Ensaiar nos nossos dias sobre o ecologismo, sobre o aquecimento global ou sobre a necessidade de adoptarmos novos paradigmas de consumo não constitui uma novidade. O ambiente ganhou nas últimas décadas uma notória centralidade na conceptualização de qualquer modelo de desenvolvimento, tendo-se chegado a consensos ou posições de compromisso consideráveis quanto à necessidade de melhor salvaguardarmos o planeta. Tal não significa que este tenha deixado de ser um tema politicamente relevante, mas as clivagens em torno das temáticas do ambiente passaram a ser bastante sofisticadas e menos evidentes. Hoje encontramos posicionamentos ambientalistas consistentes nos mais diversos quadrantes políticos, o que demonstra bem o espaço ganho pelo pensamento verde nos últimos anos.
O que torna A Terceira Revolução Industrial num ensaio tão marcante é a forma como consegue fazer bem a ponte entre a revolução digital a que todos assistimos e a revolução energética que tanto necessitamos. Jeremy Rifkin consegue, com particular mestria e assertividade, demonstrar-nos a íntima relação histórica entre novas tecnologias da comunicação e novos regimes energéticos, impulsionando novas eras económicas. Deste modo, a primeira revolução industrial ficou marcada pelo domínio do carvão e por evoluções impressionantes nos domínios da produção, dos transportes e das comunicações. Por seu turno, a segunda revolução industrial é marcada pelo petróleo e pelos avanços que todos conhecemos nos meios de comunicação e na “eletrificação” do mundo.
Eis que chegamos a um ponto em que a crise económica mundial demonstra o fim da era dos combustíveis fósseis e a necessária emergência das renováveis, ao mesmo tempo que as tecnologias da informação e da comunicação (TIC) fornecem hoje os mecanismos necessários a uma produção totalmente distribuida da energia. Através das TIC, estamos hoje em condições de disseminar redes energéticas inteligentes capazes de gerir edifícios que são simultâneamente consumidores, mas também produtores de energia.
E se o advento da Terceira Revolução Industrial é necessariamente uma “boa notícia” para a sobrevivência do planeta e do seu ecosistema, Rifkin demonstra igualmente que estamos perante o impulso económico que a economia mundial hoje tanto necessita. O esforço económico associado à conversão de uma economia baseada em energias fósseis para uma economia de carbono zero será a fonte de investimento e de emprego que hoje tanto procuramos. Ao longo da obra, consegue demonstrar de forma razoavelmente empírica como a referida mudança, que terá de processar-se nas próximas décadas, ajudar-nos-á a ultrapassar muitos dos becos sem saída em que hoje nos encontramos.
O autor chega mesmo a fazer uma incursão nos impactos desta Terceira Revolução Industrial nos sistemas políticos. Considera que a produção distribuida de informação e energia contribuirá igualmente para uma democracia menos vertical, mais aberta à participação dos cidadãos. As abordagens colaborativas sairão reforçadas neste novo modelo de desenvolvimento, abrindo assim caminhos à resolução de inumeras contradições que há muitos nos preocupam.
Rifkin assenta o modelo de desenvolvimento da Terceiras Revolução Industrial em cinco pilares: 1) mudança para as energias renováveis; 2) transformação dos blocos de edificios em todo o mundo em pequenas fábricas para recolher energias renováveis localmente; 3) explorar o hidrogénio e outras tecnologias de armazenamento em todos os edifícios e em todas as infraestruturas para armazenamento de energias intermitentes; 4) utilização da tecnologia da Internet para transformar a rede de energia de todos os continentes em inter-redes de partilha de energia que funcionam exatamente como a Internet; 5) transição da frota de transportes para veículos elétricos e a células de combustível que poderão comprar e vender eletricidade numa rede inteligente e interativa a nível continental.
Apenas grandes pensadores conseguem produzir grandes ensaios sobre novos modelos de desenvolvimento, abarcando as mais diversas esferas socio-económicas. Julgo que A Terceira Revolução conquistou um lugar com razoável destaque na prateleira da nossa estante reservada aos grandes ensaios contemporâneos.
Recensão publicada este mês no Le Monde Diplomatique