Quando hoje pensamos os Açores como região, é impossível não identificarmos o papel absolutamente central da RTP Açores. O canal público de televisão regional é a grande janela de tudo o que se faz e passa na região, da actualidade política à cultura, do desporto à sociedade. A história açoriana das últimas décadas passou de facto pela RTP Açores, assumindo-se indiscutivelmente este canal como um dos grandes pilares da autonomia regional.
Do Atlântida ao Teledesporto, do Telejornal à Prova das 9, passando naturalmente pela cobertura dos mais diversos eventos e acontecimentos das ilhas (Festas do Santo Cristo, San Joaninhas, Semana do Mar, Maré de Agosto, Semana dos Baleeiros), a programação da RTP Açores faz parte do referencial de qualquer açoriano. Como é possível esquecer os Xailes Negros, o Barco e o Sonho ou o Mau Tempo no Canal? E porque qualquer obra faz-se de rostos, de esforço e dedicação, importa nestes 40º aniversário fazer a devida vénia a todos os profissionais que fizeram e fazem da RTP um baluarte central da Açorianidade.
Como é sabido, é um canal que sofreu o embate da televisão por cabo e dos canais temáticos. O embate do tempo, no fundo. Teve as suas crises, os seus desafios. Teve de se adaptar. E na verdade, quem olha hoje para RTP Açores, tem a sensação que o pior já passou. Uma nova geração tomou conta do canal, trazendo-lhe outra vivacidade, com uma grelha de programação renovada, bastante mais adaptada aos tempos que correm.
No entanto, apesar do evidente rejuvenescimento, ficamos sempre com a sensação que o futuro do serviço público de televisão na região é permanentemente incerto. A RTP Açores sofre das flutuações existentes na RTP a nível nacional, com as direcções a sucederem-se, as reformas/reestruturações/relançamentos a serem mais do que muitas.
Por não existirem dúvidas sobre o valor da RTP Açores (não existem, certo?), pelo menos quatro compromissos deviam ser assumidos transversalmente pelos mais diversos quadrantes políticos:
- A RTP Açores é um património inalienável da região. É um instrumental fundamental de coesão destas nove ilhas, sendo inquestionável o seu valor na promoção da identidade, da vivência e da cultura do arquipélago;
- Como qualquer serviço público, a RTP Açores necessita dos meios necessários à prossecução da sua missão. Precisa de investimento, precisa de recursos físicos e humanos. Não podemos exigir um serviço público de qualidade, lado a lado com o permanente discurso da “racionalização”, da “optimização” e do “mais com menos”.
- A RTP Açores não pode abrandar o ritmo de adaptação ao digital e às novas formas de consumo de conteúdos televisivos. Deve continuar a apostar fortemente na disponibilização dos seus conteúdos nas novas plataformas web.
- A RTP Açores necessita de permanentemente sintonizar-se com os Açorianos. Necessita de abrir as suas portas à sociedade civil, aos principais agentes da região (ex. Universidade, associações, empresas). Necessita de dar-lhes palco, de fazer com que sejam eles próprios co-produtores de conteúdos. Não na lógica do co-financimento ou da sustentabilidade, mas assumindo a abertura como uma necessidade permanente.
Os representantes açorianos na Assembleia da República, em natural articulação com as entidades regionais, deverão ser os primeiros defensores do serviço público de televisão e rádio na região. Não o relativizando, não deixando que seja menorizado. Porque estes 40 anos da RTP Açores são os primeiros de muitos.
Sinceros parabéns a todos os tornaram e continuam a tornar possível a RTP Açores!
Artigo publicado terça-feira no Açoriano Oriental