero-os o melhor grupo português dos últimos dez anos. Conseguiram impor-se com um som diferente, com um estilo muito próprio que não tem concorrentes a nível nacional. Os vários projectos em que embarcaram concederam-lhes rapidamente um lugar especial nos grandes da música portuguesa actual. A este respeito, para além do Lustro, destaco naturalmente o Afinidades com Sérgio Godinho.

O seu novo single Tira a Teima figura esta semana na selecção musical do Activismo de Sofá, aqui ao lado no Activismo Music. Uma vez que o tema ainda não possui videoclip, a música é suportada por um conjunto de fotos seleccionadas por um fã com o objectivo de divulgar o tema no YouTube. Obrigado fã, veio mesmo a calhar.

Sócrates ao Ataque ou os Ataques de Sócrates?

Sócrates tem, de facto, cumprido a sua promessa de ida a um debate mensal na Assembleia da República. Mas quem tem visto as suas actuações nos últimos meses, percebe rapidamente que debater não foi propriamente o que o levou lá.

O debate de ontem na Assembleia realizou-se muito à semelhança do que tem vindo a verificar-se de há uns meses para cá. Sim, Sócrates está a cumprir a sua promessa de um ida mensal ao parlamento. Mas quem acompanhou a debate em causa, percebeu perfeitamente que não é propriamente pela discussão que o primeiro-ministro ali está. A sua preocupação parece centrar-se no ataque puro e duro das oposições parlamentares.

Independentemente dos “alhos” que eram perguntados ao primeiro-ministro, este respondia ferozmente com arremesso de bugalhos. Não interessava qual era a pergunta, muito menos que a sua resposta se aproximasse do seu cerne. O importante era conseguir mobilizar todas as pedras que possam estar à mão e arremessá-las imediatamente para o adversário.
Durante as maiorias de Cavaco, as idas ao parlamento eram consideradas por este como uma perda de tempo. Sócrates, a este respeito, parece possuir um faro político bem mais arrojado. As idas ao parlamento servem para calar a oposição, seja de que modo for.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Política e as Spin Estatísticas

José Manuel Fernandes disserta hoje no Público sobre o perigo das estatísticas governamentais. Escreve sobre o facto de, por vezes, não serem bem enunciadas as fontes e a metodologia de recolha de dados, não sendo raras as vezes em que os dados anunciados são contraditórios. Alerta até para o perigo (remoto) de alguma manipulação de dados. Bem… Ainda vamos aí?

Estranho este tipo de inocência do Director do Público. Parece demonstrar uma terrível falta de conhecimento sobre qual o relacionamento do poder público com os números, com as estatísticas, ou mesmo com a verdade académica. É mais do que natural que estes se assumam como formas de legitimação da acção política governamental. E não, não é a teoria da conspiração. É um facto que julgo evidente.

O poder público controla a maioria dos organismos produtores da referida informação. Os INEs, os gabinetes de estudos e planeamentos e os observatórios proliferam na Administração Pública. Possuem, sem dúvida nenhuma o seu mérito científico, mas não sejamos inocentes ao ponto de pensar que a informação divulgada não depende também de conveniências. Mesmos os estudos ditos independentes, feitos por consultoras ou centros de investigação, dificilmente conseguem escapar a um ligeiro toque das entidades que os contratam. Não irão certamente contra aquela que é a inclinação do seu financiador.
Por mais paradoxal que possa parecer, mesmo em democracia os números e a ciência podem ser influenciados pelo dedinho político.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Diogo Feio e o PP cada vez mais “Pórtista”

Sem grande surpresa, Diogo Feio foi hoje eleito por unanimidade o líder do grupo parlamentar do PP. Depois da rápida fuga de Telmo Correia após o desaire de Lisboa, a representação do partido de Portas na Assembleia mantém a mesma linha. Resta saber se esta continuidade é sustentável…

Há muito que Diogo Feio se tinha vindo destacando na bancada, aparecendo a sua eleição como natural. Estranho apenas que seja noticiado que Feio apenas se tenha mostrado disponível para eleição no passada terça, uma vez que de há muito que era assumido como o principal sucessor de Telmo Correia.

Há umas semanas atrás, os meia-dúzia de ribeiro-castristas do partido contestavam a tão grande unanimidade em torno de Diogo Feio, o candidato do líder. Hoje, e por estranho que possa parecer, o partido de Portas mostra estar cada vez mais pórtista. Sempre foi um partido pequeno, onde as facções dificilmente conseguem aparecer. Resta saber se este pórtismo 2.0 conseguirá ter o mesmo vigor que a primeira versão no inicio. Duvido muito, muito mesmo…

Durão, Somague e o Refutar da Comissão

O última hora do Público noticia o seguinte “Comissão Europeia refuta suspeitas de favorecimento de Barroso à Somague”. O título parece sugerir que Durão foi já quase ilibado; que foi tudo uma confusão; que tudo não passou de um tremendo mal entendido. Mas não… Longe disso.

Durão foi questionado por um deputado do Parlamento Europeu sobre o eventual favorecimento da Somague na atribuição de fundos comunitários. A comissária da Programação Financeira e Orçamento esclareceu, no entanto, que a Somague não recebeu quaisquer fundos directamente da Comissão Europeia desde 1994/95. Hum… Ok, afinal o refutar da Comissão diz respeito apenas ao favorecimento através de fundos europeus…

Mas que tipo de fundos europeus estamos a falar? Ah, ok, apenas da parcela que é directamente financiada através de programas comunitários…. O que fica de fora, então? Ah, ok, todo o tipo de concursos públicos que, embora envolvendo fundos estruturais, são geridos pelas entidades públicas nacionais…

Bem, arrisco dizer que ficou de fora do “refutar” da Comissão a maior fatia das ajudas comunitárias. Precisamente aquela que é mais propícia a eventuais favorecimentos. Neste contexto, o esclarecimento prestado pela Comissão não constitui mais do que o refutar de uma das mais ínfimas possibilidades de favorecimento, contrariamente ao que a notícia à partida nos parece querer transmitir.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O Duelo Marques Mendes / Luis Filipe Menezes

No debate de ontem da SIC Notícias, tivemos um Luis Filipe Menezes bastante sério, procurando passar uma imagem de responsabilidade e seriedade. Com o trabalho de casa feito, conseguiu razoavelmente falar sobre diversos dossiers. Do outro lado tivemos o Marques Mendes que julgo conhecermos: sério, buscando a coerência, erguendo as bandeiras dos últimos tempos e, sobretudo, procurando a devida equidistância do seu adversário.

No que às ideias diz respeito, Marques Mendes persiste no rumo programático que mais tem caracterizado nos últimos anos: um social-liberalismo que, no momento actual, tem fortes dificuldades em se afirmar como alternativa às políticas governamentais. Relativamente a Luis Filipe Menezes, parece querer cortar pela esquerda do Governo, tendo dificuldade em contrariar os laivos populistas de que tantas vezes tem sido acusado.

Perante o cenário actual, os militantes do PSD terão certamente dificuldades acrescidas em decidir. Optar pelo candidato da continuidade que, apesar da seriedade que manifesta, pouco mais do que uma ligeiríssima comichão consegue provocar ao actual executivo? Ou optar pelo autarca de Gaia, arriscando na sua postura mais aguerrida, mas também mais propensa à demagogia?

Parece-me que a opção pela continuidade vencerá. Embora a maioria dos militantes tenha noção de que Marques Mendes não consegue, ou dificilmente conseguirá nos próximos tempos, fazer oposição a sério ao governo, parecem preferir uma opção que lhes garanta dois eventuais caminhos no futuro: 1) manter um líder que, caso o ciclo da rotatividade se antecipe, consiga estar minimamente à altura; 2) aguardar que os verdadeiros adversários de Marques Mendes (os barrosistas, por exemplo) decidam, em tempo oportuno, avançar e consigam devolver a grandeza ao seu PSD.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Thank you, Portuganos

O povo costuma ter pouca memória. Mas George Bush pelos vistos não. Muito menos esquecer aqui o velho amigo e aliado do american people, e todo o apoio dado nos conflitos do Afeganistão e Iraque. Sócrates deve ter estremecido…Consegue-se assim voltar a levantar assuntos que iam caindo convenientemente no esquecimento.

E se a intervenção no Afeganistão é já longínqua, desvanecendo-se o apoio português de então no meio da onda de compreensão internacional para com o ferido orgulho americano do pós-11 de Setembro, o mesmo não se passou com o Iraque. Levantavam-se então já enormes reticências a nível internacional sobre a euforia americana de “democratizar” o Iraque e de desmantelar as perigosas armas de destruição maciça.

Portugal não se ficou então por um consentimento silencioso. Portugal recebeu, na Base das Lajes, a “cimeira” onde Bush, Blair e Aznar alinharam os últimos detalhes para a intervenção no Iraque. O actual presidente da Comissão Europeia foi então um anfitrião entusiástico.

Assim sendo, qual a admiração e espanto em termos hoje o presidente americano a agradecer o apoio dos portuganos? É um agradecimento justo e muito merecido. Não tardará muito para termos também o povo afegão e o povo iraquiano a agradecerem a preciosa ajuda portuguesa na mudança que se processou nos seus países.

domingo, 16 de setembro de 2007

O Candidato do “Ah e Tal…”

Na sexta-feira, Luís Filipe Menezes diz que não acordou nenhum debate na SIC Noticias, preferindo guardar-se para os milhões de espectadores da RTP. Afirmou que a RTP tinha sido a primeira estação a convidar os candidatos para um debate, recusando-se portanto a participar no debate da próxima terça-feira num canal fechado.

No dia seguinte, sábado, a história já era diferente. Depois de Ricardo Costa ter lançado um comunicado afirmando que o debate foi acordado por ambas as candidaturas, Luis Filipe Menezes não hesita. Dá o dito por não dito e, depois de um breve “ah e tal…”, afirma que lá estará na terça-feira. Mas não perde tempo. Aproveita para desafiar Marques Mendes como se nada fosse, utilizando o seguinte tom: “…não tenha medo de vir comigo quarta-feira à noite RTP debater perante três milhões de portugueses. Não arranje desculpas, não fuja, seja corajoso, mostre que é capaz de me enfrentar, de me ganhar um debate.”

Brutal… Este homem é um mago da política, carago!

Colin Mcrae: O Senhor dos Ralis

Um dos mais espectaculares (literalmente) pilotos que o mundial de ralis já possuiu. A juventude e a garra que demonstrava em cada prova do mundial valeram-lhe uma significativa mediatização em todo o mundo.

Por mais paradoxal que seja, acabou por ser um helicóptero que lhe tirou a vida. Triste sina. Viverá, no entanto, por muito mais tempo para todos aqueles que admiram o mundo dos ralis.
Destaco hoje no Activismo Tube(http://www.activismotube.blogspot.com/) dois vídeos sobre Mcrae.

sábado, 15 de setembro de 2007

Merkel não tem medo do Dalai Lama

Angela Merkel receberá o Dalai Lama no próximo dia 23 de Setembro. Embora com o pretexto de encontro com um líder religioso, recebe-o não escondendo o seu empenho na questão dos direitos humanos na China.

A posição da Chanceler Alemã assume-se como uma pequena chapada de luva branca na posição recente do governo português. E se perguntarem a Merkel porque vai receber o Dalai Lama, a sua resposta não andará muito longe de: “pelas razões que são conhecidas”.

Não deixa de ser curioso verificar que o presente sinal de abertura provém de um chanceler de um partido do centro-direita assumidamente conservador; de um país com relações comerciais muito mais intensas que Portugal com a China, e de um país cujo peso na política internacional obriga a um jogo diplomático muito mais cauteloso.

Utilizando a expressão de Ana Gomes, contra a “esperteza saloia” da nossa diplomacia, os alemães respondem com causas, desembaraço e determinação.

Entrega de Computadores e Propaganda

No dia em que o Dalai Lama chegou a Portugal, o Executivo envolveu 21 dos seus membros numa tremenda acção de entrega de computadores a estudantes e professores, assinalando o início do ano lectivo. Contrariando um pouco as críticas formuladas, considero que a acção tem o seu mérito.

O aparato governamental na passada quarta-feira tem merecido forte contestação. Considero, no entanto, que o mesmo possui o seu mérito. A luta, sem tréguas, pela difusão e massificação das TIC (tecnologias da informação e da comunicação), deverá ser um dos domínios em que melhor se justifica o pleno empenho governamental. Se há modelo de desenvolvimento em que o país tem de apostar, julgo que este é o desenvolvimento de uma Sociedade da Informação e do Conhecimento. Parece-me consensual.

Seria necessário tanto aparato? Se calhar não. No entanto, da mesmo modo que a paixão de Guterres pela Educação ajudou a criar ressonância junto da população sobre as prioridades políticas do seu governo, julgo que o presente Executivo actua bem ao desenvolver este tipo de “propaganda tecnológica”. Paradoxalmente ou não, há propagandas que podem ser bem-vindas.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A Indomável Ana Gomes

Ana Gomes continua a ser uma das poucas vozes diferentes do quase monolítico PS. Mês após mês, vai encontrando sempre uma picardia com que se entreter para “animar a malta”. Há algum tempo atrás foi com José Lello e a propósito do caso do financiamento ilegal do PS no Brasil. Agora é com Luís Amado.

Em post de 9 de Setembro no Causa Nossa, Ana Gomes não se coibiu de criticar abertamente a posição da diplomacia portuguesa sobre a recepção ao Dalai Lama, escrevendo linhas pouco abonatórias sobre Luis Amado e a sua política. Hoje, na sua coluna no Corrier Internacional, sob o título “Quem tem medo do Dalai Lama?”, volta a espicaçar o MNE, mostrando que a picardia não deve, para já, cair no esquecimento.

Embora muitos a possam considerar como sedenta de protagonismo, ou mesmo como uma impulsiva “desbocada”, não posso deixar de apreciar o sangue quente que Ana Gomes manifesta em cada uma das suas intervenções. Gosto do seu espírito “murro na mesa”. Gosto das suas intervenções à MRPP que, apenas por momentos, claro, fazem abanar o edifício monolítico socialista típico do poder.

Pena é que Ana Gomes apenas escolha (como é óbvio) assuntos que fazem alguma comichão, mas que estão longe de causar danos de maior ao seu partido. Acaba assim por integrar o conjunto de socialistas que servem para demonstrar o pluralismo no seio do partido do poder. No mundo político, ninguém pode ser perfeito...

Activismo Tube - A Versão YouTube do Activismo de Sofá

Os testes de ADN não deixaram dúvidas. Através dos vestígios de cabelo encontrados no header do Activismo de Sofá, os laboratórios de Birmingham comprovaram que este possui um irmão, de seu nome Activismo Tube.

O reconhecimento mútuo dos manos foi complicado. Mas, sob a benção do Dalai Lama, conseguiram entender-se, decidindo enfrentar juntos a blogoesfera. Embora relutante em assumir um papel subalterno perante o irmão mais velho, o Activismo Tube comprometeu-se com dois objectivos:

1 - Arquivar os videos inseridos em posts do Activismo de Sofá, assim como os transmitidos na "Activismo TV", na "Activismo Music" e na "TV Artista";
2 - Partilhar videos interessantes, pertinentes, engraçados que vão sendo descobertos na blogoesfera.
O Activismo Tube assume-se assim como uma versão multimédia do Activismo de Sofá, servindo de arquivo virtual de videos publicados e/ou encontrados algures na web. Sem grandes textos, sem grandes pretenções e abusando do "plágio" que só a Internet nos permite.

O Activismo Tube pode ser encontrado na barra lateral do Activismo de Sofá ou, alternativamente, em http://www.activismotube.blogspot.com/. Como é natural, acompanharemos com interesse os desenvolvimentos deste caso dos Mctivismo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O Rebelde Dalai Lama

O Governo português optou por não receber o líder espiritual do Tibete. Luis Amado sustentou que, “por razões óbvias”, não o faria formalmente, “pelas razões que são conhecidas”.

Deste modo, e apoiado em princípios de diplomacia de café (ou de esquina se preferirem), considerou-se que tal seria um acto ultrajante para com o Governo Chinês, nosso irmão… Palavra de ordem: Não incomodar os poderosos.

A diplomacia portuguesa esqueceu-se certamente que Dalai Lama só não é consensual na China. Esqueceu-se também que Dalai Lama já foi recebido por governos de todo o mundo. Mas parece que a realpolitik de esquina acabou por pesar mais…

Interessantes foram as reacções das oposições parlamentares. O PSD não fez muito barulho. O PCP não quis ofender os camaradas chineses. Apenas o Bloco, o CDS e a indomável Ana Gomes acabaram por criticar a posição governamental. Curioso…

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Call Centers: o Esplendor do Precariado

Excelente artigo de Jorge Silva e Fernando Ramalho no Le Monde Diplomatique deste mês. Conhecedores, por experiência própria, da realidade dos call centers, exploram o mundo à parte vivido nas ilhas deste pseudo-domínio profissional.

Os modelos neo-fordistas de funcionamento, o vazio dos objectivos impostos, a competitividade entre colegas em permanente rotatividade, a falta de perspectivas e o silêncio com que cada um dos operadores regressa a casa após mais um dia de trabalho, são apenas alguns dos temas abordados.

“…as conversas com amigos e familiares não versam essa realidade sem interesse e desprestigiante (o call center), pelo menos sob o rigoroso e empreendedor olhar do circuito que nos rodeia. Sendo assim, a primeira lição é dada socialmente: as oito horas diárias que consomem um terço do quotidiano não são tema de conversa nem de interesse. Aprende-se portanto a esquecer.”

Dado que é um dos sectores que mais beneficia com o tão badalado desemprego dos jovens licenciados, valeria a pena que alguns ilustres nossos conhecessem um pouco melhor esta realidade dos call centers. Se calhar assim pensariam, pelo menos, duas vezes antes de afirmarem à boca cheia que o problema do país é a pouca flexibilidade da lei laboral.

Recordando Antero

11 de Setembro é também a data da morte de Antero de Quental. Faz hoje 116 anos que o maior poeta açoriano, um dos mais notáveis homens do século XIX, pôs termo à vida num simples banco de jardim em Ponta Delgada. Recordemos a obra, mas recordemos também a sua vida.

De Antero podemos recordar a sua poesia. Podemos recordar o seu pensamento político, Neste dia, prefiro no entanto recordar a sua vida: da infância em S. Miguel, aos agitados tempos académicos em Coimbra, da maturidade em Lisboa ao retiro em Vila do Conde e ao regresso final à terra mãe.

A sua vida representa a genialidade de um ser, a inteligência e a sensibilidade de um grande homem, mas também o tormento de um genuíno intelectual. Antero viveu sempre atormentado pelo mundo. E foi a própria preocupação com o mundo que lhe tirou a vida. Resta-lhe a eternidade.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Seis Anos depois de o Mundo ter Mudado

Seis anos depois, duas guerras depois, dezenas de milhares de mortos depois, o 11 de Setembro já não representa apenas a morte de americanos inocentes nas Torres de Nova Iorque. Representa o início de uma opinião pública apavorada pelo terrorismo, de uma política externa americana desastrosa, responsável pelo sangue que todos os dias verte no Afeganistão e no Iraque, e o caos total na geopolítica global.

A guerra do Iraque apresenta-se como uma das feridas cada vez mais abertas do 11 de Setembro. A sua condenação por parte da opinião pública internacional e pela maioria dos países foi muito significativa desde o início. Apesar, claro, dos sectores neo-conservadores de todo o mundo, inclusive os que por cá existem, insistirem na existência comprovada das perigosas armas de destruição maciça. Os resultados estão à vista…

Mas recordo também o posicionamento do mundo quando se iniciou a invasão do Afeganistão. Aí, a sede de sangue americana foi inexplicavelmente tolerada. E aí não foram apenas os sectores neo-conservadores de todo o mundo que apoiaram a invasão. Os resultados estão também à vista…

E, como se tudo isto não bastasse, persistem as dúvidas sobre o que de facto aconteceu em Nova Iorque naquele dia de Setembro de 2001. Do sensacionalismo de Michael Moore a outras produções menos emblemáticas, muitas peças parecem continuar a não bater certo. E adivinha-se que seu esclarecimento nunca se fará de facto… Paradoxal, não?

Foi de facto o dia em que o mundo mudou. E ainda hoje estamos longe de saber para onde se dirige. Mas foi também o dia em que o mundo ficou pior. Não apenas pela multiplicação, desde então, de criminosos actos de carniceiros fundamentalistas (vulgo terroristas). Mas também por ter permitido que a face carniceira do Ocidente, sob a bandeira da luta contra o terrorismo, possa hoje ser vislumbrada por todo o mundo.

“Vêm-te endividar, e põe a tua vida de pernas pró ar!”

É um curioso fenómeno: quando a economia cresce, os lucros na banca aumentam; quando a economia se retrai, os lucros aumentam também. Invejável negócio não?

Digo isto a propósito do maremoto de spots da banca que nos atormentam dia e noite, faça sol ou faça chuva, no intervalo do jogo de futebol ou na da mais recente novela da TVI. Entra-nos em casa com anúncios cada vez mais divertidos, mais coloridos, mais engraçados, mais jovens e dinâmicos.
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A banca floresce. E, claro, quer partilhar connosco o seu país das maravilhas. É legitimo, não?

domingo, 9 de setembro de 2007

O Domingo e a Fome de Quiosque

Do mesmo modo que não é recomendável ir ao supermercado com fome, ir a um quiosque no domingo acaba também por ser perigoso. O espírito de fim-de-semana encaminha-nos inevitavelmente para novas leituras, novas publicações.

É então que nos perdemos no mundo das revistas. A duvida entre a Rotas do Mundo e a PC Guia, entre a Automotor e a Saber Viver, entre a Veja e a Foreign Affairs, entre a Egoísta e a Mac World. Um horror…

Depois de muito remexer e folhear, decidi-me pela edição portuguesa da National Geographic. Com a sua variedade de artigos que vão dos ursos dançantes na Índia à mudança cultural no Paquistão, dos glaciares do Canadá ao estudo dos insectos no âmbito da ciência forense, enche-nos com aquelas reportagens que ao Domingo tanto apreciamos enquanto preguiçosamente cafézamos numa qualquer esplanada.

Este mês possui um dossier dedicado à erupção dos Capelinhos, em 1957. Vale a pena.

O Espaço do PSD: o Liberalismo é o Caminho?

O partido de centro-direita e que paradoxalmente se chama social-democrata sempre viveu do poder ou da sua forte aspiração a lá chegar. No momento actual, e com a maioria socialista bem reforçada, encontra-se confuso. Que fazer? Esperar simplesmente que o rotativismo aconteça? Ou afirmar-se sem complexos com uma doutrina liberal?

A ausência do poder leva imediatamente a reflexões internas sobre que caminhos seguir, que vão naturalmente além da simples mudança de líder. A revista Atlântico deste mês apresenta uma série de ensaios a este respeito. No meio de diversas trivialidades, destaco o artigo de Bruno Alves, que aponta para o PSD o caminho do liberalismo, “em oposição ao estatismo hoje existente”.

Estando hoje um Partido Socialista no poder, governando naturalmente ao centro e roubando espaço à “social-democracia de centro-direita” do PSD, diria que a aposta na afirmação de um doutrina liberal, sem complexos, poderia ser um bom caminho para a afirmação do PSD. Distinguir-se-ia do adversário socialista ao mesmo tempo que afirmava valores que, por toda a Europa, emergem consolidados em diversas forças políticas.

O desafio, no entanto, é que a forma como se formou o sistema partidário português em democracia acabou por não reservar espaço à doutrina liberal. O liberalismo, puro e duro, sem complexos, está pouco enraizado na cultura política do eleitorado português. Este poderá, no entanto, ser um risco que o PSD deveria estar hoje disposto a assumir, apostando num discurso centrado nas novas classes médias emergentes, na geração que não viveu a revolução e que não se habituou ao conforto do Estado Providência.

Estará o partido de Sá Carneiro disposto a correr esse risco? Tenho muitas dúvidas. Se tivermos em conta a corrida à liderança que neste momento ocorre, o caminho do partido parece ser o do “esperar que o rotativismo aconteça”. São opções…

sábado, 8 de setembro de 2007

ASAE e o seu Protagonismo Crescente

Não há semana em que não ouvimos falar da ASAE. Parece estar em todo o lado. Num dia aparece na Feira do Relógio, no dia seguinte “ataca” os espaços nocturnos do Porto. Num dia está nos restaurantes chineses em Viana do Castelo, no dia seguinte sabemos que vai inspeccionar as rulotes do Campo Grande.

Acho bem que este tipo de entidades actuem. Não é essa a questão. Questiono-me sim sobre o protagonismo repentino que este organismo tem vindo a assumir. Alguém se lembra da ASAE há dois anos ou três anos atrás? Possivelmente, para a maioria dos cidadãos, não era mais do que uma sigla de um qualquer organismo do Estado.

É óbvio que o recente protagonismo da ASAE resulta de uma vontade dos seus responsáveis em aumentar a vertente da comunicação. É legitimo. Mas confesso ficar com uma ligeira comichão quando organismos de inspecção e securitários, como a ASAE ou a PJ e a PSP (que também são uma presença frequente nos telejornais, com assessores de comunicação e tudo), manifestam uma vontade tão grande de aparecer. Ficamos todos mais seguros quando assim acontece? Ou é apenas um fenómeno que tenta matar a sede securitária dos nossos dias?

Vitor Jara: o Zeca Chileno

Quando, há cerca de um ano, estive em Santiago do Chile, pude conhecer um pouco melhor a história de Vitor Jara. Ontem, consegui finalmente ter um CD seu. Uma delicia.

Em Santiago, tive oportunidade de ver uma exposição sobre Vitor Jara, o grande cantor de intervenção chileno. No fundo, o Zeca Afonso daquele país. Jara foi um dos muitos que sucumbiu pouco depois do golpe de Pinochet em 1973. Foi um dos milhares que foi levado para o Estadio Chile, transformado então em campo de concentração. Foi submetido a inúmeras torturas e, por fim, assassinado. Para os curiosos, ver Wikipédia.

Tentei em Santiago comprar um dos seus CDs best off. Mas, por forretice apenas justificada por ter uma grande viagem pela frente, acabei por não fazê-lo. Ontem consegui redimir-me um pouco. Comprei um CD de Jara na barraca do PC Chileno na Festa do Avante. Uma delícia… Partilho assim no espaço Activismo Music (que hoje inauguro aqui ao lado) um pouco de Vitor Jara.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O Activismo foi ao Barbeiro

Depois de ouvir diversos consultores externos, e a pedido de muitas famílias, o Activismo foi ao barbeiro. Os especialistas consideravam-no num estado deprimente, pouco adaptado às novas tendências da blogofashion.

O autor não ficou muito convencido. A resistência à mudança foi evidente. Mas, e a muito custo, entregou-se nas mãos dos profissionais da barbearia.

E eis que uma espécie de extreme makeover aconteceu. Novo grafismo e novas funcionalidades são agora visíveis. O corte de cabelo (vulgo header do blog) não é definitivo. Aguarda-se um novo penteado nos próximos dias. O Activismo sente-se mais jovem, mais dinâmico e afirma até que a sua vida mudou completamente....

Quanto aos conteúdos, não há volta a dar… O mesmo tipo de análises, criticas, bitates e clichês permanecerão.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O Diplomatique parece estar cada vez menos Monde

Hoje comprei, como sempre costumo fazer, mais uma edição do Le Monde Diplomatique. E mais uma vez fiquei desconsolado com o tamanho reduzido da edição portuguesa. É certo que os jornais não se medem aos palmos, mas…

A edição portuguesa nunca foi muito volumosa. Mas, neste último ano, fruto certamente de dificuldades financeiras da editora, a edição tem saído sempre com sensivelmente 24 páginas...

Sendo uma publicação de referência, com bons textos, bons colaboradores, que trata temas da actualidade internacional e nacional assumidamente à esquerda, é lamentável que não consiga melhor afirmar-se no panorama dos média nacionais. O que falta? Financiamento, publicidade, assinantes certamente.

No meio de tudo isto, e para quem gosta de publicações de actualidade e ideias políticas, não podemos deixar de notar o desequilíbrio político que mensalmente encontramos nos quiosques. Á direita temos a Atlântico, em papel lustrado, a cores, com publicidade, com vida… Á esquerda temos um tímido Le Monde Diplomatique, cada vez mais fino e introvertido, que parece lutar mensalmente para sobreviver… Algo tem de ser feito para reequilibrar este panorama.

Somague: a Benemérita do PSD

Um dia a Somague acordou e disse: “Eu vou ajudar o país, a nossa república, a nossa democracia. Vou contribuir para o progresso, para o desenvolvimento, para a liberdade e igualdade em Portugal!” E assim foi. Nesse mesmo dia, uma ajudinha de 233 000 € para o PSD. É razoável, não?

O Ministério Público considerou não existirem razões para abertura de um inquérito criminal no caso Somague/PSD. No fundo, confirma-se que a Somague pagou uma factura do PSD e JSD no valor de 233 415 €. Mas, e como sublinha Vital Moreira, tal revela apenas que o Ministério Público não encontrou, para já, indícios que a Somague tenha sido beneficiada com tão louvável e prestável acto aquando das eleições autárquicas de 2001.

Bem sei que a nossa democracia ainda olha com extrema desconfiança o financiamento partidário. Contrariamente ao que acontece noutros países, é sempre visto como algo obscuro, difícil de tratar. Mas, e não querendo ser demagógico, pergunto-me o que terá motivado o gigante da construção civil Somague a tão preciosamente ajudar o PSD?

O seu Conselho de Administração terá sido iluminado sobre o valor da democracia e dos partidos, decidindo assim, de forma benemérita e totalmente filantrópica, apoiar uma força política em necessidade? Se assim foi, bem-haja a Somague. Os seus administradores possuem já um lugar reservado no céu…

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Resquícios da Silly Season ou um País do Faroeste?

Os assaltos a bancos parecem estar na moda. “Se precisas de umas massas extra, dirige-te ao teu banco. Calma. Não lhe peças um crédito… Assalta-o!"

Não sei bem o que se passa, mas os telejornais estão a bombardear-nos com noticias de assaltos a bancos. Depois da febre das bombas de gasolina, o assalto a bancos parece agora ser o crime do momento.

Perante a quantidade de notícias deste género que têm proliferado, fico na dúvida se o país está mais perigoso (o medo, o crime, o horror…). Ou serão apenas os resquícios da silly season? Humm… Acredito mais na segunda hipótese.

Não tarda nada e voltarão as polémicas na política e os casos no futebol. O país voltará então à normalidade...

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O Avante! e as Nódoas do Costume

Todos os anos, uma espécie de nódoa teima em não sair da Festa do Avante. Não percebo bem qual é a estratégia, mas o PCP teima em convidar representações de partidos comunistas nada comprometidos com a democracia. Porquê?

Todos os anos a polémica instala-se. As representações de partidos estrangeiros presentes na Festa acabam por manchar duramente a iniciativa. Os críticos do Avante! apressam-se a justificar que tal demonstra a própria essência do PCP. Por seu turno, os frequentadores “mais atentos” da festa limitam-se a ignorar as nódoas presentes no espaço internacional do recinto.

Este ano voltarão a existir representações do PC Chinês, do PC de Cuba, do PC da Colômbia (com ligações às FARC), entre outras com compromissos pouco claros com a democracia. O que ganha o PCP com isto? Gosta de fazer gala em mostrar os seus amiguinhos dos quatro cantos do planeta? Ganhará votos com esta casmurrice? Acha que os seus militantes apoiam as referidas representações?

Não percebo. Não consigo de todo perceber esta estratégia que tão cara sai ao PCP, dando de bandeja aos seus adversários os mais habituais argumentos do anti-comunismo. Bem sei que o PCP não se move por qualquer ortodoxia para com a democracia. Mas deitar tanto a perder só para não ofender os seus camaradas de uns poucos países… Enfim, mais um mistério a juntar à tremenda lista de opções pouco inteligentes do PCP.

domingo, 2 de setembro de 2007

Universidades de Verão e Formação Política

A formação ideológica dos quadros partidários deveria ser uma importante prioridade das forças políticas. Não chega ser formado em politiquice. Importa também ter formação em Política.

Quase em simultâneo, realizou-se mais uma Universidade de Verão do PSD, assim como a iniciativa Socialismo 2007 do Bloco de Esquerda. Ambas visam a discussão de ideias entre militantes antes da reentré num novo ano. Facilmente podem ser apelidadas de iniciativas de doutrinação, com um carácter pejorativo. Pelo contrário, acho que são excelentes iniciativas.

A maioria dos quadros partidários possui uma excelente formação em politiquice. Não era mau que as direcções partidárias promovessem também, e com maior frequência, uma séria formação política dos seus militantes. A formação em história das ideias, em direito constitucional, em políticas públicas, em análise política, entre muitas outras áreas, deveria ser uma prioridade dos partidos. Faz falta…

A Reentré de Portas

Depois de um Julho catastrófico, e um Agosto em que ninguém ouviu um murmúrio do CDS, Portas tenta apresentar-se agora de cara lavada. Será que é suficiente? Tenho muitas dúvidas.

A derrota em Lisboa foi terrível para Portas. Era a hipótese de se redimir após desgaste provocado com o golpe dado a Ribeiro e Castro. Tudo correu mal. O líder disse que ia reflectir. E assim o fez durante a segunda quinzena de Julho e em Agosto. O CDS fechou-se para balanço e esperou a bonança depois da tempestade.

Portas tenta agora um reentré diferente. Apresenta-se com um vídeo no Sapo. Tenta um CDS de cara lavada, suportado nas maravilhas da web 2.0. Aponta três temas (caso de Silves, a subida dos juros na habitação e os vetos presidenciais) e trata-os bem ao seu estilo.

Portas é um excelente orador, não haja dúvida. Mas tal não chega no momento actual. O eleitorado já o conhece, já tem muitos anos de discursos inflamados a roçar o populismo. O CDS precisará de muito mais do que uma reentre no utube do Sapo para se ressuscitar. Que é feito das prometidas novas temáticas abraçadas pela nova direita?