segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Torcer pela Queda dum Anjo


Não deixa de ser espantoso constatar a grande aliança que se formou para torcer pela falhanço do Governo Grego. Desde os pares europeus à comunicação social, que se esforça por encontrar uma brecha que consiga explorar (nem que seja o cachecol). Da direita que convictamente defende a austeridade ao centro esquerda que se sente incomodado com a coragem grega. 

Importa torcer efusivamente pela queda dum anjo. Porque se não cair, é sinal de que muita gente andava enganada, muita gente andava acobardada. O anjo tem de cair, meus caros, dê por onde der.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Deus deve ser do Benfica


Depois de estar a perder e em dificuldades, uma simulação para penálti (que não deu direito a amarelo) gerou um canto que não existiu. Surge aí o empate do Benfica. Dois minutos depois, um jogador do Moreirense leva vemelho direto por "elogios" ao árbitro. Devem ter sido "mega elogios" para darem direito a um vermelho direto... E é então que o campeão surge em toda a força. Mete o segundo com um frango do guarda-redes do Moreirense  e acaba por ganhar o jogo por 3-1. 

Jesus é do Benfica. Deus também deve ser.

Edição 100 do Le Monde Diplomatique


Os tempos atuais de excesso de informação são também tempos de diminuição do trabalho jornalístico. O que nos chega dos media mainstream parece cada vez mais repetitivo, gerando menos pensamento e menor capacidade crítica. No panorama nacional, o Le Monde Diplomatique é uma autêntica precisiosidade, Uma publicação que se lê de fio a pavio, com artigos de fundo geradores de pensamento crítico. Uma lufada de ar fresco.

Assegurado pela Cooperativa Outro Modo, comemora agora a sua 100ª edição, num contexto em que a sustentabilidade destes projetos é, no mínimo, desafiante. Para que venham mais 100, 200 ou 1000 edições, importa consumir e devorar o Le Monde Diplomatique. Importa comprá-lo. E, melhor ainda, importa assiná-lo, garantindo assim a sustentabilidade deste projeto. Faço-o aqui.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Eu aproveitava e demitia-o já

Sem remorsos porque Marques Guedes não sentiria a sua dignidade a ser beliscada.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

"Melhor prova" é a tua tia, pá!


elogios que só podem ser interpretados como ofensa... Depois de termos batido todos os recordes de desemprego, da imigração ter ultrapassado o que se viveu nos anos 60, da perda de poder de compra dos Portugueses ter sido vertiginosa, do Estado Social ter recuado de forma dramática, dos serviços públicos encerrarem no interior do país... Depois de tudo ter sido conseguido à custa de cortes cegos na despesa do Estado e de aumento cego e primário da receita, ainda estando os Portugueses a aguardar as supostas reformas estruturais... Enfim, há elogios que deviam ser mandados para bem longe.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Nada Porreiro, pá


O José tem um amigo generoso, chamado Carlos, que lhe faz uns empréstimos simpáticos para o ajudar com uns problemas de liquidez. Umas centenas de milhares de euros em poucos anos. Coisa pouca, portanto. Não o faz através de transferências bancárias. Fá-lo em grande parte através de envelopes com dinheiro vivo. O José e o Carlos não se referem a este dinheiro nas suas conversas. Chamam-lhe fotocópias, livros, “aquilo”. Para ajudar a empresa do Carlos, o José utiliza uns contactos ao mais alto nível para abrir portas em Angola. Pequenas atenções, portanto. E estranhe-se quem passar que se trata de algum tipo de retribuição. Nada disso. Por acaso, a empresa do Carlos cresceu de forma formidável durante os anos em que o José foi primeiro-ministro. E não faltam testemunhos do mundo empresarial a dizer que a referida empresa se gabava da proximidade ao José. Mas tudo não passam de más-línguas e puras coincidências.

Como é evidente, a caricatura acima baseia-se apenas no que tem vindo a público através da imprensa. Falhas no segredo de justiça, notícias que surgem subitamente sabe-se lá de onde. Mas que, aos poucos, vão apertando cada vez mais o cerco a José Sócrates. O que antes parecia um caso perfeitamente nebuloso, em que ninguém conseguia ligar peça com peça, começa agora a ganhar forma. 

É certo que entre o que se escreve na imprensa e a realidade vai uma enorme distância. E é até legítimo achar-se que se trata de uma tremenda operação para tramar José Sócrates. O lamaçal instalou-se de tal modo que o mais inocente dos inocentes seria rapidamente envolvido pelo mesmo, é um facto. Mas é também claro que o que antes era considerada pura ficção, deixou de o ser para a própria defesa de José Sócrates. E quem viu a entrevista da semana passada de João Araújo na RTP, percebeu que a forma de rebater as acusações diversas que vão chegando bateu no fundo. Passou a argumentar-se que receber empréstimos de centenas de milhares de euros é algo do foro privado de José Sócrates, que não é crime transferir em dinheiro vivo tais quantias e considerou-se que falar em código ao telefone é uma legítima defesa da privacidade.

Independentemente de ser crime ou não, e de continuar a ser perfeitamente defensável considerar-se que José Sócrates não devia estar preso preventivamente, qualquer um dos detalhes que deixou de ser negado pela defesa são graves para um ex-Primeiro-Ministro. Politicamente, são inadmissíveis. Um ex-Chefe de Governo que se envolve em esquemas de envelopes com dinheiro vivo e supostos empréstimos milionários de amigos, até pode não ser considerado um criminoso. Mas não restam dúvidas que tem um sério problema de transparência e de verticalidade na sua conduta. Para um ex-Primeiro-Ministro, não basta ser incorruptível, importa não deixar quaisquer dúvidas a este respeito. 

Cada novo detalhe deste caso que transpira cá para fora gera grande desconforto em todo o ecossistema que naturalmente existe em torno de um governante tão emblemático como Sócrates. Os seus Ministros e Secretários de Estados, os seus assessores e amigos políticos, os seus camaradas, os seus apoiantes. É todo um edifício que está neste momento a ser fortemente abalado. E os abalos fazem-se sentir com ainda maior intensidade uma vez que o PS é dirigido por uma linha que se afirmou precisamente como orgulhosa herdeira do consulado de José Sócrates. É natural que se separe o partido do seu antigo líder. As devidas distâncias têm de existir e devem ser respeitadas. Mas estranho seria que este mesmo partido não sinta as consequências do que está a acontecer. É a integridade do seu último grande líder que está seriamente posta em causa. Não podemos todos fingir que isto não está a acontecer. Não podemos todos fingir que José Sócrates não tem nada a ver com o PS.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Viriato Soromenho Marques na Convenção Cidadã Tempo de Avançar


A intervenção de Viriato Soromenho-Marques marcou a Convenção Cidadã da semana passada. Vale mesmo a pena perder uns minutos a ouvi-la.

O que move os peregrinos de Évora?


As notícias continuam a ser cada vez mais comprometedoras para Sócrates. E as suas entrevistas não têm ajudado a aliviar. A empresa do amigo que floresce durante os seus mandatos, o amigo que empresta a casa de luxo e centenas de milhares de euros, os gestos de simpatia para com o Grupo do amigo...

Parece-me quase certo que Sócrates não devia estar preso preventivamente. É também perfeitamente possível que Sócrates não tenha cometido nenhum dos crimes de que é suspeito. De qualquer modo, uma série de episódios já assumidos por Sócrates são vergonhosos e politicamente inadmissíveis para um ex-primeiro-ministro. 

A maioria dos peregrinos de Évora acharão sempre que está em curso uma cabala contra um dos seus. Mas parece-me claro que alguns abraçam a peregrinação porque sabem que, dê por onde der, Sócrates não pode cair. Porque se assim acontecer, não tombará sozinho.

Soares



Dir-me-ão que não se pode calar um animal político como Soares. Que tentar acalmá-lo, apelar a uma maior serenidade nas suas intervenções, seria privá-lo do que mais força lhe dá nesta vida. Percebo. Mas, sendo o mais honesto possível, julgo que se estão a ultrapassar de forma lamentável (para o próprio) alguns limites. 

D. Duarte é um grande amigo da causa Republicana


Devemos a este senhor, e à sua profunda imbecilidade, o facto da Monarquia não conseguir ser hoje levada a sério em Portugal.  O seu mais recente contributo para o republicanismo assenta na sua assinatura de um manifesto ao Papa Frascisco para que afaste da igreja os recasados e os gays (?!). Obrigado, D. Duarte, por seres como és. 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Varoufakis Pop Star


O Ministro das Finanças Grego é a pop star do momento na política internacional, já sabíamos. E o Observador  não brinca em serviço. Fiquei a saber que poderei comprar uma camisa semelhante à de Varoufakis por 29, 95 € na Zara. Comentários para quê?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Revenge Porn


A revenge porn é algo que parece acontecer com cada vez maior frequência. Vale a pena ver o video.

Mudança ou Mudançazinha?


Subitamente, parece que os ventos de mudança começaram a atingir a Europa de forma minimamente séria. A vitória do Syriza e os primeiros dias do novo Governo Grego vieram demonstrar que existem posturas que não passam pela submissão a troikas e que existem caminhos que não passam pela austeridade. Encontrando-se numa situação de calamidade social, os gregos reagiram decidindo apostar um caminho alternativo. E não são os únicos que parecem dispostos a fazê-lo. Já aqui ao lado, em Espanha, o Podemos poderá também ter oportunidade de demonstrar que um outro caminho é possível. E os ventos de mudança não se ficam por aí. Na Irlanda, por exemplo, o Sinn Féin tem vindo a ver a subir na sua popularidade. E nos mais diversos países europeus, o establishment começa olhar em volta e a tentar identificar de onde vem “o perigo”.

Como é evidente, os processos de mudança em curso estão longe de ser um mar de rosas. Enfrentam inúmeras resistências, lidam com expectativas elevadíssimas. A probabilidade de sucesso dos mesmos é limitada, pois são inúmeras as pedras que têm no seu caminho. A mudança sempre se fez correndo inúmeros riscos. E os primeiros dias de governação de Tsipras na Grécia demonstram isso mesmo. Optou por formar governo com um parceiro de coligação muito pouco ortodoxo, assumiu a renegociação da dívida como prioridade e viu a bolsa grega afundar-se, enfrentou de frente a União Europeia e viu de imediato seu país a ficar isolado no panorama europeu. Em suma, assumiu inúmeros riscos. E ninguém neste momento pode garantir se os gregos serão bem-sucedidos ou não nesta sua impertinência de querer mudar. De qualquer modo, uma coisa já conseguiram: não deixar ninguém indiferente.

Os casos grego e espanhol demonstram-nos também que a emergência destes novos partidos e movimentos faz-se colocando em causa sistema partidário até então vigente. Syriza e Podemos afirmam-se em prejuízo dos partidos que até agora dominaram o panorama político dos respectivos países. No caso grego, a vitória do partido de Tsipras implicou um desaparecimento eleitoral do PASOK. Em Espanha, o PSOE e o PP estão a ver a sua hegemonia ser posta em causa por uma terceira força política. O bipartidarismo que há décadas domina os dois países foi colocado em cheque. Podemos ver neste panorama um risco tremendo, uma vez que estamos a por em causa o sistema que bem ou mal trouxe os seus países até ao presente com paz e alguma prosperidade. Ou podemos ver uma oportunidade, possibilitando a reconfiguração de sistemas partidários esgotados, em que partidos muito semelhantes ou indistintos se alternam no poder, com o progressivo alheamento dos cidadãos

O momento que vivemos actualmente obriga-nos a não ter ilusões de que se queremos a mudança, riscos têm de ser assumidos. Porque a mudança assim o exige. De outro modo, não seria em si mesmo uma mudança, mas sim uma mudançazinha. No fundo, uma abordagem reformista calminha e cautelosa que procuraria mudar alguma coisa, mas garantindo que uma série de jarras e porcelanas não se partem. Neste sentido, para que cada um de nós saiba exactamente o que defende, se calhar deve perguntar-se a si mesmo se prefere uma mudança ou uma mudançazinha.

Embora o cenário em Portugal seja evidentemente muito diferente dos casos grego e espanhol, naturais lições devem ser tiradas do que se está a passar nestes países. Teremos eleições legislativas no final do ano, obrigando-nos a decidir se queremos que algo mude verdadeiramente, como não tem mudado nestes últimos 40 anos de democracia ou, pelo contrário, preferimos uma mudançazinha nos moldes como esta sempre tem ocorrido, com a simples mudança dos protagonistas políticos e com a alternância do partido no poder. 

Julgo que estou em condições de poupar os leitores deste texto sobre qual acho que é, neste momento, a melhor opção.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental