sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Vamos a isto!

As autárquicas representam um esforço hercúleo para os diversos partidos. Conseguir estruturar centenas ou mesmo milhares de candidaturas, não é com certeza uma tarefa fácil. Sobretudo quando se pretende manter uma linha política coerente, séria, focada nas pessoas e não nos jogos político de curto prazo. Neste sentido, o Bloco tem naturalmente na fase de preparação das eleições de tipo autárquico um desafio particularmente grande.. 

Enquanto partido ainda recente, com uma estrutura organizacional relativamente leve, a preparação administrativa e logística das autárquicas e as necessidades de campanha inerentes não são com certeza uma tarefa fácil. Estruturar e desenvolver candidaturas por todo o país, preparando os candidatos, apoiando-os administrativa e logisticamente, são um verdadeiro teste à organização de qualquer máquina partidária, sobretudo às mais recentes.

Por outro lado, o facto de não pertencer ao centro político, o facto de ser focado em objetivos claros de mudança social, económica, política, cultural, entre outros, determina que a coerência seja o seu nome do meio. A verticalidade com que tem de se apresentar a estes atos eleitorais, ou a qualquer desafio que se lhe põe, eleva naturalmente o nível de dificuldade da sua missão.

E se a isto adicionarmos o facto de os restantes principais partidos levarem décadas de avanço no desenvolvimento de estruturas partidárias locais, implantação no terreno, conhecimento das especificidades locais, entre outras dimensões, percebemos claramente que as autárquicas são o desafio dos desafios do Bloco, enquanto partido político. Torna-se até difícil apontar um desafio tão grande como este que agora acorre.

É tendo em conta as dificuldades acima apontadas, assim como muitas outras que não são certamente aqui referidas, que podemos dizer que o trabalho realizado foi gigantesco. Não é sequer necessário estar muito por dentro dos seus meandros para perceber isso mesmo. Os milhares de militantes e simpatizantes que conseguiram colocar de pé esta mega-campanha têm com certeza razões para estar satisfeitos. Não porque tudo tenha sido perfeito, ou porque não seja possível encontrar melhores formas de o fazer, mas porque foi com certeza feito o que foi possível e impossível até.

O Bloco nunca gostou de desafios pequenos. Pelo contrário, são os grandes que nos motivam. São os desafios críticos, os desafios a doer, os desafios a sério que nos fazem correr. E a política para nós não é para nós uma profissão ou um trampolim. Estamos cá para mudar, é isso que nos move. Estamos prontos! Vamos isto!

Artigo hoje publicado no Esquerda.net

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Bluffs, Moralismos e Vingançazinhas


Passos Coelho brindou-nos no Domingo com mais um discurso do tipo “ou eu, ou o caos”. Pedro explicou na Universidade de Verão da JSD que a decisão do Tribunal Constitucional contra o sistema de requalificação dos funcionários públicos roçou a irresponsabilidade. Sem os 900 milhões de euros que o Governo previa daí arrecadar, onde irá agora o país buscar tal verba? Uma coisa parece certa para o primeiro-ministro: a medida justa, iluminada e bem-intencionada do Governo foi travada pelos chatos juízes do constitucional. O bando de malandros da função pública conseguiu mais uma vez levar a melhor e tal sairá certamente caro ao país. Quase ouvimos o Pedro suspirar: “Caramba, logo agora que tudo parecia estar a ir ao sítio, e vem-nos o Tribunal constitucional estragar a festa.” E o pior é que, com este chumbo, o Pedro não terá alternativa a não ser ir buscar a outro lado que será ainda mais doloroso para os contribuintes. Ele não queria, mas o Constitucional não lhe deixa alternativa.

Bem… Comecemos pelo fim. Tem sido interessante ver a mudança de discurso operada pelo Governo nestas últimas semanas. Pedro e Paulo assumem (agora) que o país bateu no fundo, mas que a recuperação está já a acontecer. Se calhar não reparámos mas a economia está já a recuperar. O único problema desta mensagem é que ela não condiz com o que vem a seguir. Por um lado, continuamos a ouvir que é preciso intensificar a austeridade. Ou seja, continuar o caminho que nos levou a bater no fundo… Por outro lado, ouvimos também que caso não intensifiquemos a austeridade, haverá com certeza um segundo resgate. E aí ficamos mesmo sem perceber. Segundo resgate? Mas há pouco não nos tinham dito que a economia estava já a recuperar?

Sendo uma jogada bem conhecida em política, Pedro e Paulo bem podiam esforçar-se por variar um pouco nesta estratégia de bluff seguida de vingançazinha. Ou seja, primeiro tentam sempre convencer-nos que não existe alternativa à medida proposta. Ela é dura, mas tem de ser. Foi assim com a Taxa Social Única, foi assim com os cortes dos dois subsídios da Função Pública e muitos outros exemplos poderiam aqui ser citados

Depois, quando bloqueada pelo Constitucional ou oposição, ficamos a perceber que a medida não só era dura, mas era também justa. Visava portanto repor uma qualquer disfuncionalidade do nosso sistema. Entrámos então na fase moralista. Veja-se o exemplo dos despedimentos na função pública. No início o Governo nem queria aplicá-los, mas depois lá vem dizer-nos que a sua aplicação é uma questão de justiça, de igualdade e até de moral. Tenta portanto convencer-nos que se está a perder uma boa oportunidade para colocar ordem na casa, moralizando a distribuição dos sacrifícios por todos.

Por fim, depois da fase do bluff e da fase moralista, surge a fase da vingançazinha. Isto é, o Governo não queria ir além do que propôs fazer. Mas não lhe deixam alternativa a não ser avançar com medidas ainda mais duras, ainda mais inimagináveis há pouco tempo atrás. O que se seguirá a este chumbo aos despedimentos na Função Pública? Mais encerramentos de serviços públicos? Acabar com a ADSE, RTP e outras bestas negras da direita portuguesa? 

Passos Coelho faz bem em recordar que os tribunais não governam. Não é esse de facto o seu papel e a separação de poderes é boa e nós gostamos. E os tribunais também fazem bem em lembrar-lhe que nenhum Governo pode suspender a lei fundamental. A Constituição e, consequentemente, o Tribunal Constitucional, são daquelas coisas que, vá-se lá saber porquê, têm de ser respeitadas. Pedro e Paulo, temos pena, é uma chatice, é uma seca, mas a democracia tem destas coisitas.

Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Quando eu for pequeno, quero ser da JSD


No mesmo dia em que Passos diz que o problema é do TC e não da Constituição,  o líder da JSD quer uma revisão constitucional...

No país da bola, culpar o árbitro é sempre uma boa solução


«Três dias depois de mais um chumbo do Tribunal Constitucional (TC) a medidas de austeridade, o primeiro-ministro elegeu aquele órgão de soberania - e não a Constituição - como um obstáculo à concretização das reformas exigidas pela troika. (..) Defendendo que “não é preciso rever a Constituição” para concluir as reformas do Estado, Passos Coelho apontou o que tem faltado aos juízes do TC na interpretação da Lei Fundamental: “É preciso bom senso”.»  in Público
(Imagem: DN)