As eleições regionais são com certeza o principal acontecimento político nos Açores em 2012. E assumem uma importância acrescida precisamente porque, sendo certa a não recandidatura de Carlos César, os resultados ditarão sempre alguma mudança, maior ou menor. Por um lado, a possibilidade de mudança de ciclo político com uma eventual vitória de Berta Cabral. Por outro, a possibilidade de continuidade do PS na liderança do Governo Regional, desta feita liderado por Vasco Cordeiro.
Após 16 anos de um governo PS nos Açores, a democracia na região precisa de uma lufada de ar fresco. A permanência de qualquer força política por muito tempo no poder convida a uma série de vícios. A influência do poder começa a fazer-se sentir em esferas sociais que são fundamentais para que a democracia respire: da comunicação social ao ensino superior, das associações não-governamentais à cultura. Assim sendo, será a passagem de Carlos César para Vasco Cordeiro suficiente para a mudança que a região precisa após um ciclo que dura há 16 anos? Temos dúvidas. Sobretudo tendo em conta que há uma grande probalidade das elites do partido permanecerem as mesmas.
Por outro lado, será uma mudança para um governo laranja aquilo que a região precisa nos tempos que correm? Num país onde o PSD detém a Presidência da República e o Governo Nacional, com uma linha política que todos os portugueses estão a sentir na pele, um Governo de Berta Cabral nos Açores concerteza não destoaria do rumo político existente a nível nacional. Duvido que seja isso que os Açorianos desejem para já. Pelo contrário, os açorianos mais ou menos de esquerda com certeza concordarão que precisam a partir de Outubro de um Governo que continue a contrabalançar a impiedosa receita de austeridade que tem vindo a ser definida a nível nacional.
Em entrevista a António José Teixeira na SIC Notícias no passado Sábado, Miguel Portas defendeu que este é o momento em que um amplo congresso da oposição à esquerda a nível nacional faria particularmente sentido. Envolvendo o PS, o PCP, o Bloco de Esquerda e uma série de movimentos sociais como os sindicatos ou os jovens precários, o desenvolvimento de entendimentos à esquerda seria uma forma particularmente importante para contrabalançar a maioria PSD/CDS que actualmente governa o país. Parecendo-nos esta ideia fazer particular sentido, não seriam as eleições regionais açorianas um momento privilegiado para avançar com tais entendimentos?
Testar uma plataforma entendimento entre o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda nos Açores, para além de não apresentar obstáculos de fundo a nível programático (a dimensão regional permite o esbater de algumas clivagens entre os diversos partidos), seria com certeza bem recebida pelo eleitorado açoriano. Seria a garantia de que não existia apenas uma troca de cadeira na liderança socialista, pois a nova maioria assentaria agora num entendimento plural, com mecanismos internos que permitiriam contrabalançar alguns dos problemas que advêm de uma longa estadia no poder
Como é evidente, desenvolver este tipo de entendimentos não é uma tarefa fácil. Exige cedências de parte a parte em torno de um objectivo comum. E os aparelhos partidários à esquerda têm toda uma tradição de dificuldade em entender-se, contrariamente ao que se passa na direita, onde PSD e CDS já se uniram uma série de vezes na história da democracia portuguesa. Não tenho dúvidas de que a presente ideia irá esbarrar numa série de dificuldades avançadas por qualquer uma das forças políticas em causa. Pessoalmente, perdoem-me o cliché, julgo que nos devíamos centrar mais nas oportunidades e menos nas dificuldades.
(Imagem: Mindspower)