sexta-feira, 15 de outubro de 2010

É todo um fado

Quando correntemente se afirma que “PS e PSD são iguais”, normalmente tal é feito com um tom sarcástico (ou de desespero), levando alguns a considerar que se trata de um manifesto exagero. No entanto, para lá do senso comum, existem estudos empíricos que têm vindo a demonstrar a proximidade excessiva entre os referidos partidos. Utilizando reconhecidas técnicas da Ciência Política, tem-se demonstrado que a proximidade ideológica dos dois partidos portugueses do centro é de facto maior do que a verificada noutros sistemas partidários de referência europeus (ver André Freire, Esquerda e Direita na Política Europeia, ICS, 2006).

Assim sendo, quando as diferenças de conteúdos são poucas, a diferenciação faz-se então com recurso à forma. Quando o PSD tem um líder mais austero, o PS aposta num líder dialogante. Quando o PS aposta numa liderança moderna e comunicativa, o PSD procura soluções com toques mais rústicos. E mesmo estas diferenças de estilo nem sempre são claras. Até no estilo existem não raras vezes convergências entre os dois partidos.

Todo o panorama que está a rodear a aprovação do Orçamento de Estado de 2011 é bastante paradigmático a este respeito. Sobretudo se tivermos em conta o discurso de ambos os partidos. Numa primeira fase, e perante as pressões económicas internacionais, o PS afirmou que nunca enveredaria pelo caminho do corte da despesa e da receita que lhe estava a ser aconselhado. Esta era aliás a solução apontada pelos sociais-democratas, na qual os socialistas se recusavam liminarmente a embarcar. No entanto, de um dia para o outro, o país assistiu a uma mudança de 180 graus no rumo até então defendido pelo actual governo. Afinal a austeridade era inevitável, afinal sempre haveria mais uma edição do PEC.

Perante tal inversão de rumo, qual foi então a reacção laranja? Vendo ser aceites a vasta maioria das soluções que propunha, tem variado entre fazer finca pé em aspectos menores e dramatizar em torno do “deviam-no ter feito mais cedo, agora já vão tarde”. Ao que o PS tem respondido que “a bola está do lado do PSD”, deixando então a claro a convergência política que encerram as medidas do PEC 3. Como é natural, o PSD tem rentabilizado politicamente a mudança de posicionamento dos socialistas, mas não tem conseguido disfarçar o embaraço que lhe causa a súbita e manifesta proximidade política do seu congénere. Qual a solução que tem sido adoptada pela direcção de Passos Coelho? Às segundas, quartas e sextas afirma que está pronta para chumbar o OE e às terças, quintas e sábados deixa-se envolver pelo discurso da responsabilidade.

Eis o suposto impasse que tem sido diariamente oferecido ao país. Um impasse de forma e não de conteúdo, onde as diferenças politico-ideológicas dos dois partidos deixaram sequer de ser questionadas. Tudo fica então reduzido ao picardete do dia. Que remédio... Neste contexto, o video do Esquerda não podia ser mais apropriado. É todo um fado do bloco central.

Artigo publicado hoje no Esquerda.net
(Imagem: Afixe)

1 comentário:

Anónimo disse...

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PC