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Contrariamente ao que é veiculado, quer por uma certa preguiça da comunicação social, quer por natural conveniência dos actores políticos, a política económica envolve de facto opções políticas. Envolve a escolha entre modelos diversos, entre soluções diferenciadas. E é também nas situações de crise que as diferenças na abordagem económica mais se podem fazer sentir. Porquê cortar aqui e não ali? Deveremos cortar ou deveremos investir para redinamizar a economia? Neste sentido, importa pelo menos ter a noção que o caminho imposto por instituições como o FMI ou o FEEF, passarão necessariamente por um solucionamento liberal dos problemas económico-financeiros do país. No fundo, um aprofundamento da linha política que tem sido seguida nos diversos PECs.
O liberalismo económico acredita que é através do livre funcionamento das forças do mercado que se obtém desenvolvimento. Ou seja, quanto menos constragimentos existirem à actuação dos mercados, mais riqueza se produzirá. Neste sentido, tudo deve ser feito para abrir caminho às empresas, reduzindo-se por exemplo a taxação das mesmas para que estas possam reinvestir. Por outro lado, a crença no mercado e no poder da iniciativa privada determina também o pensamento sobre o papel do Estado. Para um liberal, o Estado deverá apenas intervir onde a iniciativa privada não consegue chegar. Defende portanto um Estado mínimo, não intrometido na economia e com limitadas funções sociais.
Neste sentido, o recurso à ajuda externa terá necessariamente como contrapartida o recurso a medidas de teor liberal para enfrentar a actual crise. É esta a contrapartida exigida pelo FMI e será também a pedida pelo FEEF. Implicará uma aposta revigorada no emagrecimento do aparelho do Estado, um recuo nas suas atribuições de teor social (pensões, subsídios de desemprego, abonos,etc), a tendência para flexibilizar o mercado de trabalho e de baixar os impostos sobre as empresas, entre outras medidas. Em suma, significará o reforço das medidas de austeridade até agora aplicadas.
Este é sem dúvida um dos caminhos políticos possíveis. Mas “se calhar” conviria colocar à discussão caminhos alternativos que impliquem a redução da despesa pública diminuindo por exemplo as parcerias público-privadas e a externalização de serviços que podem ser desenvolvidos internamente. Caminhos que considerem que a redução de salários contrai a procura interna e promove a recessão económica. Caminhos que considerem que a solução desta crise passa por uma mudança no sistema financeiro internacional que a provocou e não por um alimentar acrítico do mesmo. Mas, pelos vistos, exigir a discussão de políticas económicas alternativas é visto como um devaneio lírico, uma espécie de excentricidade inconsequente e até perigosa. Esquece-se assim que, em política, a afirmação de uma solução sem alternativas, do tipo “ou isto ou o caos”, sempre foi altamente empobrecedora da democracia.
1 comentário:
Acho bastante graça que se critique o mesmo sistema financeiro internacional que nos permitiu desenvolver um Estado "Social" muito para além do razoável. De onde é que acha que apareceu o Estado "Social"? Do vapor de água?
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